Transcript
1 CONSTRUINDO UMA ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM. Josiane Julinez Linhares Pfeffer. Especialista em Gestão Escolar (UDESC) Especialista em Metodologia da Educação (FCHSC) Professora do Estado do Paraná, participante do Programa de desenvolvimento de Educação. Resumo: O presente trabalho foi um estudo da Teoria Histórico Cultural da Atividade, a partir da perspectiva histórico-cultural, pois as mesmas enaltecem a importância do aprendizado através da ação e das interações com o meio sócio-cultural, possibilitando o desenvolvimento das pessoas e da própria atividade. A Geografia num momento de renovação passou a colocar o homem e suas relações como foco de estudo, tomando uma atitude investigativa da pesquisa e assumindo o papel de agente transformador da realidade, abandonando a prática da reprodução da interpretação alheia do mundo. Iniciou-se apresentando o papel da escola, do professor e a importância da disciplina de geografia. Logo após foi feito um breve histórico da Teoria da Atividade, realizando uma interlocução entre este método e a geografia, articulando com o método da cognição, com o método da ciência geográfica, por meio de seis itens referentes à Teoria da Atividade. Na continuidade foi apresentada a estrutura de uma atividade de aprendizagem, desenvolvida para a sala de aula, pontuando as ações efetuadas no Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Rio Negro CEEBJA e o Grupo de Trabalho em Rede no Estado do Paraná – GTR. The present work is a study of the Theory of the Activity, from the description-cultural perspective, therefore the same ones enaltecem the importance of the learning through the action and the interactions with the sociocultural way, making possible the development them people and of the proper activity. Geography at a renewal moment starts to place the man and its relations as focus of study, taking a investigativa attitude of the research, assuming the paper of transforming agent of the reality abandoning the practical one of the reproduction of the interpretation of the world. We initiate presenting the paper of the school, of the professor and the importance of disciplines of geography. Soon after a historical briefing of the Theory of the Activity, carrying through an interlocution with the method and geography articulating the cognition method, with the method of geographic science through six item authenticating the Theory. After that we make an analysis of six referring item to the theory In the continuity we present the structure of an activity of learning developed for the classroom pontuando the actions effected in the State Center of Basic Education of Young and Adults of Black River CEEBJA and the Work group in Net in the State of Paraná - GTR.
Palavras-chave: Geografia. Teoria histórico-cultural. Bioenergia.
1. INTRODUÇÃO As últimas décadas do século XX representam a época de renovação, mudanças na ação, valorização da prática na interpretação da teoria – “época em que se coloca o homem no centro do processo de mudança”.
2 Frente a essas mudanças, a escola como instituição social vem tentando aperfeiçoar sua forma de trabalho, acompanhando as alterações que ocorrem na sociedade para cumprir melhor seu principal papel de transformação do conhecimento pessoal em conhecimento científico atingindo o desenvolvimento mental. Desta forma a escola se insere num panorama de expectativas da sociedade, surgindo vários trabalhos de pesquisa.
Neste contexto é possível perceber as mudanças na organização das disciplinas escolares buscando novas posturas dos profissionais da educação. Fazendo parte deste processo encontra-se a ação do professor, que acompanhando as mudanças na forma de mediar à disciplina de geografia, cuja mesma está ligada diretamente ao cotidiano do aluno, o professor passa a ser um mediador no caminhar do educando para o mundo científico, criando meios ou atividades estruturadas, chamadas de atividades de aprendizagem. Sendo assim, a geografia é uma Ciência cujo objeto de estudo pode estar ligado diretamente ao cotidiano do aluno.
Após a realização de uma análise sobre o ensino da geografia e o papel do professor articulando os conceitos e objetivos da disciplina de geografia, Cavalcanti escreve:
“O ensino é um processo de conhecimento pelo aluno mediado pelo professor e pela matéria de ensino, no qual devem ser articulados seus componentes fundamentais: objetivos, conteúdos e métodos de ensino. No entanto é o uso de um método de ensino adequado que pode viabilizar os resultados almejados”. (CAVALCANTI 2005, p.25)
Desta forma, os métodos de ensino são os caminhos através dos quais os professores podem trabalhar os diversos conteúdos com a finalidade de atingirem os objetivos propostos para a aprendizagem.
A intenção deste estudo é apresentar a estrutura de uma atividade de aprendizagem, utilizando o método da Teoria da Atividade, na disciplina de
3 geografia, desenvolvido no Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos de Rio Negro – CEEBJA, juntamente com os professores do Grupo de Trabalho em Rede - GTR no estado do Paraná, utilizando como objeto de estudo o Biodiesel.
2. A SOCIEDADE, O PROFESSOR E A GEOGRAFIA.
A sociedade educacional está preocupada em trazer para dentro das salas de aula novas técnicas para auxiliar na melhoria da aprendizagem. Durante esta pesquisa foi desenvolvido um trabalho em rede com os professores de estado do Paraná, onde foi proposto a eles a elaboração de uma atividade de aprendizagem com o tema o Biodiesel. Diante deste fato, faremos a exposição do relato de uma das professoras participantes:
“A maior dificuldade apresentada, foi que percebi que meus alunos estavam um pouco alienados, não tendo conhecimento suficiente para iniciarmos um trabalho conjunto, e neste momento senti um pouco a falta de referências em livros. Mas após apresentar o tema e eles compreenderem a grandeza deste conhecimento e que seria imprescindível a participação deles de forma ativa, que desta vez eu não estaria na frente, mas sim ao lado deles, eles se sentiram valorizados e fiquei impressionada com a motivação deles, pois até vieram para escola fora do horário de suas aulas.”
Com este depoimento podemos perceber a necessidade de romper com o estigma do professor repassador de conteúdos, surgindo à necessidade de profissionais flexíveis, capazes de caminhar ao lado dos educandos auxiliando-os na construção do seu conhecimento, atingindo, de fato, o objetivo da escola como instituição educacional transformadora do conhecimento próprio do indivíduo em conhecimento científico atingindo o desenvolvimento mental.
O professor que acompanha as mudanças na sociedade, na escola e na geografia, cria meio ou atividades estruturadas, chamadas de atividades de aprendizagem.
4 Uma atividade de aprendizagem considera o desejo, a necessidade e a motivação, pois é a afetividade o ponto de partida que disponibiliza o aluno a aprender. A mesma professora continua escrevendo dizendo que:
“Os alunos ficaram mais antenados depois da apresentação do tema e não perdiam as reportagens na televisão e nas revistas... não sei se você teve tempo de ler, saiu uma reportagem, muito boa na Veja sobre o Efeito Estufa e nela o tema estava relacionado também com o” biodiesel.”
Percebemos aqui que a professora conseguiu motivar seus alunos e ter uma ligação de afetividade com os alunos passando a ter sucesso com o desenvolvimento da ação, ultrapassando a dificuldade da falta de livros, utilizando outros meios para pesquisar contagiando outras turmas, como podemos ler a seguir: “O resultado de trabalhar desta forma apresentada foi muito feliz, pois os alunos se sentiram importantes participando do processo de aprendizagem ficando as aulas mais ricas, mais significativas, e passaram esta motivação paras as outras turmas, agora todos querem que eu direcione as aulas nesta nova perspectiva de trabalhar.”
A necessidade de novas formas de construção de saberes é clara nas escolas. Isto foi percebido nos levantamentos efetivados pelo governo, o qual avaliou o sistema tendo como resultado um baixo índice de desempenho. Vejamos alguns depoimentos de professoras referente a forma de trabalho:
“Ficou mais fácil perceber o quanto o aluno aprendeu o conteúdo dependendo de sua participação e seu envolvimento com os trabalhos.” “Os alunos ficam mais motivados, pois proporciona mudança de rotina.” “O aluno aprende ir em busca da matéria a ser estudada e não fica simplesmente na posição de receptor de informações. “As pesquisas realizadas pelos alunos enriquecem a aula, já que permite o aprofundamento dos temas trabalhados.” “As aulas tornam-se mais dinâmicas.” “Maior participação do aluno durante a aula.” “Evita a decoreba.”
5 A aplicação de um método de ensino criando uma Atividade de Aprendizagem pode vir a ser o início na busca e aplicação de outros métodos auxiliando na caminhada para uma mudança de postura do professor frente a uma realidade educacional que exige a melhoria do desempenho do aluno. Para isto é importante perceber o depoimento dos alunos após a execução da atividade: “A professora propôs um desafio, não sabíamos o quanto seria difícil, apenas queríamos dar o nosso melhor. Não éramos especialistas, éramos apenas dedicados alunos em busca do saber. Comprometemo-nos a superar as dificuldades, por fim nos surpreendemos, pois não imaginamos o quanto seria interessante e de grande valia” – alunos do 3º ano. “Visando o conhecimento e a aprendizagem, o trabalho feito pela sala foi muito esclarecedor e resolutivo devido ser elaborado de uma forma que todos pudessem ficar interessados no tema abordado”. “Achei importante pesquisar sobre o Biodiesel. Gostei de fazer as atividades, pois aprendi muito mais sobre o assunto” “O trabalho exigiu muito esforço e dedicação, aprendemos o conteúdo e o resultado foi acima do esperado”. “Nossa Professora, que legal. Da pra fazer combustível da soja e o carro andar”. ”Meu avô está rico e não sabe. Ele planta girassol e se vender para combustível vai dar muito dinheiro”. Fica claro conforme os depoimentos que foi trabalhoso, mas também prazeroso atingindo o objetivo da escola, que é entre outros é de ensinar o aluno a investigar.
Este método poderia ser trabalhado pelos pedagogos (a) em reuniões pedagógicas e/ou hora atividade ou até em semanas pedagógicas em todos os ensinos; não só passando como desenvolver o método, mas colocá-lo em prática, fazendo do professor o próprio aluno.
Num país cujo desempenho educacional é um dos últimos do mundo, há a necessidade por parte do professor de uma leitura mais aprofundada da sua Didática, pois, é ela que estrutura a prática na sala de aula.
6 Cavalcanti (2005) apud Vesentini ((1995) argumenta sobre o papel atual da geografia: “uma das razões do renovado interesse pelo ensino de geografia é que, na época da globalização, a questão da natureza e os problemas ecológicos tornam-se mundiais ou globais, adquiriram um novo significado (...). O ensino de geografia no século XXI, portanto deve ensinar – ou melhor, deixar o aluno descobrir – o mundo em que vivemos, com especial atenção para a globalização e as escalas local e nacional, deve enfocar criticamente a questão ambiental e as relações sociedade/natureza (...), deve realizar constantemente estudos do meio (...) e deve levar os educandos a interpretar textos, fotos, mapas, paisagens”. (2005, p.23).
Neste sentido as atividades precisam ter significado para a vida do educando, a qual desperta o interesse do aluno em assuntos do cotidiano, exigindo a necessidade de serem trabalhados de forma dinâmica e prática, com a possibilidade de desenvolver no aluno a ação do pensar.
Uma atividade de aprendizagem considera o desejo, a necessidade e a motivação, pois é a afetividade o ponto de partida que disponibiliza o aluno a aprender.
O estudo de novos métodos de ensino aprendizagem pode significar o início de uma nova tendência, propiciando ao professor e aluno uma nova relação com o pedagógico podendo vir ampliar o olhar, o pensamento do educando sobre o meio que está inserido.
As aulas expositivas demonstram o conhecimento do professor sendo de grande importância. Porém, na construção do saber do aluno existe a necessidade do professor utilizar outros meios colocando o aluno no ponto de motivação na busca do conhecimento.
A aplicação de um método de ensino criando uma Atividade de Aprendizagem pode vir a ser o início na busca e aplicação de outros métodos auxiliando na
7 caminhada para uma mudança de postura do professor frente a uma realidade educacional, a qual, automaticamente, exige a melhoria do desempenho do aluno. O professor na sua prática profissional constrói conhecimentos na medida em que se depara constantemente com situações problemas e busca soluções para resolvê-las, adequando-se a realidade.
Assim, a atividade do professor é um
conjunto de ações intencionais, conscientes, dirigidas para um fim específico (BASSO, 1998, p.4). Uma atividade de aprendizagem se transforma em atividade de aprendizagem quando desperta nos alunos a vontade de realizá-las. Uma atividade de aprendizagem serve para resgatar, ressignificar, aprofundar os assuntos conhecidos superficialmente. Uma Atividade de Aprendizagem consiste em desencadear uma ação com intenção para os alunos, para isso se faz necessário o embasamento de um método para facilitar o seu desenvolvimento na atividade de aprendizagem.
3 BREVE HISTÓRICO DA TEORIA DA ATIVIDADE.
A Teoria da Atividade foi desenvolvida na Academia Soviética de Psicologia em decorrência de estudos realizados por Vygotsky, Leontiev, Luria e outros pesquisadores da Academia.
Os estudos de Vygotsky que foi analisado por Leontiev seguido por Davydov estes dois últimos chegaram a coordenar uma pesquisa sobre uma base teórica prática numa ação pedagógica. Lompscher e Fichtner despontam como grandes expoentes mundiais da Teoria da Atividade.
Vygotsky elaborou vários conceitos dos processos psicológicos, como processos históricos e culturais. É determinante a relação entre cultura e conhecimento, ou seja, o desenvolvimento humano está ligado a origem social.
8 Partindo desta premissa foram desenvolvidos conceitos como os processos de interiorização, a zona de desenvolvimento proximal, a generalização, a abstração e outros. Foi apontada por Vygotsky a importância da escolarização para a apropriação de conceitos científicos e para o desenvolvimento das capacidades de pensamento. Vygotsky, não elaborou uma proposta para a escola, mas mesmo assim foi possível extrair de seus escritos modos de operar na sala de aula.
Davydov faz parte da terceira geração de psicólogos russos e soviéticos que divulgam a teoria histórico-cultural. A partir das bases conduzidas por Vygotsky e Leontiev,
Vasili Davydov
vai além;
avança na
tentativa
de
entender o
desenvolvimento da mente humana. Sua principal contribuição foi à tradução de forma didática a operacionalização das teorias formuladas pela escola de Vygotsy, chamando-o de ensino desenvolvimental, por que faz uma relação entre o ensino e o desenvolvimento mental, com as bases do ensino desenvolvimental voltado para a formação do pensamento teórico. Os principais elementos da estrutura de uma atividade segundo Libâneo (2004) apud Davydov (1999) são: “desejos, necessidades, emoções, tarefas, ações, motivos para as ações, meios usados para as ações, planos todos se referindo à cognição e, também, à vontade (1999, p. 41)”.
4 A OPERACIONALIZAÇÃO DA TEORIA DE VYGOTSKY
A sistematização dos princípios que caracterizam a base do pensamento de Vasili Davydov foram elaborados por LIBÂNEO, publicado em seis itens na Revista Brasileira de Educação (2004, p.5-24), os quais serão analisados a seguir fazendose uma ponte com a disciplina de geografia:
1) A educação e o ensino são formas universais e necessárias no desenvolvimento
mental,
em
cujo
processo
socioculturais e a atividade interna dos indivíduos.
está
interligado
aos
fatores
9 O desenvolvimento do conhecimento vai acontecer de forma variada e de como o professor articula o conteúdo causando o interesse do aluno.
O ensino aprendizagem é o principal papel da instituição escolar, pois, ali deve
ocorrer
mediação
cultural
e
local
para
praticar
a
democratização
proporcionando um desenvolvimento científico cultural.
Esta estrutura de visão educacional deixa clara a importância da escola, do professor e de todos os agentes que atuam na instituição. É nesta esfera que o aluno vai desenvolver suas capacidades e 0habilidades mentais desenvolvendo aptidão para enfrentar problemas que possa encontrar nas mais variadas esferas da vida. O ensino visto desta forma deverá oportunizar ao indivíduo a apropriação da cultura e das competências mentais. “A dimensão pedagógica implica em incorporar saberes e modos de aprender e ensinar, condições e meios de aprendizagem, metodologias e procedimentos de ensino é função mediadora do professor. Coligar essas características, numa proposta didática possibilita condições para uma aprendizagem significativa. Assim, constituí-la significa desenvolver o conhecimento teórico ou científico”. LIBÂNEO, (2004)
A geografia é uma ciência que apresenta uma variedade de conteúdos ligados diretamente ao cotidiano do aluno que pode ser usada como ferramenta no processo ensino aprendizagem.
A primeira colocação de Davydov é o desenvolvimento mental que pode ser impetrada pela geografia a partir da valorização da realidade cotidiana inserida nos conteúdos geográficos, tendo os conceitos científicos interconectados, estando assim o pensamento científico impregnado de referenciais do cotidiano, devendo o pensamento cotidiano adquirir uma estrutura de ordem no contexto do pensamento científico.
10 Cabe a geografia superar a abordagem tradicional onde os alunos, são conduzidos a captar pela memória a palavra e não pelo conceito de pensamento; podemos perceber que a memória, a imaginação, o pensamento e a emoção são formas distintas de atividade, e que o pensar e o fazer não se situam em pólos opostos
O professor deve proporcionar a tomada de consciência e estrutura dos conceitos geográficos, sendo individual essa experiência, pois ocorre de forma diferenciada
para
cada
pessoa,
promovendo
também
a
interação
e
o
desenvolvimento de conceitos científicos e cotidianos.
2) O conteúdo da atividade de aprendizagem é o conhecimento teórico – científico. A base do ensino desenvolvimental é seu conteúdo, de onde se derivam os métodos de ensino.
Para Vygotsky o ensino deve ser capaz de desenvolver na formação educativa potencialidades intelectuais, ou seja, capacidades mentais. Devido a sua morte prematura não pode avançar na operacionalização da sua teoria. As pesquisas de Davydov tiveram origem na crítica da organização do ensino baseada numa concepção tradicional de aprendizagem. Os métodos transmissivos, de memorização e repetição de conteúdo encaminham para a formação do pensamento baseado na experiência, ou seja, o empírico, e não para o desenvolvimento que permita o educando lidar com as ocorrências do dia-a-dia.
Libâneo (2004) apud Davydov (1999) quando afirma que:
11 “Um ensino mais vivo e eficaz para a formação da personalidade deve basear-se no desenvolvimento teórico” Davydov propõe a superação do pensamento empírico pelo pensamento teórico devido ao processo de generalização dos conceitos base do pensamento teórico, possibilitando sua utilização nos vários campos da aprendizagem (2004, p.41)
Na atualidade o impacto da grande movimentação de informações deve levar os professores à reflexão, pois não é ele e nem a escola as únicas fontes de conhecimento, e nem tão pouco a mais interessante para o aluno. Partindo desta premissa, a escola e o professor devem repensar o seu papel dentro do contexto social. O professor precisa analisar mais precisamente as teorias que guiam seus métodos verificando como chegar ao desenvolvimento das capacidades intelectuais do aluno? Como escolher os conteúdos juntamente com o método permitindo o melhor desenvolvimento intelectual do aluno? Para Libâneo (2004), os professores de geografia não podem mais ignorar na sua prática docente a didática, pois ela é a ‘mediação da mediação cognitiva’. Uma didática em que a prática docente seja fundamentada numa proposta metodológica de ensino articulada com o método de cognição, com o método específico da ciência e, com o método geral do conhecimento. Trabalhar com a teoria histórico-cultural no ensino da geografia permite encaminhar uma lógica de trabalho docente de uma mesma unidade metodológica.
Assim, para formar o pensamento teórico-cultural dos alunos, a Geografia escolar precisa trabalhar as abstrações dos conceitos de forma que o educando consiga interiorizar o conhecimento geográfico tendo em vista a relação do conhecimento científico e o conhecimento cotidiano recriando as práticas humanas historicamente produzidas. A reprodução é vista como uma atividade para organizar as ações, captando assim o caminho já percorrido pelo pensamento científico e não como imitação, repetição e memorização.
3) A atividade de aprendizagem em parceria, é a própria aprendizagem. O objetivo do ensino é ensinar aos estudantes conhecimentos e destreza de aprender por si mesmos, ou seja, a pensar.
12 Davydov na apresentação da teoria desenvolvimental, coloca o professor como mediador. Através dessa mediação, ocorre à prática da incorporação do conhecimento auxiliando os alunos a se tornarem sujeitos pensantes e críticos. A geografia escolar propõe que o professor a partir do objetivo geral da geografia, construa uma noção espacial nos indivíduos e desta realidade escolha conteúdos que alcancem o objetivo. A ação de trabalhar os conteúdos da ciência geográfica, determinando o método de ensino proporciona a possibilidade de alcançar a noção espacial. Daí o entendimento de que o papel do professor é de mediador entre o sujeito e o objeto de conhecimento.
Outro item que deve ser considerado pelo professor para que a mediação alcance os objetivos é necessário considerar o desejo, a motivação sendo estes que os principais ingredientes para surgir uma afetividade o ponto principal que disponibiliza o aluno a aprender. Na tentativa de uma explicação mais prática de atuação do professor como mediador a partir da realidade geográfica, ao utilizar, por exemplo, a temática “O Biodiesel” deve fazer o professor investigar inicialmente o conhecimento real dos alunos sobre o assunto. A atuação do professor deve partir de uma realidade específica tendo como intenção englobar um procedimento metodológico que abarca a coletividade levando em conta as diferenças individuais.
Logo a seguir o professor deverá efetuar ou estruturar definições que permitirá o aluno compreender o conteúdo na sua totalidade. Para que os alunos internalizem o conteúdo é preciso conhecer a base que fundamenta esse conteúdo como, por exemplo, vegetação, solo, atividades econômicas, aspectos sociais e culturais relacionando com o conhecimento cotidiano do aluno.
Quando o professor se propõe a praticar o desenvolvimento teórico junto com o aluno, ele está propondo caminhos para que o aluno internalize conceitos e estimulando novas formas de pensar.
13 4) Por meio da atividade de aprendizagem, os alunos aprendem a pensar teoricamente um objeto de estudo, de modo a formar um conceito apropriado desse objeto para utilizá-lo em situações concretas.
Através da Atividade de Aprendizagem os conteúdos passam a ter significado para a vida do educando despertando o interesse com assuntos do cotidiano podendo ser trabalhados de forma dinâmica e prática. A atividade de aprendizagem leva o educando a compreender as situações que estão ao seu redor concretamente. A elevação de um objeto que o aluno já conhece para o abstrato significa conhecer, apropriar-se de outras formas de referendar ou identificar tal objeto. Os educandos poderão ainda continuar a referendar o objeto como antes, com a diferença: de saber que existe outros termos, outros conceitos.
Sendo assim, Libâneo (2004) afirma que: “Não se trata de pensar apenas abstratamente apenas com um conjunto de proposições fixas, mas de uma instrumentalidade mediante a qual se desenvolve uma relação principal geral que caracteriza o assunto e se descobre como essa relação aparece com muitos problemas específicos. Isto é, de uma relação geral subjacente ao assunto ou problema se deduzem nas relações particulares. LIBÂNEO, (2004, p.17)”.
O ponto de partida do professor deve ser os conceitos estruturadores do raciocínio geográfico, natureza, lugar, território, região, paisagem, sociedade, incluindo durante a atividade os novos conceitos que irão surgir durante a ação. No nosso estudo foi O Biodiesel no Paraná. Essa forma de organização dos conteúdos dificulta o surgimento da fragmentação do conhecimento geográfico proporcionando o desenvolvimento mental, tendo o aluno uma visão articulada e crítica do objeto da ciência geográfica.
5) A aprendizagem do pensar tem como base o desenvolvimento teórico. O pensamento teórico se forma pelo domínio dos procedimentos lógicos do pensamento relacionados com um conteúdo que pelo seu caráter generalizador, permite sua aplicação em vários âmbitos da aprendizagem.
14 Para que o educando interiorize conceitos é necessário aprender a pensar teoricamente, ou seja, ter o domínio do processo de origem e desenvolvimento do conhecimento. O processo de interiorização compreende na transformação de ações externas em ações internas a partir da reconstrução das práticas humanas desenvolvidas.
Para o aluno internalizar, incorporar o conceito do Biodiesel deve como primeiro passo o professor possibilitar ao educando a realização do processo de apropriação do conhecimento. Compreender o conceito de Biodiesel significa entender seu processo de origem e desenvolvimento, ou seja, deve investigar todos os procedimentos utilizados para o desenvolvimento dessa teoria e para isso deve o aluno realizar a atividade de apropriação dessa cultura. 6) A formação das competências do pensar requer uma estrutura da atividade de aprendizagem, integrando os motivos orientados as ações e operações.
Ensinar o educando a pensar é o trabalho do professor. Para isto é preciso construir atividades que tenha um motivo, que exista uma finalidade na sua realização e que tenha uma relação com a vida do aluno. Para a realização dessa atividade é necessária a materialização de diversas ações (ações que dependem de um esforço consciente) e operações (ações que não dependem de um esforço consciente).
Cabe ao professor a construção de atividades estruturadas de tal forma que o aluno saiba todos os passos da mesma que o aluno sinta-se inserido naquela ação de aprendizagem sabendo inclusive como será avaliado em cada etapa.
Podemos perceber que toda atividade de aprendizagem deve ter tempo para o planejamento junto com o educando e deve também ter tempo para a sua execução. Por fim deve ter um momento de observação, análise e avaliação.
15 E nesta linha de pensamento que Libâneo (2004 p.20) apud Elkonin escrevem que o resultado disso é que os alunos aprendam como pensar teoricamente a respeito de um objeto de estudo e, com isso, formar um conceito teórico apropriado desse objeto para lidar praticamente com ele em situações concretas da vida.
5. CONSTRUINDO UMA ATIVIDADE DE APRENDIZAGEM O termo atividade está interligado ao de ação, ou qualquer ação ou trabalho específico. Na área educacional atividade passou a ser toda e qualquer ação que o aluno desenvolva com o professor ou isoladamente. Podemos citar como exemplo, copiar do quadro, fazer os exercícios do livro didático, realizar exercícios físicos por ordem do professor sem que o aluno sinta a importância destas ações passou a ser normal dizer que o aluno esta realizando uma atividade.
Dentro do contexto da Teoria da Atividade todo o trabalho deve ter objetivo e também deve transformá-lo em resultado através da ação. Desta forma, uma necessidade só pode ser satisfeita quando encontra um objeto e este objeto é o motivo. A necessidade, objeto e motivo são componentes estruturais da atividade (ASBHAR, 2002, p.3).
A Secretaria Estadual de Santa Catarina elaborou uma série de documentos para auxiliar seus professores, dentre eles o Tempo de Aprender 2, o qual faz uma análise sobre a atividade de aprendizagem apontando que a estrutura de uma atividade de aprendizagem compreende o sujeito da atividade, motivo, objeto de estudo, sistema de meios e avaliação. (SANTA CATARINA, Secretaria de Estado e do Desporto; Tempo de Aprender 2 p.16. Florianópolis: DIEF, 2002
A construção de uma atividade de aprendizagem, a partir da perspectiva histórico – cultural pode ter, como exemplo, a seguinte organização para a sala de aula: Tema, Problematização, Objetivo da Atividade Conceitos das Disciplinas, Ações e Operações, Socialização, Sistematização, Avaliação e por fim a Bibliografia.
16 5.1 Tema
Cabe ao professor o papel de envolver os alunos contextualizá-los em relação à pesquisa tornando esse momento prazeroso. É interessante que o Tema Biodiesel, quando apresentado aos alunos venha acompanhado de uma música ou imagem que prenda a atenção dos alunos motivando-os dando significação à atividade. É neste momento que o professor vai sentir o conhecimento já existente podendo chamar de diagnóstico da turma ou dos alunos.
Caso o aluno não esteja envolvido e motivado, não importará todas as atividades elaboradas pelo professor. A atividade de aprendizagem não vai acontecer. Acontecerá uma atividade de ensino, um simples repasse.
5.2 Problematização. Cabe ao professor como mediador elaborar junto com os alunos este item. Para isso o aluno deverá estar motivado e deve partir do material ou conceitual trazendo-o para o cotidiano do aluno a fim de estabelecer uma relação entre o real e o proposto. É preciso que o aluno perceba o motivo da atividade para que possa estabelecer com ela uma situação de interesse pessoal. O problema vai focalizar o que vai ser investigado dentro do tema da pesquisa.
5.3 Objetivo da atividade
Como a atividade de Aprendizagem é realizada na escola ela tem um conteúdo previamente elaborado ou determinado nos planos ou programas de aprendizagem. A apropriação de conhecimento, habilidades e hábitos constituem o objetivo e resultados orientando as ações na busca das metas propostas. Vamos registrar neste espaço a ação do sujeito, como vai atuar na temática proposta, possibilitando a ele apropriação de novos conhecimentos, registrando o resultado do
17 processo de aprendizagem. Este resultado é atingido por meio da materialização do que propomos neste item. Exemplo:
•
- Realizar estudos e pesquisas sobre o biodiesel no Paraná;
•
-Socializar os conhecimentos adquiridos promovendo a melhoria da aprendizagem;
•
- Aprender conceitos referentes às disciplinas curriculares e aos Temas Transversais para exercer o direito a cidadania.
5.4 Conceitos. Para que ocorra uma aprendizagem é necessário que o processo seja composto
pela
apropriação
de
conceitos
científicos
respeitando
as
suas
especificidades e abrangências e, que num dado momento permita a concretização do processo numa situação interdisciplinar oportunizando a interação. Exemplo: Geografia – sociedade, natureza, território, região, paisagem e lugar; Ciências – meio biótico, desenvolvimento sustentável, meio ambiente; Artes – imagens bidimensionais: desenho, pintura, gravura, propaganda visual, fotografia; imagens virtuais: cinema, televisão, computação gráfica, vídeo-arte; Língua Portuguesa – Análise Lingüística, texto, textualidade, intertextualidade e discurso; História – relações sociais e relações de trabalho; Matemática – Gráficos, tabelas, percentagens, números, quantidades. Temas interdisciplinares Exemplo: Educação Ambiental e saúde.
18 5.5 Ações e operações. A figura do professor é de fundamental importância no processo de orientação de atividades de Aprendizagem. Ele da a possibilidade para o aluno ampliar sua visão do processo antes de desenvolver a Atividade. Assim o aluno passará a realizar o trabalho através de ações e operações para chegar ao resultado esperado. A ação deve estar ligada ao objetivo da atividade e a algum conceito. Logo em seguida deve ser elaborada a operação de como realizar, onde pesquisar e como apresentar. Exemplo: Pesquisar as Leis e Decretos que amparam o Programa da Bioenergia no Brasil; Onde – Em sites do Governo Federal; Apresentamos abaixo alguns temas que podem ser desenvolvidos utilizando o tema o Biodiesel; Leis e decretos que amparam o Programa da Bioenergia; Conceitos de agroenergia, bioenergia, bicombustível, desenvolvimento sustentável; A atividade econômica no Paraná sobre o Biodiesel; Identificação do espaço geográfico x utilização da terra na produção do biodiesel e a organização de trabalho; Organização de dados coletados em tabelas e gráficos sobre a produção e consumo de oleaginosas; Produção de textos sobre o tema pesquisado; Confecção de mapas e localização dos municípios produtores de oleaginosas no Paraná; Promoção de um Seminário para discutir os fenômenos naturais envolvidos nos desequilíbrios ecológicos: efeito estufa, buracos na camada de ozônio, chuva ácida, desmatamentos, queimadas e aquecimento global, degelo das calotas polares, poluições e desertificação;
19 Promoção de palestras para os alunos, referente ao Biodiesel no Paraná. Pesquisa na Internet sobre: filmes, sítios, imagens, sons, pinturas, revistas e jornais on-line, curiosidades e outros que possam auxiliar na melhoria da aprendizagem.
5.6 Socialização e sistematização.
Todas as ações e operações desenvolvidas pressupõem a apropriação dos conceitos científicos, atingindo-se desta forma a finalidade da atividade pelos alunos tendo o professor como mediador.
O resultado das etapas terá registro no caderno dos alunos, com apresentação, por equipes, em painéis com gráficos, fotografias, vídeo e outros.
Exemplo: Apresentar a pesquisa em forma de tabela colocando em ordem cronológica os tipos de energia desenvolvidos e em desenvolvimento no Brasil.
5.7 Avaliação
Deve ocorrer durante todo o processo de realização da atividade, ou seja, durante os momentos coletivos e individuas, para a comprovação da efetivação dos resultados, ou para realizar alterações ou correções necessárias durante o processo.
5.8 Referências bibliográficas Relacionar todos os mecanismos utilizados para efetivar a pesquisa
20 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste estudo foi apresentar uma forma de trabalhar com o aluno na sala de aula, relacionando a Teoria Histórico-Cultural da Atividade com a Geografia.
O contato com diferentes métodos de trabalhar o ensino-aprendizagem é de grande importância para os professores, levando-os a reflexão e a crítica da relação professor/conteúdo/realidade local/educando possibilitando mudanças na sua prática pessoal.
Conforme o depoimento de professores e alunos, percebemos o
entusiasmo na mudança de ambas as partes.
Salientamos aqui o papel do pedagogo e da direção que devem dar suporte ao professor na sala de aula. Esse suporte pedagógico precisa vir daquele que saiba como ensinar como movimentar as diferentes áreas do conhecimento, pois seu objeto de ação é o desempenho do professor.
Tendo em vista que a Teoria Histórico-Cultural da Atividade viabiliza um caminho de desenvolvimento das capacidades mentais, onde a assimilação dos conteúdos ocorre de forma consciente e ativa.
Existe a necessidade de o professor conhecer mais sobre o desenvolvimento humano, como ocorre, sendo primeiramente do individual para o coletivo. É determinante este conhecimento por parte do professor, bem como a utilização de ferramentas essenciais rompendo com a postura tradicional.
21 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASBAHR, FS. F A Pesquisa Sobre a Atividade Pedagógica: Contribuições da Teoria da Atividade. 2002. P3 – IPUSP BASSO, I. S. As Condições Subjetivas e Objetivas do Trabalho Docente: Um Estudo a Partir do Ensino De História. 1994. 123p. Tese (doutorado) Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1994. CASTRO, R. S. Educação Ambiental: Repensando o Espaço da Cidadania. São Paulo: Cortez, 2005. CAVALCANTI, L.S. Geografia, Escola e Construção de Conhecimento. Campinas, S.P: Papirus, 1998. GOMES. P. C. C. Geografia e Modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. LIBÂNEO, J. C.A Didática e a Aprendizagem do Pensar e do Aprender: A Teoria Histórico-Cultural da atividade e a contribuição de V. Davydov. Rio de Janeiro: Revista Brasileira de Educação, nº 27, dez.2004. MENDES, Â. M. Psicologia. Florianópolis UDESC, FAED: 2002. MMA/MEC. Consumo Sustentável: Manual de Educação. 2005 MMA. MUDA O MUNDO RAIMUNDO. Ministério do Meio Ambiente. 1997. PEDRINI, A. G. Educação Ambiental: Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. SANTA CATARINA, Secretaria de Estado e do Desporto; Tempo de Aprender. Florianópolis: DIEF, 2002 SANTOS, A. B. M. Planeta em Crise. Ver. Esperança para um Mundo em Crise, São Paulo. Casa Publicadora Brasileira. 2007. SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Hucitec, 1996. SITES CONSULTADOS SEED/PR Diretrizes Curriculares de Geografia Para a Educação Básica. Secretaria de Estado da Educação. Curitiba: 2006. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE/PR Meio Ambiente, Cidadania e Educação. Curitiba 2003. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE/PR Agenda 21 – O que o Paraná tem feito. Curitiba 2003. Ministério do Meio Ambiente: www.mma.gov.br Ministério de Minas e Energia: www.mme.gov.br Ministério de Ciência e Tecnologia: www.mct.gov.br Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná. www.pr.gov.br/seab