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A INSERÇÃO DAS TICS NA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE ‐ MOÇAMBIQUE1 Resumo Trata‐se de um estudo realizado a partir do Programa de Katia Denise Costa Berni Pró‐Mobilidade Internacional, da CAPES‐ AULP entre Brasil ‐ Programa de Pós Graduação da Faculdade de Moçambique. Enfatiza‐se o diagnóstico institucional Educação da Universidade Federal de Pelotas realizado sobre a utilização das mídias digitais na Faculdade
[email protected] de Educação da Universidade Eduardo Mondlane (FACED/UEM) em Maputo, Moçambique. Objetiva‐se, apresentar alguns relatos sobre a inserção das Tecnologias Rosária Ilgenfritz Sperotto Universidade Federal de Pelotas de Informação e Comunicação em situações de ensino e
[email protected] aprendizagem na UEM. Como procedimentos metodológicos utilizamos entrevistas semi‐estruturadas com professores da UEM e representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia de Moçambique. As análises indicam desconhecimento sobre as potencialidades das TIC em situações de ensino e de aprendizagem por parte dos docentes da UEM; implicando na pouca utilização destes recursos. Este trabalho subdivide‐se em quatro partes: Contextualizando Moçambique e a relação com a Tecnologia de Informação, TIC na Educação Superior: FACED‐UEM em Maputo, Considerações finais. Palavras‐chave: Pró‐mobilidade; Moçambique; Tecnologia de Informação e Comunicação, Aprendizagem, Educação.
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Agência Financiadora: CAPES
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CONTEXTUALIZANDO MOÇAMBIQUE E A RELAÇÃO COM A TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO O uso de TIC tem sido objeto de estudos entre professores e pesquisadores e instituições educacionais em nível nacional e internacional, visando aproximar as linguagens e potencialidades educativas provenientes das TIC, familiares aos alunos ditos nativos digitais2 Prensky (2001). Este artigo intenciona mapear alguns aspectos da cultura moçambicana entreameada pelas TIC3, em relação as suas aplicações no ensino superior, bem como sinalizar alguns aspectos de sua articulação no contexto de Moçambique direcionando o foco para a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), situada em Maputo. A investigação decorre de alguns resultados parciais do Programa de Pró‐ mobilidade Internacional, CAPES/AULP, em apoio aos países de língua portuguesa no continente Africano e Asiático. Desta forma, A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) aprovou um Programa de Pró‐mobilidade Internacional entre a Universidade Federal de Pelotas (FaE/UFPel) e a Universidade Eduardo Mondlane (FACED/UEM), tendo como prioridade estabelecer ações que direcionem a otimização da inserção das Tecnologias Educacionais Digitais (TED) como dispositivos que integrem a formação de professores e suas práticas nos cursos de Licenciatura da FACED/UEM. Frente à demanda supracitada iniciou‐se o primeiro ano da missão de estudos e de pesquisas através de mobilidade estudantil sanduíche em nível de graduação e doutorado e estágio de docente sanduíche na FACED/UEM. O grupo composto por uma professora orientadora da FaE/UFPel, uma aluna do Programa de Pós Graduação em Educação (PPGE) FaE/UFPel, doutorado e três alunas da Faculdade de Jornalismo da UFPel. Organizado desta forma o grupo partiu para o continente Africano permanecendo em
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O conceito de nativos digitais, não segue a lógica das gerações e Prensky (2001) não se preocupa em definir idade e sim o perfil de crianças e jovens. São alunos que nasceram após utilizam regularmente o SRS, usam equipamentos tecnológicos e a maioria conecta‐se a internet por Notebook, mas a tendência à utilização dos dispositivos móveis. 3 Sempre que aparecer no texto Tecnologias de Informação e Comunicação, será indicada pela sigla TIC.
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missão de estudos e de pesquisa por um período de três meses. Problematiza‐se o uso da tecnologia na educação em específico na FACED/UEM. Para a coleta de dados, deste trabalho, realizou‐se entrevistas semiestruturadas com professores da UEM e com representantes do Ministério das Ciências Tecnologia de Moçambique, o material foi coletado por entrevista semi estruturadas áudio gravado e transcritos com depoimentos dos professores da UEM e dos representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia. A ênfase das entrevistas sobre os processos vividos, seus entendimentos e motivações se solidificou em um excelente material de análise. O grupo de estudantes após instalar‐se em Maputo, conhecer a UEM e planificar ações junto aos professores coordenadores do projeto Brasil‐Moçambique, passaram a frequentar aulas e a realizar o estudo que visou à obtenção dos diagnósticos sobre o currículo, estruturas, instalações e formação docente da FACED/UEM. Desta forma realiza‐se entrevistas com os chefes de departamento desta unidade de ensino. Porém com o desenvolvimento do trabalho, percebeu‐se a necessidade de entrevistar o professor responsável pelo Centro de Informática da Universidade Eduardo Mondlane (CIUEM) e o professor que ministra aulas sobre o uso de tecnologias aplicadas a educação. Após estas entrevistas o grupo foi indicado a entrevistar dois representantes do governo de Moçambique. Por questões éticas os entrevistados serão assim identificados professores P1 e P2, os representantes do governo como G1 e G2. As entrevistas foram gravadas e transcritas pela pesquisadora. Observou‐se que os habitantes desta cidade apresentam‐se de forma analógica/digital. Utiliza‐se este conceito como referência a um povo que cultiva suas raízes, que a globalização invadiu o país, mas não atingiu a todos. Nas palavras de Couto4 (2001) um olhar sobre a exclusão digital do povo. Não é verdade que nos tenhamos tornando numa aldeia global. O facto de alguns aborígenes da Austrália possuírem telemóvel não os integra no espaço onde se troca a modernidade. Eles apenas se converteram em consumidores de tecnologia. São números de um universo chamado “mercado”. Em tudo o resto, eles vivem fora da aldeia global pessoal. Não é preciso eleger um caso tão
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Mia Couto escritor moçambicano nasceu na Beira no ano de 1955, e em 2000 foi eleito membro correspondente da Academia Brasileira de Letras.
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extremo como o do australiano originário. Todos nós, os das periferias, vivemos essa mesma condição de exclusão. Quando muito, somos “mercado”. COUTO (2001)
O exemplo que o autor utiliza, em especifico no caso de Maputo, pois convivem lado a lado aqueles que têm acesso à tecnologia (consumidores digitais), os que dominam os dispositivos e os que desconhecem completamente seu funcionamento, Afirmações embasadas no Moçambique (2010). O país de Moçambique está localizado no continente africano, que conforme dados do III Recenseamento Moçambique (2010), possuía 20.229.311 habitantes, e ocupa uma extensão territorial de 801.590 Km². Sendo considerada a mais populosa colônia portuguesa da África. A agricultura é à base da economia. Mais de 70% da população vive em áreas rurais, dedicando‐se principalmente à agricultura, silvicultura e pesca, Brito (2010). Conforme Moçambique (2010) pode‐se considerar que é um país jovem, pois mais que 50% da população na faixa etária de 6‐24 anos. As estatísticas da educação revelam que a população na sua maioria é do sexo feminino, porém, é a maioria masculina que conclui o ensino superior, chegando a 0,14% de sua totalidade, enquanto que 0,04% são femininas, Moçambique (2010 p.43). As estatísticas indicam que alunos do sexo masculino ocupam 3,5 vezes mais matrículas no ensino superior. Porém para entender um pouco do sistema educacional moçambicano, embora que em uma análise superficial, pois não é o foco deste estudo, mas apontar alguns elementos que se atribui serem importantes e observados, para a compreensão dos índices educacionais. A língua oficial é o português, mas o censo realizado em 2007 e publicado em 2010, lista mais seis línguas maternas que são eles: emakhuwa, xichangana, elomwe, cisena, echuwabo e entre outras línguas moçambicanas, nas mais diversas províncias. Em Maputo fala‐se portugês e o dialeto mais popular é o xichangana. Para Couto (2012) o qual diz “Neste momento deve ter entre 40% da população fala português na capital, quando o país se emancipou 90% da população era analfabeta. Em Moçambique tem mais de 25 dialetos, é um país de oralidade”, a separação da colônia de Portugal ocorreu no ano de 1975, a recente emancipação, o número de dialetos entre outros problemas são
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fatores que ajudam a esclarecer o porquê dos 20.229.311 habitantes somente 5.095.636 (25%) frequentam ou frequentaram a instituição escolar. Com estes índices na educação básica justificam os 0,18% que concluem o ensino superior. Ao buscar indicadores para compreensão do uso da Tecnologia da Informação (TI)5, alguns identificadores mostram que ocorreu um acréscimo no consumo. Porém mesmo em crescimento muitos alunos não tem acesso aos dispositivos tecnológicos, na educação básica e no ensino secundário. No ensino superior já existem algumas políticas que beneficiam os alunos e aproximam das TIC. Outros índices sobre a TI, 1,29% declaram ter computador em casa, e 0,72% assumem ter acesso à internet, Moçambique (2010 p.119). Porém dados mais atuais conforme o Mozambique Profile Latest data available (2013) revelam que a quantidade do uso de computadores em sete anos passou de 1,29% para 5,9%, representando um aumento de mais que 400%. Estatística sobre o uso de computadores e internet Indicativos As famílias com um computador Domicílios com acesso à Internet em casa Os indivíduos que usam a Internet
Percentual (%) 5,9 4,6 4,8
Fonte: Internacional Telecommunication Union (2013) Estatística de como acesso à internet Disposição de internet por 100 habitantes Telefonia fixa 0,3 Móveis‐celulares 50,3 Telefone Fixo (com fio) em banda larga 0,1 Banda larga móvel por 100 habitantes 1,8 Fonte: Internacional Telecommunication Union (2013)
A tabela demonstra que o acesso para mais da metade dos usuários é realizado pelo celular, caracterizando‐se como cultura mobile segundo Castro (2014) “refere‐se às sociabilidades presentes entre os usuários de dispositivos móveis”. 5
Tecnologia da informação (TI) é uma área que utiliza a computação como um meio para produzir, transmitir, armazenar, aceder e usar diversas informações.
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TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR FACED‐UEM EM MAPUTO Dentre as atividades e estudos realizados em Maputo6, uma estava relacionada ao frequentar a disciplina de TIC na educação na FACED/UEM, neste espaço a pesquisadora conviveu com alunos do mestrado, o qual alguns são professores na educação básica, e a cada aula suas exposições sobre a realidade e as inúmeras dificuldades referentes ao uso de TIC encantava e aproximavam a estudante da realidade. Cidade de Maputo/ Moçambique http://pt.wikipedia.org/wiki/Maputo, acesso em 31 de março de 2014.
A referida disciplina abordou temas que envolveram educação e as TIC, cujo objetivo era problematizar os dispositivos tecnológicos aplicados à educação, demostrando aos alunos possibilidades de uso no processo de ensino e aprendizagem nas escolas desde a educação básica até o ensino superior. A escola, de certa forma é afetada pelas mídias digitais, que mudaram a comunicação, as relações, encurtou o tempo e o espaço. Cada vez mais rápidas, acessíveis e com potencial para transferir, armazenar e ou compartilhar quantidades de informações, Agamben (2009). Com o avanço das TIC, as instituições de ensino tendem a deixaram de ser apenas físicas e passaram também a ser virtuais de acordo com Sibilia (2012). E os serviços são 6
Maputo‐ é a capital e a maior cidade de Moçambique. É também o principal centro financeiro, corporativo e mercantil do país. Localiza‐se na margem ocidental da Baía de Maputo, no extremo sul do país, perto da fronteira com a África do Sul e, da fronteira com a Suazilândia e, por conseguinte, da tripla fronteira dos três países. Até 13 de março de 1976 a cidade era denominada "Lourenço Marques".
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disponibilizados por acessos através de computadores e/ou dispositivos móveis (tablets e smartphones). Nos países desenvolvidos, a TI está cada vez mais imersa na educação. Este avanço tecnológico atual influi diretamente nas relações que se estabelecem na sociedade. Para Agambem (2009) o homem contemporâneo, é aquele que vive a frente do seu tempo, que tem uma aproximidade e um distânciamento dos acontecimentos atuais, é um homem que não se contenta com as situações é uma mente inquieta. Conforme citação abaixo: A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com o próprio tempo que adere a este e ao tempo dele toma distância, mais precisamente, essa é a relação com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo. (AGAMBEN, 2009)
Para homens contemporâneos, criadores das ferramentas que impulsionam o mundo, é possível afirmar que muitas sociedades evoluíram em decorrência destas, adaptando‐se e utilizando‐as como instrumento facilitador das tarefas cotidianas. Pode ser que em Moçambique o desenvolvimento econômico não tenha uma velocidade constante e crescente, possui uma história de independência recente década de 70, e a população sofre com conflitos internos de disputa de poder entre os partidos políticos. Em Maputo, percebe um tempo diferente, embora uma cidade com quase 1.000.000 habitantes de acordo com Moçambique (2010), na percepção desta autora, a vida não apresenta a velocidade de uma cidade grande, desenvolvida, tomando como referência as cidades do Brasil com a mesma média de habitantes. Não se quer comparar, mas descrever aos leitores deste artigo, a cidade sob as lentes curiosa de pesquisadora, que permaneceu imersa três meses naquela comunidade, viveu diferentes situações, e enquanto o mundo conecta‐se, Maputo ‐ Moçambique utiliza as Safety Management System (SMS) mensagens de celulares. Em entrevista realizada pela autora, Couto, um moçambicano de origem portuguesa, relata sua percepção sobre o uso de tecnologia pelo povo moçambicano descrito abaixo: Então, hoje as pessoas usam o celular como se fosse uma espécie de prolongamento do tambor, um tambor antigo que fazia convocatória pra
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tribo do lado, a SMS ficou estilo uma internet popular, que criam seus laços e vinculações a outras pessoas, no ponto de vista social, são as cidades que afastam as pessoas. [...] a tecnologia deve ser pensada como uma coisa que temos que escravizar, isso vai ser um escravo, e temos que saber, por exemplo, tem um menino que acha que conhece Moçambique porque tem acesso ao GPS, o mundo é amplo, e ele nunca viu esse outro lado. Digamos que a tecnologia emagreceu o tempo. (COUTO, 2013)
A partir das palavras de Couto, que nos remete ao pensamento do uso das mídias digitas a nosso favor, como nossos escravos, auxiliando na comunicação diária e encurtando distâncias. Na educação não é diferente, as informações emagrecem o tempo de explanação de conteúdos pelos professores e potencializam o ensino e aprendizagem. Desta forma enfrenta mudanças constantes, ontem eram simplesmente os editores de texto, as planilhas eletrônicas e alguns outros raros softwares7. Atualmente os softwares contemplam a educação, alguns são produzidos e pensados com foco educacional. Segundo Zippin (2001) “...surge à necessidade de repensar à prática na escola”, promover situações de aprendizados que desenvolvam habilidades e competências específicas perpassando pelo uso da tecnologia, preparando assim os alunos para a vida. A educação faz parte deste tecido social e sua participação no contexto da sociedade é de grande relevância, não só pela formação dos indivíduos que atuam nesta sociedade, mas, e principalmente, pelo potencial criativo que ao homem está destinado no seu próprio processo de desenvolvimento. (ZIPPIN, 2001).
No contexto moçambicano em especial em Maputo, ainda quem tenha acesso às novas tecnologias, no relatório sobre o uso das TIC em Moçambique, fica expresso que para avançar nestas questões no país torna‐se necessário planejamento e ações específicas que na área educacional. Percebe‐se que ocorrem dificuldades de implantação das TIC na universidade, para a solidificação do uso das tecnologias, existe à necessidade de um olhar do governo para
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Conceitos de Software ‐ Conjugado de algoritmos, fornecidas ao hardware para a execução de procedimentos que buscam de tarefas no processamento de dados. 7
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políticas públicas que contemplem a infraestrutura básica para uma logística entre ensino, pesquisa e aprendizagem. Uma das bases para o desenvolvimento da educação está em proporcionar a população acesso à telecomunicação de qualidade, e com preços acessíveis ao bolso do trabalhador. As políticas públicas do governo de Moçambique chamada de planos para a inserção tecnológica devem contemplar a qualidade e velocidade da internet e o domínio de equipamentos tecnológicos. Aqui se aborda duas vertentes, o acesso livre e a capacitação para o uso das TIC como ajuda nas tarefas cotidianas para a educação. Em entrevista para o Projeto Tecnologia na Educação ‐ TEDUCA8 G1 relata sobre o uso das TIC e políticas do governo para atenuar o fosso digital. O Ministério de Ciência e Tecnologia junto como Ministério da Educação desenhou o currículo escolar para os três últimos anos para o acesso das tecnologias, pois era importante que os alunos tivessem acesso, mas ainda não adianta ter a escola e não ter em casa. Nas zonas rurais o governo além de acordo com as empresas de telecomunicação para internet para as escolas e nos Centros de Multimídias Comunitária (CMC), tem internet, rádio, TV, computadores, cursos de informática, tudo gratuito para a comunidade. É um lugar onde as pessoas podem enviar e‐mail, participar de rádio, ver TV, e tudo mais que desejar realizar neste espaço. (G1, novembro de 2013).
Percebe‐se no relato acima que a preocupação do governo de Moçambique em implantar política de acesso à tecnologia desde o ano de 1998 ainda permanece, como exemplo cita‐se o acesso à internet com uma conexão mais rápida e de qualidade, uma conexão demorada acaba por desmotivar o processo de transição do analógico para o digital. Assim muitas pessoas preferem o uso de papel. Para G1 existe a necessidade de criar leis que apoiem e validem documentos tramitados pela internet, acredita que é um grande passo que o país dará rumo à informatização e ao uso das TIC. Sobre a política governamental para a educação G1 diz: 8
Programa Internacional de Apoio à Pesquisa e ao Ensino por meio da Mobilidade Docente e Discente Internacional – Pró‐Mobilidade Internacional (Capes/AULP) Edital Capes nº 33/2012 8
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A colocação da internet nas escolas é quase exclusividade do governo, ele que procura as instituições para programar um sistema chamado MORONET um programa do governo (que se preocupa com professores e estudante tendo acesso à pesquisa). As universidades recebem laboratórios tanto para as públicas e privadas. O primeiro centro que introduziu a informática nas universidades foi na UEM o CIUEM, e o idealizador deste trabalho (professor da UEM) depois foi o primeiro Ministro das Ciências e Tecnologias de Moçambique. (G1, novembro de 2013).
Os alunos chegam ao ensino superior sem conhecer o mínimo sobre informática, não sabem mandar e‐mails e nem utilizar computadores para seus auxiliar em seus estudos conforme relata G1. Mesmo que o país possua acordo com os bancos para políticas de financiamentos para aquisição de computadores para alunos universitários, e política de Wi‐Fi livre na – UEM, estas são vistas como o início da inclusão e diminuição do fosso digital. [...] porém há escolas aqui em Maputo que não conseguem que seus alunos aprendam, ele tem que fazer e apreender paralelamente, quando eu era Reitor tive que criar um curso somente para os meus estudantes, eu tive que comprar um laboratório para dar cursos específicos aos alunos para que eles aprendessem a pesquisar, fazer seus trabalhos acadêmicos para que todos estivessem falando a mesma linguagem, muitos entravam pela primeira vez.(G1, novembro de 2013).
Em entrevista à autora P1, enfatiza que a falta de ambientes próprios para uso da informática na escola de educação básica, assim como a dificuldade das famílias para aquisição de equipamentos tecnológicos atuais como computadores, notebooks, tablets entre outros, ocasiona desconhecimento por parte dos alunos que ingressam no ensino superior em específico na UEM, portanto estes têm dificuldades para utilizar as TIC, conforme citação abaixo: [...] muitos vem do ensino secundário sem saber utilizar e‐mail e nem usar o computador, uma das coisas que a gente faz nas primeiras aulas é ensinar aos estudantes a abrir e‐mail, como utilizar o e‐mail, para facilitar a nossa vida onde um e‐mail da turma para atingir 30 a 40 estudantes, as informações são enviadas aos estudantes por este e‐mail da turma, mas é um pouco difícil de trabalhar desta maneira porque os estudantes tem o password do e‐mail, então uns entram apanham as informações e apagam
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outros não tem acesso isso dificulta um pouco, outra coisa que eu tenho tentado fazer e ter um sistema de gestão de aprendizagem [...]. (P1, dezembro de 2013).
Pensando em qualificar o ensino e avançar nas questões sobre as mídias digitais de comunicação9 os professores idealizaram o CIUEM, no projeto buscou‐se atender a UEM e a comunidade em geral, justificada pela carência de recursos humano especializados. Desta forma conforme relatos de G2 em 1994 cria‐se o plano de estratégia da inserção das TIC no CIUEM com dois grandes parceiros a Electricidade de Moçambique (EDM)10 e a Telecomunicações de Moçambique (TDM) (responsável pela telecomunicação e distribuição de internet por fibra óptica), sem esses dois parceiros o projeto não teria forças. Assim começa a desenhar‐se a inserção da TIC na UEM, o qual se pensou em atender quatro categorias que eram Ensino, Pesquisa, Extensão e Administrativo. Sendo que para G2 onde mais se avançou no uso da tecnologia foi à área administrativa. Basicamente o CIUEM funcionava como o esquema abaixo:
Gráfico sobre a estrutura de funcionamento da CIUEM – Criação da autora
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Entende‐se por mídias digitais de comunicação, todas as formas de comunicação entre dispositivos tecnológicos digitais interativos 10 Fornecedora de energia 10
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O gráfico acima explica como funcionava a organização do CIUEM, o qual além de alimentar dados dentro de sistemas da UEM, atuar na recuperação tanto em Hardware como de Software, o centro atendia clientes nas pessoas físicas e jurídicas. Esta abrangência de ações do centro demonstra a carência de serviços na área tecnológica. Outra atribuição do centro era o desafio de capacitar professores da UEM para o uso das TIC. E para P2 CIUEM, sobre as TIC no ensino superior (em específico na UEM) e as capacitações para professores destaca que: [...] reclamam da qualidade da internet, mas de uns anos para cá houve um salto na largura de banda de 20 megabits por segundo(MBps) e há uns 3 anos fez‐se uma atualização para 155 MBps, então foi um salto muito grande. Então quando se faz um anúncio sobre uma formação grátis de uso de blogs, wiki, apenas aparece uma meia dúzia de pessoas. (P2, novembro de 2013).
Mesmo com dificuldades de acesso a computadores em laboratórios de informática, existem na UEM, através do CIUEM, diretrizes, estratégias e políticas de inserção para capacitação em TIC para docentes com o objetivo de diminuir o fosso digital, assim nas palavras de P2, tem havido pouca aderência no que tange a participação em iniciativas de qualificação para o uso das TIC. Assim relata ao projeto TEDUCA: Mas a realidade é essa, há um nível baixo de literacia digital dos professores, isso pode ser estratificado por faixas etárias, sendo os mais novos nativos digitais ou podem até não serem nativos digitais, mas um pouco mais sensíveis. Na realidade é que há vários argumentos, do tipo que se leva mais tempo para puder usar uma plataforma para disseminar o ensino do que quando se usa o método antigo, fotocopia é mais fácil, mas o que eu tenho pensado e compartilhado às vezes é que as resistências são para não mostrar certas fragilidades, como a falta de actualização dos seus conteúdos educativos durantes anos... questão da propriedade intelectual (quando os conteúdos estão em plataformas abertas), "porque vou pôr meus conteúdos se alguém pode pegar e levar para outras faculdades" argumentam, mas eu não acredito muito que seja apenas isso. (P2, novembro de 2013).
Existem cursos de capacitações para professores, mas a UEM quando avalia (a cada final de ano seus professores) não atribui nota para quem utiliza TIC, então não há vantagens ao uso das TIC em suas aulas, comenta P1.
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Isso é relativo, pois porque nós fizemos muito esforço para os professores utilizarem as TIC, oferecemos vários cursos, mas a própria UEM apesar de ter as TIC como uma ferramenta importante para o ensino e aprendizagem como plano estratégico e na visão da UEM não há nada que obrigue os professores, então eles não usam, não muda nada na vida do professor se ele não utilizar, um exemplo disso é o instrumento de avaliação do recurso humanos que avaliam os professores, no fim do ano, os professores, os estudantes e os chefes de departamentos preenchem fichas de avaliação dos professores, que não há nada que fale sobre o uso das TIC. (P1, dezembro de 2013).
Considerações finais A partir das entrevistas com os representantes do governo, responsáveis por projetos que visam à implantação das tecnologias em Moçambique, pode‐se compreender as dificuldades econômicas que inviabilizam as ações, para efetivar o uso da tecnologia na UEM. Para os educadores, como base nas entrevistas acima mencionadas, falta para os professores da UEM motivação para capacitar‐se e o entendimento que as ferramentas tecnológicas podem se transformar em meios para construir e difundir conhecimentos sem com isso desumanizar o processo de ensino‐aprendizagem. As mídias sociais podem também serem utilizadas para gerar conhecimento através de pesquisas. Professores pesquisadores apontam que muitos alunos apresentam dificuldades em utilizar a tecnologia para ampliar seus estudos. Desta forma quando ingressam na universidade são estimulados ao uso das mídias digitais, a fim de realizar pesquisas e aprimorar seus conhecimentos. Porém algumas situações são problematizadas pelos professores da UEM, e assinaladas como dificuldade de administrar, o qual se trata do plágio, pois muitos alunos apenas copiam textos prontos da internet e não sabem a fonte e não informam os direitos autorais. Com o avanço da tecnologia se faz necessário equipar as instituições de ensino e capacitar professores para que se apropriem das diversas possibilidades existentes nestes dispositivos tecnológicos de informação e comunicação. Cabe aos professores
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repensar os aspectos teóricos e metodológicos e integrar as suas práticas essa nova forma de linguagem do aluno na sociedade. Para alinhar conhecimentos produzidos entre professores e alunos, entende‐se que a universidade precisa repensar ações que contemple o movimento do mundo conectado. Busca‐se entender a educação atual, trata‐se quem sabe de uma quebra do paradigma tradicional, mas com base sólidas em teorias que sustentem o aprendizado e o professor entenda como utilizar esses recursos e descobrir suas potencialidades pedagógicas.
Bibliografia AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo e outros ensaios; tradutor Vinicius Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009. BRITO, Carlos Estrela. Educação a Distância (EaD) no Ensino Superior de Moçambique: UAM – Tese (Doutorado Interdisciplinar em Engenharia e Gestão do Conhecimento) 2010, 246 f. Disponível em http://btd.egc.ufsc.br/wp‐ content/uploads/2011/04/Carlos_Estrela_Brito.pdf acesso em 17 de abril de 2014. CASTRO, Rodrigo. Instagram: produção de imagens, cultura mobile e seus possíveis reflexos nas práticas educativas. 2014. 140f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Pelotas, UFPEL, Pelotas, 2014.
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