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JOSÉ ARILSON XAVIER DE SOUZA
A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO REGIONAL: UM ESTUDO GEOGRÁFICO-CULTURAL DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) como requisito para a obtenção do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira.
FORTALEZA-CE 2009
FORTALEZA-CE 2009
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S715r
Souza, José Arilson Xavier de A resignificação religiosa do turismo regional : um estudo geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande / José Arilson Xavier de Souza, 2009. 164 f. ; il. color. enc. Orientador: Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências. Depto. de Geografia, Fortaleza, 2009. 1. Religião. 2. Turismo. 3. Santuário. 4. Região. 5. Geografia. I. Oliveira, Christian Dennys Monteiro de (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Pós-Graduação em Geografia. IV. Título. CDD 910
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JOSÉ ARILSON XAVIER DE SOUZA
A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO REGIONAL: UM ESTUDO GEOGRÁFICO-CULTURAL DO SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) como requisito para a obtenção do grau de Mestre. Aprovada em 28 de Julho de 2009. Nota: 10
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________ Prof. Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira Universidade Federal do Ceará – UFC Departamento de Geografia (Orientador)
______________________________________________ Profª. Drª. Zeny Rosendahl Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ Departamento de Geografia
______________________________________________ Prof. Dr. Ireleno Porto Benevides Universidade Federal do Ceará – UFC Departamento de Teoria e Economia
______________________________________________ Prof. Dr. Eustógio Wanderley Correia Dantas Universidade Federal do Ceará – UFC Departamento de Geografia
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À Maria Alice, minha mãe, à Maria Valdenice, minha irmã, e a José Maria, meu pai, pelo incondicional apoio e carinho.
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AGRADECIMENTOS A realização do trabalho científico se mostra de forma mais acentuada por meio de um esforço individual, através de reservados momentos de isolamento, mas também nos coloca diante de pessoas e instituições sem os quais se tornaria praticamente impossível o alcance dos objetivos pretendidos. Assim, agradecê-los nesta ocasião passa a ser uma questão de caráter. Deste modo, agradeço inicialmente a orientação do Professor Christian Dennys Monteiro de Oliveira, por ter acreditado na efetivação deste projeto e pela competência científica e simplicidade com que conduziu as nossas relações universitárias e amigáveis. As suas palavras sempre me incentivaram a buscar algo a mais. Fica ainda registrada a minha admiração e apreço a este ser humano. Aos demais professores da Universidade Federal do Ceará que bem contribuíram para a minha formação enquanto mestrando: José Borzachiello da Silva, Leví Furtado Sampaio e Eustógio Wanderley Correia Dantas. A este último em especial pelo bom atendimento que me concedeu, estimulando sempre o enfrentamento aos desafios postos pela vida acadêmica. Pelo apoio empregado, este agradecimento se estende ainda para os professores Jeovah Meireles, Elisa Zanella, Clélia Lustosa e Marta Celina. Aos professores que não são da “casa” (UFC), mas que colaboraram de alguma forma com a pesquisa, com destaque considerável à portuguesa Professora Maria da Graça Mouga Poças Santos, do Instituto Politécnico de Leiria (Portugal), com quem mantive contatos principalmente via internet, mas também pessoalmente durante evento afim; à Professora Zeny Rosendahl, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que se mostrou sempre solícita quando precisamos de suas compreensões; e à Professora Maria de Lourdes de Araújo, da Universidade Regional do Cariri, integrante da Banca de Qualificação desta pesquisa, que bem contribuiu através de suas importantes intervenções. Outro reconhecimento especial direciona-se ao amigo e Professor Lenilton Francisco de Assis, que através de suas exigências e conversas durante a minha graduação, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), fez-me acreditar que eu era capaz, estimulando para que continuássemos pelos caminhos da academia. Nesta época, até “um hoje simples” resumo de Iniciação Científica já me causava muitas inquietações. A sua paciência foi algo imprescindível! Da UVA sou grato também às professoras Martha Júnior, Neide Santana e Sandra Fonteneles pela torcida e incentivos.
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À minha família agradeço pelo apoio e estímulo, em especial aos meus pais, Maria Alice e José Maria, à minha irmã Maria Valdenice, meu cunhado José Osmarino e a meus sobrinhos Daniel, Izidório e Gelson. Registro exclusiva gratidão e meus sentimentos ainda à Reneida Monteiro da Silva, companheira de muitos anos, pelos momentos de contribuição e compreensão. Aos amigos do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará, tanto da graduação, onde tive a oportunidade de me relacionar muito bem, como do Mestrado, com destacada menção a Márcio Luis, com quem pude compartilhar bons momentos de convivência, João Correia e Suéllem Araújo. Guardarei para sempre os momentos de risadas e colaborações mútuas que vivi com vocês. Estendo ainda estes agradecimentos aos amigos Fábio e Maclécio. Aos companheiros(as) do LEGE (Laboratório de Estudos Geoeducacionais), Leandro, Rafael, Girlene, Ivna, Tiago, Aragão, Carla e Luana, pelo acolhimento e bons momentos de convivência. Ao Lizandro agradeço pela ajuda atribuída na confecção dos mapas utilizados. Aos amigos que sempre torceram pelo meu sucesso profissional, Cleiton Martins, Sidiney Wilker, Francisco Xavier, Renato Monteiro, Samuel Pinheiro e Juliane Passos. A estes dois últimos também pela contribuição cedida em algum momento desta pesquisa. Ao pintor e colega Robervaldo, pela confecção da tela que serve como capa do trabalho. À Diocese de Tianguá, no nome do Bispo Dom Javier, e ao corpo administrativo do Santuário de Fátima da Serra Grande, com menção notória a Padre Antônio Martins Irineu, João Carlos, Edvar e Bruna, dentre outros, os quais sempre se mostraram solícitos na colaboração para com este estudo. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa científica, no que tange à concessão de bolsa de estudos, tão importante ao desenrolar das atividades requeridas. Agradeço ainda aos demais inquiridos, pelas respostas concedidas: agentes turísticos, visitantes do Santuário, moradores da cidade de São Benedito e aos jovens alunos da rede regional de ensino. Às coordenações das escolas averiguadas, pelo espaço cedido. E por fim, fica assinalada a nossa gratidão a todos que contribuíram e/ou incentivaram a concretização deste estudo, que, por motivos de esquecimento, não tiveram os seus nomes mencionados aqui.
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Descobrir o espaço, pensar o espaço, sonhar o espaço, criar o espaço... Uma pedagogia nova para um espaço vivido deve tomar em conta estas quatro exigências. Armand Frémont, (1980, p.262).
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RESUMO Analisar de modo geográfico as atividades Religião e Turismo em suas relações sócioespaciais é a maior intencionalidade desta pesquisa. Principalmente na tentativa de entender como a primeira pode significar novos valores à segunda é que tomamos como área para as nossas investigações a Região da Ibiapaba, situada na porção Norte do Estado do Ceará. Para tanto, tal direcionamento analítico é levado a cabo tendo como referência cabal as ações desenvolvidas pelo Santuário de Fátima da Serra Grande, localizado na cidade de São Benedito. A metodologia adotada no trabalho, por vez, segue predominantemente os desdobramentos do método fenomenológico, compreendendo a utilização de técnicas de pesquisa essencialmente qualitativas, porém, associando o uso de instrumentos quantitativos. Efetuou-se, assim, um compromissado levantamento e revisão bibliográfica, observação de campo, entrevista com representante eclesial e aplicação de questionários com visitantes da cidade de São Benedito, moradores locais e com alunos da rede regional de ensino. Com efeito, fazendo-se em parte como um estudo perceptivo, embasado nas leituras de uma renovada Geografia Cultural, o trabalho ora resumido analisa as representações imaginárias desses atores e agentes envolvidos com a realidade estudada. Portanto, o conhecimento destas representações, somado com as observações alcançadas, fazem com que ao final afirmemos que o Santuário em tela, diante de seus desígnios expansionistas em termos atrativos, proporciona à Região da Ibiapaba outra configuração territorial, incidente sobre o seu imaginário e quadro turístico, onde possivelmente se acarretará um grau maior de visitação e exploração. Em suma, acredita-se que o Santuário vem proporcionando uma espécie de resignificação religiosa do Turismo regional. Assim, defendemos que este equipamento seja visto pelo seu potencial turístico. Palavras-Chave: Religião; Turismo; Santuário; Região; Geografia.
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ABSTRACT The major aim of this research is to analyze in a geographical way the activities of religion and tourism in their socio spatial relations. Trying to understand the first activity that means new values, we took the second as the area for investigating the region of Ibiapaba, situated in the North part of Ceará State. To do this, an analytical direction was taken, having as complete reference the actions developed by Fátima Sanctuary of Serra Grande, located in the city of São Benedito. The methodology used in this work, follows mainly the development of the phenomenological method comprising the use of techniques of research essentially qualitative, however associating the use of quantitative appliances. It was made a reliable survey, bibliographical review, field observation, interview with ecclesiastic representative and the application of questionnaires to visitors of São Benedito city, to the neighborhood and students of the teaching regional network. So, doing this work as a perceptive study, based in the readings of a renewed cultural geography, this work now summarized analyses the imaginary performances of these actors and agents involved with the reality studied. Therefore, the knowledge of these performances summed up with the reached observations, make us say that the Sanctuary in front of its expansive and attractive purposes, provides to the Region of Ibiapaba another territorial configuration , incident on its imaginary and touristic sights where possibly will have a more extent of exploration and visitation. In short, it is believed that the Sanctuary is providing a kind of religious meaning of regional tourism. Thus, this baggage needs to be seen because of its touristic potential. Keywords: Religion; Tourism; Sanctuary; Region; Geography.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01: Esboço reduzido da investigação Figura 02: Área representativa de estudo Figura 03: Antecedentes, gênese e evolução da Geografia da Religião (esquema-síntese) Figura 04: Mediações motivacionais para o exercício do Turismo Religioso Figura 05: Mapa das macrorregiões turísticas do Estado do Ceará Figura 06: Vista parcial do Planalto da Ibiapaba Figura 07: Mapa do Ceará – destaque a Região da Ibiapaba Figura 08: CE 085 – ligação entre Jijoca e Granja Figura 09: Santuário de Fátima da Serra Grande Figura 10: Sede da Diocese de Tianguá Figura 11: Mapa da área territorial da Diocese de Tianguá - em destaque São Benedito Figura 12: Dom Javier Figura 13: Igreja de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho Figura 14: Padre Antônio em ato eucarístico Figura 15: Interações Centrípetas e Centrífugas do Santuário Figura 16: Terreno do Santuário Figura 17: Benção do terreno Figura 18: Projeto do Santuário Figura 19: Vista aérea do Santuário (Projeto) Figura 20: Santuário durante as festas de Maria – maio 2008 Figura 21: Santuário durante as festas de Maria – maio 2009 Figura 22: Religioso em penitência Figura 23: Sala de ex-votos Figura 24: Imagem de Nossa Senhora de Fátima Figura 25: Devoto Thomas Bezerra da Silva Figura 26: Mapa da cidade de São Benedito Figura 27: Praça central da cidade de São Benedito Figura 28: Mapa dos principais Santuários do Estado do Ceará Figura 29: Cartaz do Santuário em comércio local Figura 30: Mapa dos principais pontos turísticos da Região da Ibiapaba Figura 31: Mapa de localização da cidade de São Benedito, com distâncias e vias de acesso para algumas cidades dos Estados do Ceará e do Piauí – destaque ao S.F.S.G
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Figura 32: Capa de panfleto de orações do Santuário Figura 33: Modelo hipotético do processo de resignificação pela imaginação Figura 34: Fachada da escola MAC Figura 35: Fachada do CPACO Figura 36: Fachada da escola Monsenhor Melo Figura 37: Fachada da escola Monsenhor Aguiar
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LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS Tabela 01: Características físico-geográficas dos municípios da Região da Ibiapaba Tabela 02: Principais atrativos turísticos da Região da Ibiapaba Tabela 03: Quadro de paróquias que compõem a Diocese de Tianguá Tabela 04: Áreas Missionárias que compõem a Diocese de Tianguá Tabela 05: Regiões Pastorais da Diocese de Tianguá Tabela 06: Quadro do número de alunos inquiridos por cidade e caráter da escola Gráfico 01: Local de origem dos visitantes Gráfico 02: Modo da viagem Gráfico 03: Meio de hospedagem utilizado Gráfico 04: Principal motivo da viagem Gráfico 05: Enquadramento espacial do Santuário – Visitante Gráfico 06: Valências associadas ao Santuário – Morador local Gráfico 07: Enquadramento espacial do Santuário – Morador local Gráfico 08: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola pública de São Benedito Gráfico 09: Importância do estudo do Turismo nas aulas de Geografia – escola pública de São Benedito Gráfico 10: Enquadramento espacial do Santuário – escola pública de São Benedito Gráfico 11: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola privada de São Benedito Gráfico 12: Importância do estudo do Turismo nas aulas de Geografia – escola privada de São Benedito Gráfico 13: Enquadramento espacial do Santuário – escola privada de São Benedito Gráfico 14: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola de Ibiapina Gráfico 15: Enquadramento espacial do Santuário – escola de Ibiapina Gráfico 16: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia – escola de Tianguá Gráfico 17: Enquadramento espacial do Santuário – escola de Tianguá
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APL – Arranjo Produtivo Local BNB – Banco do Nordeste do Brasil BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CONDER – Conselho de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba CPACO – Colégio Professora Alice do Carmo EMCETUR – Empresa Cearense de Turismo ENTBL – Encontro Nacional de Turismo com Base Local FCT – Fórum de Cultura e Turismo FUI – Festival União da Ibiapaba GETI – Grupo de Empresários de Turismo da Ibiapaba IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPECE – Instituto de Pesquisa e de Estratégia Econômica do Ceará IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional LEGE – Laboratório de Estudos Geoeducacionais MAC – Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ministro Antônio Coelho MAPP – Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas NEPEC – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura NUPPER – Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião OMT – Organização Mundial de Turismo PDIR – Plano de Desenvolvimento Interregional do Vale do Coreaú-Ibiapaba PNT – Programa Nacional de Turismo PRODETUR-NE – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste PRODETUR-CE – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Ceará PRODETURIS – Programa de Desenvolvimento do Turismo no Litoral do Ceará RITUR – Rede de Turismo da Ibiapaba RSG – Resignificação SETUR-CE – Secretaria de Turismo do Estado do Ceará S.F.S.G – Santuário de Fátima da Serra Grande
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UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFC – Universidade Federal do Ceará UFPR – Universidade Federal do Paraná
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................17 Fundamentos teórico-metodológicos e procedimentos da pesquisa...............................19
CAPITULO I – A ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA RELIGIÃO E DO TURISMO......................................................................................................................26 1.1. A Religião enquanto tema cultural de interesse geográfico....................................27 1.1.1. A importância da renovação e difusão da Geografia Cultural...............................29 1.1.2. Sobre a disciplina Geografia da Religião..............................................................34 1.1.3. O interesse da Geografia pela Religião.................................................................36 1.2. O Turismo e o exame geográfico.............................................................................39 1.3. Sobre o Turismo e a Visitação religiosa...................................................................45 1.4. Igreja Católica: ação cultural, espacial e também turística......................................51
CAPITULO II – O TURISMO REGIONAL: A IBIAPABA EM FOCO................55 2.1. A Região sob o olhar da Geografia..........................................................................56 2.2. Planejamento do Turismo regional: a experiência do Estado cearense....................61 2.3. Caracterização geográfica da Região da Ibiapaba....................................................67 2.4. O Turismo na Ibiapaba.............................................................................................70
CAPITULO III – SANTUÁRIO DE FÁTIMA DA SERRA GRANDE: DIMENSÕES GEOGRÁFICA, RELIGIOSA E TURÍSTICA DE ANÁLISE........76 3.1. O Santuário de Fátima da Serra Grande no contexto da Diocese de Tianguá: uma explicação mitológica para a constituição territorial.......................................................77 3.2. Santuário de Fátima da Serra Grande: um “geossímbolo” cosmogônico.................87 3.3. São Benedito, cidade ibiapabana sede do Santuário.................................................95 3.4. O Santuário e o Turismo [Religioso]: possibilidades regionais.............................100
CAPITULO
IV
–
REPRESENTAÇÕES
IMAGINÁRIAS
ACERCA
DO
SANTUÁRIO E DO TURISMO REGIONAL..........................................................108 4.1. O processo de resignificação pelo discurso geográfico da imaginação.................109 4.2. Polivocalidade de atores e agentes envolvidos com a realidade em estudo...........111
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4.2.1) Análise das percepções de um representante eclesial responsável pelo Santuário.....................................................................................................................113 4.2.2) Análise das percepções dos visitantes do Santuário.........................................116 4.2.3) Análise das percepções dos moradores da cidade de São Benedito.................121 4.2.4) Contextualizando a presença de alunos da Região no âmbito da pesquisa......125 4.2.4.1) Análise das percepções dos alunos da Escola Ministro Antônio Coelho – São Benedito......................................................................................................................127 4.2.4.2) Análise das percepções dos alunos do Colégio Professora Alice do Carmo Oliveira – São Benedito..............................................................................................129 4.2.4.3) Análise das percepções dos alunos da Escola Monsenhor Melo – Ibiapina.......................................................................................................................132 4.2.4.4) Análise das percepções dos alunos da Escola Monsenhor Aguiar – Tianguá.......................................................................................................................135 4.2.5) Pontuando interpretativamente determinadas representações.............................138
CONSIDERAÇÕES FINAIS: REFLETINDO SOBRE A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO IBIAPABANO...........................................................141
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................147 APÊNDICE 1: Roteiro de entrevista com representante eclesial responsável pelo Santuário........................................................................................................................156 APÊNDICE 2: Questionário de opinião do visitante do Santuário..............................157 APÊNDICE 3: Questionário de opinião do morador da cidade de São Benedito....... 159 APÊNDICE 4: Questionário de opinião dos alunos da Região da Ibiapaba................161 ANEXO 1: Decreto de lei canônica da criação do Santuário de Fátima da Serra Grande...........................................................................................................................163 ANEXO 2: Música em referência ao Santuário de Fátima da Serra Grande................164
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INTRODUÇÃO O espaço se revela como o maior direcionamento das atenções analíticas que o geógrafo tem empregado em seus embates e desvendamentos teórico-empíricos em toda a história da ciência geográfica, ao ponto de ser de maneira especializada nomeado de espaço geográfico. Mesmo sendo objeto de interesse de outras ciências, o espaço, quando mencionado, faz lembrar a Geografia. Seguindo o ritmo das transformações que a sociedade mundial foi impregnando, e assim continua fazendo, em seu meio de vivência, os geógrafos estão sendo continuamente chamados a contribuir com o foro social pela análise espacial que sabem realizar. Analisar o espaço geográfico não se trata de uma tarefa simples, tendo em vista que este acolhe diversas atividades humanas e, não mais entendido unicamente de maneira cartesiana, está sujeito a diversas representações imaginárias do homem. Deste modo, no amplo campo das significações espaciais, a Religião vem se mostrando como um fenômeno de interesse também do geógrafo, afinal, muito dos aspectos religiosos, das mais variadas religiões, dependem diretamente de uma base geográfica para fixação. Recortes espaciais são alegados e afirmados por suas constituições sagradas. Afirmamos, por isso mesmo, que a Religião tem uma dimensão espacial que precisa ser investigada. O Turismo, outra atividade humana difusora de (re)definições territoriais em lugares e regiões, também faz parte do temário empírico e teórico dos estudos geográficos. Notadamente, as atividades turísticas têm merecido da Geografia uma atenção maior se comparadas à Religião. As formas de crenças através de seus rebatimentos espaciais, por sua vez, vêm crescendo enquanto temática de interesse dos profissionais que “fazem Geografia”. A evolução teórica do conhecimento geográfico tem concorrido em muito para esta ampliação analítica dos fenômenos. Já quando nos colocamos a analisar um fenômeno que mescla fatores religiosos e turísticos, o Turismo Religioso no caso, a quantidade de estudos geográficos afins é ainda menor. Por caráter, esta especificidade de visitação se destaca, geograficamente falando, por encontrar na religiosidade dos lugares e das pessoas o seu princípio de origem, multiplicando paisagens, dinamizando territórios, distribuindo formas e gerando fluxos.
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Em termos concretos, acompanhando esta comenta inicial de direcionamentos, a pesquisa que se segue está intencionada no ensejo de trabalhar com abordagens teóricas que dêem conta de analisar as incidências espaciais de duas práticas sociais: Religião e Turismo (ora em separado, ora em conjunto). Deste feito, visamos contribuir para o conhecimento do fenômeno geográfico abrangente em nossas análises, bem como para melhor visualizar, comparativamente, a formação de realidades semelhantes com a aqui estudada. Assim, pela complexidade posta, torna-se necessária a adoção de um critério de embasamento teórico plural, e não restritamente (puramente) geográfico, embora seja este o dominante, buscando em outras áreas do conhecimento um desenho mais apurado para as nossas explicações científicas de geógrafo. Santos (2006), ao realizar um minucioso estudo geográfico referente ao Santuário de Fátima em Portugal, assentado sobre o tripé Espiritualidade, Turismo e Território, desenvolveu um importante aporte voltado aos estudos da Geografia da Religião, mas também à Geografia do Turismo, que, assim, nos instigou para melhor pensarmos o trabalho agora escrito. No intuito de fazermos render as pesquisas neste campo da Geografia, procuramos investigar como pode ocorrer o processo de “resignificação” religiosa do Turismo regional, tomando como estudo de caso a Região da Ibiapaba, situada no Noroeste do Estado do Ceará, ponderando-a a partir da organização religiosa do Santuário de Fátima da Serra Grande, localizado na cidade de São Benedito. Conforme proposta apresentada, as marcas impressas pela Religião Católica através do Santuário de Fátima da Serra Grande, será, quanto possível, uma das preocupações interpretativas deste trabalho científico. Outra inquietação manifesta reside na tentativa de captar as eventuais tendências que este “equipamento religioso” pode incidir no desenvolvimento futuro do Turismo na Região. Neste sentido, as análises das percepções dispensadas por atores e agentes envolvidos enquanto “sujeitos projetados” com a realidade estudada terão grande importância. Partindo desses pressupostos, idealizamos a pesquisa em quatro capítulos articulados. No primeiro capítulo, por meio de uma revisão bibliográfica consistente, objetivamos demonstrar como a Geografia tem desenvolvido considerações teóricas a respeito dos fenômenos Religião e Turismo e, mais especificamente, sobre o Turismo Religioso. As ações culturais, espaciais e turísticas promovidas pela Igreja Católica também são ventiladas neste capítulo inicial. No segundo, procuramos apresentar a Região da Ibiapaba pelos seus debates e potencialidades turísticas, frente ao contexto do
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planejamento regional/estadual das atividades correspondentes. Já o terceiro capítulo se inscreve na tentativa de apresentar, explicar a formação mitológico-territorial e avaliar o caráter religioso e de potencialidades turísticas (atrativas) do Santuário de Fátima da Serra Grande, intercalando considerações entre a escala local (São Benedito) e regional (Ibiapaba). A análise das ações exercidas pela Diocese responsável pelo Santuário se faz presente pelo fato de que expressam uma leitura explicativa para a criação e sustentação de tal forma geossímbolica (o Santuário). E, por fim, o quarto capítulo é, em grande parte, resultado de análises da coleta de dados e informações diretas. Efetuada a aplicação de entrevista e questionários, privilegiaram-se as seguintes amostragens: representantes eclesiais, visitantes do Santuário, moradores da cidade de São Benedito e jovens da rede regional de ensino. Nessa seção do texto, as percepções dos inquiridos são trabalhadas mediante as principais freqüências alcançadas, tendo o intuito de absorver o imaginário regional concernente a temáticas ligadas ao fenômeno estudado, o que nos forneceu subsídios para afirmar a existência de uma resignificação em sentido amplo, inclusive espacial. No entanto, obedecendo aos preceitos de uma pesquisa científica, estabelecemos algumas escolhas teóricas e metodológicas preferenciais.
Fundamentos teórico-metodológicos e procedimentos da pesquisa No desígnio de oferecer uma abrangência dos caminhos teóricos e metodológicos utilizados na pesquisa perante os fenômenos e a área estudada, abrimos esta seção para realizar esclarecimentos sobre os procedimentos empregados. Assim, de modo geral, exporemos alguns tópicos visando iluminar e delimitar as opções científicas aplicadas.
Campo de estudo Demarcamos logo de início que esta pesquisa possui um caráter eminentemente geográfico e que por isso segue preceitos direcionados por esta ciência. No entanto, aposta em uma vertente de caráter interdisciplinar, em contato com outras áreas do conhecimento; entendendo que assim o conhecimento geográfico se torna mais inteligível (HISSA, 2002).
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Adiantamos que o acesso mais direto à temática da Religião não faz desta pesquisa um estudo teológico. Embora tal campo possa ser visto como uma contribuição à compreensão da ação eclesial no espaço geográfico averiguado. Quando nos referimos à Religião, estamos nos restringindo ao entendimento específico de investigação sobre a Religião Católica. Com efeito, acreditamos que, pelo menos em parte, este texto esteja em consonância com o eixo indicativo correspondente às “leituras sobre a transformação territorial do espaço religioso”, apontado por Oliveira (2005), e com a linha de estudos “religião, território e territorialidade”, proposta por Rosendahl (1996). Assim, por tratar de simbolismo religioso, a Geografia da Religião é vista com bastante influência neste estudo. No bojo de discutir o Turismo como uma atividade incidente sobre a “geografia” dos lugares, justamente pela interatividade espacial e fácil adaptação que desenvolve junto aos mais variados espaços temáticos, neste tratamento, fazemos uso de considerações alinhadas pelo campo de estudo conhecido por Geografia do Turismo. A grande área de abrangência da ciência geográfica, chamada Geografia Humana, que percebe as relações sociais como produtora cultural do espaço geográfico, permite que enquadremos esta pesquisa no campo da Geografia Cultural. Entendemos que as práticas religiosas e turísticas possuem uma natureza cultural incidente sobre o “espaço do geógrafo”, ou seja, aquele que o geógrafo analisa. Examinar os fenômenos espaciais por uma ótica cultural tem se tornado preocupação de um número crescente de geógrafos, possibilitando vários mecanismos de análise. A imaginação geográfica das pessoas, que, grosso modo, pode ser entendida como a imaginação geográfica dos lugares estudados, é um caminho apontado. Com isto, ao darmos voz aos atores e agentes que partilham da realidade em estudo, trabalhamos com a idéia de averiguar as percepções significativas destes no sentido de compreender o imaginário regional pelo seu novo molde após a instalação do Santuário em tela. Como um dos conceitos mais caros à Geografia em toda a sua história, Região será aquele mais abordado na pesquisa, principalmente quando nos reportarmos à Região turística da Ibiapaba. Isso não quer dizer, porém, que, para fazermos uma análise geográfica o mais completa possível, não iremos recorrer a outros conceitos geográficos, tão caros ao entendimento da Região.
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A composição do título da pesquisa: “A Resignificação Religiosa do Turismo Regional: Um Estudo Geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande”, no entanto, pode ser capaz de evidenciar os principais eixos temáticos empregados (Figura 1), aportando no Santuário o foco principal. Figura 1: Esboço reduzido da investigação
Fonte: Elaboração própria, a partir de Santos (2006).
Resultado de reflexões acerca dos temas propostos, esta pesquisa teve sua origem numa viagem, podemos dizer turística, realizada à Região da Ibiapaba em 2006, na qual pudemos visitar o Santuário de Fátima da Serra Grande ainda no seu estágio inicial de construção. Daí diferentes situações convergiram a favor do desenvolvimento do projeto, sendo possível, em curto espaço de tempo, torná-lo uma realidade. O amadurecimento teórico e metodológico veio mediante as discussões realizadas na Universidade, no contato com a orientação direcionada e, concomitantemente, pela participação em grupos de estudos afins a tais debates.
Recorte espacial e temporalidade de estudo Os estudos geográficos sempre se situam por recortes espaciais e temporais de referências. Perdemos quando rompemos com a interligação de áreas e temporalidades, contudo, por outro lado, podemos ganhar no que toca à apuração mais detalhada dos fatos. Dialeticamente, estas escolhas não funcionam como barreiras que nos impedem de transbordarmos as referências tomadas a princípio. Caso seja necessária a “saída” a outros recortes espaciais e temporais visando o melhor entendimento da realidade estudada, não devemos ficar presos, sob a pena de mal explicarmos os mesmos.
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Assim, a área espacial prioritária do nosso estudo conjuga três instâncias principais: o Santuário de Fátima da Serra Grande, a Região da Ibiapaba e a cidade de São Benedito (Figura 2), não necessariamente sempre nesta ordem. O recorte territorial de atuação da Diocese de Tianguá, respondente por tal Santuário, deverá ser consultada justamente por compor uma explicação territorial de implantação do mesmo.
Figura 2: Área representativa de estudo
A Região da Ibiapaba, composta por nove municípios, é alvo de nossas investigações por já possuir um discurso turístico formado. Pode agora ser revista pela implantação do centro de atração religiosa e turística que é o Santuário de Fátima da Serra Grande. Localizado na cidade de São Benedito, o Santuário já ocasiona transformações paisagísticas e territoriais em sua cidade sede; por isso mesmo este circunscreve outro espaço analisado neste estudo. Pela relação intermediária que adotamos entre o Santuário e a Região da Ibiapaba, demarcamos como temporalidade referencial de nossas análises o ano de 2005, quando tem início a construção das obras do Santuário. No entanto, a fim de realizarmos compreensões acerca da constituição deste centro religioso, teremos de nos envolver com o tempo de trabalho da Diocese de Tianguá, retrocedendo a data lançada
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acima. Isso porque só assim conseguiremos revelar a “chave que abre as portas” para o entendimento espacial da realidade geográfica posta. Quando tivermos que considerar a organização política do Turismo na Região da Ibiapaba este exercício de “volta no tempo” (tomando por base o ano de 2005) também se mostrará necessário. Admitindo que o espaço geográfico além de ser um híbrido de marcas passadas e presentes é ainda palco imaginativo de virtualidades futuras (SANTOS, 1996), também nos remeteremos neste estudo às potencialidades que o espaço religioso do Santuário pode conter rumo a um futuro promissor, tendo em vista a imaginação criadora do homem. Para realizar uma pesquisa mais elaborada, os geógrafos que estudam sobre Religião penetram, ou pelo menos assim devem fazer, na vida religiosa, estudam-na do interior. Percebem como o futuro e a idéia de outro mundo é vivenciada pelos fiéis (CLAVAL, 2008).
Sobre o método O trabalho científico direcionado amiúde para um objetivo de investigação caminha para o conhecimento e possível explicação de determinado(s) fenômeno(s). Para tanto, deve seguir a um método que direcione seus rumos. Desta forma, o método usado numa pesquisa diz muito no seu resultado final. A sua variação implica certamente em seu produto terminal. O método diz respeito às concepções amplas de interpretação do mundo, de objetos e de seres, referentes às posturas filosófica, lógica, ideológica e política que fundamentam a ciência e os cientistas na produção do conhecimento (HISSA, 2002, p. 159).
Este estudo se estrutura, assim, pelos moldes de predominância do método fenomenológico, dirigindo-se em maior grau como uma pesquisa qualitativa de análise geográfica, baseada, principalmente, no estudo da “imaginação” (BACHELARD, 1989). No entanto, sabemos que “o projeto fenomenológico se define como ‘uma volta às coisas mesmas’, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como seu objeto intencional” (SPOSITO, 2004, p.35). É procedendo por esta ideologia que tocamos a pesquisa adiante. Os atores e agentes escutados, mesmo diante das limitações estruturais da pesquisa, são analisados através de seus imaginários intersubjetivos, frutos de suas
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experiências culturais e expressos por suas percepções1. A realidade geográfica que lhes tocam é analisada através da vocação analítica que a considera como criação social, pois “é na relação intersubjetiva que o lugar vai sendo construído” (NOGUEIRA, 2004, p.217). Aproximando o entendimento fenomenológico aos preceitos geográficos, Nogueira (2004, p.212) ressalta: A perspectiva fenomenológica da geografia deixa de priorizar a descrição do mundo físico e humano, para descrever o mundo vivido, onde o físico/humano são elementos percebidos e interpretados pelos diversos sujeitos que os experienciam.
Como a investigação aqui desdobrada pretende absorver “o espaço por ele mesmo”, afinal de contas “o próprio do espaço deve mostrar-se a partir dele mesmo” (HEIDEGGER Apud SAMARAGO, 2008, p.19), entendemos a extensão geográfica estudada por uma constituição de aspectos identitários (projetivos) de vinculação religiosa, de um lado, e uma perspectiva turístico-regional de outro. No paralelo à composição emergente de um Santuário católico de forte apelo conciliador e grande plasticidade simbólica, as vivências e as possíveis prospecções do espaço circundante também se revestem em designações analíticas. Clareando os caminhos de pesquisas afins, Fabri (2007, p.40), com base nas idéias de Husserl, destaca: Uma fenomenologia da cultura deve ter como objetivo analisar e descrever as relações de motivação entre os indivíduos, bem como a relação desses com os objetos culturais de seu próprio Umwelt2. Trata-se de compreender em que medida são possíveis formações sempre novas de significar e resignificar o mundo no interior da vida coletiva3. O devir do mundo circundante é determinado pela liberdade que caracteriza o agir humano.
Sobre a metodologia “A pesquisa cientifica é uma busca de informações, feita de forma sistemática, organizada, racional e obediente a cerca das regras” (MOREIRA, 2002, p.11). Direcionada em muito pelo método adotado, a metodologia de uma pesquisa científica
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Moreira (2002, p. 108) corrobora dizendo: “o método fenomenológico enfoca fenômenos subjetivos na crença de que verdades essenciais acerca da realidade são baseadas na experiência vivida”. 2 “O Umwelt (mundo circundante) é sempre e necessariamente algo percebido, rememorado, imaginado, etc. por alguém, vale dizer, ele é intencionado de diferentes modos por aquele que o percebe, rememora, imagina, e assim por diante. Conseqüentemente, não se pode separar o mundo circundante dos atos da pessoa” (FABRI, 2007, p. 40). 3 O destaque em negrito fica por nossa conta.
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presume caminhos que a levarão a um determinado fim (DEMO, 1991). A metodologia pode, então, ser caracterizada pelos seus aspectos instrumentais, referindo-se: [...] ao conjunto de procedimentos – incluindo uma diversidade de técnicas – adotado por uma atividade científica para a produção do conhecimento [...] Cada pesquisa demanda um projeto (metodológico) que lhe corresponda (HISSA, 2002, p. 159-164).
Os procedimentos adotados nesta pesquisa, inscritos na tentativa de facilitar a compreensão da complexa realidade em estudo, funcionam como meios reguladores canalizados para alcançar os anseios objetivados. Para que possamos ter um exame bem apurado da pesquisa empreendida, não podemos, assim, considerá-los em separado. Sublinhamos tais procedimentos em quatro momentos principais: a) Levantamento, análise e revisão bibliográfica: Consiste na consolidação de uma base teórica capaz de ventilar possíveis respostas às indagações surgidas através das inquietações empíricas relacionadas com o campo de estudo. Neste sentido, trabalhou-se com livros, artigos, dissertações, teses, dentre outros materiais. Trata-se de uma leitura cara ao entendimento dos fenômenos estudados. b) Trabalho de campo: Imprescindível a um estudo geográfico de caráter empírico, refere-se às visitas e contatos que estabelecemos com o universo (físico e humano) estudado. Além de oportunizar ambiência e conhecimento da área, possibilitou importantes momentos de observações da realidade. c) Aplicação e interpretação de inquéritos: Realizado em parte no campo, seguindo ao rigor científico, acatando ao método predominante utilizado na pesquisa, optamos, para além da observação real, por trabalhar com o recurso do inquérito, buscando informações através de duas maneiras: entrevista e questionário. A entrevista, aplicada com atores que representam um grupo ou instituição. O questionário, utilizado com determinados agrupamentos. Este trabalho, mesmo com suas demarcações, acontece no intuito de retratar existencialmente as percepções geográficas acerca da realidade avaliada. d) Confecção e uso de material iconográfico: Diz respeito basicamente à aquisição e produção de imagens que auxiliam na leitura e compreensão do texto integral. Refere-se à inserção de mapas, figuras, fotografias, tabelas e gráficos, usados para representar o espaço geográfico em estudo, melhorando a visualização do corpo dissertativo.
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Capitulo I:
A abordagem geográfica da Religião e do Turismo
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CAPÍTULO I: A ABORDAGEM GEOGRÁFICA DA RELIGIÃO E DO TURISMO
1.1. A Religião enquanto tema cultural de interesse geográfico Expressão institucional do ponto de vista espiritual, reflexo das escolhas culturais de vida dos seres humanos, a Religião faz parte das discussões geográficas, principalmente, pela tentativa dos geógrafos de entender e explicar as razões que levam o indivíduo a perceber e significar certas porções do espaço geográfico como sagradas. Como tema profundo à vida social e cultural da humanidade, a Religião, atividade esta repleta de implicações e significados espaciais, ao longo do processo de evolução do pensamento geográfico não recebeu grande relevância nos estudos desta ciência. Foi por muito tempo negligenciada pelos geógrafos. Na Geografia brasileira este fato nos parece ainda mais notório. Ao realizarmos um exame da obra “Geografia – Pequena História Crítica” de Antonio Carlos Robert de Moraes (1987), onde o autor faz um balanço da evolução do pensamento geográfico, apresentando e, em algumas vezes, confrontando ideologias das principais escolas, autores e linhas de análises, mesmo levando em consideração os seus contextos históricos, não conseguimos encontrar nenhuma menção a estudos que pudéssemos relacionar diretamente ao entendimento da Geografia da Religião; nem mesmo quando se relatou sobre o processo de renovação da Geografia. Contudo, ao reconhecer que o movimento de renovação da Geografia “advém da diversidade de métodos de interpretação e de posicionamentos dos autores que o compõem” (1987, p. 98), Moraes faz um apontamento para as novas perspectivas das pesquisas geográficas, como as possibilidades de estudos sobre as formas de representação do espaço geográfico. Espaço que é, a nosso ver, carregado de feições e significados religiosos. O descuido da Geografia para com as investigações sobre Religião, o que não aconteceu tão fortemente nas outras Ciências Sociais, que contribuíram em muito para melhorar a ventilação explicativa deste fenômeno, é ressaltado em parte por Rosendahl (1996) por dois aspectos principais: 1º) a influência positivista na Geografia; e 2º) a irrelevância da temática para a Geografia Crítica.
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No que toca à educação positivista, é sabido que, esta, na sua acepção, deixou um legado de ser concernente a Geografia estudar os fenômenos de sua ordem por uma base primeiramente física, dificultando a realização de análises que partam de concepções abstratas perante conteúdos culturais e simbólicos, revelando a espacialidade material econômica e populacional como eixo indispensável para as suas investigações. É, pois, verdade que “o partido positivista adotado dissuadia os geógrafos das representações” (CLAVAL, 1999, p. 45). De acordo com a visão positivista, os objetos só podem ser estudados pelas suas revelações exteriores. Explanações fenomenológicas não são bem vindas, isto porque não são passíveis de uma fácil exposição aos olhos desses críticos. “O positivismo caracteriza-se por um agnosticismo no qual nega a razão e a fé o poder de provar a existência de Deus [...]. A existência de Deus constitui-se em uma questão metafísica, fora do âmbito da ciência positiva” (ROSENDAHL, 1996, p.20). Grosso modo, pode-se dizer que o positivismo provoca uma espécie de afastamento entre Religião e ciência. Por sua vez, a Geografia Crítica, portadora de uma proposta austera de questionamentos às bases da Geografia Tradicional – que adotava o positivismo como premissa –, não conseguiu ensejar grande interesse nos geógrafos para que estudassem as dimensões geográficas da Religião. “O procedimento rigorosamente materialista de análise em busca das forças que realmente moviam a sociedade, levou os geógrafos a marginalizar as questões religiosas de seus estudos” (ROSENDAHL, 1996, p.22). Influenciados diretamente pelas concepções marxistas, os geógrafos críticos se pautaram, sobretudo, por questões que denotavam as contradições do modelo de produção capitalista, ficando, assim, negligenciados das averiguações outros comportamentos do ser humano, como a religiosidade. É também verdade afirmar que a relação entre marxismo e Geografia Cultural não se desenvolveu por um diálogo mútuo (COSGROVE, 2007). A esse respeito, Claval (1999, p. 59) ressalta: Os regimes marxistas tentavam apagar as culturas ou reduzi-las a um folclore indigente [...] Os intelectuais marxistas contribuíram amplamente para o declínio dos estudos geográficos culturais, pois para eles, o econômico explicava tudo em última instância.
A esse período em que a Geografia esteve a se descuidar do estudo da Religião, Santos (2002) denominou-o de “Geografia sem religião”, afirmando que tanto a chamada
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[...] Geografia Tradicional quanto a Geografia Marxista (com raras exceções) negligenciaram a dimensão sensível do homem de percepção do mundo. A primeira por negar o conhecimento subjetivo; a segunda, por rotular de alienação toda e qualquer relação afetiva ou simbólica do homem com a natureza (p.24).
Mesmo na Geografia Humana algumas correntes de estudo pouco consideraram a religiosidade do ser humano, deixando à margem de suas investigações aspectos como a percepção e a imaginação das criaturas diante das expressões religiosas. O quadro recorrente de afastamento dos contextos religiosos nos conteúdos geográficos, porém, é então relativizado pela atuação e importância da linha de pensamento conhecida por Geografia Humanista (CLAVAL, 1999; ROSENDAHL, 1996; OLIVEIRA, 2001; SANTOS, 2006). A Geografia Humanista, como maneira distinta de enxergar as relações geográficas, remete o homem ao centro de suas análises, tirando-lhe de uma situação secundária e limitada. Ela vai ao encontro da dimensão subjetiva do homem, entendendo-a como possuidora de fortes incidências geográficas. Nesta ordem, os fenômenos são analisados e apresentados a partir de onde ganham vida, do íntimo de cada ser. “De acordo com esse novo paradigma de conhecer o mundo, não somente em sua percepção do mundo, mas também pelo imaginário que elabora acerca do meio em que vive, torna-se possível uma reflexão do fenômeno religioso na geografia” (ROSENDAHL, 1996, p.23).
1.1.1. A importância da renovação e difusão da Geografia Cultural É consenso que a denominada virada cultural na Geografia trouxe grandes avanços às pretensões das análises dos geógrafos que enveredavam seus estudos por uma ótica cultural, ampliando as possibilidades teórico-metodológicas. Neste bojo, a Religião passava a ser estudada de forma mais estruturada nesse campo científico, assim como outros temas. Simbolismo e identidade são alguns desses. Essa passagem resulta no processo de renovação da chamada Geografia Cultural e tem como referência inicial a segunda metade da década de 1970. Uma leitura das ações que levaram a tal acontecimento ajudará a compreender como a Religião, em meio à inserção de novas perspectivas à Geografia, passou a ser incorporada pelo julgamento dos geógrafos como fenômeno cultural de seus interesses.
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A Geografia Cultural4, considerada subcampo da Geografia, tem seu processo de difusão iniciado na Europa, estendendo-se daí para outros lugares, já possuindo mais de um século de existência (CORRÊA & ROSENDAHL, 2007). Nasce a partir das observações dos diferentes gêneros de vida e paisagens, quase que exclusivamente levando-se em consideração as comunidades rurais. O modo de vida urbano não interessava. A paisagem ficava compreendida como o resultado do trabalho do homem, produto de sua cultura. Oculta ou explicitamente, o tema cultural sempre fez parte das análises dos geógrafos humanos5, ocorrendo uma espécie de sistematização dessas considerações a partir do século XX. Alemanha, França e Estados Unidos apresentaram-se como os países mais expressivos no tocante à disseminação dos estudos de Geografia que optavam por uma perspectiva cultural de explicação dos fenômenos. A saber, essa abordagem era denominada Geografia Cultural. Em realidade, foi nos Estados Unidos, especialmente, que a Geografia Cultural ganhou uma sólida base de sustentação, principalmente através dos estudos de Carl Sauer. A obra de Sauer, tido por alguns como o “pai da Geografia Cultural”, hoje considerada tradicional, sobretudo pela crítica à sua visão supra-ôrgânica de cultura, “teve importante papel na história do pensamento geográfico, deixando um rico legado. Dialeticamente, sua presença se faz sentir na geografia cultural renovada” (Corrêa & Rosendahl, 2007, p.11). A Escola de Berkeley, por sua nota, teve papel ímpar no favorecimento da inserção da variante temática cultural nas discussões geográficas, onde já se tem hoje um relativo entendimento epistemológico da cultura no corpo da “ciência do espaço”, a Geografia (MARTINS & SILVA, 2007), fator que, em parte, deve-se à melhor compreensão do conceito de cultura, incorporando as subjetivas maneiras de se vivenciar o conteúdo simbólico dos fenômenos geográficos. Até que acontecesse o processo de revisão dos geógrafos ao conceito de cultura, seus estudos se desenvolviam de uma forma reducionista, limitando-se às técnicas e utensílios que os homens utilizavam na transformação da paisagem, reflexo do que se
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Em nota: o termo Geografia Cultural é lançado pela primeira vez por Ratzel em 1880 na obra chamada Culturgeographie der Vereinigten Staaten von Nord-Amerika unter besonderer Berücksichtigung der wirtschaflichen Verhältnisse (CLAVAL, 1999). 5 “Da maioria dos geógrafos humanos pode dizer-se que estão a “fazer” geografia cultural de uma forma ou de outra, mesmo quando eles se chamam a si próprios de “geógrafos urbanos”, “geógrafos históricos”, “geógrafos da população”, etc.” (KONG Apud SANTOS 2006, p.146). Complementando este raciocínio, Paul Claval (2007, p.163) comunga com a concepção de que “todos os fatos que a geografia humana trata são apreendidos por meio de mediações culturais”.
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entendia por cultura (CLAVAL, 1999). Os temas cultura, paisagem cultural, região cultural, história da cultura e ecologia cultural predominavam no seio da disciplina6. O interesse dos geógrafos pelos fatos de cultura era centrado no conjunto de utensílios e equipamentos elaborados pelos homens para explorar o ambiente e organizar seu hábitat. A mecanização e a modernização introduzem um arsenal de máquinas e de tipos de construções tão padronizados que o objeto de estudo é esvaziado de interesse. A geografia cultural entra em declínio, porque desaparece a pertinência dos fatos de cultura para explicar a diversidade das distribuições humanas (CLAVAL, 1999, p.48).
Como a visão de cultura nos estudos geográficos se resumia aos modos de existência e sobrevivência de alguns grupos que estariam à margem do progresso, esta Geografia se negava a estudar as implantações modernas. Por isso a sensação real de crise, afinal a globalização surgia com uma promessa de homogeneização. Contraditoriamente àquilo que foi pensado, os efeitos do processo da globalização não conseguiram extinguir os diferenciados estilos de vida dos grupos sociais, tornando-os inclusive mais notáveis na maioria dos casos. A massificação não se deu por completo. A cultura ganhou ares de multiplicidade, brotando de diversas interações. Portanto, incidiu que, diante de um mundo “multicultural”, tornava-se manifesto crescente o interesse de geógrafos por esse campo, elegendo a cultura como elemento essencial de suas análises. Em registro, postula-se que a Religião faz parte decisivamente do cotidiano cultural de grupos e lugares. Num apontamento embasado frente às limitações analíticas engendradas pelas epistemologias naturalistas e funcionalistas, visões de parte dos geógrafos do final do século XIX e de parte do século XX, que ideologicamente dispensavam o questionamento crítico à natureza e à sociedade, Paul Claval (2002) vem nos elucidar o fato de que estas concepções não deram o lugar devido às ações executadas pelo indivíduo. Ressalta o autor que: El enfoque cultural corrige estas orientaciones: al concebir el espacio como una escena donde los seres humanos se ofrecen al espectáculo, representan papeles que los valorizan, los enriquecen o les aseguran ciertos poderes, tiene en cuenta al individuo y las iniciativas de que es autor. Nos hace descubrir el sentido que le dan los seres humanos a los decorados que los rodean y que, en gran medida, han construido. Nos hace entrar en el universo de sus valores y creencias, y aclara las estrategias que retienen en su vida social, política o cultural (p.38).
Destarte, seguindo a orientação indicada acima, as análises dos geógrafos começavam a considerar as representações imaginárias do indivíduo. A partir daí o mundo passa a ser visto pelo lado perceptivo de quem o vivencia, de quem lhe traz 6
Ver: Os temas da Geografia Cultural dos autores Philip L. Wagner e Marvin W. Mikesell, (2007).
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animação. A cultura passa a se constituir em um elemento primaz às análises de tal natureza, não mais explicando tudo, e sim, precisando ser explicada quando abordada em estudos sobre as realidades geográficas de regiões, territórios, paisagens e lugares – instâncias estas constituídas de fixos e fluxos, fatores básicos da conceituação de espaço geográfico (SANTOS, 2005). Espaço que é palco da vida social, onde os homens descansam seus laços afetivos e desenvolvem seus mecanismos de comunicação. É diante deste novo patamar de abordagem que a Geografia Cultural se renova. Uma possível definição dessa “nova” geografia cultural seria: contemporânea e histórica (mas sempre contextualizada e apoiada na teoria); social e espacial (mas não reduzida a aspectos da paisagem definidos de forma restrita); urbana e rural; atenta à natureza contingente da cultura, às ideologias dominantes e às formas de resistências. Para essa “nova” geografia a cultura não é uma categoria residual, mas o meio pelo qual a mudança social é experienciada e, contestada e constituída. (COSGROVE & JACKSON, 2007, p. 136).
Os estudos de Geografia Cultural, por expressão, devem, então, reclamar por explicações que relacionem o meio geográfico com o homem através de suas atividades culturais. Devem pensar a percepção do ser para com o espaço que visita ou que habita. Por exemplo: Como peregrinos e romeiros ou turistas vivem a festa religiosa e percebem o espaço sagrado? Como os moradores da localidade anfitriã dessa mesma festa a entendem? Obviamente que suas experiências culturais refletirão diretamente em suas concepções de existência e convivência. É também provável que os estudos postos adotem conceitos variados de cultura, retratando da melhor maneira o fenômeno que estão a averiguar. Superando a visão de cultura como um agente supra-orgânico, como via Carl Sauer, onde o ser humano não passava de um simples receptor desta suposta força dada, compreendemo-la como uma variável política e que “enquanto criação social, é parte integrante da trajetória humana” (CORRÊA, 2007a, p. 172). Pouco acrescentaria se aqui recorrêssemos por uma definição una de cultura, assim preferimos tê-la como “multi”, brotando das diversas relações sociais, salvaguardando suas especificidades de tempo e lugar. Assim, acreditamos que a cultura possui simultâneas geografias como lócus de sua representação e vivência, com um status perceptivo peculiar. Não obstante a produção bibliográfica com abordagem centrada na dimensão cultural, por vários motivos, ainda consista em uma quantidade relativamente menor do que outros ramos da Geografia, estudando Religião ou temas outros, alguns autores se
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destacam nesse tratamento7 e contribuem para o incremento dessa discussão geográfica, visitando freqüentemente outras áreas do conhecimento, como Filosofia, Ciências da Religião, Psicologia, Sociologia, Antropologia etc. Aproximando as discussões da Geografia Cultural com as intenções marcadas nesta seção textual, salientamos que, na “Geografia Cultural Tradicional”, a Religião se apresentava pelas formas descritivas dos lugares possuidores desse cariz. Mesmo com todo o preconceito vindo dos paradigmas positivistas, tornava-se quase que impossível desconsiderar a questão religiosa frente à realidade geográfica de lugares e regiões, pelo menos como uma atividade disseminadora de formas arquitetônicas magníficas tidas como sagradas, que geravam por ora uma atratividade surpreendente. Em causa: Os geógrafos preocupados com as realidades culturais dedicam uma atenção crescente aos fatos religiosos. Eles continuam, portanto, a abordá-los do exterior, a partir dos signos que imprimem na paisagem. Hesitam em tratar de sua influência sobre os comportamentos e sobre as escalas de preferência que instituem (CLAVAL, 1999, p.45).
Na seqüência das palavras ditas acima, Paul Claval aponta como importante contributo ao avanço da discussão da Religião pela Geografia a obra do francês Pierre Deffontaines: Géographie et religion (Geografia e religião), datada de 1948. Em outro número literário, Claval (2007) faz menção a mais um trabalho científico também inerente ao amadurecimento da apreciação posta: L’ Homme et la Terre (O Homem e a Terra), de outro francês, do historiador Eric Dardel, escrita em 1952. De fato, estas produções configuraram-se como contribuições respeitáveis aos anseios da Geografia da Religião – objeto de nossas próximas discussões. No entanto, não podemos deixar de mencionar que os avanços epistemológicos da Geografia Cultural refletiram em potencialidades para os estudos da Geografia da Religião. Um dos grandes feitos reside na mudança de escala das análises, antes focadas em grandes paisagens e regiões, passando a permitir o estudo de espaços mais reduzidos, como um bairro, uma rua ou um santuário (SANTOS, 2006). Com a reformulação da Geografia Cultural, a Religião passou a fazer parte mais intensamente do rol das atividades culturais assim demarcadas pelos geógrafos, sendo vista até pelos seus aspectos simbólicos. Assim, o foco desses estudos conseguiu ir além das materializações espaciais da Religião, chegando até o modo como as pessoas ao vivenciarem suas crenças interpretam estes espaços.
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Julgamos que as referências que usamos aqui denunciam em parte algumas dessas fontes.
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1.1.2. Sobre a disciplina Geografia da Religião
De acordo com a subdivisão que realizam os geógrafos nesta ciência, estabelecendo nomenclaturas singulares às suas áreas de especialização, em consonância com as atividades que diretamente estudam8, a Religião, como seu alusivo nome indica, é analisada de forma mais acentuada pela disciplina Geografia da Religião. Situada mais acertadamente como sub-ramo integrante do campo da Geografia Cultural, pelas relações estreitas existentes entre os aspectos religiosos e culturais exprimidos por pessoas e lugares, a Geografia da Religião enquadra-se mais perfeitamente na grande divisão Geografia Humana (FICKELER, 2008). A Geografia da Religião9, como parte da Geografia que tece preocupações acerca dos fatos religiosos, relacionando-os a quadros espaciais, faz atualmente um uso significativo de abordagens que privilegiam as compreensões dos seres humanos frente aos fenômenos simbólico-religiosos. Tem, por ordem, a tarefa de investigar e explicar as relações entre a Religião e a realidade geográfica dos lugares. Enquanto disciplina, a Geografia da Religião passou por algumas etapas de evolução (Ver Figura 3). Remontando ao período da Antiguidade grega, é a partir dos séculos XVI e XVII que se denotam os primeiros indícios de conhecimentos referidos à classificação geográfica sobre a Religião. Fazendo-se de informações teológicas, sobretudo para cartografar os lugares religiosos, os geógrafos contribuíram nessa mesma época para a sistematização do que se chamou de Geografia eclesiástica. Ao mesmo tempo do desenrolar desta última, ainda no decurso do século XVII, surge da necessidade e vontade do geógrafo de identificar, localizar e representar os lugares descritos pela Bíblia a denominada Geografia bíblica, conhecimento que se estende até o início do século XX. Este é um período que se caracteriza incisivamente por estudos descritivos, geralmente analisando o cristianismo em seu nível de crescimento (SANTOS, 2006).
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É o que Hissa (2002) chama de “distritos do saber”. Como por exemplo: Geografia do Turismo, Geografia da Indústria, Geografia Agrária, Geografia da Saúde, dentre outras. 9 Em contribuição e acréscimo: a expressão “Geografia da Religião” foi usada pela primeira vez pelo teólogo alemão Goulieb Kasche, em 1795. Bernhard Varenius (1649), por sua vez, pode ser compreendido como o precursor deste campo disciplinar. Já Kant (1724-1808) pode ser visto como o fundador de uma moderna Geografia da Religião. Mas é somente com os trabalhos de Fickeler (1947) e Deffontaines (1948) que surge a disciplina científica Geografia da Religião. Ver de forma mais amiúde sobre estes acontecimentos em Santos (2006), de onde tiramos estes esclarecimentos.
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Figura 3: Antecedentes, gênese e evolução da Geografia da Religião (esquema-síntese) Antiguidade clássica
GEOGRAFIA DA RELIGIÃO
Geografia eclesiástica Geografia bíblica
......................................----------------------------------------------------Séculos XVI-XIX
Anos 40-50 -Despertar-
Anos 60-70 -Construir-
Anos 80-90
Século XXI
-Consolidar-
-Novos caminhos-
Século XX Fonte: Adaptado parcialmente de SANTOS (2006, p. 128).
Segundo Santos (2006), é a partir do Pós Segunda Guerra Mundial que acontece o movimento de despertar da verdadeira Geografia da Religião, agora baseado essencialmente em conhecimentos geográficos formais, cujas informações religiosas serviam apenas de suporte ao entendimento das realidades espaciais. No andamento do processo de evolução, é entre os anos 60 e 70 que vem a ocorrer o período da construção10 disciplinar. Foi durante estes dois momentos citados por último que paisagens e territórios passaram a ser mais bem analisados pelos seus aspectos de influência religiosa. Somente no início dos anos 80 é que a Geografia da Religião conhece seu processo de consolidação, firmando-se como campo reconhecido no seio da ciência geográfica. Assim, com a validação científica, surge a oportunidade de inovações nos métodos de estudo, não por acaso seguindo as transformações do processo de renovação da Geografia Cultural. O homem passa a ser visto por sua “individualidade” religiosa, o que enriquece as possibilidades deste campo de estudos. Já o século XXI, diante do aumento das mazelas que vivem a população num todo, desponta com muitos desafios a Geografia da Religião, requerendo respostas inteligíveis no que concerne ao entendimento da formatação de quadros espaços-religiosos, suscitando novos caminhos de investigação (SANTOS, 2006). Tanto em nível nacional como mundial, ganham cada vez mais importância na ciência geográfica discussões sobre os efeitos das diversas legendas religiosas. Cresce o 10
Santos (2006, p.174) apresenta um quadro-síntese com os nomes dos principais autores que concorreram com seus trabalhos para a construção do corpo teórico da disciplina Geografia da Religião.
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número de departamentos, núcleos11, revistas, encontros e grupos de pesquisas12 de Geografia que incorporam esta temática em seus anseios universitários. Mesmo ainda em estágio inicial de evolução, no Brasil o estudo geográfico da Religião conhece alguns nomes destacáveis neste tratamento. Aqui relacionamos alguns desses: FRANÇA, 197213; ROSENDAHL, 1996; OLIVEIRA, 2001; GIL FILHO, 2001. Recentemente, a Professora Maria da Graça Poças Santos dispensou ao campo da Geografia da Religião uma ampla e significativa contribuição. Fruto de seu trabalho de doutoramento, a obra da autora portuguesa se intitula “Espiritualidade, Território e Turismo: Estudo Geográfico de Fátima”. Privilegiando uma ótica da Geografia Cultural, situando aí a Geografia da Religião, Poças Santos buscou entender as dimensões espacial, religiosa e espiritual exercidas pelo Santuário de Fátima de Portugal, entendendo-o como um atrativo religioso e turístico. Para tanto, parte de uma noção de território enquanto construção social que carrega vertentes de ordem material e temporal.
1.1.3. O interesse da Geografia pela Religião
Muito influenciadas pelas ideologias do historiador Mírcea Eliade, as investigações geográficas sobre a Religião têm se pautado pela dualidade conceitual entre sagrado e profano. Segundo este autor, esses são os dois modos possíveis de existência do ser humano no mundo. Deste feito, no que tange às refletâncias do espaço sagrado, “o homem deseja situar-se num ‘centro’, lá onde existe a possibilidade de comunicação com deuses” (ELIADE, 2008, p.141). Em geral, o que fica fora deste centro se torna espaço profano. Contudo, a compreensão do acontecimento de processos, encontros e misturas culturais no mundo atual, cada vez mais heterogêneo, nos leva ao entendimento de que 11
Em termos nacionais, o NEPEC (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura), coordenado pela Professora Drª. Zeny Rosendahl, que funciona na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), destaca-se pelo trabalho desempenhado nesta área. Ver: www.nepec.com.br. O NUPPER (Núcleo Paranaense de Pesquisas em Religião), sob coordenação do Prof. Dr. Sylvio Fausto Gil Filho, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), é outro meio de discussão geográfica da Religião. Ver: http://www.geog.ufpr.br/nupper/. 12 Como exemplo, citamos o Grupo “ESTUDOS GEOEDUCACIONAIS - Turismo, Religiosidade e Planejamento Regional na Formação do Imaginário Geográfico” do qual fazemos parte, coordenado pelo Professor Dr. Christian Dennys Monteiro de Oliveira, cadastrado pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e que se encontra vinculado ao LEGE (Laboratório de Estudos Geoeducacionais) do Departamento de Geografia da UFC. Ver: www.lege.ufc.br. 13 Este trabalho configura-se como um estudo precursor na área da Geografia da Religião brasileira.
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sagrado e profano podem, por ventura, ser analisados em conjunto num mesmo recorte espacial – como “espaços sacro-profanos” –, não sendo gerada necessariamente esta separação, ainda quando reconhecemos a importância didática desta. Afinal, “não existe uma fronteira cultural nítida ou firme entre grupos, e sim, pelo contrário, um continuum cultural” (BERKER, 2003, p.14). Diante de um mundo de caráter híbrido, a ciência de hoje exige a produção de conhecimentos holísticos, conseguidos pela interpenetração de saberes (HISSA, 2002). Não fará mal algum à Geografia se for buscar em outras ciências conhecimentos para se enriquecer. Em todo caso, a heterogeneidade cultural-religiosa de lugares e pessoas reclama incessantemente da Geografia uma posição crítica na produção de considerações analíticas diante dos fenômenos religiosos. “A religião imprime uma marca na paisagem através da cultura” (ROSENDAHL, 2008, p.66). Portanto, eis mais um desafio ao geógrafo: desvendar as significações espaciais disseminadas pela Religião. Sobre esta incumbência, Santos (2006, p.167) assinala: [...] é tarefa do geógrafo da religião procurar discernir, no conjunto dos fatores explicativos (sociais, culturais, económicos, etc.) das transformações do espaço, quais são os elementos especificamente religiosos que a elas conduzem e qual o seu peso relativo nesse processo. Deve ter-se em conta que a religião não é um fenómeno estático, devendo ser situada no tempo e no espaço, interpretando as mudanças temporalmente registradas e as mutações espaciais daí decorrentes.
No que se remete ao interesse da Geografia pelo estudo da Religião, a assertiva nos parece mais do que legítima. A Religião, pelo menos na sua expressão institucional, possui uma base territorial de existência, e só este fato já justifica a análise precedida. Porém, algumas mentes por demais práticas e racionalistas não conseguem estabelecer relação sobre as duas áreas em discussão. Em nossa compreensão, é certo que a cultura religiosa oportuniza um considerável campo de análise para a Geografia. Os fenômenos religiosos, como factos culturais e sociais, apresentam consideráveis implicações em termos espaciais, especialmente visíveis quando se trata de grandes sistemas religiosos, em geral profundamente gravados no espaço, desde logo porque propõem aos respectivos crentes uma explicação da ordem do universo (cosmogonia), muitas vezes presente também, em termos simbólicos no modo como modelam os seus espaços, nomeadamente no que se refere às suas formas arquitetônicas. À semelhança do que, mais genericamente, se pode afirmar para a cultura, a religião é uma forma de pensar o espaço e, a partir desta relação, é possível até, em certos casos, identificar regiões culturais cuja marca distintiva fundamental é dada pelo elemento religioso (SANTOS, 2006, p.110).
Reconhecendo o espaço como foco central da análise geográfica, seria possível negarmos a relação entre Religião e Geografia? Ao contrário, só é possível enxergarmos
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uma íntima relação. A Religião tem grande relevância espacial, não podendo ficar fora das análises geográficas. Park apud Santos (2006) complementa estas nossas palavras: Uma geografia que ignora o que podemos chamar “o sobrenatural” negligencia alguns dos mais fortemente enraizados detonadores das atitudes e dos comportamentos humanos, é cega a algumas dimensões criticas da humanidade e passa ao lado de algumas implicações profundamente significativas nos padrões geográficos da actividade humana (p.126).
Alastrando formas e simbolismos pelas mais distintas realidades geográficas, (re)dimensionando a estruturação de territórios, a Religião é, por isso mesmo, compreendida também como um fenômeno de implicações geográficas. Em muito, a ciência geográfica vem detendo seus principais estudos nesta linha – geográficoreligiosa – partindo da análise de templos e/ou santuários, ou seja, de lugares consagrados. Dentre os métodos de pesquisa empregados no campo de atuação estudante dos fenômenos religiosos por um olhar geográfico, o caminho fenomenológico parece ser um dos mais requisitados. Surgido um novo contexto à Geografia Cultural após seu processo de renovação, as representações subjetivas14 passaram a ter importância premente nesses tipos de estudo. Desta forma, quando o estudo geográfico da Religião aposta por uma análise fenomenológica compreende que “cada ser humano possui um mundo somente seu, em contraponto ao mundo único objetivo das ciências positivistas” (NOGUEIRA, 2004, p.229) e que “a religião faz parte das idealizações, ou seja, das representações que os seres humanos fazem de seu mundo e de si mesmos” (HOUTART, 1994, p. 25). Segundo a concepção fenomenológico-geográfica, afirma-se que o lugar só ganha feições sagradas pela relação mitológica e simbólica criada na e pela imaginação do indivíduo crente. Porém, sabe-se que a instituição de poder religioso que idealiza o espaço sagrado é em grande medida responsável pelas considerações imaginárias de sua demanda de fiéis. Nesta perspectiva, Paul Claval (1999, p.53) afirma: Insistindo sobre o sentido dos lugares, sobre a importância do vívido, sobre o peso das representações religiosas, torna indispensável um estudo aprofundado das realidades culturais. É necessário conhecer a lógica profunda das idéias, das ideologias ou das religiões para ver como elas modelam a experiência que as pessoas têm do mundo e como confluem sobre sua ação.
14
O filósofo Gaston Bachelard, quando está falando de “Fenomenologia do Redondo”, em seu livro “A Poética do Espaço”, nos deixa à seguinte reflexão: “As imagens da redondeza plena ajudam a nos congregarmos em nós mesmos, a darmos a nós mesmos uma primeira constituição, a afirmar o nosso ser intimamente, pelo interior” (BACHELARD, 1988, p. 237).
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É, pois, verdade que, nos estudos geográficos da Religião, cada vez mais se mostra alentadora a consideração das representações imaginárias do indivíduo religioso15. Representações geográficas estas que podem, além de ser religiosas, configurarem-se como turísticas também.
1.2. O Turismo e o exame geográfico Ao longo de toda sua história o homem percorreu caminhos em nome das mais variadas motivações. Essas movimentações em suas complexidades sempre exprimiram experiências materiais e não-materiais, tendo em vista as ideologias de cada ser, tornando-as de difícil esclarecimento. Atualmente, o Turismo é uma das mobilidades sócio-espaciais que mais vem merecendo discussão. Afirma-se que o Turismo, reconhecidamente por este termo, surge na Inglaterra no século XIX ligado aos benefícios gerados pela Revolução Industrial, quando as pessoas passam a se deslocar em busca de lazer. Inicialmente, era uma atividade praticada pela aristocracia européia que utilizava o termo faire un tour (dar uma volta) para designar as viagens que faziam, geralmente, dentro do próprio continente (CASTILHO, 1999). Porém, é no século XX e nos primeiros anos do século XXI que o Turismo vem a se consolidar efetivamente, sendo executado em escala global. O suíço Arthur Haulot acreditava que a origem da palavra Turismo tem alguma relação com a expressão hebraica Tur que aparece na Bíblia com o significado de viagem do reconhecimento (BARRETO, 1997). Oliveira (2003, p.117), fazendo uso do neologismo “turismonumentalidade”, reconhece que as raízes globais do Turismo estão diretamente relacionadas com o campo religioso, indicando que a explicação para isso “[...] encontra-se na ampliação conceitual da idéia de santuário como um espaço-tempo, contemporâneo e multifuncional, capaz de projetar a sacralidade e o mito do eterno retorno”. Embora praticado há bastante tempo, o Turismo só se apresentou inicialmente para uma reduzida parcela da população. Foi considerada por longo período uma atividade exclusiva de países ricos ou das classes abastadas, já que em geral exigia boa 15
Em título de curiosidade e complemento: Claval (1999) lembra que Yi-Fu Tuan, no que se trata de fenomenologia, preferia usar o termo abordagem humanista, acreditando que as preocupações humanísticas, em suas abrangências, dão conta de encerrar a questão de possibilitar “voz ao ser”. Tuan, por vez, traz em sua obra Topofilia (1980) um apanhado de casos fenomenológicos que demonstram como diversas culturas exprimem significados dos mais variados aos mais diferentes atributos simbólicos do espaço social.
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condição econômica para ser realizado. Anunciado como resposta a uma necessidade de descompressão, resultante da própria dinâmica do sistema industrial, hoje, entretanto, estas viagens têm se tornado cada vez mais acessíveis às classes médias e baixas. As agências de viagem passaram a divulgar o Turismo como um meio para fugir da tensão cotidiana, difundindo-o como um misto de necessidade/status da sociedade contemporânea. A expansão do Turismo está ligada a diversas conquistas trabalhistas, tais como: aumento do tempo livre, direito às férias remuneradas, crescimento do número de aposentados, maior poder aquisitivo etc. Outro fator que deve ser ressaltado neste sentido é a grande facilidade de locomoção e comunicação propiciada pelos avanços tecnológicos. O desenvolvimento técnico tem possibilitado o intercâmbio de pessoas e o conhecimento de diversos lugares (SANTOS, 1998), corroborando para uma virtual diluição de fronteiras geográficas e culturais. Pensar o turismo é, pois, inseri-lo em um processo global em que prevalece a ampla circulação de capitais e mercadorias, indivíduos e idéias e produtos culturais e símbolos e dentro do qual ganham relevo os apelos mercadológicos para a experimentação de novos lugares, sensações e diferenças culturais. Turismo é, sobretudo, fluxos e redes (ALMEIDA, 1998, p.124).
Por ser multifacetado, compreendido como um fenômeno econômico, social, político e cultural dos mais significativos da contemporaneidade, as tentativas de conceituação, definição e delimitação do que seja o Turismo, no entanto, até os dias atuais, não chegaram a um consenso, incrementando divergências entre as áreas do conhecimento científico que se detêm sobre seu estudo, oportunizando múltiplas visões. Muito estudado por economistas, merecendo destaque como atividade econômica que é, incorporando políticas afins, antes de qualquer tentativa de esclarecimento em termos de conceituação, ressalta-se que, a nosso ver, o Turismo não deveria ser chamado de indústria. Esse fato ocorre pela excessiva ênfase às implicações empresariais e lucrativas desta atividade, desconsiderando-se outras de suas interfaces. As operações de trabalho destas duas atividades divergem em seus manuseios. Quanto ao Turismo, “o que ocorre, na realidade, é uma agregação de valores aos diferenciais turísticos naturais e culturais, e não uma transformação tangível e concreta na matériaprima original” (BENI, 2006, p. 35), como no caso da indústria. Segundo a OMT (Organização Mundial do Turismo), um dos órgãos mais representativos em termos de discussão do fenômeno em apreço, o Turismo caracteriza-
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se como as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares distintos do seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano, com fins de ócio, por negócios e outros motivos que não estejam relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado. Por vista, as finalidades prescritas na definição lançada acima acenam à amplitude de possibilidades presentes no Turismo contemporâneo. Ao mesmo tempo em que reconhecemos a importância desta posição para a regulamentação da atividade no mundo, algumas são as confusões conceituais que ainda persistem no momento de colocarmos a teoria em prática. Fatores como: entorno habitual, tempo de deslocamento, remuneração durante a viagem, ainda causam muitas dúvidas e controvérsias. Novamente, e talvez de forma não tão nítida, a definição de Turismo sugerida pela OMT vai colocar em grande relevo os direcionamentos econômicos desta atividade. Avighi (2000, p.104), por ocasião, vai nos alertar que o olhar unicamente econômico oculta em muito os laços entre o Turismo e a pessoa do turista, “reduz o imaginário da viagem e artefatos culturais [...], oculta a imaginação e a cultura do turista, o que o turista é, ou poderia ser”. Insatisfeito com a definição da OMT no que toca a não caracterização do Turismo enquanto um fenômeno sócio-espacial, Machado (2007, p.73) propõe uma definição de Turismo que julga mais adequada com as bases geográficas de atuação deste fenômeno na organização dos espaços: O turismo é um fenômeno de caráter socioespacial que consiste no deslocamento espacial, temporário e voluntário, realizado de forma individual ou coletiva que apresenta como fator motivador fundamental a alteridade, alcançada na busca pela satisfação pessoal, podendo esta ser motivada pelo lazer, recreação, descanso, cultura e em casos específicos a saúde. Para isso, usufrui-se de uma localidade que apresenta em seus elementos espaciais condições de satisfazer seus desejos pessoais e alcançar a alteridade almejada, não exercendo nenhuma atividade lucrativa, nem remunerada, gerando múltiplas relações nas esferas social, econômica, cultural e ambiental no espaço onde o turismo se insere, seja espaço emissor ou receptivo.
O Turismo vem sendo considerado por muitos governos como a “tábua da salvação” para a economia de seus lugares, uma vez que pode favorecer a criação de empregos, tanto diretos, quanto indiretos (embora muitos desses sejam sazonais e informais). Muitas cidades têm apostado na “turistificação”16 de seus espaços. Todavia,
16
Em termos de análise científica, Knafou (1986, p.70-71) expressa que há três fontes de “turistificação” dos espaços, que são: os turistas, o mercado e os planejadores e promotores territoriais. “Ignorá-las ou se esquecer de uma das três, expõe-nos a erros estratégicos e a decepções”.
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ressalta-se que a geração de renda no Turismo não pode ser tida como sinônimo de distribuição de riquezas. A esse respeito, Castilho (1999, p. 34) enfatiza: [...] a história mundial mostra claramente que o desenvolvimento sócioespacial não se deu de forma homogênea em todos os lugares ao mesmo tempo, o que se deve ao fato de que a lógica de desenvolvimento (capitalista) continua muito seletiva, concentradora, segregadora e polarizada, privilegiando apenas alguns territórios e alguns grupos sociais e deixando muitos outros alijados dos seus benefícios.
Não podemos deixar de mencionar ainda os impactos negativos provocados pelo Turismo no meio ambiente, já que este representa, em parte, sua matéria-prima. Num momento em que se fala a todo instante em crescimento econômico, mesmo sendo este um assunto de muita complexidade, julgamos necessário que os órgãos que lidam direta ou indiretamente com o Turismo devem pensar o planejamento desta atividade da forma mais adequada possível, requerendo-se ainda muitas reflexões a esse respeito. Desse modo, acreditamos que os problemas ambientais creditados ao Turismo ocorrem, principalmente, pela falta de políticas públicas e privadas compromissadas com a realidade social, com a sábia utilização do espaço. Diante de seu crescimento, admitindo novas descobertas espaciais e (re)definindo a realidade geográfica de lugares, paisagens, territórios e regiões, o Turismo vem fomentando um amplo campo de investigações geográficas, refletindo discussões que podem contribuir para um melhor planejamento e uso dos espaços turísticos. Rodrigues (2001, p.22) complementa este nosso raciocínio afirmando que o Turismo “[...] é um importante tema que deve ser tratado no âmbito de um quadro interativo de disciplinas de domínio conexo, em que o enfoque geográfico é de fundamental importância”. O Turismo tem uma dimensão espacial que precisa ser investigada. O espaço turístico, entendido como a “[...] porção do espaço geográfico cuja produção está sendo determinada por uma participação mais significativa do turismo em relação a outras atividades” (CRUZ, 1998, p. 33), deve se fazer identificado pelos geógrafos. Barros (1998, p.8), assim, explica: O centro de interesses da Geografia pelo Turismo, de uma forma geral, está nas formas, nas dinâmicas e nas representações das paisagens derivadas do exercício das atividades turísticas e nas diferenciações areais ou regionais, que estimulam a atividade turística, ou que se criam, por conta da função turística.
A evolução do pensamento geográfico vai denunciar uma ciência que sempre esteve tecendo preocupações acerca das singularidades espaciais. Deste feito, pode-se
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dizer que, mesmo de forma principiante, lançam-se por esses momentos as primeiras nuanças para o estudo geográfico do Turismo (ASSIS, 2003). A busca pelo conhecimento de novos espaços, ainda na época dos viajantes, é indicada como um dos importantes elos entre Geografia e Turismo. As primeiras relações da Geografia com o Turismo se respaldam nas práticas das viagens e no interesse pelo conhecimento de novos lugares. As viagens são práticas geográficas clássicas que estão no cerne dos estudos das diferenças espaciais existentes na superfície terrestre. Os precursores dessa protoGeografia são os “viajantes” que, através dos seus relatos e compêndios de curiosidades sobre lugares exóticos, instigaram os Estados a incentivarem as expedições científicas para a catalogação sistemática de dados e informações sobre os continentes e os países descobertos (ASSIS, 2003, p.108).
O autor citado acima cumpre ainda a tarefa de esclarecer que os viajantes aos quais se refere não estavam preocupados em formular os princípios da disciplina Geografia e que tampouco podemos comparar as suas “viagens de descobertas” com o que hoje entendemos como viagens turísticas. Salienta ainda que, até o final do século XVIII, não se podia falar da Geografia como ciência, com seu objeto, princípios e métodos definidos e particularizados; o que existia eram conhecimentos geográficos dispersos, principalmente, de práticas e relatos de viagens. A sistematização do conhecimento geográfico só ocorre no início do século XIX. Durante muito tempo, a agricultura e a indústria foram as principais atividades econômicas responsáveis pela (re)organização do espaço geográfico, entendido como “um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e ações” (SANTOS, 1997, p. 51). Grande parte dos estudos geográficos, até meados dos anos de 1970, privilegiou, no Brasil, os estudos do campo e, especialmente, da cidade. O terciário (no qual se insere o Turismo), por longo período, foi considerado um setor de pouca relevância econômica que não merecia a atenção científica. O Turismo, de certa forma, foi então preterido pela Geografia, só ganhando maior expressão em termos analíticos a partir das duas últimas décadas. Atualmente nota-se um crescimento desses estudos. A geografia passa a se interessar pelo turismo quando percebe neste um novo modelo de deslocamento, motivado por fatores alheios ao cotidiano habitual, que eram os principais motivadores das viagens. Além disso, a geografia passa a se interessar pelas importantes repercussões que o turismo gera no espaço onde o mesmo se insere. Estas repercussões, destacadas como efeitos multiplicadores do turismo, envolvem a esfera econômica, mas também a social, cultural, política e ambiental (MACHADO, 2007, p. 73).
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Tradicionalmente, os estudos geográficos do Turismo se detêm pelos serviços e distribuição da infra-estrutura turística, sobressaindo-se os aspectos desempenhados pela oferta dos lugares, seguido das atrações paisagísticas. A ampliação de possibilidades investigativas veio amadurecendo com a própria evolução disciplinar da Geografia. Hoje, por exemplo, já existem trabalhos de geógrafos que seguem uma abordagem humanística, fazendo, muitas das vezes, uso do método fenomenológico no trato do espaço envolvido pelo Turismo em seus estudos de caso. O Turismo vem sendo estudado pela Geografia de diversas maneiras, constituindo um campo de estudo conhecido como Geografia do Turismo17, para designar o ramo da Geografia que se ocupa da análise do fenômeno turístico no espaço (RODRIGUES, 1997). Dado o processo de reformulação teórico-metodológica da Geografia e pelas aplicações que investe nos lugares, o Turismo vem ganhando destaque crescente no conhecimento geográfico. Faz-se necessário, no entanto, distinguirmos Geografia do Turismo do que se denomina Geografia turística. A primeira estaria focada sobre uma reflexão geográfica do Turismo nas suas múltiplas dimensões espaciais, enquanto a última estaria preocupada em simplesmente repassar informações descritivas dos lugares, sem exprimir quaisquer preocupações analíticas sobre as realidades interferidas pela atividade turística. Ao consultarmos a clássica obra “Geografia do Turismo: fluxos e regiões no mercado de viagens” de Douglas G. Pearce, lançada em 1987, atualizada na seqüência e traduzida em diversos idiomas, tida como uma grande referência na área de estudos posta, onde o autor apresenta uma gama de modelos espaciais de análise do Turismo, logo da sua introdução podemos retirar a seguinte consideração: O turismo é uma atividade que diz respeito essencialmente a pessoas e lugares: a lugares que um grupo de pessoas deixa, visita ou que nele está de passagem; a outro grupo de pessoas, as que tornam possível a viagem, e outras ainda, aquelas com as quais cruzará pelo caminho [..] Em termos geográficos, uma diferença fundamental entre turismo e outras formas de lazer , como aquelas praticadas em casa (por exemplo, ver televisão) ou dentro de um perímetro urbano (por exemplo, freqüentar a piscina do clube local), é o componente viagem (PEARCE, 2003, p.25).
Com efeito, percebemos o destaque que Douglas Pearce remete a dois tipos de espaços em sua conceituação de Turismo: a) o lugar que é deixado; e b) o lugar visitado 17
A expressão Geografia do Turismo aparece pela primeira vez no início do século XX, onde um dos trabalhos mais antigos a realizar esta citação foi escrito por J. Strander, em 1905, na Áustria (RODRIGUES, 1997).
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ou que se está de passagem. Assim, “o lugar que se está de passagem” pode não ser indicado como o lugar onde acontecerá a estada, embora seja também visitado, ampliando ainda mais o enredo em nota, pois o próprio caminho percorrido durante a viagem é visto como um espaço envolvido pelo Turismo. Dessa forma: O mais importante é reconhecer e buscar captar a complexidade do espaço do turismo como campo de investigação da Geografia, concentrando-se o foco de análise nas relações sociais materializadas territorialmente nas zonas de emissão, de deslocamento e de recepção de turistas que resultam no processo de produção e reprodução do espaço (ASSIS, 2003, p. 109).
Em termos nacionais, o ENTBL (Encontro Nacional de Turismo com Base Local) cumpre um importante papel na discussão dos efeitos e transformações que o Turismo exerce na sociedade em suas diversas estâncias, dentre estas a espacial, seguindo uma ótica científica interdisciplinar para tanto. Este é um evento que acontece circulando os Estados federativos do país e que registra uma presença significativa de geógrafos, demarcando um momento de avanço teórico no campo da Geografia do Turismo do Brasil. A contento, é salutar que a Geografia do Turismo consiga não só fazer render as análises científicas sobre o Turismo, como também possa atingir os próprios espaços turísticos em suas concretizações, obtendo uma validade ainda maior como uma prática social legítima, servindo de suporte a outros campos científicos e a toda sociedade. Para isso, é preciso que os estudos geográficos afins se detenham a estudar as diversas modalidades turísticas.
1.3. Sobre o Turismo e a Visitação religiosa O ato de se deslocar no espaço por motivações ligadas à busca pelo sagrado sempre esteve presente na história da humanidade. Não é de hoje que as pessoas se dirigem para lugares que possuem exponenciais simbólicos de cunho religioso, visando de alguma maneira e por suas crenças a melhoria de suas vidas espirituais e físicas, dentre outras finalidades. As principais motivações para as viagens a estes lugares foram e continuam sendo de ordem religiosa e mística (OLIVEIRA, 2004). Meca, Jerusalém, Roma, Fátima, são alguns dos pontos mais procurados nesse sentido. Dadas as discussões conceituais, podemos enquadrar as visitas aos lugares religiosos sob distintas nomeações, dependendo do modo de como são realizadas.
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Portanto, fala-se, principalmente, em: lazer sagrado; excursionismo religioso e Turismo Religioso. Compreendendo o Turismo por uma visão humanística, Oliveira (2001, p. 162), ao discorrer sobre o lazer sagrado, afirma que: Fazer uma peregrinação, nos moldes da experiência urbana, é praticar um ritual de lazer e turismo. Seja por motivos devocionais e práticas eclesiásticas ou por curiosidade de estar em um local diferente. Em ambos os casos se exercita um ato de lazer, pois: I) procura-se uma utilização mais significativa do tempo livre; II) deverá ser repetido em outras ocasiões por motivos semelhantes; III) estabelece a continuidade com as práticas cotidianas imaginadas na cidade, embora se valorize mais as diferenças e/ou rupturas (p.162).
Sobre o segundo tipo de visita que indicamos acima, Santos (2006, p.281) vai dizer que se trata de “deslocações turísticas de motivação religiosa que não implicam uma estada superior a 24 horas fora do domicílio” (SANTOS, 2006, p.281). Como se vê, a autora, usando de uma flexibilidade conceitual, chama o excursionismo religioso de deslocação turística, ao entender que a visita em si é a base para o entendimento de qualquer forma de fazer Turismo. Atendendo aos preceitos conceituais e à segmentação que se concebe do Turismo, a visita religiosa no entendimento dos órgãos oficiais que regulamentam a atividade turística enquadra-se mais precisamente pela denominação de Turismo Religioso: [...] aquele empreendido por pessoas que se deslocam por motivações religiosas e/ou para participação em eventos de caráter religioso. Compreende romarias, peregrinações e visitação a espaços, festas, espetáculos e atividades religiosas (DIAS, 2003a, p. 17).
O Turismo Religioso, como expressão atualizada das antigas peregrinações, porém, é um fenômeno moderno. “As viagens com motivação ou destinação religiosa só vieram a se tornar ‘turismo religioso’ quando o volume de pessoas envolvidas alcançou uma escala que tornasse economicamente viável o planejamento e os investimentos na área” (ABUMANSSUR, 2003, p.56). Atualmente pode ser compreendido como um segmento de massa, embora possa ser realizado de forma específica. É um Turismo que demonstra o seu vigor para além das condições financeiras, adicionando diversas vezes no volume de participantes envolvidos numa festa religiosa, por exemplo. A modalidade turística em tela encontra na religiosidade das pessoas e dos lugares um amplo campo, ao passo que dissemina formas simbólicas através da fé. À sua maneira “o símbolo é, em si, uma construção mitológica, e não pode haver turismo religioso sem a percepção de elementos simbólicos que remetem ao divino. Ter fé é o
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mesmo que acreditar no símbolo” (OLIVEIRA, 2004, p.65). É em geral a fé o motor de impulsão da viagem turística religiosa, seja pra agradecer ou renovar uma promessa. Com efeito, a prática do Turismo Religioso parece se fundamentar com mais veracidade em lugares que possuem templos, santuários, dentre outras formas simbólicas espaciais de natureza religiosa. Estreitamente ligado ao Turismo cultural18, o Turismo Religioso não é exclusividade de indivíduos religiosos, nem uma prática de uma só Religião. É, sim, motivado pela cultura religiosa. Os eventos e as construções religiosas são patrimônios culturais de determinados grupos sociais e geralmente expressam suas histórias, podendo agir sobre a identidade dos lugares e regiões. As visitas a espaços religiosos sem a real pretensão dos exercícios rituais, objetivando somente o conhecimento e/ou a apreciação das expressões artísticas e monumentais, pode ser apontada como uma espécie de “Turismo em espaço religioso” (DIAS, 2003a), denotando uma forma cultural de deslocamento. O Turismo Religioso, ou simplesmente as visitas religiosas, tanto pode ser realizado de forma individual como coletivamente, constituindo-se em uma prática crescente nos dias de hoje, tão marcados por um clima de aflição e insegurança social. Entender essas visitações em suas complexidades passa pelo exercício da compreensão dos motivos que levam as pessoas a tal deslocamento. O cotidiano sofrido colabora em muito para o crescimento do número de adeptos às visitas aos espaços ditos sagrados. Acredita-se que nesses espaços se possa superar a conturbação do dia a dia. De tal modo, nunca esta espécie de deslocamento foi tão intensa. Oliveira (2004) apresenta um esquema diagramado que pode nos auxiliar na compreensão das motivações que levam as pessoas a realizarem as suas viagens de Turismo Religioso. O autor fala em mediação complexa e mediação simples no que se refere às viagens turísticas religiosas, classificando-as em quatro tipos: missionária, de saúde, de contemplação e assumidamente religiosa (Ver Figura 4).
18
Ao reconhecer que existe uma fronteira imprecisa entre os conceitos de Turismo e cultura, Dias (2006, p. 40) define o Turismo cultural “como toda prática turística que envolva a apreciação ou a vivência de qualquer tipo de manifestação cultural, seja tangível, seja intangível, mesmo que esta não seja a atividade principal praticada pelo viajante no destino”. Por este entendimento somos levados a pensar que qualquer modalidade turística estar propensa à execução, em algum momento da viagem, do Turismo cultural. Só através da aceitação da “multifuncionalidade” da viagem turística é que poderemos incorrer por esta compreensão (RINSCHEDE Apud DIAS, 2006).
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Figura 4: Mediações motivacionais para o exercício do Turismo Religioso
Fonte: Oliveira (2004, p.80).
No que toca à demanda do Turismo Religioso, esta possui características distintas das outras formas de fazer Turismo, o que leva alguns autores a não considerar o viajante religioso como um turista. Sobre este assunto, Dias (2003a, p. 15) comenta: Embora ainda muitos considerem que as motivações religiosas não têm nada de turístico, quando comparadas com outros propósitos de viagens, na realidade, o viajante pode ter um envolvimento grande com o sagrado, mas continua a necessitar de descanso, alimentar-se e desfrutar de momentos de calma e relaxamento, pois sua condição humana assim o exige. E, ao provocar essa demanda, usufrui dos mesmos equipamentos necessários para o atendimento do viajante que o faz com fins culturais, por exemplo. Desse modo, embora com motivações de viagem diferentes, ambos os viajantes utilizam-se de serviços e produtos comuns, tornando-se, deste modo, turistas no sentido exato do termo, provocando surgimento ou desenvolvimento de inúmeras atividades econômicas que geram empregos e renda para uma determinada região [...] Desse modo, o conjunto de locais e atividades religiosas, santuários, eventos, caminhadas, romarias etc. que provoca o deslocamento das pessoas, quando estas permanecem no local mais de 24 horas, deve ser considerado como atrativo turístico e o fenômeno deve ser considerado como tipo particular de turismo, o religioso.
Destarte, embora a demanda desta espécie de Turismo (religioso) possua peculiaridades diferenciadas, ela exige um conjunto de serviços como qualquer outra modalidade. Os turistas religiosos têm um comportamento de consumo turístico como qualquer outro turista, usando dos mesmos aparatos, salvaguardando as condições
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econômicas que podem variar. A permanência desses turistas nos espaços receptores vai depender do tempo das festividades religiosas (SANTOS, 2006). A Religião, ou mesmo a religiosidade, tem chamado crescente atenção do mercado turístico como uma importante motivação de atração dos lugares. Fazendo-se dessa premissa, o Turismo Religioso19 desponta como um filão promissor diante da predisposição das pessoas a executarem a viagem em tela. Por origem, o Turismo Religioso é uma atividade que mistura elementos turísticos e religiosos que, quando unidos, constituem-se em atrativos que o “viajanteturista-religioso” procura. Muitos governos, promotores turísticos e até mesmo as igrejas estão investindo em suas diversificações atrativas seguindo a lógica desta busca. Dias (2003a, p. 29) aponta alguns tipos de atrativos turístico-religiosos: a) Santuários de peregrinação; b) Espaços religiosos de grande significado histórico-cultural; c) Encontros e celebrações de caráter religioso; d) Festas e comemorações em dias específicos; e) Espetáculos artísticos de cunho religioso; f) Roteiros de fé20.
Alguns santuários católicos embalados pelos avanços técnicos que marca o atual processo de globalização, usando das possibilidades virtuais, oferecem alternativas e instrumentos, através de seus sites, para que as pessoas possam emitir seus pedidos ao céu via internet21. Contudo, este fato não representa uma ameaça à pujança do Turismo Religioso, não conseguindo desbancar a viagem literal de ida ao “Centro do Mundo”22. Acreditamos, assim, que esta prática de visita virtual acaba de alguma maneira insultando a visitação real, comportando-se como mecanismo de marketing das formas simbólicas espacial-religiosas.
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O termo Turismo Religioso é uma categoria que surgiu no mundo do mercado/marketing, sendo depois encampado pelos discursos científicos do tema (SILVEIRA, 2003). 20 O detalhamento característico de cada atrativo apontado encontra-se na obra citada. Não nos cumpre a tarefa de fazermos aqui este delineamento. 21 Existem vários sites de Santuários em que é possível ao internauta-religioso acender uma vela virtual em ação de graça aos seus anseios, o que é entendido por nós como uma ação simbólica que tenta dar nova conformidade a um ato tradicional do ser religioso. 22 “A descoberta ou a projeção de um ponto fixo – o “Centro” – equivale à Criação do Mundo” (ELIADE, 2001, p.17). O Santuário equivale assim a um Centro do Mundo.
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Não fugindo à regra de “outros turismos”, o Turismo Religioso possui também a sua interface de problemática ambiental. Não raro identificamos lugares de cariz religioso sofrendo com congestionamentos, aumento do lixo, poluição sonora, falta de água etc.; denunciantes de uma infra-estrutura precária para dias de grandes festas. Em contrapartida, esta formação turística, quando bem planejada, pode representar, à sua maneira, possibilidades de ganhos econômicos, importantes ao crescimento urbano de onde se instala. O Brasil possui uma marcante religiosidade impregnada em seu território. Dificilmente se encontrará uma comunidade que não tenha sequer uma forma espacial diretamente ligada ao aspecto religioso. É um país com forte concentração de católicos no mundo. Deste modo, subtende-se que esse quadro se apresenta como um potencial expressivo para a execução do Turismo Religioso, fato que vem sendo reiterado progressivamente pelas agências turísticas nacionais. Em termos geográficos, o Turismo Religioso vem se destacando cada vez mais por proporcionar uma nova configuração aos lugares, transformando as suas paisagens através de realizações simbólico-religiosas, ou mesmo se fazendo dos atrativos religiosos que os lugares já possuem. Por conta dessas (re)configurações, as localidades são tomadas pela constituição de novos territórios. Quando o Turismo Religioso se mostra com uma forte disposição numa cidade será provável que a Região envolvida sinta seus impactos (positivos e negativos). Por estas indicações não é difícil entender porque o Turismo Religioso se torna alvo dos estudos de geógrafos. Porém, Santos (2006, p.242) denuncia: No campo dos estudos geográficos, reflectindo a tendência também registrada em outras ciências sociais, não abundam os estudos acerca do turismo religioso e da dimensão espacial que ele comporta, verificando-se que, entre os escassos exemplos de investigação em Geografia que afloram este tema, quase todos foram levados a cabo por geógrafos que laboram na disciplina geografia da religião (sobretudo os que tratam o fenómeno da peregrinação) ou, em muito menor grau, no âmbito da geografia do turismo. De registrar ainda que a quase totalidade destes estudos data da década de 90, o que é significativo do caráter recente do interesse que o turismo religioso tem suscitado.
Eis então mais uma provocação à Geografia: incrementar seus estudos sobre o Turismo Religioso. Não pode o conhecimento geográfico negligenciar o Turismo Religioso de suas análises, isso porque as práticas religiosas são verdadeiras expressões de interesse da Geografia Humana (SANTOS, 2006). A promoção das viagens turísticas ligadas aos aspectos religiosos dos lugares é apontada como um dado crescente, daí mais um motivo que a Geografia encontra para se manter alerta a este fenômeno, seja no
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campo da Geografia da Religião, da Geografia do Turismo, na mescla desses dois, ou até mesmo em outro.
1.4. Igreja Católica: ação cultural, espacial e também turística A atuação histórica que a Igreja Católica desempenha faz com que a reconheçamos como uma instituição religiosa de cunho social que incide diretamente na vida cultural de um dado grupo de pessoas. Porém, deve-se ressaltar que a sua política de trabalho só se torna possível mediante a organização espaço-territorial que mantém. Com efeito, mesmo quando admitimos a existência de pelo menos dois tipos de catolicismos, o popular e o oficial, somos instigados a compreender a Igreja Católica como uma “instituição autônoma”, reprodutora de ideologias culminantes na conduta coletiva e individual de pessoas e dos lugares. Diante das transformações que o mundo sofre em seu curso sócio-cultural, a Igreja Católica, assim como outras instituições religiosas, apesar de algumas resistências em setores específicos, vem se remodelando, de certa maneira, à nova realidade global, demonstrando certa simbiose com o universo social em que está inserida. Destarte, impossível se torna falarmos de uma Igreja fora do modo de produção vigente, já que: Nenhuma relação social é estática. Ao contrário, o conjunto de relações sociais apresenta-se como um verdadeiro caleidoscópio em constante mutação, do qual as igrejas participam configurando-se e sendo reconfiguradas pela estrutura dessas relações. A religião pode ser, portanto, internalizada ao mesmo tempo que participa de um processo de modernização (MARTINO, 2003, p.48).
Segundo Filho (1996, p. 156), “o relacionamento religião e sociedade envolve, pois, um processo dialético. Se a religião se desenvolve a partir de um determinado contexto social, este também é influenciado por ela”. Assim, o universo cultural e o espaço geográfico social sofrem rebatimentos cruciais nos rumos de seus funcionamentos. Como acreditava Gramsci, esse jogo de influências acaba sendo primordial para a manutenção organizacional da fé, que, por sua vez, é fator imprescindível para a sobrevivência física da instituição. Diariamente, mas especialmente aos domingos, os católicos recebem de suas igrejas instruções de como devem viver. Mensagens que vão desde “respeite o próximo” até “visite os santuários católicos” são veiculadas incessantemente aos fiéis. Perante um
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novo momento social, a relação de contato entre Igreja e fiel vem sendo redefinida pelo uso crescente dos meios de comunicações de massa. A evangelização acontece também via rádio, televisão e internet, chegando ou não ao íntimo de cada pessoa dependendo de seu estado de fé ou secularização. Nesse sentido, o conhecimento cultural do indivíduo, que vai variar em diversos campos, é decisivo na aceitação ou recusa da ideologia católica. No dizer de Filho: [...] a Igreja Católica é uma instituição empenhada na produção e veiculação de ideologia. Ela manipula símbolos, inculca normas e propõe valores através dos sermões, no aconselhamento particular, na prática pastoral, além dos meios de comunicação. Ela é uma agência ideológica, isto é, um lugar onde toma forma e se institui uma visão do mundo com a finalidade de orientar o comportamento dos seus fiéis (1996, p.39).
Como indicamos na seção 1.1 (A Religião enquanto tema cultural de interesse geográfico), os fenômenos religiosos como expressões culturais de uma sociedade se manifestam, sobremaneira, por uma base espacial. Notadamente, este fato se torna mais evidente quando se analisa grandes agentes religiosos, como é o caso da Igreja Católica. A legitimação da Igreja Católica enquanto instituição social acontece, sobretudo, através de uma rede territorial de atuação, formada de fixos e fluxos. O controle dos fiéis e as estratégias de expansão doutrinal são ações que dependem decisivamente de arranjos territoriais hierárquicos. A ação inicial acontece quando a Igreja se apropria de um lugar e, através de sujeitos sociais, transforma-o em território de sua competência (GIL FILHO, 2006). Ao se utilizar do espaço para firmar poder, as instituições religiosas encontramse dinamizando territórios para seus domínios. Por compreensão, as relações e as práticas que fazem do território um organismo material e simbólico podem ser compreendidas, grosso modo, como territorialidades. Ainda sobre a trama territorial, Haesbaert (2005, p.6774) acrescenta: Enquanto “continuum” dentro de um processo de dominação e/ou apropriação, o território e a territorialização devem ser trabalhados na multiplicidade de suas manifestações – que é também e, sobretudo, multiplicidade de poderes, neles incorporados através dos múltiplos agentes / sujeitos envolvidos. Assim, devemos primeiramente distinguir os territórios de acordo com os sujeitos que os constroem, sejam eles indivíduos, grupos sociais, o Estado, empresas, instituições como a Igreja etc. As razões do controle social pelo espaço variam conforme a sociedade ou cultura, o grupo e, muitas vezes, com o próprio indivíduo. Controla-se uma “área geográfica”, ou seja, o “território”, visando “atingir/afetar, influenciar ou controlar pessoas, fenômenos e relacionamentos”.
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Em termos religiosos, o território é identificado como território religioso, entendido como reflexo do espaço vivido dos crentes, onde as relações e os fluxos acontecem no sentido de possibilitar que a cultura da fé possa ser desenvolvida, dando origem a uma identidade religiosa e a um sentimento de pertença. Já a territorialidade religiosa é compreendida como as ações e práticas que um grupo religioso realiza a fim de controlar um dado território (ROSENDAHL, 2008). Partindo desses pressupostos, Rosendahl (2007, p.195) afirma: A religião só se mantém se sua territorialidade for preservada e, neste sentido, pode-se acrescentar que é pela existência de uma religião que se cria um território e é pelo território que se fortalecem as experiências religiosas coletivas e individuais. E para a manutenção dessas relações, estratégias político-espaciais são adotadas. A organização interna dos territórios da Igreja é dinâmica, móvel no espaço, quer por criação de novas dioceses, quer por fragmentação das paróquias. O território religioso se modifica para melhor corresponder à afirmação do poder. Ele responde a duas funções principais, uma de origem religiosa e outra de ordem política.
Em seus dois mil anos de história a Igreja Católica desenvolveu um complexo sistema territorial. Trata-se da Igreja física. Ela bem sabe onde deve agir em prol de seus interesses. Conhece como ninguém o seu espaço de atuação. Nesta acepção, estas “idealizações localizadas” seguem a um estudo que responde aos movimentos demográficos, sociais, econômicos etc., e são exercidas pelos profissionais religiosos (ROSENDAHL, 2008). Portanto, é correto afirmar que as ações da Igreja Católica influenciam nas relações sócio-espaciais dos lugares e regiões, sendo limitadas ou potencializadas pelas especificidades desses ambientes geográficos. No anseio de influenciar o maior número de pessoas, até numa atitude de “disputa” por fiéis, em concorrência com religiões outras, a Igreja em estudo acaba por ter que se articular com diferentes grupos sociais. Grupos que não são necessariamente de natureza religiosa, provocando assim novas territorializações. Face às mudanças nos modos de se fazer lazer, na tentativa de se enquadrar com a realidade, a Igreja Católica atualmente também se envolve com a área de produção turística, apostando na idéia de que o contato entre os religiosos e as formas simbólicas deve acontecer até mesmo fora de seus lugares de habitação. A ideologia católica aconselha que o tempo livre seja usado para a prática do lazer sagrado, divertimento que não é tido como leviano porque tem o visto da instituição (MARTINO, 2003). A posição da Igreja em relação ao Turismo foi marcada por um documento chamado Pastoral do Turismo, publicado pelo Papa Paulo VI em 1969, onde esta
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atividade foi vista por uma visão ética de respeito aos lugares e como uma oportunidade de evangelização e contato entre culturas (SANTOS, 2006). Segundo esta Pastoral, o Turismo deve funcionar como um instrumento de paz e de confraternização entre os povos, preservação da natureza e respeito à cultura alheia. No entanto, a Igreja Católica por algum tempo resistiu em aceitar que chamassem seus peregrinos e romeiros de turistas. Talvez enxergando nesta ação um ato de secularização. Mas hoje, embora ainda possam existir algumas exceções, é cada vez mais manifesto que a Igreja vem se apropriando do mercado do Turismo, assim como o inverso é verdadeiro, assumindo o papel de agente cultural e turístico importante às aspirações do Turismo Religioso, influenciando até mesmo na restauração de patrimônios religiosos (ANDRADE, 2004). Por exemplo, a divulgação dos lugares sagrados que é desenvolvida pela Igreja por meio da televisão é sem dúvidas uma ação turística. Contudo, é importante frisar que: Todo esse campo de transformação e mercantilização dos lugares e da religião estão sendo compostos não só pela motivação religiosa, mas também por questões políticas, econômicas e culturais, o que condiciona a veiculação pelas mídias a uma interação do fluxo de visitantes/turistas, onde o turismo e a religião vão encontrar seu ponto de convergência desenvolvendo-se paralelamente pelo consumo (RAUFFMANN, 2007, p.8).
As festas religiosas, tão marcantes na religiosidade popular, comuns no Brasil, dependendo de seus níveis de organização e proporcionalidade, podem se configurar como verdadeiros atrativos turísticos dos lugares, ensejando transformações urbanas, interessantes ao exame geográfico. Desta maneira, mediante tudo o que foi discutido, é preciso que estejamos alerta à ressalva de Rosendahl (1997, p. 149): O geógrafo quando estabelece como objeto central de sua análise a religião, encara-a sob a dimensão espacial. E para realizar sua pesquisa reconstrói teoricamente o papel do sagrado na recriação do espaço, reconhecendo o sagrado não como simples aspecto da paisagem, mas como elemento de produção do espaço.
Todavia, ratificando o que já foi dito com outras palavras, as experiências humanas ligadas ao fator religioso, possuidoras de importâncias espaciais explícitas, ainda estão aquém da capacidade geográfica de análise. Enquanto determinante cultural, espacial e turístico, as ações da instituição social Igreja Católica se apresentam como modeladoras de um número crescente de abrangências geográficas, requisitando estudos afins.
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Capitulo II:
O Turismo regional: a Ibiapaba em foco
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CAPÍTULO II: O TURISMO REGIONAL: A IBIAPABA EM FOCO
2.1. A Região sob o olhar da Geografia A constituição da Geografia enquanto ciência denuncia, principalmente no seu limiar, sua estreita ligação com a idéia de diferenciação de áreas. A preocupação com a diferença entre lugares, paisagens e regiões, numa relação entre homem e natureza foi o cerne de validação deste tipo de conhecimento científico (CÔRREA, 1986). Por seu turno, o conceito de Região23 está intensamente vinculado a essa concepção de diferenças areais, ainda porque “o que faz a região não é a longevidade do edifício, mas a coerência funcional que a distingue de outras entidades, vizinhas ou não” (Santos, 2005, p.157). A terra representaria uma composição de diferentes tipos de regiões. Um dos conceitos mais caros à Geografia, Região, apresenta-se aos geógrafos pela complexidade24 que lhe é inerente. A diversidade de uso deste termo, desde o senso comum até o campo da ciência, torna o trabalho do cientista geógrafo mais intricado. Vale mencionar que outras ciências, além da Geografia, usam o termo Região de acordo com os fenômenos de seus estudos, ampliando assim o leque das diversificações. Mesmo na Geografia este conceito não é sinônimo de consenso. Retomando a história, vamos atentar para o fato de que a palavra Região se faz presente dentro do escopo do conhecimento produzido desde a época da Antiguidade Clássica. Ao que parece, foram os gregos que realizaram as primeiras regionalizações espaciais, seguindo alguns critérios para isso. Porém, foi com Estrabão (63 a.C. – 25 d.C.) que tivemos o início das primeiras indicações da chamada Geografia regional (LENCIONI, 1999). “Mas foi com Bernhard Varenius, no século XVII, que o conhecimento geográfico assumiu a distinção entre geografia geral e geografia especial, esta última com o sentido de geografia regional” (Lencioni, 1999, p.188). O conceito de Região, de tradicional presença na Geografia, tem sido em muito analisado no paralelo com as principais correntes do pensamento geográfico (determinismo ambiental, possibilismo, método regional, nova geografia e geografia 23
Faremos uso do termo “Região”, assim como em “Turismo” e “Religião”, sempre iniciando com a letra maiúscula a fim de apontarmos a categoria geográfica chave de interpretação da Ibiapaba. 24 Sobre a complexidade do conceito de Região, Gomes (1995, p.54) ressalta: “Na geografia, o uso desta noção de região é um pouco mais complexo, pois ao tentarmos fazer dela um conceito científico, herdamos as indefinições e a força de seu uso na linguagem comum e a isto se somam as discussões epistemológicas que o emprego mesmo deste conceito nos impõe”.
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crítica), que adotaram visões distintas para com tal. Isso acontece porque à medida que foi ocorrendo a evolução do conhecimento no campo disciplinar da Geografia, o emprego do termo Região foi mudando de conteúdo, ocasionando alguns importantes embates teóricos entre esses paradigmas. Côrrea (1986) nos faz valer a afirmação de que cada paradigma desses da Geografia exprimiu o seu conceito de Região, em que os já tradicionalmente estabelecidos seriam: região natural, região geográfica e região como classe de áreas. No final do século XIX, seguindo as conotações do determinismo ambiental, principalmente na Alemanha, muito divulgado por Herbertson e Ratzel, o conceito de Região que tinha grande relevância era o de região natural. Por essa concepção a diferenciação regional encontrava explicação no fato de a natureza exercer o seu poder no comportamento humano; assim, levava-se em consideração para a classificação das regiões fatores como o clima, a vegetação, a hidrografia, o relevo, a geologia etc. Ainda no século XIX, a corrente possibilista, encabeçada por Vidal de La Blache, numa resposta crítica às indicações deterministas, partia da idéia de que a natureza oportunizava possibilidades ao homem de transformá-la através de seu trabalho e cultura. Nessa expressão o conceito que se tinha de Região era o de região geográfica. O homem, por sua vez, aparece como elemento distinto para a formação dessa Região, entretanto, sempre relacionado com os elementos naturais. De acordo com Gomes (1995, p.56), “nesta perspectiva ‘possibilista’, as regiões existem como unidades básicas do saber geográfico, não como unidades morfológicas e fisicamente pré-constituídas, mas sim com o trabalho humano em um determinado ambiente”, podendo inclusive ser chamada de região-paisagem, pela transformação cultural da paisagem natural, entendimento que se pode relacionar aos estudos de Carl Sauer. Em contraposição ao determinismo e ao possibilismo, o terceiro paradigma da Geografia recebe o nome de método regional. Esta linha de raciocínio geográfico, surgida no século XVII, teve como grandes expoentes Carl Ritter, Richthofen, Alfred Hettner e ainda Hartshorne. Este último, um geógrafo norte-americano, pode ser apontado como o seu maior disseminador. Para ele, o objeto da Geografia era o próprio método, o regional. A Geografia era regional. O método ganhava carga valorativa porque servia como identificação das regiões, buscadas a partir da integração de fenômenos heterogêneos num mesmo recorte espacial. Daí a idéia da Geografia como uma ciência de síntese. Contudo, por paradoxal que pareça, o conceito de Região pouco evoluiu através do método regional, que enfatizava “o estudo de áreas, erigindo não
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uma relação causal ou uma paisagem regional, mas a sua diferenciação de per si como objeto da geografia” (Côrrea, 1986, p.14). Com o Pós-Segunda Guerra Mundial, mais precisamente na década de 50, surge na Geografia o paradigma que se conhece por Nova Geografia, fundamentada no positivismo lógico e que bem se assentava pela revolução teórico-quantitativa. Para essa linha de pensamento, a Região se definia como classe de área, como “um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares” (Côrrea, 1986, p.32). A classificação das Regiões seguia aspectos e padrões de localização geralmente estatísticos e temáticos. Nestes termos, os propósitos das investigações regionais ocorriam pelas escolhas preferenciais de cada autor. No questionamento às bases da Geografia Tradicional e da Nova Geografia, surge em 1970 a denominada Geografia Crítica, que traz a denotativa precisão de se reavaliar a noção de Região. Demarca-se que esta escola geográfica postula seus embasamentos se apoiando sobres os pilares do materialismo histórico e da dialética marxista, dando maior ênfase aos desdobramentos do modo de produção capitalista. Por esta maneira, “a região pode ser vista como um resultado da lei do desenvolvimento desigual e combinado, caracterizada pela sua inserção na divisão nacional e internacional do trabalho e pela associação de relações de produção distintas” (Côrrea, 1986, p.45). Quanto às variações do conceito de Região no trajeto de evolução do conhecimento geográfico, Lencioni (1999, p.200) resume: De maneira geral, podemos dizer que no desenvolvimento do pensamento geográfico há dois grandes marcos de interpretação acerca do objeto da geografia. O primeiro entende que a geografia estuda a relação do homem com o meio e o segundo a concebe como um campo de conhecimento particular voltado para o estudo das diferenças das áreas. Essas duas orientações gerais implicam concepções diferentes de região. Na primeira perspectiva, referida, muitas vezes, como ambientalista, a região existe em si mesma, ou seja, ela é auto-evidente e cabe ao pesquisador reconhecê-la por meio de análises. A região, portanto, se coloca como objeto de estudo a priori. No segundo caso, a região não existe por si mesma, ela não é objeto de estudo no sentido restrito do termo, pois ela se conforma no final do processo de investigação, processo esse que constrói o recorte espacial por meio de elaboração de critérios definidos no processo de investigação.
Segundo Côrrea (2005), três direcionamentos ganharam expressão no que diz respeito às formas de classificação regional exercidas pela Geografia após 1970. A saber, seriam: a) a Região como resultante dos processos capitalistas; b) a Região como
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um foco de identificação; e c) a Região como meio para interações sociais (sobretudo de poder). Especificamente, o segundo direcionamento apontado pelo autor acima caminha para uma direção simbólica onde as pessoas tendem a manter relações identitárias, culturais com certa porção do espaço geográfico, reconhecida como Região. Em contribuição a esta abordagem, tanto a Geografia Humanista como a Geografia Cultural têm lhes fornecido subsídios de apoio conceitual. A primeira entendendo a Região como espaço vivido25, a segunda entendendo-a como Região cultural. As regiões culturais distinguem-se, assim, das regiões econômicas, urbanas ou políticas, embora nas regiões vernaculares haja superposição entre elas. Mas o foco da investigação é a cultura, a partir de um ou mais traços culturais – etnia, língua, religião, costumes, valores e práticas produtivas, entre outros (Côrrea, 2008, p.14).
Há pouco tempo, de maneira precipitada, alguns geógrafos e outros cientistas sociais chegaram a sentenciar o “funeral” da Região, acreditando que o processo de globalização, resultante do avanço do modelo capitalista, diante de sua suposta proposta de homogeneização, pudesse eximir as diferenças areais. Eis uma fatídica ilusão. Pelo contrário, ao passo que crescem as discussões de nível mundial, paradoxalmente, a Região ressurge com um novo conteúdo. De acordo com Lencioni (1999, p.199): A busca por novos caminhos de análise na geografia surgiu no momento em que o lugar, o regional e o global se recompuseram diante da recente reestruturação do capitalismo. Atualmente, com o processo de globalização essa reestruturação traz à tona o questionamento da pertinência da escala de análise regional e também o esclarecimento de sua relevância como instância particular de análise que se situa entre o local e o global.
Ao que aparenta, os efeitos da aceleração das relações e trocas provindas do fenômeno da globalização reproduziram instantaneamente mais diferenças entre as regiões, abrindo margem a novas formas de regionalização. “A tão decantada globalização parece concretamente não ter conseguido suprimir a diversidade espacial, talvez nem a tenha diminuído” (Gomes, 1995, p.72). Afirma-se, assim, que a complexidade dessas relações têm (re)alimentado as discussões locais e regionais, pois só através destas instâncias é que poderemos alcançar a realidade global. É fato que, de
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Os estudos de Fremont e Tuan servem de referência. Lencioni (1999, p.194), ao tratar da importância do método fenomenológico para a concepção de Região como espaço vívido, vai dispensar a seguinte afirmação: “A discussão de como o espaço é percebido e quais são os significados e valores modelados pela cultura e pela estrutura social que são atribuídos ao espaço passaram a ser analisados com o objetivo de compreender o sentimento que os homens têm em pertencer a uma região”.
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uma maneira ou de outra, nunca se falou tanto em Região, mesmo porque “o espaço está na ordem do dia” (Haesbaert, 2006, p.141). No entanto, mesmo nunca sendo desconsiderado totalmente um tema de interesse da Geografia, o conceito de Região parece ter ficado um pouco obscurecido dos estudos afins, pois acontece que os geógrafos de hoje parecem privilegiar as concepções de território, paisagem, lugar e rede (HAESBAERT, 1999). Diante de tal entendimento, Lencioni (1999) faz a indicação de quatro fatores que contribuíram para este quadro: a) A realidade dos dias atuais aparece fortemente por uma tônica de homogeneização; b) A vinculação do conceito de Região com a noção de planejamento – onde o descrédito dos planos de desenvolvimento regional pode ter se alastrado ao conceito em tela; c) A multiplicidade de estudos regionais, reproduzindo métodos e teorias banalizadas, pode ter criado a imagem de uma Geografia regional enfadonha; d) O fato da discussão sobre Região colocar em questão a unicidade disciplinar da Geografia. Contudo, os dias que vivenciamos nos mostram que a questão regional retoma a sua força e reanima-se no cenário da Geografia. O cotidiano reclama por assuntos e temas regionais; matéria que se apresenta como de suma importância para o entendimento geográfico da realidade. Região, ao ser uma categoria conveniente à Geografia, pode inclusive servir ainda de mote para crescimentos epistemológicos. Discussão que requer do geógrafo, ainda mais quando se considera as disseminações sócio-espaciais do processo de globalização, um repensar sobre os aspectos regionais26. Assim, Cabe a uma Geografia Regional renovada recuperar o sentido dos recortes espaciais tanto a partir de sua inserção desigual em movimentos mais globalizados quanto a partir da re-criação de singularidades que lhes dão um caráter próprio. Revalorizar o singular não significa cair outra vez numa “fenomenologia pura”, que vê somente o “acontecimento”, ou num empirismo bruto, baseado no binômio observação-descrição; significa, isto sim, evidenciar a capacidade dos grupos humanos de recriar espaços múltiplos de sociabilidade (Haesbaert, 1999, p.22).
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Arrais (2007), com base na leitura de outros autores, cita quatro pontos que podem contribuir para uma renovação conceitual do conceito de Região: a) matriz urbana de existência; b) a consideração das redes e a mobilidade; c) a questão da governabilidade; e d) o retorno do planejamento regional.
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Conjugando com as idéias de Haesbaert, na seqüência das palavras do texto citado acima, somos favoráveis com a condição de que a Região deve ser analisada como o resultado dos processos sociais e não como algo pré-concebido. Deve ser vista pelos seus aspectos particulares27. Na qualidade de geógrafos, é preciso ainda que não nos esqueçamos do fundamento político, de controle e gestão de um território no momento em que tivermos apreciando as instâncias regionais (GOMES, 1995), até porque as diferentes variações deste conceito estão enfaticamente carregadas das pretensões territoriais das classes dominantes (CÔRREA, 1986). Em linhas gerais, são ainda insuficientes os estudos geográficos que versam por analisar os crescentes apelos políticos justificados pela dimensão territorial da Região. Por fim, esclarecemos que, a análise do poder entre os agentes de uma realidade constituída pode ser um meio de explicação das particularidades de uma Região. Entretanto, a compreensão do poderio da Região deve questionar a atividade não só do Estado, como também de outros grupos coletivos, como por exemplo, dos grupos eclesiásticos e turísticos. A identificação desses agentes vai definir de certa maneira em que escala a Região se desenhará para efeitos investigativos.
2.2. Planejamento e Turismo regional: a experiência cearense Diante da importância que o Turismo passou a ter na economia mundial, desenvolvendo um papel singular nas esferas social e cultural, órgãos de diversas instâncias, governamentais ou não, passaram a se preocupar com o planejamento desta atividade. Quando não ou mal planejado, o Turismo pode não corresponder com as expectativas dos agentes envolvidos com a sua dinâmica, seja dos turistas, dos anfitriões, das empresas turísticas, do poder público etc., desenhando-se em uma atividade disseminadora de problemas sociais, tais como: segregação social e espacial, desvirtuação da cultura local, desigualdade, dentre outros. Por outro lado, quando bem planejado, o Turismo pode ser compreendido pelas benesses que proporciona; a geração de empregos e a urbanização de espaços antes esquecidos são alguns dos exemplos. 27
Côrrea (2005, p.192) esclarece-nos: “A particularidade traduz-se, no plano espacial, na região. Esta resulta de processos universais que assumiram especificidades espaciais através da combinação dos processos de inércia, isto é, a ação das especificidades herdadas do passado e solidamente ancoradas no espaço, de coesão ou economias regionais de aglomeração que significa a concentração de elementos comuns numa dada porção do espaço e de DIFUSÃO que implica no espraiamento dos elementos de diferenciação e em seus limites espaciais impostos por barreiras naturais ou socialmente criadas”.
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De acordo com Ruschmann (1997), o planejamento turístico constitui-se em um instrumento fundamental na determinação e na seleção das prioridades para o desdobramento da atividade, determinando suas dimensões e ideais, pensados a fim de estimular, regular ou restringir sua evolução. Todavia, Dias (2003b, p.38) adverte: O planejamento é uma condição necessária, mas não suficiente para nortear a atividade turística; é fundamental incluir a perspectiva da sustentabilidade da atividade em todas as suas dimensões (a sociocultural, a econômica e a ambiental) para que se dê o desenvolvimento contemplando todos os setores da sociedade.
A preocupação com a sustentabilidade do Turismo é pertinente para não confundirmos o desenvolvimento econômico gerado como sinônimo de desenvolvimento sócio-espacial, pois nenhuma atividade setorial (como o Turismo) pode, por si só, engendrar este último tipo de desenvolvimento, que é mais abrangente. Compreendido como um processo de superação de problemas e conquista de condições (culturais, técnico-tecnológicas, político-institucionais, espaçoterritoriais) propiciadoras de maior felicidade individual e coletiva, o desenvolvimento [sócio-espacial] exige a consideração simultânea das diversas dimensões constituintes das relações sociais (cultura, economia, política) e, também, do espaço natural e social (SOUZA, 2002, p. 18-19).
Depreende-se então que o Turismo regional, quando bem planejado, pode ser mais um vetor (e não o único) de desenvolvimento sócio-espacial de uma dada Região. Nesse sentido, Almeida (2004) ainda alerta que o planejamento para a atividade turística deve ser parte de vários outros planejamentos destinados ao meio ambiente urbano e rural, os quais devem ser vistos de forma integrada e global. Atualmente, o Ministério do Turismo do Brasil, através do PNT (Plano Nacional de Turismo) 2007/2010, que dentre outras finalidades objetiva promover o Turismo como fator de desenvolvimento regional, recomenda que as ações políticas de natureza turística devam ser concebidas em nível regional e não mais somente em termos municipais. A nova tônica reza pela idéia de que a Região quando bem planejada, em consonância com as potencialidades de cada município, torna-se mais competitiva do que um só município, por mais organizado que este possa se mostrar. No PNT ganha destaque em termos de planejamento regional do Turismo o Macro-Programa de nº. 4: Regionalização do Turismo. Este Macro-Programa se refere essencialmente a uma espécie de atualização do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, lançado em 2004. A saber, de acordo com este Programa, a regionalização deve ser entendida como “a organização de um espaço geográfico em
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regiões para fins de planejamento, gestão, promoção e comercialização integrada e compartilhada da atividade turística” (Brasil, 2004, p.11). Identificando no Turismo uma saída para a problemática econômica, o Governo brasileiro, no início dos anos de 1990, através das ações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e em parceria com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), enxergando uma mão de obra abundante e de baixo custo e, principalmente, as potencialidades cênicas e culturais existentes no Nordeste, elege esta Região federal como a prioritária ao planejamento do Turismo, criando em 1992 o Prodetur/NE (Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste). Como um dos programas precursores com relação ao tratamento do Turismo de forma integrada no Brasil, visando o desenvolvimento regional, o Prodetur logo se tornaria um programa de alcance federal, tendo como premissa maior melhorar a infraestrutura de apoio ao Turismo nas diversas regiões do país, apresentando como seu principal financiador o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Prodetur/NE – um dos mais importantes instrumentos federais de regionalização do Turismo, que, por sua vez, já conhece sua segunda etapa, o Prodetur/NE II (iniciado em 2007 com a finalização da etapa I) –, entretanto, acirrou uma espécie de competição entre os Estados envolvidos no que concerne à dotação de atrativos e infra-estrutura turística em seus espaços, a fim de que estes os coloquem em destaque no cenário turístico nacional e internacional. Cada Estado, porém, vem selecionando regiões turísticas dentro de seu território, levando em consideração os tipos de Turismo possíveis de exploração. Já o Prodetur/CE (1992), como ficou conhecida a versão do Prodetur no Estado cearense,
teve
como seu
principal
paradigma
o
Prodeturis
(Programa
de
Desenvolvimento do Turismo do Litoral do Ceará), lançado em 1989. O Prodeturis, em nota, de exclusivo financiamento do Governo Estadual, teve como maior desígnio valorizar o litoral cearense para fins turísticos e era tido como uma espécie de guia para os empreendedores (DANTAS, 2007). No Estado do Ceará, desde o final da década de 1980, o governo estadual assume de forma mais arrojada a condição de indicar o Turismo como um dos vetores fundamentais para o desenvolvimento. No bojo dos planos e projetos que buscavam atrair investidores, a partir deste momento o Ceará abre de fato suas portas às investidas na área do Turismo, ensejando uma grande mudança na mentalidade local em prol da atividade em tela, divulgando-a como interessante para todos.
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Visando melhorar os índices de desenvolvimento econômico e também aproveitando de suas potencialidades naturais e culturais, o Estado do Ceará faz emergir a partir de então uma forte política de marketing turístico. Destarte, o Prodetur/CE mostrou-se como uma ferramenta significativa para o planejamento estadual (BENEVIDES, 1998). Enquanto instrumento de desenvolvimento regional, o Prodetur/CE, seguindo a lógica do Prodeturis, entretanto, continuou a política de privilégio dos espaços do litoral, denotando uma falta aos espaços de outras naturezas. De maneira geral, no Ceará, os programas e políticas público-privadas de Turismo têm supervalorizado o litoral, fazendo uso dos 573 km de costa disponíveis. Embora se cogite o potencial que o Estado apresenta para outras formas de se fazer Turismo, é realmente o Turismo em espaço litorâneo que se sobressai. As regiões de serras e sertões acabam somente por constituir um discurso de potencialidades, não conseguindo deslanchar na atração dos turistas, recebendo ações ainda muito “tímidas” em comparação com o litoral. Assim, apesar dos dizeres da interiorização, é o litoral a parcela do território cearense mais promovida em termos turísticos, seguindo um modelo concentrador de investimentos. Fortaleza, comandando a gestão do Turismo estadual e sendo considerada o portão de entrada para o Turismo cearense, já que é a partir da capital que a maioria dos visitantes tem a possibilidade de conhecer os atrativos turísticos do interior do Estado28, desponta como a cidade que mais recebeu incentivo e investimentos do Governo, pondo em vista os desequilíbrios inter-regionais. Não por acaso é também a cidade que mais teve a sua estrutura sócio-espacial transformada em nome da “turistificação”. Somente na segunda etapa do Prodetur/NE (2007), que alcança a ordem de dezoito municípios cearenses, é que acontece a inserção de uma cidade não litorânea do Estado como alvo das políticas de planejamento do Turismo regional ensejado no programa em apreço. Trata-se de Viçosa do Ceará, situada na Serra da Ibiapaba – objeto de análises ulteriores. As cidades que estão no semi-árido, que equivalem a cerca de 80% do território cearense, mais uma vez ficam a mercê, revelando uma constante insustentável. Com efeito, o planejamento territorial do Turismo no Estado do Ceará deve ser compreendido como uma política articulada aos projetos do Prodetur (NE e CE). Neste 28
Andando pela Avenida Beira-Mar da cidade de Fortaleza podemos ter uma prova de como são comercializados os atrativos turísticos do interior do Estado. Vale mencionar que as zonas de praia se destacam em maior parte.
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sentido, outro marco importante reside na criação, em 1995, da Secretaria de Turismo do Estado (SETUR-CE), que já de imediato define seis macrorregiões turísticas de trabalho: Fortaleza/Metropolitana, Litoral Oeste/Ibiapaba, Litoral Leste/Apodi, Serras Úmidas/Baturité, Sertão Central e Araripe/Cariri (Figura 5). Para o ato da regionalização, a Secretaria dispensa a seguinte alegação: O objetivo da regionalização é incentivar o desenvolvimento sustentável nas unidades da federação, de forma regionalizada, no sentido de ampliar a oferta turística, estruturar produtos mais competitivos, integrar o planejamento e a gestão da atividade turística e fortalecer a identidade das regiões priorizadas (SETUR, 2004, p.5).
Nesses termos, as macrorregiões foram postas levando-se em apreço aspectos espaciais, de infra-estrutura, de atratividade, da vocação turística, da situação políticoadministrativa e socioeconômica (CORIOLANO & FERNANDES 2007). É válido ainda frisar que, dos 184 municípios do Estado do Ceará, cerca de 50% não são apontados para o aproveitamento turístico, sendo que a grande maioria destes reside no sertão semi-árido. Atualmente, a SETUR-CE, que está sob o Governo de Cid Ferreira Gomes, estuda a implantação de uma nova forma de organização territorial do Turismo no Estado, visando um melhor planejamento e uma tomada de decisões mais diretas. A idéia é abolir com a divisão em macrorregiões e trabalhar tão somente com o conceito de Região turística. Nesse contexto, alguns acertos ainda estão sendo avaliados em conjunto com o Ministério do Turismo, que vem reordenando a regionalização da atividade turística no país. Apesar de não ter sido ainda divulgado o novo mapa de trabalho, podemos adiantar que a Ibiapaba, sob o planejamento dessa nova política, responderá por ser uma “Região autônoma” em termos turísticos, não mais pensada necessariamente em conjunto com o Litoral Oeste, embora deva permanecer as relações de troca e integração, assim como já foi apontado nos roteiros integrados do Programa de Regionalização do Turismo.
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Figura 5: Mapa das macrorregiões turísticas do Estado do Ceará
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2.3. Breve caracterização geográfica da Região da Ibiapaba A Ibiapaba, ou “Serra Grande” 29, como também é conhecida a Região, distante 330 quilômetros da capital Fortaleza, tem início a aproximadamente 40 km do litoral e possui uma extensão de cerca de 110 km, estando situada na porção Norte do Estado do Ceará (Figura 7). Esta última composta de uma variedade geo-ambiental expressiva, onde se encontra litoral, serra e sertão. Do ponto de vista físico, a Ibiapaba responde por ser um planalto sedimentar com características de serra úmida (Figura 6), possuindo altitude média de 800 metros acima do nível do mar. É um significativo compartimento do relevo cearense e dispõe de um rico cenário de paisagens naturais usadas para diversos usos. Fazendo fronteira com o Estado do Piauí, a Ibiapaba é formada por um conjunto de nove núcleos urbanos municipais, possuidores de características distintas (Tabela 1). A interligação entre esses, pela proximidade, é de fácil acesso e acontece por rodovias asfaltadas. Em termos econômicos, a Região tem na agricultura e no comércio suas duas principais fontes de renda.
Figura 6: Vista parcial do Planalto da Ibiapaba. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
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Serra Grande é, pois, a formação das rochas sedimentares que compõem a unidade geomorfológica do Planalto da Ibiapaba (OLIVEIRA & AQUINO, 2007).
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Figura 7: Mapa do Ceará – destaque a Região da Ibiapaba
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Tabela 1: Características físico-geográficas dos municípios da Região da Ibiapaba Municípios Ibiapaba
Área (km²)
Distritos Barra Sotero
Croatá Ipú
Urbanização População¹ Taxa (%) Nº
Altitude
700,36
520,0
630,46
247,0
do
Betânia Santa Tereza São Roque Abílio Martins
Flores
17.317
45,43
39.438
57,33
36.075
42,32
16.001
45,47
43.077
52,55
23.088
37,15
29.569
46,10
64.612
64,23
52.885
31,87
Várzea do Jiló Martinslândia
Guaraciaba do Norte
611,46
902,4
364,75
763,0
338,14
901,64
Ibiapina
414,90
878,42
Ubajara
421,04
847,5
Tianguá
908,89
775,92
Carnaubal São Benedito
Viçosa do Ceará
Morrinhos Novos
Mucambo Sussuanha Várzea dos Espinhos Barreiro Inhuçu Alto Lindo Betânia Sto. Antônio da Pindoba Araticum Jaburuna Nova Veneza Arapá Caruataí Pindoguaba Tabainha General Tibúrcio
1.311,59
685,0
Lambedouro Manhoso Padre Vieira Passagem da Onça
Quatiguaba
Fonte: Elaboração própria a partir do Instituto de Pesquisa e de Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). Perfil Básico Municipal. Disponível em: http://www.ipece.ce.gov.br Acesso em: 22 out 2008. (1) Contagem IBGE, 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br Acesso em: 22 out 2008.
De acordo com a divisão regional do Ceará, onde se reparte o Estado em recortes regionais de planejamento, a Ibiapaba está inserida na Macrorregião de Planejamento Sobral/Ibiapaba, na Mesorregião Noroeste Cearense; representa a Microrregião de seu mesmo nome (Ibiapaba); e está contida na Região Administrativa 05. No entanto, perante a proposta de cruzarmos acontecimentos religiosos e turísticos, mesmo sabendo da ampliação escalar em termos municipais que acontece quando levamos em conta a área de atuação da Diocese vigente na Região, responsável eclesial pelo Santuário em estudo, é, sobretudo, o território da Microrregião da Ibiapaba
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que nos interessa enquanto área de estudo. Seguimos, assim, o patamar classificatório estadual.
2.4. O Turismo na Ibiapaba
A compreensão do Turismo na Região da Ibiapaba pode ser alcançada, em parte, na contramão dos investimentos realizados no litoral cearense. Deve ser analisada tendo em vista as propostas de interiorização da atividade pelo Estado, com todos os impasses e perspectivas que esse processo suscita. Contudo, a organização de políticas internas de Turismo realizadas entre os municípios contidos na Região revela-se como outra plataforma de análise. Somado a isso ainda podemos dar ênfase aos principais pontos turísticos regionais. Difícil se torna dizer quando exatamente a atividade turística chegou à Ibiapaba, porém, apontamos como ação propulsora para tanto a implantação do teleférico no Parque Nacional de Ubajara, realizada no final da década de 1970. Sem dúvidas, esta obra, que foi construída pela ordem da EMCETUR (Empresa Cearense de Turismo), veio a instigar o Turismo nesta Serra, oportunizando inclusive uma visibilidade para as demais cidades. Nesse período, embora ainda fosse ínfima a situação do Turismo no Estado, já se falava, mesmo de maneira pontual, na propalada (talvez nem tanto) interiorização e da diversificação das modalidades de Turismo para além das “rotas do sol”30, que estavam relacionadas unicamente ao litoral (BENEVIDES, 1998). A interiorização, por sua vez, tem como premissa desconcentrar fluxos e fixos turísticos do litoral, em especial de Fortaleza, fazendo com que cheguem até outras áreas, bem como aumentar o tempo de permanência dos turistas no Estado, dado o elevado número de atrativos dispostos no território estadual. Segundo dados da SETUR-CE, as serras, em muito comentadas por suas riquezas naturais e culturais, todavia, representam somente pouco mais de 10% das procuras por destinos turísticos no Estado do Ceará. Nesse contexto, a maioria dos
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Quanto à terminologia “rotas do sol”, temos uma crítica a fazer: o sertão é a parcela do território estadual onde mais faz sol, porém, é a que menos recebe investimentos e fluxos turísticos.
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municípios da Ibiapaba apresenta insuficiência no quadro de suas ofertas e conseqüentemente têm baixos índices em suas demandas31. Seguindo a “atmosfera” de valorização dos espaços para usos turísticos no Estado, no final da década de 1990, o Turismo passa a ser considerado pelas lideranças regionais da Ibiapaba como uma importante fonte para o desenvolvimento. Aconteceram a partir desse momento os primeiros passos de uma organização intraregional em prol da atividade. As ações visavam melhorar as infra-estruturas dos municípios para valorizar e desenvolver as suas potencialidades turísticas. Contudo, é realidade que na Ibiapaba a organização estrutural dos serviços não vem agregando os produtos turísticos uns aos outros; acontecimento que denota uma falta, quando sabemos que o planejamento turístico em escala regional requer uma gestão flexível da atividade, cujas principais potencialidades dos municípios envolvidos devem ser postas de forma interligada e as estratégias de desenvolvimento têm que ter isso em conta. Sobre este tema, Beni (2007, p.177) adverte: A política de turismo é a espinha dorsal do “formular” (planejamento), do “pensar” (plano), do “fazer” (projetos, programas), do “executar” (preservação, conservação, utilização e ressegnificação dos patrimônios natural e cultural e sua sustentabilidade), do “programar” (estratégia) e do “fomentar” (investimentos e vendas) o desenvolvimento turístico de um país ou de uma região e seus produtos finais.
Na Ibiapaba as frentes de articulação entre os promotores turísticos dos municípios ainda acontece de modo muito insatisfatório em termos de ações concretas, tornando complicado o fortalecimento de uma organização em nível regional. Diante de outras atividades, a própria participação de representantes municipais em debates afins é considerada uma não prioridade. Viçosa do Ceará e Ubajara são os municípios que melhor se destacam nesse processo de vinculação de políticas satisfatórias à organização da atividade em tela32.
31
Participamos do Grupo de Estudos “Políticas Regionais e Locais de Turismo” ligado ao Núcleo de Avaliação em Políticas Públicas do Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas (MAPP) – UFC e, ao realizarmos uma atividade de campo em outubro de 2008 para a Ibiapaba, pudemos constatar, através de uma primeira investigação empírica sobre os desafios e potencialidades para o desenvolvimento turístico dessa Região, que a organização regional do Turismo não é uma ação satisfatória. Com base nos trabalhos realizados nesta empreitada é que dispensamos algumas destas considerações. 32 Na saída de campo ressaltada na nota acima, tivemos a oportunidade de entrevistar a Secretária Municipal de Cultura de Tianguá, Srª. Edvânia, participante de grupos de interesses pelo tema Turismo na
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Não obstante a situação da Ibiapaba em termos turísticos ainda aponte muitas baixas, algumas ações vêm sendo definidas para se discutir a atividade na Região. O Sebrae/CE, um dos principais incentivadores, tem apostado na vocação turística da Serra da Ibiapaba e acreditado na força que o Turismo pode proporcionar ao desenvolvimento econômico da Região. O Sebrae/CE começou a atuar mais fortemente no Turismo da Ibiapaba a partir de 2006, com o desenvolvimento de projetos cujo objetivo era estimular o aumento do fluxo turístico e gerar oportunidades de negócios para as micro e pequenas empresas que atuam na cadeia produtiva do Turismo na Região. Em meio as suas tarefas, este órgão fez com que a Ibiapaba fosse levada para workshops em algumas cidades do Brasil e realizou cursos de capacitação para envolvidos no setor. Mesmo com todos os impasses, nos últimos anos, certos instrumentos e projetos foram e vêm sendo concebidos, direta ou indiretamente, para melhor potencializar a atividade turística na Região da Ibiapaba. Deste modo, relacionamos aqui alguns desses: a) Rede de Turismo da Ibiapaba (RITUR): Criada, sobretudo, por Secretários municipais de Turismo da Região, é formada por pessoas que trabalham ligados a cadeia produtiva do Turismo. Realiza encontros para discutir a execução de ações/soluções com vistas à promoção integrada do Turismo na Região. Ultimamente, desenvolve com mais vigor projetos que buscam a captação de eventos; b) Plano de Desenvolvimento Interregional do Vale do Coreaú-Ibiapaba (PDIR): Criado no Governo de Lúcio Alcântara, trata-se de um plano que visou à integração turística e o planejamento espacial das regiões do Vale do Coreaú e do Planalto da Ibiapaba, associando neste feito zonas de litoral e serra. A idéia do plano era baseada na ação conjunta das regiões, na tentativa de reunir esforços para alcançar os objetivos de crescimento econômico. Dentre as ações turísticas propriamente ditas, o plano visava à criação de pólos regionais de Turismo e de rotas turísticas temáticas33, bem como a
Ibiapaba, com grande experiência no setor. Assim, a mesma pode-nos relatar um pouco das problemáticas municipais frente às estratégias de fomento ao Turismo regional. 33 A saber: Rota 01: Do mar e dos ventos; Rota 02: Ecoturismo e esportes de natureza; Rota 03: Arte, tradição e memória; Rota 04: Produtos da terra e da vida Rural; e Rota 05: Espeleologia, Arqueologia e Biologia. Com exceção desta primeira, o plano visava, através do que chamava de “Corredor Estruturante do Turismo - Planalto da Ibiapaba (Turismo serrano)”, a execução destas rotas por todos os
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melhoria da infra-estrutura espacial afim. Entretanto, pouco foi realizado das ações que o plano enumerou; c) Grupo de Empresários de Turismo da Ibiapaba (GETI): Muito ligado ao Sebrae/CE, refere-se a uma entidade que congrega interessados de um dado grupo empresarial da Região – donos de pousadas, restaurantes, agências de viagem, organizadores de esportes de aventura etc.; d) Fórum de Cultura e Turismo (FCT): Gerido pela Secretaria de Turismo do Estado do Ceará (SETUR-CE) e pela Rede de Turismo da Ibiapaba (RITUR), revela-se como um momento de debates proveitosos à promoção do Turismo na Região; e) Conselho de Desenvolvimento Regional da Ibiapaba (CONDER): Órgão de colegiado autônomo para discussão, planejamento, acompanhamento e encaminhamento de ações de fomento ao desenvolvimento regional. É composto por representantes de entidades públicas, privadas e da sociedade civil organizada. Dentre as atividades discutidas, o Turismo ganha destaque enquanto um setor de Arranjo Produtivo Local (APL).
Reconhecendo também essa pré-disposição para as atividades turísticas na Região, o Governo do Estado do Ceará, em contribuição, vem viabilizando através de verbas do Prodetur/NE II (2007) a construção das rodovias CE 085 (Figura 8), que liga os municípios de Jijoca de Jericoacoara e Granja, e CE 311, que liga Granja ao município de Viçosa do Ceará. Com isso, dado o fato de ser Jericoacoara um destino turístico reconhecidamente internacional, fator que se acentuará com a implantação de um aeroporto em suas proximidades, na troca e integração com o litoral34, a tendência é que haja um crescimento do Turismo na Região da Ibiapaba. Considerada por alguns como a cidade mais charmosa da Serra da Ibiapaba, Viçosa do Ceará, marcada por sua história secular e por seu traçado urbano pomposo, será em breve a “porta de entrada” da Região da Ibiapaba para os visitantes provindos do litoral.
municípios da Ibiapaba. Aqui nos cumpre a ressalva de esclarecer que nada disso foi efetivado tal qual planejado. 34 Observa-se, contudo, que mesmo nessa ação, o Turismo no interior (no caso a Ibiapaba) torna-se dependente de alguma maneira do Turismo litorâneo e pode constituir uma extensão deste último.
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Figura 8: CE 085 – ligação entre Jijoca e Granja. Fonte: Arquivo pessoal, mar/2009.
Em termos de pontos turísticos, é certo que todos os municípios da Ibiapaba possuem desses atrativos e são indicados enquanto tais. Porém, de maneira geral, existem uns pontos mais relevantes que outros. Aqueles que ao longo do tempo chamaram mais atenção dos meios de comunicação social e são assim também reconhecidos pela população local, merecendo menção destacável as riquezas naturais (Ver Tabela 2). A Ibiapaba é, além disso, uma Região carregada por fortes manifestações culturais. No que concerne aos eventos, destacam-se o carnaval, os festivais35 (de música, juninos, gastronômicos, das flores etc.), os aniversários dos municípios, as comemorações de final de ano (natal e réveillon) e, também, as festas religiosas, que acontecem em todos os municípios. Porquanto, a Região apresenta atrativos que nos permitem chamá-la de Região turística, com demarcados potenciais para desempenhar diversas formas de se fazer Turismo. Seriam estas as principais: Turismo ecológico (ou ecoturismo), Turismo esportivo, Turismo cultural, Turismo rural, Turismo de eventos e Turismo religioso. Este último quase nunca cogitado nos planos e projetos turísticos. Mesmo tendo na agricultura a sua atividade central, sem criar falsas expectativas, a Ibiapaba deve continuar os seus trabalhos visando o Turismo como importante atividade à soma de recursos interessantes ao desenvolvimento almejado. 35
Destacamos atenção especial ao FUI (Festival União da Ibiapaba), que reunia em suas versões temas como cultura, música, teatro, gastronomia, Turismo etc., mas que nos últimos dois anos, por motivos políticos de organização, não pôde ser realizado. Este evento se tornava ainda mais interessante porque acontecia fazendo uma rotatividade entre os municípios. O Festival de Música da Ibiapaba, que é realizado geralmente no mês de Julho, período das férias escolares, é outro evento com presença notória em nível regional.
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Tabela 2: Principais atrativos turísticos da Região da Ibiapaba Atrativos
Parque Nacional de
Município(s) de localização
Ubajara
Ubajara
Patrimônio Históricocultural
Presente em todos os municípios, com destaque em
Viçosa do Ceará
Bica do Ipú
Belezas Naturais
Ipú
Presente em todos os municípios, com destaque em
Tianguá
Características Estende-se por entre os municípios de Ubajara (sua sede), Tianguá e Frecheirinha e possui uma área de 6.299,00 (ha.), sendo administrado pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA). Desponta por suas belezas naturais, dentre essas cachoeiras, grutas e diversas trilhas dispostas à visitação. Alia-se a este quadro a presença de um teleférico para passeios dentro do próprio Parque. Inclui: casarões, igrejas, festas, gastronomia etc. Por reunir um conjunto de antigas edificações de comprovado valor arquitetônico, a cidade de Viçosa do Ceará foi declarada oficialmente Patrimônio Histórico Nacional pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2003. O potencial histórico e turístico da cidade ainda conta com os pólos de lazer Igreja do Céu e Lagoa D. Pedro II, situados no centro. Possui 130m de altitude, está localizada na encosta da chapada da Ibiapaba. Por conta desse recurso natural a cidade de Ipú também é conhecida como a terra da Índia Iracema, personagem do romancista José de Alencar. Inclui: fauna, flora, vegetação, hidrografia etc. Sendo o município da Ibiapaba que apresenta maior dinâmica em termos econômicos, polarizando os serviços e negócios das demais cidades da Região, do ponto vista turístico Tianguá é apontada, sobremaneira, por suas riquezas naturais , que conta com a presença de parques e reservas, quase sempre, porém, de propriedade privada. Alguns desses pontos são ideais para a execução de esportes radicais e/ou para a realização de camping.
Fonte: Elaboração própria.
Diante do que foi descrito nesta seção, visto a situação emergente da Ibiapaba no tratamento turístico, para que se alcance uma espécie de Turismo que contribua para se chegar pelo menos próximo aos anseios de um desenvolvimento sócio-espacial, citado por Souza (2002), dialeticamente, torna-se necessário que os ritmos e as demandas aumentem. Deve-se constituir com mais presteza o destino Ibiapaba, aproveitando todas as suas atrações. Assim, acreditamos que a presença do equipamento religioso, e por mote incisivo em termos de visitação, Santuário de Fátima da Serra Grande poderá vislumbrar um novo momento à organização regional da atividade turística.
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Capitulo III:
Santuário de Fátima da Serra Grande: dimensões geográfica, religiosa e turística de análise
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CAPÍTULO
III:
SANTUÁRIO
DE
FÁTIMA
DA
SERRA
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GRANDE:
DIMENSÕES GEOGRÁFICA, RELIGIOSA E TURÍSTICA DE ANÁLISE
3.1. O Santuário de Fátima da Serra Grande no contexto da Diocese de Tianguá: uma explicação mitológica para a constituição territorial Todo santuário constituidamente reconhecido pela Igreja Católica36 reclama um órgão maior que responda por sua organização e administração. Não raro, este mesmo órgão pode ser também o responsável pela idéia de sua criação, cuja tentativa de entender a formação mitológica e territorial desta obra requer que passemos pela relação hierárquica do poder eclesial. A análise do geógrafo neste sentido se faz no princípio de desvendar os trâmites que levaram a formatação desse centro religioso, que por natureza gera fluxo e, na maioria dos casos, outros fixos. Via de regra, os santuários instituídos pela Igreja Católica recaem sobre a normatização de uma Diocese, órgão comandado sob competência de um bispo diocesano. Por este entender, “a autoridade espiritual do bispo tem, assim, uma componente claramente espacial” (Santos, 2006, p.330). A Diocese representa um recorte regional no espaço que usa como maior desígnio de existência a alegação de eficazmente atender a demanda de sua população envolvente, podendo sofrer ao longo do tempo certas mobilidades espaciais37. A Igreja Católica, espacialmente tratando, encontra-se repartida em áreas diocesanas. As paróquias, como paragens menores, ficam dentro destas áreas, funcionam como pontos de ligação umas das outras, formando verdadeiros “territóriosrede” (HAESBAERT, 2006), logo constituem a base da Diocese. Podemos afirmar, então, que a Diocese é tida como um território religioso (conceito discutido na seção 1.4 deste trabalho: “Igreja Católica: ação cultural, espacial e também turística”). Realizado este breve esclarecimento sobre a função e ordem de uma Diocese, mesmo não sendo este recorte de interesse direto para a nossa investigação, ressaltamos 36
A saber, o movimento católico, segundo seu direito canônico, adota a terminologia Santuário para qualificar as igrejas ou templos que concorrem para a atração expressiva de fiéis e assim conseguem justificar uma representação vistosa, consistindo em validações do bispo diocesano de sua área envolvente (SANTOS, 2008a). Vale destacar ainda que o Santuário tanto pode ser um espaço religioso que com o passar do tempo veio a ganhar esta denominação, como também já surgir enquanto tal. 37 Sobre a discussão de como a Igreja Católica modifica seu território de atuação usando para isso as ações da Diocese, ver: ROSENDHAL, Zeny. Os caminhos da construção teórica: ratificando e exemplificando as relações entre espaço e religião..., 2008.
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que só conseguiremos entender a formação mitológica e territorial do Santuário de Fátima da Serra Grande (Figura 9) – objeto central de nossas análises – se o relacionarmos com as intenções desenvolvidas pela Diocese de Tianguá (Figura 10) nos últimos anos, responsável eclesial por suas atividades, com quem mantém vinculações significativas. Pelo exposto, torna-se necessário que façamos alguns enquadramentos sobre a Diocese em tela.
Figura 9: Santuário de Fátima da Serra Grande. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.
Figura 10: Sede da Diocese de Tianguá. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
Por sua vez, a Diocese de Tianguá, que carrega o mesmo nome da cidade que se encontra sediada, foi criada pela Bula “Qui Sumopere” de 13 de março de 1971, do
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Santo Padre Paulo VI, sendo erigida canonicamente em 22 de agosto do mesmo ano. Seu território foi desmembrado da Diocese de Sobral, ficando subordinada à Arquidiocese de Fortaleza, pertencente à Regional Nordeste I da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Sua Padroeira é Senhora Sant’ Ana (REVISTA, 2004). Situada na porção Norte do Estado do Ceará, a Diocese de Tianguá abrange o território de 13 municípios e ocupa uma área de 9.670,7 Km², com uma população estimada acima de 500 mil habitantes (Figura 11). Composta de realidades físicoespaciais distintas, mescla áreas de litoral, sertão e serra. Esta última trata-se justamente da Região da Ibiapaba, exceto a cidade de Ipú, que se enquadra como território da Diocese de Sobral. Vale destacar ainda a presença do município de Graça na área de atuação da Diocese de Tianguá, não deferindo mais uma vez com a composição da Região da Ibiapaba. Eclesiasticamente, a Diocese de Tianguá é formada por 14 Paróquias (Tabela 3), 10 Áreas Missionárias (Tabela 4) e 03 Regiões Pastorais (Tabela 5). Assim, segundo a Igreja Católica em pauta: “Para um melhor atendimento ao Povo de Deus, a Diocese de Tianguá investe na descentralização de comunidades e serviços, tendo dividido o território em três grandes Regiões Pastorais e as paróquias em setores, articulando as famílias numa verdadeira rede de Comunidades” (Revista, 2004, p.8).
Como já dissemos, a explicação da realidade geográfica e religiosa do Santuário de Fátima da Serra Grande só se torna possível se apurarmos o histórico das ideologias da Diocese de Tianguá nos últimos tempos, quando essa tem em vista uma política de avanço na evangelização de seu povo, ao passo que marca e se afirma mais ainda no território. Neste instante, ressaltamos que é rarefeita a base documentária da Diocese de Tianguá, assim como do próprio Santuário, ficando mais complexa a nossa tarefa. Optamos, então, pelo uso da entrevista com dois personagens ativos da realidade em estudo. A idéia é buscar pela história oral38 montar um quadro explicativo que venha a dar conta de como a conformação supracitada foi acontecendo, transformando-se na realidade que é hoje o Santuário da Serra Grande39. Indagamos Dom Frei Francisco
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A entrevista neste sentido se torna uma experiência compartilhada, ocorrendo como um diálogo. Fugindo da formalidade crua e intencionada na tentativa de estabelecer uma espécie de colaboração entre entrevistador e entrevistado para que as informações, que passarão por uma análise crítica antes de se tornarem científicas, sejam conseguidas de maneiras experienciais. (MARTINS & SILVA, 2007). 39 O Santuário também é conhecido na Região nestes termos, sem necessariamente a inclusão do termo “Fátima”.
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Javier Hernández Arnedo, bispo da Diocese de Tianguá, e, de maneira mais extensa, Pe. Antônio Martins Irineu, vigário geral da Diocese ressaltada, pároco da cidade de São Bendito e um dos maiores mentores e administradores do Santuário40. Figura 11: Mapa da área territorial da Diocese de Tianguá - em destaque São Benedito41
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Estas entrevistas nos foram cedidas pelo Bispo Dom Javier e por Padre Antônio nos dias 11 e 13 de outubro de 2008, respectivamente, na própria sede da Diocese e no Santuário. 41 O destaque a cidade de São Benedito acontece somente no sentido de fazermos referência a cidade sede do Santuário de Fátima da Serra Grande.
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Tabela 3: Quadro de paróquias que compõem a Diocese de Tianguá PARÓQUIA Bom Jesus dos Navegantes São José Santa Luzia Santo Antônio Nossa Senhora Sant’ Ana Nossa Senhora da Assunção Santa Luzia São José São Pedro Nossa Senhora das Graças São Benedito Nossa Senhora dos Prazeres Nossa Senhora Auxiliadora Nossa Senhora das Dores
MUNICÍPIO SEDE Camocim Granja Granja (distrito de Timonha) Chaval Tianguá Viçosa do Ceará Viçosa do Ceará (distrito de Oiticicas) Ubajara Ibiapina Graça São Benedito42 Guaraciaba do Norte Carnaubal Croata
Fonte: Elaboração própria, a partir da Diocese de Tianguá, 2008.
Tabela 4: Áreas Missionárias que compõem a Diocese de Tianguá ÁREA MISSIONÁRIA Nossa Senhora dos Navegantes Nossa Senhora de Fátima43 Nossa Senhora Aparecida Santo Antônio Imaculada Conceição São Vicente de Paula Nossa Senhora das Graças Santa Teresinha Imaculada Conceição Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
MUNICÍPIO SEDE Barroquinha Camocim Camocim (distrito de Pedra Branca) Tianguá Tianguá Ubajara (distrito de Araticum) Ibiapina (distrito de Alto Lindo) Graça (distrito de Campestre) São Benedito (distrito de Inhuçu) São Benedito
Fonte: Elaboração própria, a partir da Diocese de Tianguá, 2008.
Tabela 5: Regiões Pastorais da Diocese de Tianguá REGIÕES PASTORAIS Norte Centro Sul
MUNICÍPIOS COMPONENTES Camocim, Granja, Chaval e Barroquinha Tianguá, Viçosa, Ubajara, Ibiapina e Graça São Benedito, Guaraciaba, Carnaubal e Croatá
Fonte: Elaboração própria, a partir da Diocese de Tianguá, 2008.
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O destaque acontece pelo mesmo motivo que aponta a nota anterior. Esta chamativa acontece por conta da referência a Nossa Senhora de Fátima, figura de representação maior do Santuário investigado. 43
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Com efeito, para a nossa ambição de explicar a constituição do espaço religioso em pauta, precisamos fazer superar a visão cartesiana de que o “mito” não pode e/ou não deve ser objeto de interesse científico. A figura mitológica de Maria, mãe de Deus, encravada nas mentes de uma significativa parcela da população, é quem impulsiona a atração exercida pelos santuários marianos espalhados por todo o território mundial. Só através da análise do mito44 é que encontraremos explicação para tanto. Consideramos, pois, que “um caminho mítico ajuda a compreender o fenômeno territorialmente materializado” (Oliveira, 2001, p.30)45. O mito, [...] desta forma, não seria um pensar insuficiente ou ingênuo, crença falsa, mas exporia a própria atividade criadora e imaginativa, a transcendência do viver imediato, o homem no ápice de seu vôo (Cesar, 1988, p. 38)
A ascendência imaginária, seguindo os termos de Bachelard, requer do ser religioso uma busca por espaços sagrados e, assim, estas porções espaciais ganham por ordem um existencialismo mítico que passa a ser reflexo para ordenamentos territoriais explícitos, por isso mesmo “o mito pode ser instrumentalizado para o estudo de um fenômeno espacial” (Oliveira 2001, p.26). Alguns supostos acontecimentos miraculosos servem-nos de exemplos que permitem o exercício da tentativa de compreender como um mito se torna cosmogônico e conseqüentemente projeta-se como agente geográfico de primeira linha na transformação fenomenal dos lugares. Citamos os casos em que Maria teria aparecido a três pastorinhos na cidade de Fátima em Portugal e Padre Cícero teria transformado em sangue uma hóstia quando desenvolvia sua função de Padre em Juazeiro do Norte/CE46. Contudo, não é, de maneira alguma, do feitio do geógrafo questionar a veracidade desses fatos. Não identificando um caso tão extremado como os citados acima, aproximamos, como alegação mitológica maior de justificação da Diocese de Tianguá para a
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Porém, não é o mito que explica, trata-se de um meio (MOURA 1988). Na obra Basílica de Aparecida: Um templo para a Cidade-Mãe (2001), Christian Dennys Monteiro de Oliveira, através de um ponto de vista fenomenológico, buscou compreender as condicionantes do processo geográfico que deu origem e sustentação a Basílica de Nossa Senhora de Aparecida (maior santuário mariano do Brasil, situado no Estado de São Paulo) demonstrando a validade de uma reflexão mitológica sobre uma espacialidade para um projeto de desenvolvimento local e regional viável. 46 Medeiros (1989, p.18), por ora, vai dizer que “[...] para a população de Juazeiro, é desnecessário dizer que a notícia do milagre não poderia ser melhor presságio de que Deus se manifestava em favor do povo e de que o sangue derramado, incontestavelmente, era o de Cristo, que se redimia pela segunda vez. Para os coronéis e homens ricos da região, as peregrinações que começaram a se organizar e que encheram a cidade de romeiros, significam, mais do que o sentido religioso da coisa, uma oportunidade de vitalizar o local, desenvolvendo o comércio e aproveitando a mão-de-obra para as suas atividades econômicas. A religiosidade pelo menos neste sentido, impulsionava o progresso”. 45
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implantação do Santuário de Fátima da Serra Grande, a admiração e a devoção popular a Nossa Senhora de Fátima na Região da Ibiapaba. Eis o maior mito de justificação para tamanha obra. É por este pensamento que se levantou e vem se sustentando o Santuário. Remontando a história com base nas informações que adquirimos em campo, identificamos que a idéia de construção do Santuário de Fátima da Serra Grande tem sua origem logo depois da chegada de Dom Frei Francisco Javier Hernández47 (Figura 12) à Diocese de Tianguá, no ano de 1991, nomeado pelo Papa João Paulo II para ser o novo e segundo Bispo desta Diocese, após o falecimento do seu antecessor Dom Frei Timóteo Francisco Nemésio Pereira Cordeiro. Ao chegar, logo no reconhecimento que fez da área territorial de atuação da Diocese (Ver Figura 11), que estaria agora perante a sua supervisão religiosa, Dom Javier diz ter sentido a necessidade da construção de uma grande obra que viesse a fortalecer a identidade religiosa do povo desta área. Até então, um dos pontos mais expressivos em termos de reconhecimento enquanto Santuário na “Região da Diocese” dizia respeito à Igreja de Nossa Senhora do Livramento (Figura 13), localizada no distrito de Parazinho, município de Granja. Porém, esta Igreja foi identificada pela Diocese como um centro religioso que só conseguia atrair um número considerável de fiéis na época das festas de sua padroeira, tornando-se mais manifesta a necessidade de um centro de maior expressão. Vale destacar que a “Igreja do Parazinho” não é legalmente reconhecida pela Diocese como um Santuário, ou seja, a Diocese não expediu nenhum decreto que o legitimasse eclesialmente (Ver exemplo no anexo 1), só sendo assim reconhecido de forma popular48. Reconhecendo a “timidez” atrativa do centro religioso do Parazinho e, mais ainda, a falta de um grande núcleo evangelizador que cumprisse a função de recepcionar romeiros e peregrinos em seu território, a Diocese de Tianguá, através das suas lideranças, resolveu investir intensamente na constituição e afloramento do mito de devoção a Nossa Senhora de Fátima na Região.
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Em complemento: Dom Francisco Javier Hernández Arnedo é de nacionalidade espanhola e neste momento é chegado de Manaus. Exerceu o cargo de Professor de Filosofia em São Paulo, onde foi Pároco da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida na cidade de Franca (final da década de 80 e 90) e desenvolve(u) trabalhos junto à CNBB através da Regional Nordeste I (REVISTA, 2004). 48 A cidade de Ubajara também faz constar uma espécie de capela que é conhecida popularmente como Santuário da Mãe Rainha, mas que também não tem o reconhecimento da Igreja para tanto.
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Figura 12: Dom Javier. Fonte: Santuário, 2008.
Figura 13: Igreja de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho. Fonte: Renato Monteiro, 2008.
Figura 14: Padre Antônio em ato eucarístico. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
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Segundo Dom Javier, uma leitura representativa da formação do Santuário de Fátima da Serra Grande deve ter início com a ida de Padre Antônio Martins Irineu (Figura 14) à cidade de São Benedito, em 1992, para desempenhar ali a função de Pároco, a qual acabara de ser nomeado. Nesta empreitada, ao longo dos anos, Padre Antônio teria reconhecido neste seu novo espaço de atuação eclesial uma grande devoção a Nossa Senhora de Fátima, adotando assim a instituição das missas em todos os dias 13 de cada mês do ano, data referencial às aparições de Maria na cidade de Fátima em Portugal. A firmação dessas missas nesses preceitos só veio a corroborar para o acréscimo da referida devoção. Ao nosso entender, mais um passo estava sendo dado para a consolidação do mito. A simbologia de Nossa Senhora de Fátima neste momento concorreria em muito na escolha desta representação mariana para fazer alusão nominativa ao Santuário em estudo. Na entrevista com Padre Antônio, relata o sacerdote que somente com o passar dos anos foi visualizando melhor a possibilidade da idéia da construção do Santuário ser constituída, ascendendo à medida que as pessoas foram avivando continuamente a prática de devoção à Fátima. Embora o processo tenha se dado por seqüência temporal contínua desde as primeiras cogitações de uma construção religiosa neste perfil, o Padre demarca 1998 como o ano de referência cabal aos primeiros passos na articulação local da Igreja com o povo. A partir desse momento se incitava mais intensamente nas mentes alheias o potencial religioso que se encontrava adormecido. Estamos tratando agora do imaginário do “homem religioso”, que é então reconhecido como a base originária e mitológica do alavancar da realidade ponderada. Quando inquirimos ao Padre como foi pensado o Santuário pela Diocese, o especialista religioso nos deixou a seguinte contribuição: Nós vivemos numa realidade em que a presença da religiosidade popular, da piedade popular, é muito forte. Então, nós vimos que se precisava de um Centro pra integrar, ao mesmo tempo dar uma certa catequese pro nosso povo. E vimos que a Ibiapaba era apenas um corredor de romarias, onde se passa em direção a Juazeiro e a Canindé. Nós vimos, mas também nós podemos e devemos ter esta preocupação de ter aqui um Centro de peregrinação para canalizar todo esse potencial. Foi aí que fomos pensando, foi se materializando pouco a pouco a idéia da Diocese de ter um Santuário. Isso no sentido da Diocese, no pensamento da Diocese de ter um Santuário. Agora e porque esta devoção? Por que ligado à Fátima? Por que não foi um santuário franciscano? Já que aqui na terra é uma “loucura” a festa
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de São Francisco. Porque isso tem Canindé! E aí vimos que havia uma lacuna, já que existe uma força muito grande de devoção em Nossa Senhora de Fátima. Daí pensamos que talvez fosse Deus nos falando dessa forma, de que este seria o ideal: construir um Santuário mariano.
Sob uma leitura fenomenológica, torna-se correto afirmar que o maior “milagre” que vem acontecendo por meio do Santuário de Fátima da Serra Grande reside no fato da expressão canalizada da fé do povo ali vivente. Este é o mito na sua expressão existencial. É esta força que está dando configuração ao espaço religioso em pauta. A idéia da Diocese de encravar na sua área de trabalho um centro de peregrinação, como diz o Padre, só se torna possível através de um trabalho evangelizador direcionado. Diga-se de passagem, um trabalho imaginativo, cultural e re-fundador do processo de sacralização do lugar (assunto ainda discutido na próxima seção do texto). Portanto, entendemos que o Santuário de Fátima da Serra Grande é validado enquanto espaço sagrado através de um trabalho diocesano-eclesial de apresentação do potencial religioso residente no âmago de cada ser que para ali se direciona e o aceita enquanto tal. Em contribuição ao que estamos a alegar, Eliade (2008, p.17) destaca que “o homem toma conhecimento do sagrado porque ele se manifesta, se mostra como algo absolutamente diferente do profano”, forças que ao mesmo tempo em que se contradizem, só existem pela razão da outra. Mais uma vez a fala de Padre Antônio vem ratificar o que estamos a expor: Este santuário é aprovação do povo. É algo que não brotou da vontade do Bispo. A idéia de decidir: vamos construir?! Vamos! Isto parte da Igreja, do Bispo, do Padre, mas, dizer assim: vamos fazer aqui um Santuário de Santo Agostinho (o Bispo é agostiniano) [...], quer dizer, qual era a relação que o Santuário de Santo Agostinho teria aqui com o povo? Nenhuma! Nós tivemos a idéia de construir o Santuário porque a gente sabia que precisávamos de um Centro de romaria e de peregrinação. Mas sabíamos que este Santuário deveria ser firmado sobre o alicerce que já tinha sido lançado desta ou daquela devoção, e, vimos que Nossa Senhora de Fátima é uma presença muito forte na vida, na piedade do povo; é tanto que, de fato, com tão pouco tempo e ainda em construção este Santuário já atrai tantas pessoas. Então, eu creio dessa forma: a Diocese tem a idéia, toma a decisão de construir, mas de fato quem determinou foi o povo, a sua necessidade, a sua piedade.
Dando seguimento às nossas considerações, trataremos a seguir de analisar como o Santuário de Fátima da Serra Grande vem se constituindo enquanto um geossímbolo
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cosmogônico, construído e aceito, na prática, como um centro real e potencial de atração.
3.2. Santuário de Fátima da Serra Grande: um “geossímbolo” cosmogônico Significativo e atuante no lugar onde está instalado, o Santuário enquanto forma simbólica espacial49 não escapa à análise dos geógrafos, sendo analisado para além de sua monumentalidade arquitetônica. Estudado em muito pelo poder de atração que exerce, embora reconhecido o seu papel de difusão simbólica (Ver Figura 15), o Santuário é uma importante impressão cultural da religião católica fixado na paisagem e, por isso, deve ser considerado objeto de estudo da Geografia (ROSENDAHL, 1996). Figura 19: Interações Centrípetas e Centrífugas do Santuário50
Fonte: Elaboração própria, com base em Santos (2008b).
As formas simbólicas podem ser entendidas pelas suas interfaces geográficas quando constituídas por fixos e fluxos (CORRÊA, 2007). Monumentos efetivos que desempenham função espacial, como é o caso do Santuário, representam uma abertura para que a ciência geográfica possa desenvolver-se nos estudos das dimensões simbólicas de seus espaços de análise. 49
“As formas simbólicas espaciais estão dispersas pela superfície terrestre, sugerindo a força das representações que os homens constroem a respeito de diversas facetas da vida, envolvendo o passado, o presente e o futuro, as diferenças e a igualdade e o poder, a celebração e a contestação e a memoralização”. (Corrêa, 2007b, p.18). 50 Pensamos a inserção deste diagrama no sentido de demonstrar como o Santuário, enquanto forma espacial, exerce atração e difusão simbólica pra diversas esferas do meio religioso, mas também pra outras de cunho social mais geral.
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Uma concepção fenomenológica clássica, por sua vez, afirmaria que não existe “formas em si”, e sim, vivências e relações entre o símbolo e o sujeito da representação – aquele que assimila, dá significado e simboliza a forma pela sua imaginação e sentimentos. Contudo, é possível aceitar o juízo da existência de formas mais relevantes que outras; mais carregadas de sentimentos e significados; mais pedagógicas em seu devir coletivo; seja por motivos sociais, ambientais ou incisivamente religiosos. Deste modo, compreenderemos o Santuário de Fátima da Serra Grande como um “geossímbolo”, definido como “um lugar, um itinerário, uma extensão que, por razões religiosas, políticas ou culturais, aos olhos de certas pessoas e grupos étnicos assume uma dimensão simbólica que os fortalece em sua identidade” (Bonnemaison, 2002, p.109). A aflição mundana de viver faz com que as pessoas criem seus espaços de redenção. Tentar entender o poder atrativo deste Santuário requer que busquemos perceber que forças seduzem as pessoas que para ali se direcionam. Neste sentido, Mírcea Eliade (2001) vai nos dizer da incessante procura do homem religioso por um “Centro do Mundo”51. Segundo o próprio Eliade, este seria uma espécie de arquétipo celeste que o indivíduo religioso imagina reproduzir a fim de intermediar a sua comunicação com os deuses, ao mesmo tempo em que vem a sacralizar o mundo profano. É seguindo a conspiração da busca por este Centro que a cultura religiosa do ser admite a fundação e as posteriores visitas ao espaço sagrado. O espaço sagrado (referir-nos-emos a espaço sagrado no sentido espiritualmente atractivo) é o resultante da inventabilidade que o homem religioso tem de possuir lugares com uma atmosfera própria, onde estejam patentes os elementos da espiritualidade, sendo igualmente resultado da necessidade de segurança que eles proporcionam, por serem locais onde, por exemplo para os cristãos, os ritos são conhecidos, dando conforto, equilíbrio e sentido ao espaço (Santos, 2006, p. 108).
O espaço sagrado parece possuir atributos distintos que lhe concebe respeito e admiração, “implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado que tem como resultado destacar um território do meio cósmico que o envolve e o torna qualitativamente diferente” (Eliade, 2001, p. 30). É, portanto, esta qualificação diferenciada perante aos espaços mundanos que atrai uma gama representativa de simpatizantes religiosos a um 51
“No catolicismo esta idéia de ‘Centro do Mundo’ tem raízes judaicas, em efetiva menção a Arca da Aliança, que representava um veículo de comunicação entre Deus e seu povo escolhido. Representava o próprio Deus na terra. O que a bíblia chama de tabernáculo dizia respeito ao local de habitação da Arca, tenda e templo de encontro de reverência das tribos de Israel. Nasce daí o ato da criação de novos e outros templos na terra, de novos Santuários. Desta maneira, para Igreja Católica o Santuário é sinal da presença divina, é o local onde se renova o pacto com Deus” (SOUZA, 2009).
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Santuário, como no caso do Santuário de Fátima da Serra Grande, fazendo-lhe “percebido como uma trama geossímbolica de comunicação partilhada por todos” (Rosendahl, 2007, p. 215). Como em outros casos, a acomodação do Santuário de Fátima da Serra Grande acontece a partir do momento em que a Igreja Católica toma posse de um terreno tido até então como profano (Figura 16) e realiza ali um ato de sacralização (Figura 17). Acontecimento histórico de onde logo mais se daria início as obras referidas e que já contou com a presença de muitos religiosos, tanto da cidade de São Benedito, como de outras cidades da Região da Ibiapaba. Assim, este Santuário é uma aceitação, reflexo da imaginação criadora desses seres religiosos.
Figura 16: Terreno do Santuário. Fonte: Santuário, 2004.
Figura 17: Benção do terreno. Fonte: Santuário, 2005.
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De acordo com os fatos, o terreno onde está instalado o Santuário de Fátima da Serra Grande foi obtido através de uma doação “popular” e combinou com a idéia da Diocese de fixar o Santuário num lugar de destaque na paisagem. Antes da decisão final do local que receberia a obra, cogitou-se a possibilidade de outros terrenos, o que não vingou. Dessa maneira, o Santuário está posto sobre um morro com mil metros acima do nível do mar, de onde se tem uma vista panorâmica da paisagem circundante. Vale destacar que, em algumas culturas, as montanhas já equivalem a um “Centro do Mundo”, de onde se acredita acontecer a ligação entre o céu e a terra. Pela visualização gerada nas figuras anteriores, podemos observar, mesmo que sucintamente, uma das maneiras de constituição do espaço sagrado. Como bem aponta Tuan (1983, p.112), o espaço sagrado (mítico nas palavras do autor) “é um constructo intelectual, [...] uma resposta do sentimento e da imaginação às necessidades humanas fundamentais”. Porém, paradoxalmente, não se deve acreditar que se trata de um trabalho puramente humano, onde somente graças ao seu esforço é que o homem consegue consagrar o espaço (ELIADE, 2008). “Na realidade o ritual pelo qual o homem constrói o espaço sagrado é eficiente à medida que ele reproduz a obra dos deuses” (Eliade, 2008, p.32). Com efeito, podemos afirmar que antes mesmo da finalização de toda a obra (Ver projeto nas Figuras 18 e 19), que deve durar mais alguns anos, e somente com pouco mais de três anos de atividades, o Santuário de Fátima da Serra Grande já consegue atrair uma significativa gama de visitante-religiosos, efetivando-se precocemente como uma realidade ativa. Segundo a própria organização do Santuário, as visitas religiosas começaram a se intensificar logo a partir do ato da benção do terreno. Atualmente, as festas de Maria, que acontecem nos meses de maio e outubro, apresentam-se como os períodos de maior visitação (Ver Figuras 20 e 21). Respeitando os sinais das divindades, parece crescente o número de religiosos freqüentadores do Santuário em apreço. São pessoas que desenvolvem as suas experiências religiosas acreditando piamente na sacralidade desse espaço de devoção. É na busca pela melhoria de suas vidas que os fiéis visitam e participam das celebrações ocorridas no Santuário de Fátima da Serra Grande, realizando, quando acham necessário, verdadeiras penitências e promessas, como ilustramos nas figuras 22 e 23. Daí é que somos levados a reconhecer que o cenário visual que se tem por conta da atratividade deste Santuário trata-se de uma paisagem “na qual a mensagem que nela se
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escreve em termos geossímbolicos reflete o peso do sonho, das crenças dos homens e de sua busca de significação” (Rosendahl, 2007, p. 215).
Figura 18: Projeto do Santuário. Fonte: Santuário, 2008.
Figura 19: Vista aérea do Santuário (Projeto). Fonte: Santuário, 2008.
Apostando no mito que é a figura simbólica de Maria52, a cosmogonia do Santuário por ora estudado só se faz compreensível pela devoção que o povo tem a Nossa Senhora de Fátima. Provavelmente a consistência que apresenta e a atratividade deste espaço não seriam tão grandes se fizesse alusão a qualquer outra figura santa. Mesmo se a veneração acontecesse por outra forma mariana, Nossa Senhora do Livramento, por exemplo, para citarmos o caso de devoção da Igreja do Parazinho (ver 52
Segundo a mensagem católica, Maria representa o caminho de encontro com o Filho Jesus. Ademais, de certa forma, a personificação do ser humano se encontra muito representada em Maria, transmissora de imagens de angústias, sofrimentos, mas também de alegrias.
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seção anterior, 3.1), dificilmente a realidade vivida por este Santuário encontrar-se-ia tão adiantada53.
Figura 20: Santuário durante as festas de Maria – maio 2008. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2008.
Figura 21: Santuário durante as festas de Maria – maio 2009. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.
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Esta forte marca de culto a Nossa Senhora de Fátima se deve em muito pelas viagens que as imagens peregrinas de Fátima, saídas de Portugal, fazem a várias paragens continentais do território mundial, já passando pelo Ceará, em 1966. Mais sobre o assunto, ver: Oliveira (2001), Basílica de Aparecida: um templo para a cidade-mãe.
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Figura 22: Religioso em penitência. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
Figura 23: Sala de ex-votos. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
Numa estratégia de incentivo à devoção a Nossa Senhora de Fátima na Região da Ibiapaba, a Igreja local promoveu, com a ajuda de um português que mora na Ibiapaba, a vinda de uma imagem de Nossa Senhora (Figura 24) da cidade de Fátima, no ano de 2006. Esta imagem foi abençoada e conduzida até a cidade de São Benedito por Dom Coutinho, sendo recebida com uma grande festa católica; fato que, segundo Santos (2008b), demonstra a difusão extraterritorial do Santuário de Fátima de Portugal, tornando o Santuário de Fátima da Serra Grande um local de culto secundário.
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Figura 24: Imagem de Nossa Senhora de Fátima. Fonte: Arquivo pessoal, 2006.
Figura 25: Devoto Thomas Bezerra da Silva. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
Exemplificando um caso que poderia ser estendido a outros milhares, é pela devoção que tem a Nossa Senhora de Fátima que o religioso Thomas Bezerra da Silva (Figura 25), morador de São Benedito, freqüenta o Santuário de Fátima da Serra Grande. Também possuindo devoção a São Francisco, que diz ser seu pai parte de Deus, o senhor Thomas já realizou cinco viagens de bicicleta da cidade de São Benedito a Canindé (Ver figura 31), doando-as para o santuário franciscano ao final das suas façanhas. Em 2010, é pretensão deste devoto doar a bicicleta que aparece na figura 25
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deste texto ao Santuário de Fátima da Serra Grande, que segundo ele é a casa de sua mãe por parte de Deus. Nos altos de seus sessenta e nove anos, “seu Thomas” (como é conhecido) representa a típica figura do ser que busca o Santuário para agradecer as bênçãos alcançadas. Quando lhe indagamos sobre os motivos da referida devoção, o religioso simplesmente respondeu: “Rapaz foram tantas coisas... coração, bico de papagaio, tudo isso foi o pai do Céu, São Francisco das Chagas e Nossa Senhora de Fátima que me ajudou; ajudou a nós todos né? Me tirou de muitos vícios, de embriaguez [...], me salvou de um monte de coisas... Eu nasci de novo! Então agradeço até quando Deus quiser, né amigo!?”. Como já foi denotado, assim como Thomas, já existe uma considerável quantidade de pessoas que freqüentam o Santuário de Fátima da Serra Grande a fim de alcançar seus desejos espirituais, materiais, de saúde, dentre outros, tornando-o por isso mesmo um “equipamento” simbólico de forte apelo cosmogônico54. É este poder atrativo que vem proporcionando aos poucos uma nova configuração sócio-territorial à cidade de São Benedito.
3.3. São Benedito, cidade ibiapabana sede do Santuário São Benedito55, indicada pela ordem diocesana como a cidade ibiapabana sede do Santuário de Fátima da Serra Grande, está distante 348 km de Fortaleza e possui uma população de aproximadamente 45 mil habitantes, ocupando uma área de 338,14 km². Limita-se ao norte com a cidade de Ibiapina; ao sul com Carnaubal e Guaraciaba do Norte; a leste com Graça; e a oeste com o Estado do Piauí (Figura 26). O clima ameno, com temperaturas que oscilam entre 22° e 24° C durante todo o ano, é proveniente da sua localização geográfica, explicada pela sua altitude. Além deste “atrativo”, a cidade ainda conta com um quadro “harmonioso” de paisagens naturais e uma dinâmica urbana um tanto quanto peculiar (Figura 27). Dentre os principais pontos de visita da cidade de São Benedito, somado a algumas construções arquitetônicas e às instalações de floriculturas – que bem possuem 54
Mais considerações sobre o poder de sacralidade deste espaço será obtido no Capitulo IV, quando analisaremos uma variada gama de representações. 55 Reza a história que a cidade de São Benedito tem esta toponímia pelo fato de um índio da tribo dos Tapuias, devoto de São Benedito, nas suas demarcações territoriais em pleno século XVII, ter adotado este nome ao seu povoado em apreço à figura do Santo.
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certa interação turística, uma vez que abrem horários para a realização de visitações –, vem ganhando cada vez mais importância o Santuário de Fátima da Serra Grande. É, pois, onde acontece atualmente a maior aglomeração de visitantes, intensificada em dias de festas e finais de semana.
Figura 26: Mapa da cidade de São Benedito
Figura 27: Praça central da cidade de São Benedito. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.
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O Santuário está situado na Avenida Santíssima Trindade, Bairro Nossa Senhora de Fátima, zona periférica da cidade. Vale mencionar que a instalação do Santuário fez com que os nomes da Avenida e do Bairro fossem alterados, passando a ser chamados como são hoje, denotando mudanças na organização urbana da cidade. De qualquer modo, um Santuário desses é sempre uma construção arranjada para que os visitantes possam ali se satisfazer espiritualmente. Deste feito, eles chegam idealizando ser bem recebidos, o que requer da organização desse equipamento, e também da cidade, um preparo para realizar esse acolhimento da melhor maneira possível. São Benedito ainda ensaia os primeiros passos no que toca a organização urbana, tendo em vista a magnitude do Santuário em tela. Destarte, embora este represente uma realidade recente, as forças políticas municipais e até regionais devem discutir um planejamento urbano de adequação, principalmente no que concerne aos meios de acesso. Algumas cidades do Ceará há tempos já se mobilizam por esse viés. O território cearense, em sua vivacidade, é repleto de santuários católicos que fazem alusão a várias santidades, sendo certo que uns são mais relevantes que outros (Figura 28). Como núcleos receptores de visitantes, destacam-se, com fortes simbologias e incidências espaciais, as cidades de Juazeiro do Norte, através da lendária figura de Padre Cícero, e Canindé, que tem como figura simbólica maior São Francisco. Essas duas cidades atraem, anualmente, uma gama significativa de interessados religiosos. Como mostramos no mapa da figura 28, São Benedito já aparece entre as principais cidades do Estado do Ceará que possuem santuário católico. Na procura de alcançar um patamar semelhante aos casos exemplificados acima (Juazeiro e Canindé), a cidade de São Benedito, através dos trabalhos do Santuário, pretende se firmar enquanto destino religioso-turístico. No entanto, compreendemos que a existência da cidade só é possível através da conjunção de vários simbolismos, significantes ao seu funcionamento. “É, em parte, por meio de formas simbólicas que a cidade expressa uma dada cultura e realiza o seu papel de transformação cultural, tanto em sua hinterlândia como em seu espaço interno, tanto no passado como no presente e visando o futuro” (Côrrea, 2007a, p.177). E hoje, o Santuário representa uma forma simbólica de primeira grandeza implicante nas diversas esferas temporais (passado, presente e futuro) da cidade, e, por conseguinte, significante no funcionamento.
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Figura 28: Mapa dos principais Santuários do Estado do Ceará
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Como reflexo da projeção do Santuário, a cidade de São Benedito vive um processo de mudanças aparente. O simples fato dos moradores locais já usarem com mais veemência artigos que fazem referência a Nossa Senhora de Fátima demonstra as primeiras mudanças sócio-culturais. Outro fato que evidencia impacto está no processo, mesmo que inicial, de descentralização de serviços e comércios para os arredores do Santuário. Alguns desses estabelecimentos ganham nomenclaturas ligadas à simbologia da Santa. As campanhas para arrecadar fundos para as construções do Santuário, por sua vez, são fortes em toda Região da Ibiapaba e por mais extrapolam essa demarcação, porém, em São Benedito, em especial, essas são divulgadas com mais efervescência. Não raro se encontram cartazes afins nos estabelecimentos comercias (Figura 29).
Figura 29: Cartaz do Santuário em comércio local. Fonte: Arquivo pessoal, mai/2009.
Desde o ano de 2008, o governo são-beneditense decretou feriado municipal para o dia 13 de maio por conta do encerramento das festas de Maria, realizadas no Santuário de Fátima da Serra Grande. Assim, criam-se condições para que a cidade, em seu corpo social, interaja ainda mais com o Santuário. Por este fato, podemos observar que “o sagrado é perceptível na organização espacial, não somente pelos impactos desencadeados pelos devotos no lugar, mas também pela forma essencialmente integrada entre religião e tempo” (Rosendahl, 1997, p.124). Neste sentido, podemos dizer que o tempo da cidade já é influenciado por tamanha obra. Suspeitamos, contudo, que a intensificação do número de barracas e ambulantes que comercializarão artigos religiosos no centro da cidade – como é comum nesses tipos de espaço – não tardará muito a acontecer, bem como a intensificação do número de
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pousadas, restaurantes e abrigos; o que denunciará de vez um “novo território”, que já se encontra em constante metamorfose. Com o desenho dessa nova urbanização, torna-se necessário que a população esteja atenta para os possíveis arranjos que podem ocorrer em função das territorialidades criadas.
3.4. O Santuário e o Turismo [Religioso]: possibilidades regionais Diversas são as formas, funções e realidades que um Santuário pode compreender. Não ponderado somente como antes, quando se pensava que só desempenhava atratividade para seres puramente religiosos, o Santuário católico, ao passo que é idealizado para ser um Centro de romarias e peregrinações, atrai visitantes que habitam em lugares situados distantes de seus arrabaldes56, podendo abrigar intencionalidades que vão além das obrigações do crente. As visitas de lazer e Turismo podem ser citadas nesse sentido. Com efeito, a busca pelo Santuário é explicada em parte pelo que alguns autores chamam de magnetismo espiritual, compreendido como A força de um santuário de peregrinação para atrair devotos. Não é uma qualidade intrinsecamente “sagrada” de origens misteriosas que irradie objetivamente de um lugar de peregrinação; pelo contrário, o magnetismo espiritual deriva de conceitos e valores humanos, através de forças históricas, geográficas, sociais e outras que se coligam num centro religioso (Preston Apud Santos 2008, p.100).
Ao conceber diversas energias, não apenas as religiosas, o Santuário também pode atrair curiosos que se vestem na qualidade de turistas, “ainda que represente um pré-turismo, feito em um dia, sem participação formal de uma agência” (Oliveira, 2001, p. 161), o que se aproxima daquilo que Santos (2006) chama de excursionismo religioso. Pelo menos no que diz respeito à mobilidade proporcionada pela visita real que recepciona, o Santuário pode ser tido como um atrativo turístico de constituída ordem. A saber, o romeiro/peregrino que procura o Santuário, grosso modo, pode ser compreendido também pelas atividades turísticas que realiza no lugar visitado.
56
Em complemento: “Desde os primeiros tempos da Igreja formou-se uma contínua corrente de peregrinações que se dirigia para os lugares santos e para os túmulos dos Apóstolos. Desde então não mais cessaram as visitas aos lugares santos [...] E no decorrer dos séculos multiplicaram-se os santuários cristãos” (Beckäuser, 2007, p. 23).
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Mesmo sendo projetado para ser antes de tudo um reduto espiritual de encontro e apoio para religiosos, não é errôneo dizer que pode o Santuário, ao mesmo tempo em que “santifica” os lugares, “turistificar” o espaço sob alegações religiosas, dependendo do quadro sócio-cultural de sua inserção, configurando-se como um ponto de visitação “obrigatório”, desencadeador, em alguns casos, de uma melhor estrutura de recepção turística (SOUZA, 2009). É o Santuário um espaço de trocas simbólicas mútuas, tanto no que concerne ao tratamento do fenômeno religioso quanto do Turismo, bastando que para isso se efetive o contato entre o visitante e esta forma. Deste modo, o Santuário católico, na compreensão eclesial de hoje, pode ser tido como um recinto oportuno à prática do lazer, mas do lazer sagrado. Ponto de encontro para onde se direcionam intencionalidades de diferentes dinâmicas sociais, o Santuário é um dos elementos mais expressivos do Turismo Religioso. Assim, é fundamental reconhecermos que os Santuários como centros de visitações espetacularizados pela fé, significativas construções cristãs, ao se tornarem “turistificados”, abertos a visitas, não deixam de ser sagrados porque se tornaram turísticos (OLIVEIRA, 2004). Pois quando bem conduzido, o Turismo não põe em risco a sacralidade dos lugares. Efetivamente,
os
Santuários
católicos
quase
sempre
realizam
festas
homenageando as figuras santas a que fazem referência. E assim, neste período festivo, geralmente as cidades sedes desses Santuários sofrem modificações nas suas dinâmicas urbanas por conta da geração de atividades efêmeras que destoam do cotidiano comum. A própria festa religiosa ainda pode abrir margem para outros tipos de festas, não propriamente religiosas. Trata-se de festas de conteúdos sacro-profanos57. Contudo, os dois tipos de festas mencionados podem representar atrativos turísticos dessas cidades. Notadamente, dentro da lógica discutida nas linhas antecedentes, afirmamos ser o Santuário católico instituído parte de um itinerário religioso-turístico, denunciante de como a cultura religiosa é nos dias de hoje geograficamente vivenciada. Neste âmbito, reconhecendo a situação insatisfatória do Turismo na Região da Ibiapaba e tendo em vista a presença singular do Santuário de Fátima da Serra Grande, 57
Diante das acentuadas devoções santas, estas festas são comuns no Nordeste brasileiro, principalmente nos períodos de junho (festejos juninos) e dezembro (ciclo natalino). Ligadas diretamente a festas religiosas, propriamente ditas, funcionam num ritmo diferenciado, quase sempre embalado por grupos musicais que atuam por repertórios seculares e geralmente são regadas a bebidas alcoólicas (OLIVEIRA, 2008).
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realizamos o seguinte questionamento: Turismo Religioso na Ibiapaba, falácia ou realidade? Esta resposta, de expressa complexidade, deve aparecer nas reflexões das linhas que se seguem. Já nascendo com um porte consideravelmente grande, o Santuário de Fátima da Serra Grande, por sua vez, embora responda por poucos anos de existência, é compreendido em nossa visão como uma realidade prontamente ativa em termos atrativos (como já assinalamos), despontando como um dos grandes ícones simbólicos da Região da Ibiapaba, configurando-se, assim, como mais um atrativo turístico (Figura 30). Fazendo parte ainda timidamente das aspirações políticas e turísticas do Estado, este novo espaço de devoção a Nossa Senhora de Fátima pretende, através das políticas de divulgação e promoção desenvolvidas pelos profissionais religiosos atuantes no caso, fixar-se como mais um grande geossímbolo religioso-turístico do Ceará e do Nordeste brasileiro. Com uma localização estratégica (Ver figura 31), enquanto centro de devoção santuária, espera ser ponto de parada para quem vem do Piauí e de cidades próximas, servindo como uma espécie de corredor do Turismo “motivado pela religiosidade, pela cultura religiosa” (OLIVEIRA, 2004, p.52) no Estado. Vestindo um discurso e uma prática promissora no que toca às visitações, a Diocese de Tianguá vem apostando continuamente na divulgação do Santuário da Ibiapaba, como também é conhecido o Santuário em questão. O site do próprio santuário, os programas em rádios locais, as missas, o uso de panfletos de oração (Figura 32) podem conter a cabo intenções de divulgar o Santuário. Até uma música em referência ao Santuário58 já surgiu, o que também pode servir como um meio anunciador. Com efeito, a intenção diocesana reza por instigar a visitação. E a propósito, esta visita trará quase sempre consigo um fundo turístico incutido. Em meio a outras justificativas, foi “CONSIDERANDO que um Santuário, devidamente reconhecido pela Igreja, passa a ser um Centro de evangelização [...]” e que “romarias são verdadeiras experiências de fé para todos os batizados, mas, especialmente, para aqueles que, vivendo afastados da prática religiosa na Igreja, reconhecem-se peregrinos a caminho da pátria definitiva” que a Diocese de Tianguá decidiu por bem decretar a implantação do Santuário de Fátima da Serra Grande.
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Ver anexo 2.
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Figura 30: Mapa dos principais pontos turísticos da Região da Ibiapaba
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Figura 31: Mapa de localização da cidade de São Benedito, com distâncias e vias de acesso para algumas cidades dos Estados do Ceará e do Piauí – destaque ao S.F.S.G59
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Sigla que corresponde à denominação “Santuário de Fátima da Serra Grande”.
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Figura 32: Capa de panfleto de orações do Santuário. Fonte: Santuário, mai/2009.
Nas entrelinhas, a análise das palavras ditas anteriormente, extraídas do Decreto de criação do Santuário (2006)60, descortina para nós o juízo da Diocese de buscar a evangelização de mais pessoas e se tornar através desta forma simbólica (o Santuário) uma referência no que se remete às romarias e peregrinações de culto à Maria no Estado do Ceará. Quando se fala em “peregrinos a caminho da pátria definitiva”, intencionalmente ou não, se coloca em discussão a necessidade do ser humano de recorrer a centros religiosos que possam lhe instigar a uma possível comunicação com o “outro mundo”, onde esta peregrinação diz respeito a todo o seu tempo de vida. Desta maneira, o compromisso de volta fica garantido. No caso do Santuário averiguado, a garantia de volta parece ainda mais evidente quando acreditamos que a imagem de Nossa Senhora de Fátima, através de um diferenciado tratamento eclesial direcionado, geralmente, traz consigo um apelo turístico muito forte. Se analisarmos amiúde os santuários que lhes prestam culto, quase sempre encontraremos espaços recobertos por uma monumentalidade moderna, passíveis de uma beleza acentuada e indutores de visitações. Assim, permitimo-nos a seguinte indagação reflexiva: Como uma pessoa religiosa recebe a mensagem católica quando escuta falar ou quando visualiza em algum cartaz de divulgação a imagem de Nossa Senhora de Fátima associada a um Santuário? Percebamos, então, que o reconhecimento mundial desta imagem certamente vai estimular uma visita a este Santuário. Daí a componente turística que por ora nos referimos.
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Ver anexo 1.
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Reconhecendo as potencialidades futuras do espaço que rodeia o Santuário, a sua gerência já tem programado para depois de concluídas as obras do templo, a formatação da Trilha do Rosário, prometendo combinar Turismo Religioso com a componente ecológica. A proposta é de construir vinte capelas ao longo do percurso de 10 km, que simbolizarão os vinte mistérios do Rosário, sendo que a última capela fará uma homenagem ao pontífice Papa João Paulo II. A idéia tem intenções catequéticas para funcionar como uma espécie de peregrinação, realizada por “caminhos de fé”. Iniciada nas intermediações do Santuário, a trilha passará por um mirante, de onde é possível vislumbrar paisagens de serra e sertão. Compreensivelmente, embora a realidade de visitas do Santuário de Fátima da Serra Grande ainda esteja muito locada em trâmites locais e regionais, é possível elucidarmos que a presença imponente deste equipamento religioso vem sim a proporcionar um novo momento para o (re)pensar turístico da Região da Ibiapaba, mesmo quando esta imagem não é ainda bem visualizada pelos órgãos afins. Por estes termos, o Turismo Religioso representa um potencial a ser trabalhado em conjunto com as outras formas de se fazer Turismo na Região. Destarte, acreditamos que caso aconteça um planejamento coerente dos principais destinos turísticos da Região da Ibiapaba, será provável que a demanda religiosa e turística cresça ainda mais na cidade de São Benedito nos próximos anos por conta do Santuário. Em contrapartida, pode o Santuário também contribuir para uma maior visitação da Região como um todo, o que poderá desencadear mais investimentos na infra-estrutura e maior dinamismo na cadeia produtiva do Turismo regional/local. Nesta perspectiva, à medida que avancem as disposições espaciais voltadas à Religião e ao Turismo na Ibiapaba, o Turismo Religioso será cada vez mais uma realidade presente na Região. A figura mariana referenciada no Santuário em tela, diante da sua funcionalidade maior, deverá ser usada também para atrair visitantes de outras instâncias geográficas (devotos, turistas, comerciantes etc.) e, com eles, ganhos de ordem econômica. Entretanto, não se pode deixar de ressaltar que, se por um lado a chegada dos turistas pode provocar o aumento e a diversificação da oferta de trabalho e a melhoria da infra-estrutura local, por outro, isto também pode acarretar em problemas urbanos, como no surgimento de novos estilos de vida. Em termos de propensão, fazendo-nos de um exercício imaginário simples, até em comparação com outras realidades geográficas que já passaram por contextos semelhantes, podemos tentar figurar o que será a Região da Ibiapaba e a cidade de São
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Benedito se o poder de atração do Santuário realmente conseguir se confirmar... Esta idéia de futuro é trazida das reflexões dos próprios religiosos freqüentadores do Santuário. Eles, através de suas imaginações criadoras, tentam vislumbrar esta realidade para daqui alguns anos, usando como comparativos as realidades de Juazeiro e Canindé, já de seus conhecimentos. Em suma, na fruição de se ter um Turismo que contribua realmente para o desenvolvimento sócio-espacial da Região da Ibiapaba, há que se levar em consideração que o Santuário de Fátima da Serra Grande, pela geração de visitas que já faz acontecer, vem a diversificar a oferta turística regional, mesmo não sendo este o seu maior legado. É fato que a implantação deste Santuário muda substancialmente o quadro de ofertas turísticas da Região, ensejando novas possibilidades.
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Capitulo IV:
Representações imaginárias acerca do Santuário e do Turismo regional
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CAPITULO
IV
–
REPRESENTAÇÕES
IMAGINÁRIAS
ACERCA
DO
SANTUÁRIO E DO TURISMO REGIONAL
4.1. O processo de resignificação pelo discurso geográfico da imaginação
É através da sua imaginação que o homem experimenta o mundo. Hissa (2002, p.116), quando chama a atenção para a importância do contato entre disciplinas, vai dizer que “a imaginação pode ser compreendida como a capacidade de representação de imagens que o espírito desenvolve”. Representação que não é uni disciplinar e, em geral, mostra-se por uma diversificada carga simbólica. A imaginação humana, correlacionada, é claro, ao meio geográfico, é um dos grandes cernes de análise dos chamados “geógrafos das representações”. De fato, a imaginação é um campo de onde brota as significações humanas, pelas quais se atribui valores aos objetos, seres, lugares etc. “Significado”, inclusive, é atualmente apontado como palavra de orientação aos estudos de Geografia Cultural, como indicam Corrêa e Rosendahl (2007). Visto como parte da geografia do lugar, o homem é um criador de imagens, sua psique consiste de imagens, logo sua existência é imaginária (AVENS, 1993). Em termos metodológicos, trazer esta discussão para a análise geográfica não é algo simples. É preciso que sejamos flexíveis, dinâmicos, para com o uso da imaginação alheia em nossos estudos geográficos. Alguns dos caminhos direcionados pelo filósofo Bachelard, ao longo de toda a sua obra, podem ser úteis ao estudo geográfico da imaginação. Este autor, por nota, fala em imaginação criadora, em que o próprio símbolo percebido possui uma “autonomia imaginária”. Melhor explicando, por esta visão, os símbolos (imagens-formas) também tendem a deixar suas marcas no sujeito, contribuindo para a formação de seu (in)consciente61, ocorrendo, na verdade, uma troca entre ambos. Ao realizarem uma interpretação dos ensinamentos de Bachelard, Barbosa e Bulcão (2004) chegam à conclusão de que, para esse filósofo, somente o contato com o outro, ou com o objeto, não é capaz de dar conta da formação imaginária do indivíduo, só se tornando esta integral quando “o homem vive o instante de solidão que o 61
Ver: BARBOSA, Elyana e BULCÃO Marly. Bachelard: Pedagogia da razão, pedagogia da imaginação, .., p.43.
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impulsiona num vôo ascensional e fecundo, fazendo-o vivenciar a imaginação criadora, assegurando, assim, o verdadeiro crescimento espiritual” (p.71). Logo, parece poder-se dizer que é através das suas reflexões que o homem põe em ordem suas idéias e verdades, tão relevantes para a atribuição de significados para objetos e ações. Ainda face à imaginação criadora, Avens (1993, p.36) acrescenta que: Quando se diz com freqüência que a imaginação é criativa, isto deveria significar que ela estabelece uma espécie peculiar de relação entre a matéria e o espírito – uma relação na qual nem a matéria nem o espírito são obliterados, mas sim unidos, fundidos em um novo todo que produz, eternamente, novos todos, novas configurações de imagens na arte, poesia, religião e ciência. Com o tempo devemos chegar à conclusão inescapável de que a imaginação deve estar atuando, também, na assim chamada natureza física.
Quanto ao fato do homem significar valores distintos para os mesmos objetos e realidades, entendemos que isso acontece em função das diferentes experiências vivenciadas por cada ser. Contudo, ao longo do tempo, estes objetos e realidades podem ganhar outros, novos conteúdos, expressivos, na maioria das vezes, para ensejar ritmos diferenciados de usos, já que são complementados em suas composições. Aqui, chamamos este processo de resignificação – termo usado já no título de nosso trabalho. Muito tem se falado de resignificação nos estudos geográficos, seja se referindo aos lugares, paisagens, festas ou outros. Porém, pouco tem se discutido este termo como um “conceito” afim. Sentindo a necessidade, achamos por bem tecer algumas breves considerações no sentido de amenizar esta falta. Quando Avens discorre sobre a imaginação criativa, fica destacado que a relação entre matéria e espírito é uma fundição necessária para uma nova configuração de imagens, religiosas ou de outra natureza. Com isso, o autor nos deixa pistas para o entendimento do que seria o ato de resignificação. Os psicólogos norte-americanos Bandler e Grinder (1986, p.9), mesmo tratando de um estudo neurolingüístico, também contribuem para as nossas compreensões ao afirmarem que: O significado de todo acontecimento depende do “molde (frame) pelo qual o vemos. Quando mudamos de molde, mudamos o significado [...] A isso chama-se “resignificar” (reframe): modificar o molde pelo qual uma pessoa percebe os acontecimentos, a fim de alterar o significado. Quando o significado se modifica, as respostas e comportamentos da pessoa também se modificam.
Com efeito, comungamos com a idéia de que, enquanto ações humanas, a percepção, a vivência, a experiência e a imaginação formam um conjunto imbricado em si que vem a ditar o grau de significados que o homem dispensa para com o seu meio
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(TUAN, 1980; 1983). Meio geográfico que pode ser resignificado através da inserção de um novo teor ou contexto, gerado fora ou dentro de suas limitações. Assim, a resignificação passa a existir como um processo que movimenta uma realidade ou outros fenômenos. Na tentativa de compor um esquema diagramado para esse tal processo de resignificação, criamos a representação a seguir (Figura 33): Figura 33: Modelo hipotético do processo de resignificação pela imaginação
Fonte: Elaboração própria.
Desta maneira, na seqüência do texto, tentaremos entender a resignificação religiosa do Turismo na Região da Ibiapaba a partir da presença do Santuário de Fátima da Serra Grande. Para isso, levamos em consideração as imaginações perceptivas (em nosso entendimento, a percepção traduz as aspirações da imaginação, dialeticamente, lhe realimentando-lhe, assim como o inverso também pode ser verdadeiro) de alguns atores e agentes envolvidos com a realidade em ponderação.
4.2. Polivocalidade de atores e agentes envolvidos com a realidade em estudo
Sem a auto-compreensão não podemos esperar por soluções duradouras para os problemas ambientais que, fundamentalmente, são problemas humanos. E os problemas humanos, quer sejam econômicos, políticos ou sociais, dependem
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do centro psicológico da motivação, dos valores e atitudes que dirigem as energias para os objetivos. Yi-Fu Tuan, (1980, p.01). No ensejo de buscarmos as compreensões imaginárias de alguns sujeitos que interagiam direta ou indiretamente com a realidade plural do Santuário de Fátima da Serra Grande e da Região da Ibiapaba, recorremos ao recurso do inquérito, fazendo-nos da aplicação de questionários e, também, da execução de entrevistas. O questionário, usado de maneira mais intensa, por sua vez, mesmo possuindo um forte caráter para as questões passíveis de quantificação, foi padronizado no sentido de que pudéssemos dinamicamente realizar interpretações acerca das impressões dos inquiridos, apesar de ser esta uma tarefa metodologicamente complexa. Já a entrevista, mostra-se como de suma importância ao possibilitar que absorvamos informações legítimas dispensadas por um sujeito que por natureza representa certa coletividade. Quanto às informações conseguidas através dos questionários, tabulamos as questões fechadas, apontamos as freqüências absolutas e relativas, assim como agrupamos as categorias mais indicadas das questões abertas para uma análise qualitativa dos resultados (DENCKER, 2001; SANTOS, 2008c). Conforme proposta apresentada, na preocupação de entender, através dos desvendamentos das imaginações alheias, o processo de resignificação ocorrido, cumpre-nos o exercício de aproximar a discussão proferida a um estudo perceptivo. O espaço geográfico vem sendo progressivamente estudado por seu conteúdo perceptivo, ou seja, pelo juízo que o homem faz deste espaço, ao ponto de ser compreendido metaforicamente como um texto que pode ser lido, relido e (re)interpretado (TUAN, 1980). Nessas condições, a cultura é um elemento caro a esta compreensão, já que é mediação entre o homem e o meio (COSGROVE & JACKSON, 2007). Diante disso, o espaço dos geossímbolos, como é o caso do Santuário católico, pode ser estudado pela Geografia por meio do conteúdo espacial que comporta. Assim, entendemos que o campo cultural, seja resumidamente aportado ao fator religioso, turístico ou de outra espécie, possui simultâneas geografias como lócus de representação e vivência, o que torna os geossímbolos possuidores de um status perceptivo peculiar. Mesmo por isso, afirmamos que as formas simbólicas espaciais (pode-se dizer geossímbolos) tendem a re-significar lugares específicos e conectá-los a projetos de sentido mais amplo (SOUZA & OLIVEIRA, 2009). Este tal “sentido mais amplo”,
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muitas vezes, ainda reside somente nas imaginações dos homens, o que não quer dizer, porém, que não ganhará impulso um tempo depois. O nosso trabalho, ao passo que mescla considerações e análises das atividades Religião e Turismo, pode ser compreendido como um estudo geográfico perceptivo do Turismo, como bem aponta Herbe Xavier (2007). Para este autor, a percepção geográfica do Turismo encontra fundamentos na fenomenologia e valoriza as experiências do homem em seu meio ambiente. Sem nenhum prejuízo ao raciocínio do autor, este tipo de estudo também pode ser compreendido frente a fenômenos religiosos, como já discutimos. A compreensão cognitiva do espaço da qual fala Xavier na obra citada, apoiado nas idéias de Piaget, é, então, processada fisiologicamente até chegar ao molde de uma percepção, o que vai definir se os significados expressos denotam realidades atrativas ou repulsivas. Rezando por estes termos, é correto afirmar que as atitudes imaginárias do homem são conseguidas diante de uma sucessão de percepções. Assim sendo, esta pesquisa, ao se tratar de um estudo perceptivo, careceu de buscar
um
caminho
científico
dinâmico,
onde
se
pudesse
(re)construir
metodologicamente as representações liberadas. Em todo caso, a nossa tentativa de escutar uma “polivocalidade” variada recai sobre as vozes e compreensões de um representante eclesial responsável pelo Santuário, de visitantes do Santuário, de moradores da cidade de São Benedito e de um grupo de estudantes da Região. Contudo, elucidamos que a inclusão de outros atores e agentes ainda poderia somar com esta análise. No entanto, por ser o Santuário em questão uma realidade recente, e ainda dando início a seu ciclo de visitações, algumas dessas inserções ficaram um tanto quanto comprometidas; por essa razão, optamos por nos determos às escolhas citadas. Mas sem dúvidas, com a evolução que o Santuário vem galgando em termos de atração, outros estudos poderão vir a se desdobrar a partir dos encaminhamentos a serem realizados. Depois desses esclarecimentos, passemos então para as análises realizadas.
4.2.1) Análise das percepções de um representante eclesial responsável pelo Santuário Abrindo o rol de considerações perante a realidade e potencialidades que representa o Santuário de Fátima da Serra Grande para um projeto de desenvolvimento
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da Região da Ibiapaba via Turismo, escutamos de início um ator eclesial de suma importância para o entendimento regional buscado. Mais uma vez nos reportamos à entrevista realizada com Padre Antônio, já citada na seção 3.1 deste trabalho (Ver apêndice 1). Este, em muito conhecedor da Região e indicado como um dos grandes idealizadores da construção do Santuário, e sem dúvidas um dos maiores nomes no processo de sustentação vivenciado, teve foro privilegiado para responder aos nossos questionamentos. Portanto, sempre que destacarmos alguma citação nesta seção será fazendo uso das palavras do mesmo. Primeiramente, esclarecemos que através do procedimento da aplicação da entrevista e dos vários outros contatos que tivemos com o sujeito inquirido durante todo o período das pesquisas, podemos observar que o mesmo sempre se mostrou aberto aos novos enquadramentos de visitações que a Igreja Católica passa a acolher, como é o caso do Turismo Religioso. Talvez por isso já se entre numa espécie de consenso no Santuário de que “não se pode pensar somente no hoje, mas também para daqui a 10, 15, 20 anos”. O projeto do Santuário tem em vista ampliar os trabalhos para o futuro. Efetivamente, parece pairar uma crescente expectativa em termos do poder atrativo que o Santuário de Fátima da Serra Grande pode ainda exercer, o que denota e requer um trabalho empreendedor de seus administradores. E este fato, em nossa ótica, traz consigo um reclame turístico em seus emaranhados, lançando mão aí das definições mais organizacionais do que seja o Turismo. Assim, embora seja “o Santuário uma realidade que está se firmando pouco a pouco, há uma curiosidade muito grande das pessoas, inclusive, muitos dos que não o conhecem, já ouviram falar e querem conhecer, acham que é uma boa iniciativa”. No entanto, realiza-se a ressalva de que é preciso que a cidade de São Benedito, sede do Santuário, construa um planejamento urbano para bem comportar os ritmos diferenciados que tendem a surgir com a presença dos visitantes. E “uma das maiores preocupações encontra-se na questão da infra-estrutura [...], a começar pela facilitação dos acessos”. Mesmo de maneira não profissional, é fato que o líder religioso em questão demonstra ter um bom conhecimento sobre planejamento turístico, o que fica claro quando realiza algumas críticas e alertas no que toca aos fatores infra-estruturais da cidade de São Benedito, como especial menção ao trânsito e às opções de entretenimento.
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O inquirido, além disso, realça que, mesmo atuando de maneira muito lenta nas áreas de serra, “o Estado tem se preocupado com a questão da interiorização do Turismo” e até faz menção à construção das rodovias CE 085 e CE 311 (Ver seção 2.4 do texto), que vêm a ligar a cidade de Jijoca de Jericoacoara a Viçosa do Ceará. Também é destacada a existência de um projeto que tramita na assembléia legislativa estadual que visa melhorar a urbanização do espaço externo do Santuário, bem como ainda é ressaltado o alargamento projetado para algumas estradas das suas proximidades, reconhecendo-se explicitamente que “ações como estas podem contribuir para intensificar os fluxos turísticos da Região da Ibiapaba”. Em termos dos entendimentos de como o Santuário poderá contribuir para o desenvolvimento da cidade de São Benedito e Região, fica registrado que o equipamento religioso “terá uma importância muito grande”, ao passo que “vai gerar uma demanda de serviços e, com isso, muitas oportunidades”. Uma delas reside no fato de que o Santuário, para além de sua mensagem religiosa, “pode contribuir de alguma maneira para que se pense a Região como um todo”. Entende-se que a Região da Ibiapaba não consegue funcionar enquanto tal, com uma programada colaboração entre os municípios. Assim: Quando a Diocese pensou este Santuário, pensou também como um centro de integração, e as cidades da Ibiapaba devem perceber que o Santuário não é só de São Benedito. É da Região. Está inserido neste contexto [...]. É incrível perceber que as pessoas que moram na Região não a conhecem. Estamos muito atrasados neste sentido.
Do ponto de vista mais restrito ao uso turístico do Santuário em escala regional, quando buscamos resposta através da questão de número dez (10) da entrevista (Apêndice 1), a pronúncia incidiu desta maneira: O Turismo nesta Região tem que ser pensado como regional, e não como cidade, onde cada um responde somente por si [...]. Pela proximidade que apresentam, estas cidades podem ser pensadas como “bairros” e devem se unir [...]. Quero dizer que, quem está hospedado em Ubajara, por exemplo, pode circular pela Região e vir conhecer o Santuário, assim como os outros pontos turísticos desta serra, que são muitos. E isso porque estamos falando de Região.
É interessante mencionar que a administração do Santuário já afirma possuir uma imaginária “visualização do que vai ser este centro de romarias”, ensejando nas mentes dos religiosos que o freqüentam esta mesma tônica. Atribui-se ao futuro do Santuário uma expectativa promissora.
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Ligando a idéia de futuro das potencialidades que o espaço do Santuário tende a desenvolver para o aproveitamento das visitações, sejam por romarias, peregrinações, por lazer ou Turismo, é destacado que “a intenção será sempre a de oferecer prioridade aos que buscam o Santuário para satisfazer suas necessidades religiosas”. Porém, percebe-se “com muita naturalidade as possibilidades de um dia bem fazermos Turismo Religioso”, isso por se entender que: O Turismo bom em nenhum momento tira ou fere, digamos assim, a piedade, ou a religiosidade da pessoa, até pelo contrário. Eu vejo que nós da Igreja temos que ter uma preocupação em atender bem as necessidades de nossos fiéis e proporcionar que as suas devoções sejam feitas com melhor conforto e com mais qualidade [...]. E os serviços fazem toda diferença na ordem de um Santuário, mas quero dizer os serviços essencialmente religiosos.
A realidade do Santuário analisado chega a ser até comparado a outras de semelhante natureza, mas se diz que neste “as coisas aconteceram de forma muito rápidas, apanhando a todos de surpresa, com o povo vindo continuamente a nos visitar, até quando só era o terreno”. Desta forma, todas as prerrogativas referenciadas servem para justificar a certa imposição que o Santuário vem apresentando, aceitando-se o juízo de que ele (Santuário) “vem sendo constituído tendo uma idéia de futuro por onde se possa colher os frutos plantados”. Na seqüência, trabalharemos tendo por base as impressões dos visitantes do Santuário de Fátima da Serra Grande.
4.2.2) Análise das percepções dos visitantes do Santuário Antes de iniciarmos as nossas considerações perante as representações imaginárias do visitante, convém definirmos quem estamos enquadrando nestes termos. Assim, o visitante será a pessoa não residente na sede urbana da cidade de São Benedito. Deste feito, para a aplicação de nossas intenções empíricas nesta parte do trabalho, recorremos ao uso do questionário como instrumento viável ao que nos propomos indagar.
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Nesta perspectiva, aplicamos o questionário (Apêndice 2) a uma amostra nãoprobabilística e aleatória de vinte e dois (22) visitantes que participavam das festas de Maria, ocorridas no próprio Santuário, entre os dias 03 e 13 de maio de 200862. Inicialmente, na busca de alcançarmos dados que dêem conta do perfil sóciodemográfico dos inquiridos, estabelecemos um grupo de seis interrogações. Deste modo, no evento em análise predominavam mulheres (59%), casados (77%) e faixa etária média de 50 a 65 anos (41%). Quanto ao local de origem dos visitantes, podemos constatar que 59% residiam na própria Região da Ibiapaba, 23% eram de outras cidades do interior cearense, 9% da capital do Estado e outros 9% dos demais Estados federativos. Percebe-se, assim, que 91% dos inquiridos eram do Ceará (Gráfico 1). Ressalvamos que da parcela demarcada aos “Demais Estados”, o Piauí foi responsável por mais da metade deste número. Em relação à ocupação dos questionados, os que integravam o setor terciário tiveram uma maior representação (60%), seguido dos ocupados no setor primário (18%). O setor secundário não obteve nenhuma chamativa. Os outros 22% ficavam por conta de opções itinerantes, entre aposentados e domésticas. No que toca à escolaridade, 41% tinha o nível superior completo, 23% o segundo grau completo, 9% o superior incompleto, seguido das alternativas menos expressivas. A maioria dos visitantes se deslocou ao Santuário em companhia da família (55%), seguido dos que foram sozinhos (27%) e daqueles que partiram em grupo (18%) (Gráfico 2). 64% deles não ficaram hospedados na rede hoteleira da cidade, contra 14% que se alojaram em hotéis/pousadas. 18% estavam instalados na casa de conhecidos e 4% ficaram em casas próprias ou alugadas (Gráfico 3). A expressividade da não hospedagem e da procura pelas casas de conhecidos se explica pelo fato da grande presença de pessoas morarem em cidades da própria Região da Ibiapaba. Talvez por isso o automóvel próprio tenha sido o meio de transporte mais utilizado para chegar a São Benedito, com 36% de representação. A bicicleta também foi requisitada por moradores dos distritos da cidade de São Benedito. A permanência em dias na cidade também reforça a ressalva da quantidade expressiva de moradores da Ibiapaba, quando 64% dos inquiridos disseram que não ficaria um dia todo, mesmo que voltassem em outro. Ao que nos pareceu, os 32% que disseram que ficariam por mais de dez dias estavam de férias ou a trabalho na cidade ou Região.
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Porém, a aplicação ocorreu entre os dias 11 e 13.
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 119 _________________________________________________________________________________ Gráfico 1: Local de origem dos visitantes
9%
Gráfico 2: Modo da viagem
Cidades da Ibiapaba Interior do Ceará Fortaleza
9%
23%
59% Demais Estados
Fonte: Pesquisa de campo, mai/2008.
18% Família Sozinho 55%
27%
Fonte: Pesquisa de campo, mai/ 2008.
Gráfico 4: Principal motivo da viagem
Gráfico 3: Meio de hospedagem utilizado Hotel/pousada
Religião
14%
4% 4%
4% 64%
Grupo
18%
Casa própria/alugada Casa de conhecidos Não hospedado
Fonte: Pesquisa de campo, mai/2008.
18%
Negócios Descanso/lazer 74% Outros
Fonte: Pesquisa de campo, mai/ 2008.
No que se refere ao quesito “principal motivo de sua viagem”, 74% disseram ser por ordem religiosa, 18% afirmaram ser por motivos de negócios e dois grupos de 4% proferiram ser para fins de descanso/lazer ou por outros motivos (Gráfico 4). Assim, 72% apontaram o evento religioso como de seus interesses para possíveis realizações na cidade de São Benedito. A obra do Santuário em conjunto com a “fé do povo” (72% ambos) foram os itens mais indicados no que concerne aos fatores que mais chamaram atenção na cidade. A presença unânime de católicos torna inteligível a compreensão desses apontamentos. Desses, somente 9% disseram não ser devotos de Nossa Senhora de Fátima. Contudo, muitos desses inquiridos possuíam mais de uma devoção santa, dentre essas, São Francisco das Chagas, depois de Fátima, foi o santo mais ressaltado, sendo referenciado por 23% das pessoas. Na análise do Santuário em si, primeiramente, verificou-se que 46% do público inquirido tomaram conhecimento da existência deste Centro religioso através de parentes e amigos e 50% através de outros meios, seja através das missas de suas paróquias ou pelo ato da própria visitação. Deste modo, notamos que o restante dos mecanismos informacionais ainda precisam ser melhorados nos seus alcances.
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A sacralidade do Santuário foi um fator tido como sem questionamentos por todos os visitantes. Dentre os motivos, os religiosos reservaram suas considerações sobre três (03) eixos consideráveis: grandiosidade da obra, fé do povo e a presença de Maria; que segundo eles intercede o encontro com Deus. Por isso, para todos, o Santuário representava um lugar de oração e penitência. Dos inquiridos, 77% citaram que “o Santuário poderia ser visto como atrativo turístico”. Esta última informação, sobre a percepção do visitante frente à atração turística do espaço religioso – o Santuário no caso – deixa-nos margem para que possamos afirmar que esta parcela dos respondentes possuía bases de compreensão, mesmo que mínima, do Turismo Religioso enquanto possibilidade. Para 82% deles, o Santuário de Fátima da Serra Grande pertencia à Região da Ibiapaba e somente 18% viam-no como pertencente à cidade de São Benedito (Gráfico 5). Importante ressaltar que em seu primeiro projeto este Santuário se chamava “Santuário de Fátima de São Benedito” e, só depois, num rearranjo inteligente e de certo modo “geográfico” da Diocese de Tianguá, passou a ser chamado como é atualmente. A melhoria do potencial turístico, os ganhos de ordem econômica e o acréscimo da consciência espiritual da população foram os apontamentos – colocando-os em eixos temáticos – mais mencionados quando perguntamos de que modo o Santuário poderia contribuir para o desenvolvimento da cidade de São Benedito e da Região da Ibiapaba. Esta se mostrou bastante apreciada quando 75% dos inquiridos disseram conhecer outros de seus atrativos, como o Parque Nacional de Ubajara, as belezas de Tianguá, o Patrimônio histórico-cultural de Viçosa e a Bica do Ipú.
Gráfico 5: Enquadramento espacial do Santuário - Visitante
18% Ibiapaba São Benedito 82%
Fonte: Pesquisa de campo, mai/ 2008.
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Quanto ao grau de visitas desses inquiridos perante diferentes santuários, 77% admitiram conhecer outros. Desses, o Santuário de São Francisco de Canindé foi o mais citado. Aqui podemos fazer o cruzamento deste quesito com o da devoção mais relevante, quando 23% das chamativas se voltaram para São Francisco de Assis. O “Santuário da cidade de Juazeiro”, fazendo-se menção a Padre Cícero, foi o segundo mais indicado. Outros, como o Santuário da Mãe Rainha de Sobral, o Santuário de Fátima de Fortaleza, a Basílica de Aparecida em São Paulo, o Santuário de Fátima em Portugal, também foram citados. O conhecimento dessas pessoas por todos estes espaços devocionais nos leva a crer numa “multiterritorialidade63 religiosa”, acentuada devido ao estado de aflição aparente que o mundo testemunha. De certa forma, este conhecimento espacial dos lugares sagrados pode ser intrinsecamente relacionado com a potencialidade do ramo turístico enquanto impulsionador ou contribuinte para esses movimentos. Sobre o assunto em destaque, Eliade (2008, p.137) ressalta: “A ‘abertura’ do Mundo permite ao homem religioso conhecer-se conhecendo o Mundo – e esse conhecimento é precioso para ele porque é um conhecimento religioso, refere-se ao Ser”. Ademais, 65% dos investigados ainda demonstraram a intenção de voltar algumas vezes ao Santuário de Fátima da Serra Grande e 35% disseram que pretendiam retornar freqüentemente. No que toca à avaliação da infra-estrutura da cidade de São Benedito, podemos verificar uma boa aceitação dos serviços de hospedagem, restaurantes, comércio, limpeza pública, segurança, informações turísticas e conservação dos patrimônios cultural e natural. A insatisfação ficou por conta do trânsito e das opções de entretenimento e lazer. Não obstante estes resultados sejam positivos, se os analisamos de forma geral, sabemos que sempre há possibilidades de melhorias no que diz respeito à arrumação espacial de uma Região ou cidade na prestação de serviços turísticos. Quando foi pedido que fizessem sugestões e/ou observações quanto ao melhor uso da Região, da cidade de São Benedito e do Santuário, em conjunto, os visitantes expressaram algumas considerações que merecem ser mencionadas: melhorar a preservação dos bens materiais e imateriais da Região, conservar as opções naturais, aperfeiçoar o comércio local, melhorar o trânsito, “planejar os aspectos turísticos”, aprimorar a divulgação do Santuário, melhorar o acesso ao Santuário, intensificar a
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Haesbaert (2007) tem nos últimos anos trabalhado sobre o conceito de “multiterritorialidade”. Em suma, para este autor, esta estaria relacionada com uma condição de se viver territórios distintos em múltiplas escalas.
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gama de doações para o Santuário e melhorar a integração entre poder público, população e Santuário. Depreende-se, portanto, que as respostas apontadas pelos visitantes através de nossas provocações temáticas, denotam uma expressa religiosidade que reconhece o Santuário de Fátima da Serra Grande como um atrativo religioso, mas também de potencial turístico. Vejamos, então, agora as percepções dos moradores da cidade de São Benedito.
4.2.3) Análise das percepções dos moradores da cidade de São Benedito Neste caso, estamos chamando de morador local o indivíduo que habita a sede urbana da cidade de São Benedito. Do mesmo modo que escutamos o visitante, as representações imaginárias do residente local também serão importantes para compor nossa análise empírica. Novamente fizemos uso da aplicação de questionário. A aplicação do referido questionário (Apêndice 3) foi realizada com uma amostra não-probabilística e aleatória de trinta (30) moradores locais, participantes das missas do dia 13 de outubro de 2008, ocorridas no próprio Santuário. Esta é outra data do ano (assim como 13 de maio) que presta referência às aparições de Fátima, por isso as comemorações na forma de missas. Todavia, as abordagens aconteceram em três momentos, no intervalo entre as missas. Nesse dia o Santuário celebrou um total de sete (07) missas. Embora o questionário agora discutido possua semelhanças com o apresentado anteriormente, os mesmos diferem em alguns pontos em suas estruturações. Afinal, o primeiro foi pensado para ser aplicado ao visitante e o segundo idealizado para ser desenvolvido com as pessoas que tinham moradia fixa na cidade de São Benedito. Assim, logo no desenho sócio-demográfico que fazemos dos inquiridos, importante para que possamos estabelecer relações e consigamos entender suas respostas subseqüentes, identificamos de início que, neste dia de festas, interrogamos um grupo dominante de mulheres (70%), casados (64%), na faixa etária média de 35 a 49 anos (40%) e com a supremacia das domésticas (30%). O nível de escolarização que mais foi mencionado foi o de 1º grau incompleto, com 56% dos apontamentos. Na avaliação da infra-estrutura de sua localidade, o morador de São Benedito pareceu parcialmente satisfeito com todos os quesitos que lançamos no questionamento (comércio, alimentação, sinalização, limpeza, transporte, segurança, escolas e acesso à
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mídia), exceto aos serviços de saúde, que segundo os mesmos encontrava-se em estado precário. Porém, vale destacar que, no retrocesso de uma semana da aplicação destes questionários, foram realizadas as eleições municipais, o que pode ter causado alguma espécie de relaxamento dos governantes municipais para com os cumprimentos de suas obrigações. Ainda tratando de questões diretamente referidas à cidade de São Benedito, perguntamos ao morador local o que mais lhe chamava atenção na sua cidade. O Santuário de Fátima foi, assim, destacado exatamente por 70% do total de questionados. Deste modo, sujeitamos-nos a afirmar que a expressividade da obra do Santuário, em conjunto com a religiosidade dos inquiridos, justifica esta indicação, pois sabemos do apego que o “homem religioso” tem por formas simbólicas que pra ele representam verdadeiros locais de transcendência. Em conexão com a questão antecedente, pedimos para que fossem indicados três (03) pontos que pudessem ser considerados turísticos na cidade e, para a nossa nota, o Santuário foi ressaltado em 80% dos questionários, fato que se explica em parte pelo apelo que vem sendo desenvolvido pela Igreja Católica vigente, divulgadora maior da idéia de ter o Santuário como um ponto de acolhimento para quem “vem de fora”. Quanto ao fator “identificação religiosa”, era total a presença de católicos e quase unânime a devoção a Nossa Senhora de Fátima (97%). Reforçando ainda mais a representação que tivemos na abordagem dos visitantes (seção anterior), 40% dos indagados disseram ter devoção a São Francisco das Chagas de Canindé e somente 13% disseram ser devotos também de São Benedito. Esta questão se tornou aberta no sentido de que os respondentes puderam pronunciar mais de uma das suas devoções, se este fosse o caso, tendo-se em vista a devoção pluralista do crente católico. A maioria dos moradores inquiridos (43%) tomou conhecimento da construção do Santuário por via da própria Igreja, através dos padres ou pelas ações de divulgação da Diocese de Tianguá. 20% conheceram no oportuno ato da visita real ao terreno. Já quanto à percepção sobre a sacralidade do espaço do Santuário, novamente tivemos uma ocorrência unânime nas respostas. Todos disseram acreditar no poder de sacralidade do Santuário de Fátima da Serra Grande, o que é perfeitamente compreensível, pois “o homem religioso acredita sempre que existe uma realidade absoluta, o sagrado, que transcende este mundo, que aqui se manifesta, santificando-o e tornando-o real” (Eliade, 2008, p.164). Os apontamentos que deram bases de legitimação para a dita sacralidade encontram-se enquadrados em três (03) eixos notáveis: presença de Maria no
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atendimento aos pedidos; por ser uma obra de Deus que proporciona milagres; e pela beleza da obra. Esta última, ao ponto que contribui para a sacralização do mundo, atrai também os fiéis. No que diz respeito à apreciação perceptiva deles (moradores) perante as qualidades
do
Santuário,
todos
afirmaram que
representava
um
local
de
Oração/penitência; 90% ressaltaram que também poderia ser visto como um atrativo turístico; 80% exclamaram se tratar ainda de um recanto para descansar e/ou praticar lazer; 75% apontaram que o Santuário era local de festas, mas somente para festividades religiosas; 60% perceberam-no como um ponto para se recompor psicologicamente; e 55% conseguiram enxergar no Santuário possibilidades comerciais (Gráfico 6). Novamente, nesta questão o morador pôde, de acordo com sua percepção analítica, indicar mais de uma qualidade à figura do Santuário. Atentamos, então, para a indicação de 90% dos moradores que viram no Santuário um atrativo turístico. Atrativo este que pode ser ponderado tanto na relação local (São Benedito) como regional (Ibiapaba). O grau de conhecimento dos inquiridos a outros santuários se mostra relevante quando percebemos que 80% disseram conhecer uma diversidade destes. Mais uma vez, como aconteceu com os visitantes em suas respostas, dentre os santuários citados, o de São Francisco de Canindé foi o mais mencionado (por 70%) – a lembrança à devoção a São Francisco nos torna clara esta indicação, assim como a proximidade entre a cidade de São Benedito e Canindé. Esta última demarcando forte expressão na religiosidade do católico nordestino. A cidade de Juazeiro na figura de Padre Cícero (embora o Santuário chame-se Nossa Senhora das Dores), o Santuário da Mãe Rainha de Sobral e os Santuários católicos de Fortaleza foram alguns dos outros mais ressaltados. Gráfico 6: Valências associadas ao Santuário – Morador local
Fonte: Pesquisa de campo, out/ 2008.
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Para tentar averiguar qual o enquadramento espacial que os inquiridos faziam do Santuário analisado, perguntamos-lhes se esses o viam como pertencente à cidade de São Benedito, à Região da Ibiapaba, ao Ceará/Brasil ou somente à Igreja64. Nenhum investigado mencionou esta última opção. Ademais, 67% nos disseram por suas convicções que este Santuário pertencia ao Ceará/Brasil, seguidos de 29% que o viam como “propriedade” da Região da Ibiapaba e do restante (4%) que o percebiam como pertencente à cidade de São Benedito (Gráfico 7). Quanto aos resultados desta questão, o enquadramento dispensado em nível de Estado e Nação muito se deve às campanhas que a direção do Santuário realiza, disseminando a idéia de que este Centro religioso pertencer a todos, não só ao patamar local/regional.
Gráfico 7: Enquadramento espacial do Santuário - Morador local
4% 29%
67%
São Benedito Ibiapaba Ceará/Brasil
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
No que se refere aos resultados da pergunta “De que forma o Santuário pode então contribuir para o desenvolvimento de São Benedito e da Região da Ibiapaba?”, agrupamos as respostas em três (03) linhas temáticas principais: no Turismo, na melhoria do comércio e na conversão religiosa. Ao falarmos em Turismo estamos considerando o momento aonde o próprio morador fez referência a esta palavra ou quando liberou respostas do tipo “a região se tornará mais conhecida”, “a cidade vai ser mais freqüentada”, “vai chamar gente de fora” etc. Deste modo, não é inverdade dizer que, implícita ou explicitamente, o Santuário está contribuindo para o afloramento de outra imaginação dos moradores locais, ao passo que pensam esta obra como um
64
Percebam nesta questão diferenças quanto ao questionário desenvolvido com o visitante. As inserções aconteceram pelo aprimoramento que pudemos realizar no tempo de aplicação do primeiro para com este, dos moradores.
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caminho para diversas alternativas, dentre estas, a da geração de um nível maior de visitações. Contudo, a Região da Ibiapaba ainda é pouco conhecida pelo morador de São Benedito. Dos pontos turísticos que lançamos (ver Apêndice 3, questão 16), a fim de identificarmos quais eram conhecidos por eles, o Parque Nacional de Ubajara se sobressaiu com 60% de ressaltes. Os demais não ultrapassam individualmente a marca de 50% das menções. Com efeito, mais de uma opção, de acordo com o conhecimento do inquirido, poderia ser marcada nesta questão. No desfecho dos nossos questionamentos aos são-beneditenses, pedimos para que fosse reclamada, sugerida ou observada qualquer nota sobre a cidade de São Benedito, Região da Ibiapaba e Santuário. As considerações que julgamos mais relevantes perante as falas dos moradores foram agrupadas nestes setores: a cidade deixa a desejar na sua estrutura; a cidade precisa se planejar para o Santuário; a Região da Ibiapaba pode crescer com este Santuário; e “o Santuário é uma boa idéia, onde a história só está começando. O futuro promete!”. Avaliamos, por conseguinte, que as expressões dispensadas pelo morador de São Benedito, a partir da sacralidade direcionada ao Santuário e do ganho que a cidade e a Região da Ibiapaba podem alcançar com a expressividade desta obra, sinalizam, mesmo não tanto de maneira conceituada, que este Santuário já está se mostrando como mais um ícone da Região da Ibiapaba. Na continuação das análises, discorremos considerações a partir das percepções de um dado grupo de alunos da Região.
4.2.4) Contextualizando a presença de alunos da Região no âmbito da pesquisa No anseio de melhor compor o quadro de “polivocalidades” dos agentes que interagem (in)diretamente com a realidade ponderada do Santuário, damos seqüência às reflexões tendo por base as percepções de alunos do ensino médio da Região da Ibiapaba. Para tanto, selecionamos uma amostra não-probabilística e aleatória de sessenta e cinco (65) alunos para a aplicação dos questionários65 (Apêndice 4). 65
Foi aplicado um número excedente de questionários com relação aos que foram analisados neste trabalho. Contudo, mesmo sabendo das críticas às quais toda pesquisa está sujeita, a seleção que realizamos para chegar aos questionários que apresentamos (Ver tabela 5) obedeceu a um critério que levou em consideração o grau de compromisso do inquirido no ato do preenchimento. Deste modo, trazemos para exposição questionários que foram preenchidos quase ou totalmente. Vale mencionar ainda
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Esta amostra foi alcançada através de abordagens em escolas (ou colégio – não fazemos distinção conceitual) de três cidades da Região, a saber: São Benedito, Ibiapina e Tianguá. Na primeira, por ser sede do Santuário, aplicamos questionários em duas escolas, uma de caráter público e outra privada, nas quais utilizamos quinze (15) questionários em cada. Na segunda, que entra em nossas pesquisas pelo critério de vizinhança da cidade sede do Santuário, analisamos vinte (20) questionários aplicados numa escola pública. Já na terceira, um pouco mais distante de São Benedito (mesmo assim registrando somente 36 km de distância), em sendo sede da Diocese de Tianguá, aproveitamos para exame quinze (15) questionários aplicados a alunos de uma escola pública (Tabela 6). Tabela 6: Quadro do número de alunos inquiridos por cidade e caráter da escola SÃO BENEDITO
IBIAPINA
TIANGUÁ
Escola pública: 15 alunos Escola particular: 15 alunos Escola pública: 20 alunos Escola pública: 15 alunos Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Enquanto público residente, a utilização de questionário com estes alunos está em consonância com a idéia de que na escola, mais do que em qualquer outra instituição social, esse instrumento de pesquisa é o mais coerente para a investigação. Afinal, o questionário é parte do dia a dia escolar, e o conteúdo questionado, no caso, é parte da compreensão significativa do lugar vivido por eles. A escolha dos alunos do ensino médio se justifica pelo fato de julgarmos que estes já possuem uma imaginação conceituada, mesmo que inicial, no que se refere às formas de representação geográfica, religiosa e turística que o Santuário faz ou pode incidir em escala local e regional – adquiridas em parte durante o percurso escolar. Nunca é demais lembrar que a Igreja, ao lado da família, desempenha a seu modo um papel educador/evangelizador, e no caso em estudo, o Santuário, através de seus líderes, realiza visitações a escolas da Região com palestras afins, transmitindo quase sempre sua mensagem de atração. Portanto, é possível que, em meio aos questionamentos utilizados, percebamos os níveis de interação entre o Santuário e a comunidade escolar. Estas representações, por sua vez, seguindo a nova geograficidade (imaginária e vivida) que, ao contrário dos questionários aplicados ao visitante e ao morador, estes, dos alunos, foram preenchidos diretamente por eles, depois de uma prévia explicação que realizamos.
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desenvolvida pelas atividades do Santuário, também se inscrevem na tentativa de compor um cenário de percepções interessantes ao entendimento da realidade circundada para estudo. Destarte, correspondendo com a ordem estabelecida na tabela apresentada anteriormente, os resultados obtidos com a tabulação das questões fechadas e as principais freqüências das questões abertas do questionário aplicado serão brevemente analisados em seguida.
4.2.4.1) Análise das percepções dos alunos da Escola Ministro Antônio Coelho – São Benedito O MAC, como é conhecida a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Ministro Antônio Coelho, selecionada como campo indireto de nossas pesquisas, está situado no centro da cidade de São Benedito e funciona como referência em termos de ensino público na cidade (Figura 34).
Figura 34: Fachada da escola MAC. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
A fim de obtermos uma caracterização das impressões dos alunos perante a inserção dos temas Religião e Turismo no âmbito escolar, em especial no que toca ao ensino de Geografia, definimos um breve eixo de seis questionamentos afins. Deste modo, todos os inquiridos disseram que já discutiram sobre Religião na escola, principalmente na disciplina de Sociologia, e somente 40% afirmaram que já discutiram sobre Turismo, sobretudo na disciplina de Geografia. Quando indagados se já estudaram sobre o tema Religião nas suas aulas de Geografia, a maioria (73%) disse
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que sim, relacionando geralmente as diferentes religiões existentes no mundo. Quanto ao estudo do Turismo nas aulas de Geografia, compondo os resultados da questão de número 02 do questionário (Ver apêndice 4), 53% registraram que já tiveram aulas de Geografia sobre o tema em apreço, discutindo, sobretudo, a importância que a atividade pode representar para as cidades promotoras. Uma constatação interessante da pesquisa reside no fato de que 87% e 93% dos alunos consideravam importante o estudo da Religião e do Turismo nas aulas de Geografia, respectivamente (Gráficos 8 e 9). Com efeito, as alegações que levaram os alunos a tais ressalvas apresentaram sinais de semelhanças. Assim, de forma sucinta, agrupamos as seguintes justificativas: a Religião faz parte do mundo social e cultural do homem e o conhecimento do Turismo é relevante ao ponto que pode gerar ganhos de ordem econômica.
Gráfico 9: Importância do estudo do Turismo nas aulas de Geografia - escola pública de São Benedito
Gráfico 8: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia - escola pública de São Benedito
7%
13%
87%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Sim
Sim
Não
Não 93%
Fonte: Pesquisa de campo, out/ 2008.
Na questão de número 07 do questionário, pedimos aos inquiridos que citassem temas ou aspectos religiosos e/ou turísticos que pudessem ser trabalhados nas aulas de Geografia. Sintetizando as respostas obtidas, podemos dizer que os apontamentos se situaram sobre os seguintes temas: respeito às diversas religiões, exploração do Turismo nas paisagens naturais, reconhecimento cultural de cada lugar e o estudo do Turismo na Região da Ibiapaba. Um dos alunos citou que o Santuário poderia ser visitado por eles durante o tempo de uma aula. Quanto ao grau de conhecimento dos alunos perante aos principais atrativos da Região da Ibiapaba, 47% afirmaram conhecer o Parque Nacional de Ubajara, 40% disseram conhecer a Bica do Ipú, 27% ressaltaram conhecer as belezas da natureza de Tianguá e 20% exclamaram ter conhecimento do Patrimônio histórico-cultural de Viçosa. No espaço desta questão chamado de “outro”, dois alunos (do grupo de quinze)
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fizeram menção ao Santuário como um atrativo da Região da Ibiapaba, Região esta que chama atenção principalmente pelo seu clima, conforme citação de 67% dos inquiridos. Do total dos alunos, quatorze (14), o que representaria cerca de 93,3% dos inquiridos, disseram conhecer o Santuário. Talvez não por acaso, foram os mesmos que se auto-avaliaram como católicos e que percebiam o Santuário como um espaço sagrado. Os atributos associados ao poder de sacralidade do Santuário encontram-se definidos em três (03) grupos principais de considerações: o Santuário é um local de devoção, é um símbolo do sagrado e representa um símbolo da fé cristã. Por sua vez, somente 40% dos informantes disseram conhecer outro Santuário católico. Como já identificamos em outras análises, o Santuário de São Francisco de Canindé desponta como o mais citado.
Gráfico 10: Enquadramento espacial do Santuário escola pública de São Benedito
13% Ibiapaba
São Benedito 87%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
No enquadramento espacial do Santuário de Fátima da Serra Grande, ficou percebido que, para 87% dos alunos, este pertence à Região da Ibiapaba e que para o restante (13%) o Santuário pertence à cidade de São Benedito (Gráfico 10). Na última pergunta, quando indagados de que forma o Santuário poderia contribuir para o desenvolvimento da cidade e da Região, as respostas apareceram sempre relacionadas ao desenvolvimento da economia local e do Turismo regional.
4.2.4.2) Análise das percepções dos alunos do Colégio Professora Alice do Carmo Oliveira – São Benedito O CPACO, Colégio Professora Alice do Carmo, também selecionado como campo de pesquisas, está situado entre o centro e a periferia da cidade de São Benedito,
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já próximo do Santuário de Fátima da Serra Grande. Em termos de ensino privado, é indicado através de boas referências na Região, recebendo inclusive alunos de outras cidades da Ibiapaba (Figura 39).
Figura 35: Fachada do CPACO. Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Logo no primeiro arsenal de questionamentos, sobre a inserção dos temas Religião e Turismo no âmbito escolar, com destaque ao ensino de Geografia, pudemos verificar que todos os alunos inquiridos disseram que já discutiram sobre Religião na escola, tendo 80% citado que realizam esta tarefa na disciplina de Relações Humanas. Quanto ao estudo do Turismo, a franca maioria (93%) ressaltou ter estudado sobre o fenômeno posto, sobressaindo-se as alusões à disciplina de Geografia (73%) como o espaço onde estas discussões aconteceram. Perguntando se já estudaram sobre o tema Religião nas suas aulas de Geografia, 40% afirmaram que sim, designadamente relacionando aos conteúdos de entendimento histórico e religioso que a colonização brasileira suscitou, assim como no debate sobre o respeito requisitado às diferentes escolhas religiosas. Efetivamente, os mesmos 93% que disseram ter estudado sobre Turismo na escola também afirmaram ter estudado sobre o fenômeno em tela nas aulas de Geografia, conhecendo a realidade turística de cidades, regiões e países. Os pontos turísticos (chamados de atraentes) quase sempre foram citados como pauta de discussão. Notadamente, para 60% e 87% dos inquiridos, respectivamente, é importante o estudo da Religião e do Turismo no momento das aulas de Geografia (Gráfico 11 e 12). Segundo os alunos que viam importância nas relações apresentadas, esta se dava em virtude dos seguintes fatores: é interessante ter noções de outras culturas religiosas, a
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Religião e Geografia têm pontos em comum, Religião e Turismo podem ser relacionados com os lugares, necessidade de conhecimento da Religião e do Turismo na Região e estudar Turismo pode ser importante para que facilite a entrada no mercado de trabalho. Dos alunos que disseram que não, uma resposta foi acentuada: “o vestibular não cobra isso, mesmo sendo importante”.
Gráfico 12: Importância do estudo do Turismo nas aulas de Geografia - escola privada de São Benedito
Gráfico 11: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia - escola privada de São Benedito
13% 40%
Sim
Sim
Não
Não
60%
87%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Na seqüência, quando foi pedido que fizessem menção a temas ou aspectos religiosos ou turísticos possíveis de serem objetos de discussão das aulas de Geografia, foram assinaladas algumas representações interessantes. No primeiro eixo, destacamos: o estudo dos costumes religiosos de diferentes povos, as diferentes religiões do Brasil, o embate entre Religião e economia, os encontros ecumênicos e a necessidade de aulas para conhecer lugares religiosos. Já no segundo eixo, destacam-se: o estudo do patrimônio histórico e natural da Serra da Ibiapaba, os pontos turísticos da Região, os ganhos que a cidade pode obter com o Turismo e o aumento do Turismo Religioso em São Benedito por conta da presença do Santuário. Em termos dos conhecimentos dos inquiridos aos pontos turísticos da Região da Ibiapaba, sobressaiu-se a Bica do Ipú, citada por 87% deles. O Parque Nacional de Ubajara foi pontuado por 67% dos respondentes, o Patrimônio-histórico cultural de Viçosa por 47 % e as Belezas de Tianguá por 27%. No quesito “outros”, o balneário da cidade de Carnaubal e os nomes de diversas cachoeiras da Serra também foram lembrados, o que pode se justificar pela presença de alunos que moram em outras cidades. Nunca é demais lembrar que o Colégio por ora analisado realiza freqüentemente passeios de campo para outras cidades da Região e para fora destas limitações. No levantamento das informações daquilo que mais chamavam suas
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atenções na Região, o clima, a hospitalidade do povo, o verde da mata, o Turismo e a fixação do Santuário foram as respostas mais ressaltadas. De forma geral, todos os alunos, auto-definidos católicos, disseram que conheciam o Santuário e que acreditavam no poder de sacralidade do mesmo. Alguns ainda fizeram questão de dizer que quase sempre o freqüentavam. Entre as diferentes valências associadas ao Santuário, vale mencionar: a cultura religiosa é forte ali, é a casa de Deus, é um símbolo de fé, foi construído com o sacrifício de todos, atrai muitos fiéis, todos os santuários são sagrados e, para nossa surpresa, um dos inquiridos ressaltou que “Nossa Senhora de Fátima já apareceu no Santuário”. Em se tratando de conhecimento sobre Santuários, somente 1/3 dos inquiridos disse conhecer outros. Novamente, o Santuário de Canindé destaca-se nestas representações.
Gráfico 13: Enquadramento espacial do Santuário escola privada de São Benedito
19% Ibiapaba
São Benedito 81%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
No que diz respeito ao enquadramento espacial do Santuário, para 73% dos inquiridos este se insere na Região da Ibiapaba e, para o restante (23%), pertence à cidade de São Benedito (Gráfico 13). No final, os informantes fizeram alusões claras de que a cidade e a Região tendem a atrair visitantes religiosos por conta da expressão do Santuário, ensejando possíveis ganhos para a economia. Nomeadamente, cinco citações fizeram menção ao termo “Turismo Religioso”.
4.2.4.3) Análise das percepções dos alunos da Escola Monsenhor Melo – Ibiapina A Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Melo está situada no centro da cidade de Ibiapina. Pertencente à rede estadual de ensino, atende uma parcela significativa de alunos (Figura 36).
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Figura 36: Fachada da Escola Monsenhor Melo. Fonte: Escola Monsenhor Melo, 2008.
Portanto, inicialmente, na tentativa de alcançarmos as percepções dos alunos quanto à inclusão dos temas Religião e Turismo nos seus trajetos escolares e mais restritamente ao ensino de Geografia, observamos que todos disseram que já haviam discutido sobre estes fenômenos em suas atividades; o primeiro com maior peso na disciplina de História, citado por 30% dos inquiridos, e o segundo com maior proporção na disciplina de Geografia, referida em 90% das alusões. Analisando as respostas da questão que indagou se eles já haviam estudado sobre Religião e Turismo nas aulas de Geografia, identificamos que 65% e 95% proferiram que já tiveram conteúdos de Geografia relacionados aos temas lançados acima, respectivamente. A diversidade de religiões do mundo, os acontecimentos histórico-religiosos, as romarias, os atrativos da Região da Ibiapaba, o Turismo como profissão e gerador de empregos, o litoral cearense e o estudo do Turismo no Brasil foram os apontamentos mais expressivos quando perguntados de que maneira estudaram sobre estes temas durante as aulas de Geografia. Podemos observar ainda que para 65% dos inquiridos é importante o estudo da Religião nas aulas de Geografia (Gráfico 14). Todos entendiam que o estudo do Turismo é relevante nos conteúdos geográficos. Quanto às respostas para a proeminência dos estudos elucidados, algumas considerações tomaram maior notoriedade: entendimento das religiões em suas regiões, precisa-se de paz no mundo, Religião é um assunto interessante, Religião e Geografia têm relações, o Turismo faz parte da cultura dos lugares, temos que conhecer nossa Região e outros lugares para termos uma noção do que é o Turismo e precisamos estudar bem o Turismo na nossa
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comunidade. Apenas uma exclamação de cética ocorreu: “Religião não precisa ser discutida na Geografia, pra isso já tem outras disciplinas”.
Gráfico 14: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia - escola de Ibiapina
35% Sim
Não 65%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Complementarmente à questão anterior, solicitamos dos alunos que destacassem temas ou aspectos religiosos ou turísticos aceitáveis, em suas óticas, para um trabalho numa aula de Geografia. Mais uma vez, algumas percepções marcaram expressão. A saber quais: os patrimônios religiosos, os pontos religiosos e também turísticos, as festas religiosas do Estado do Ceará, as romarias ao Santuário de Fátima da Serra Grande, as diferentes crenças religiosas, a Diocese de Tianguá, os principais santuários do Ceará, o Turismo Religioso, as reservas ecológicas, as belezas da Ibiapaba, o Turismo na Ibiapaba e o buraco do Zeza (espécie de local para banho da cidade de Ibiapina). Assim, nota-se que as chamativas dos alunos estão bem diversificadas. Alguns ainda assinalaram a importância do conhecimento real destes pontos. No que remete ao conhecimento dos alunos da cidade de Ibiapina frente aos pontos turísticos que selecionamos da Região da Ibiapaba, o resultado é o seguinte: 60% disseram conhecer o Parque Nacional de Ubajara, 30 % afirmaram que conheciam a Bica do Ipú e somente 10% pronunciaram que já visitaram as belezas naturais da cidade de Tianguá. Nenhuma menção foi realizada à opção Patrimônio histórico-cultural da cidade de Viçosa do Ceará. O Santuário e o “buraco do Zeza” foram por algumas vezes referenciados na opção “outros”. Na questão “O que mais chama a sua atenção na Ibiapaba?”, o Santuário novamente foi mencionado, assim como as belezas naturais da Serra, o clima, a religiosidade do povo, as cachoeiras, o Turismo, o Parque Nacional e a Bica do Ipú.
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De todos os inquiridos um só aluno se definiu como não-católico. 55% afirmaram que conheciam o Santuário de Fátima da Serra Grande, contudo, 90% se disseram crentes no poder sagrado do referido recinto religioso. Para tanto, justificativas foram apresentadas: toda igreja é abençoada, Nossa de Fátima está presente, muitos fiéis buscam o Santuário para pagar promessas, é abençoado e, curiosamente, “Nossa Senhora veio direto de Portugal para o Santuário”. Em relação à questão do conhecer outros santuários, quase metade (45%) dos alunos expressaram que “sim”, com o Santuário de Canindé sendo pontuado por 30% desses. Na perspectiva do enquadramento espacial do Santuário em estudo, 45% o viam como patrimônio da Região e 55% como patrimônio somente da cidade de São Benedito (Gráfico 15). Por fim, o Santuário foi nomeado como um elemento propulsor ao desenvolvimento da Região e da cidade de São Bendito pelo viés do Turismo Religioso, criando a expectativa de vingar ganhos para os setores econômicos e culturais.
Gráfico 15: Enquadramento espacial do Santuário escola de Ibiapina
Ibiapaba 45%
55%
São Benedito
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
4.2.4.4) Análise das percepções dos alunos da Escola Monsenhor Aguiar – Tianguá Como último recinto escolar de nossas análises perante as percepções dos alunos no que concerne à linha temática “Geografia-Religião-Turismo”, tendo em vista a realidade e os potenciais do Santuário em estudo, tomamos como campo indireto de pesquisas a Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Aguiar, localizada no centro da cidade de Tianguá (Figura 37).
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Figura 37: Fachada da Escola Monsenhor Aguiar. Fonte: Arquivo pessoal, out/2008.
Assim, primeiramente, na avaliação dos alunos quanto à inserção dos temas Religião e Turismo nas suas discussões escolares, e mais particularmente no ensino de Geografia, identificamos que 80% pronunciaram que já estudaram sobre Religião, sobretudo na disciplina do mesmo nome, e, 47% afirmaram que já estudaram sobre Turismo na escola, em maior parte nas aulas de Geografia. No que diz respeito à questão que indagava se os alunos já estudaram sobre Religião e Turismo durante as aulas de Geografia, 13% e 53% dos inquiridos disseram que sim, respectivamente. E quando perguntados de que maneira estes conteúdos foram estudados, algumas alusões foram realizadas: o estudo da formação da terra vista como algo religioso, o estudo de lugares turísticos do Brasil, discutindo sobre as paisagens bonitas e debatendo sobre a Serra da Ibiapaba. Quanto à importância do estudo da Religião e do Turismo nas aulas de Geografia, para somente 20% dos alunos a Religião deveria fazer parte dos conteúdos geográficos (Gráfico 16), e para o grupo todo, o Turismo tem importância nos estudos de Geografia. Destacaram-se algumas justificativas para tanto: a Geografia precisa estudar a Religião, Geografia e Turismo estão relacionados, poderíamos conhecer lugares desconhecidos, temos que estudar o Turismo em Tianguá, Turismo tem haver com mapas e devemos conhecer os pontos turísticos da Ibiapaba. Outra vez a não cobrança destes temas no vestibular foi ressaltada como geradora de descrédito. Também foi registrado por um aluno que o tema Religião não combina ser estudado na disciplina de Geografia e que outras disciplinas podem fazer isso.
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Gráfico 16: Importância do estudo da Religião nas aulas de Geografia - escola de Tianguá
20% Sim Não
80%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
Em consonância com os levantamentos anteriores, pedindo que os alunos apontassem temas ou aspectos religiosos ou turísticos possíveis de ser trabalhados nas aulas
de
Geografia,
algumas
menções
foram
assinaladas.
Vejamos
quais:
questionamentos sobre o início da vida, o meio ambiente, origem do Cristianismo, a fé do povo, as diferentes religiões, reservas ecológicas, as pesquisas fora das salas de aulas, os pontos turísticos da Ibiapaba, as cachoeiras, as belezas naturais de Tianguá e o Parque Nacional de Ubajara. Ao questionarmos os alunos acerca de seus conhecimentos sobre alguns pontos turísticos da Região da Ibiapaba, 53% apontaram que conheciam o Parque Nacional de Ubajara, menos da metade (40%) disseram conhecer as belezas naturais de sua própria cidade (Tianguá) e menos de 30% afirmaram que conheciam o Patrimônio históricocultural de Viçosa do Ceará e a Bica do Ipú. O Sítio do Bosco (uma espécie de camping de propriedade particular) foi referenciado como “outro” atrativo turístico por alguns. Na questão subseqüente, sobre aquilo que mais chamava a atenção na Região da Ibiapaba, algumas significantes respostas foram ventiladas, como: a variedade cultural, as belezas naturais, o “bondinho” de Ubajara, o clima, a Serra que é grande, o Parque Nacional, as belezas de Tianguá e as cachoeiras. Da amostra utilizada nesta escola, a representação de não-católicos chegou ao índice de 33% dos inquiridos e apenas 20% afirmaram que já haviam visitado o Santuário em estudo. Entretanto, 67% consideravam o Santuário como sagrado. Tal sacralidade foi justificada por alguns das seguintes maneiras: o Santuário é um símbolo de devoção católica, ele é lindo e nos traz compreensão de vida, e porque é dos católicos. 87% dos alunos apontaram que não conheciam outro santuário católico e, dos conhecidos, só o Santuário franciscano de Canindé foi indicado.
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Quanto ao enquadramento espacial do Santuário, 72% concordaram que este pertencia à Região da Ibiapaba, 25% que pertencia à cidade de São Benedito e 3% preferiram não opinar pelo fato de não o conhecerem (Gráfico 17). E na última questão, o Santuário foi lembrado como um “equipamento” que tem potencial para desenvolver o Turismo e a economia da Região da Ibiapaba ao passo que ainda pode contribuir para que a Região se torne mais conhecida pela sua religiosidade, aumentando assim o seu prestígio.
Gráfico 17: Enquadramento espacial do Santuário - escola de Tianguá 3% 25%
Ibiapaba São Benedito Não Conheço
72%
Fonte: Pesquisa de campo, out/2008.
4.2.5) Pontuando interpretativamente determinadas representações Baseando-se nas percepções exprimidas pelos inquiridos, realizamos a seguir um diagnóstico interpretativo a respeito dos principias direcionamentos apontados para a realidade plural do Santuário de Fátima da Serra Grande. Assim sendo, estamos certos de que esta sintetização vem a ratificar o que já foi analisado anteriormente, podendo contribuir para melhor compreendermos as imaginações que pairam na e sobre a Região turística da Ibiapaba com a implantação de tal Santuário. Portanto, vejamos as freqüências mais significativas:
O projeto do Santuário de Fátima da Serra Grande é desenvolvido tendo em vista um futuro promissor em termos de visitação, enquadrando desde a recepção de romeiros, peregrinos até turistas religiosos; Acredita-se muito no aumento do poder de atração do Santuário em estudo, e este fato traz consigo um reclame turístico em seus emaranhados, com fortes possibilidades de desenvolvimento;
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O Santuário entra no rol de pontos mais atraentes da Região da Ibiapaba e o Turismo Religioso é visto com bastante naturalidade pelos seus administradores e freqüentadores, mesmo quando se sabe que a prioridade será sempre a de atender aos preceitos essencialmente religiosos; Embora se mostre como uma realidade recente, o Santuário vem chamando a atenção de um número crescente de pessoas, não só da Região da Ibiapaba, mas também de outras paragens; Mesmo nos períodos de festas, a grande maioria dos visitantes do Santuário reside em cidades da própria Região da Ibiapaba, o que é perfeitamente justificável pela idade do mesmo. Porém, pela proximidade, não raro se encontram religiosos-turistas do Estado do Piauí; Freqüentado, sobretudo, por católicos, o Santuário é tido como uma obra sagrada. A fé do povo, a presença de Maria e a magnitude da obra são os três pontos mais apontados para tanto; Dentre as valências associadas ao Santuário, os aspectos “puramente” religiosos pesam mais do que quaisquer outros; Ao lado de Nossa Senhora, São Francisco das Chagas aparece como outra devoção de forte apelo na Região da Ibiapaba. Também por isso, o Santuário que faz referência a seu nome na cidade de Canindé é conhecido por uma grande parcela dos inquiridos no Santuário de Fátima da Serra Grande; No que se refere ao enquadramento espacial, o Santuário de Fátima da Serra Grande é inserido preferencialmente no recorte espacial da Ibiapaba, denotando o afloramento de uma imaginação regional diferente daquela do início das obras, quando se pensava que aquela construção seria só mais uma igreja pertencente à cidade de São Benedito; Torna-se necessário que a cidade de São Benedito realize um trabalho de requalificação urbana para acompanhar o possível crescimento expresso com as atividades realizadas pelo Santuário, principalmente no que concerne à melhoria do trânsito e das opções de entretenimento; Os meios de acesso ao Santuário devem ser melhorados, o que pode ser realizado tanto pelo poder público municipal quanto pelo estadual, com a contribuição dos religiosos (desde o início estes sempre colaboraram através de doações significativas);
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A presença do Santuário terá em breve uma importância maior para a Região da Ibiapaba e para a cidade de São Benedito em especial, ao passo que deve disseminar a geração de serviços, podendo inclusive incrementar as opções turísticas da Ibiapaba; Quando a Diocese de Tianguá pensou na idéia de construção do Santuário, também pensou na possibilidade deste “equipamento” religioso funcionar como uma espécie de Centro integrador, visto que a união entre as cidades da Ibiapaba acontece de forma insatisfatória na comparação com outras regiões de semelhante caráter. É ainda reduzido o conhecimento da Região por parte de seus habitantes; Mesmo levando-se em consideração somente a amostra que usamos, podemos afirmar que a interação do Santuário com a comunidade escolar da Região, apesar de ser relativamente boa, ainda pode ser melhorada. A pré-disposição dos alunos para o estudo dos temas Religião e Turismo pode contribuir para tanto; Seguindo o desejo dos jovens alunos inquiridos, o ensino de Geografia, fazendo uso da ferramenta da aula de campo, pode contribuir para um melhor (re)conhecimento da Região da Ibiapaba em ambos aspectos: religiosos e turísticos. O Santuário pode servir de mote inicial dessas discussões.
Em suma, sem a pretensão de apresentar as representações dos inquiridos como absolutas verdades, atendendo a uma leitura fenomenológica, ressalta-se que as mesmas, no entanto, expressam as marcas e transformações imaginárias que o Santuário de Fátima da Serra Grande vem incidindo na Região da Ibiapaba, resignificando o espaço vivido de alguns deles, oportunizando ainda possibilidades de ascensão para outras atividades de cunho regional.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS: REFLETINDO SOBRE A RESIGNIFICAÇÃO RELIGIOSA DO TURISMO IBIAPABANO
Ao término desta pesquisa, nas palavras finais lançadas, buscaremos refletir algumas questões que estiveram postas nas ambições inicias da mesma e outras que foram se avivando durante o percurso cumprido. Contudo, as considerações agora colocadas só são definitivas para a condensação deste estudo, como requer o seu caráter, não sendo jamais entendidas como acabadas para as possibilidades de investigações afins à área geográfica estudada. Com efeito, as ponderações arroladas neste momento ratificam algumas passagens do texto integral, ora já discutido, bem como vêm a complementá-lo. Longe de querermos apresentar considerações tidas como verdades absolutas a respeito da realidade geográfica do Turismo regional da Ibiapaba com a implantação do Santuário de Fátima da Serra Grande, esboçaremos, em suma, o resultado de nossas reflexões acerca dos principais eixos temáticos trabalhados, com grande peso sobre a análise empírica, formulada com base nas observações de campo e nas percepções dos inquiridos, embasada pelas teorias consultadas. Parece ser de consenso geral que o mundo assiste hoje a uma crescente diversidade de vivências espaciais. Embalado pelos avanços técnicos e (re)descobertas culturais, cada vez mais o homem faz um uso plural do espaço geográfico, seja o de sua habitação, que lhe é mais familiar, seja aquele que esteja a visitar. Neste sentido, a Religião é um dos fenômenos que mais vem provocando a disseminação de fixos e fluxos responsáveis por novas formas de vivências no espaço geográfico, fazendo render o alavancar de outros fenômenos, como o Turismo, por exemplo. Entendemos, assim, que os movimentos turísticos de um lugar ou região podem ser readequados pela ordem de movimentos religiosos. Em outras palavras, acreditamos que o Turismo pode ser resignificado pela componente religiosa. O fato que acabamos de afirmar pode ser verificado em várias cidades, tanto em nível internacional, nacional, como também estadual (se não vejamos os casos das cidades de Juazeiro e Canindé – ambas do Ceará). Nesse contexto, um dos desafios aceitos ao longo deste trabalho foi o de avaliar as possibilidades que o Santuário de Fátima da Serra Grande teria para contribuir com o desenvolvimento do Turismo na
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Região da Ibiapaba. Assim, retomamos o “objetivo geral” do projeto desta pesquisa a fim de engrenarmos outras considerações: Analisar a nova significação da Região da Ibiapaba a partir da implantação do Santuário de Fátima da Serra Grande. Como adiantamos no ato da estruturação do projeto de pesquisa, em todo o caso, a Região da Ibiapaba ganharia uma nova significação com o Santuário. Hoje, após dois anos de estudos a respeito, podemos afirmar que a Região e o Turismo regional foram resignificados com a presença do Santuário. Entretanto, levando-se em consideração que o Santuário em estudo tem uma curta história de existência, as afirmações destacadas acima merecem ser bem explicadas. É o que tentaremos fazer nas linhas que se seguem. Antes de qualquer outra coisa, é preciso relembrar que o planejamento territorial/regional do Turismo no Estado do Ceará ao longo dos anos privilegiou as áreas do litoral. Assim como os sertões, as regiões de serras, mesmo com todo o alarde da dita interiorização da referida atividade, constituem um Turismo ainda muito “tímido”, sem grandes expectativas de crescimento, sendo sempre ressaltadas como áreas de fortes potenciais, baseadas, sobretudo, no seu quadro natural. Porém, é sabido que o desenvolvimento da atividade turística só bem acontece através de um trabalho de planejamento. Não se pode esperar que a natureza, por si só, proporcione atração “aos de fora”. Nesse âmbito, as regiões de serra do Estado do Ceará ainda padecem de um trabalho mais intenso no que toca à reordenação de seus potenciais atrativos. Na Ibiapaba, em específico, podemos observar que a organização turística, mesmo com os esforços realizados internamente, necessita de uma maior colaboração do Estado no sentido de estudar formas para melhor compor o quadro de ofertas supracitadas, visando o desenvolvimento de um projeto regional que possa relegar, em parte, o discurso individual de cada município. O produto que deve ser comercializado é mesmo o regional, composto pelos principais atrativos de cada município. A permanência do turista nesta Região deve ser pensada nesta escala, até pela proximidade entre os municípios. Deste modo, deve-se gerir o espaço turístico da Região tendo-se em vista um mercado cada vez mais acirrado. A gestão do planejamento regional deve caminhar nesta direção.
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Proporcionando uma nova configuração ao quadro de atratividades da Região da Ibiapaba, encontra-se aberto a visitações o Santuário de Fátima da Serra Grande. Destarte, a resignificação da qual falamos já vem ocorrendo desde quando o terreno que abriga hoje o Santuário recebeu a benção e passou a ser visitado, fato que foi aumentando em proporção com as construções. Acreditamos, assim, que mesmo com pouco tempo de atividades, o Santuário em tela, projetado desde o início para ser um Centro religioso de grande porte, já se configura como um dos principais pontos de visitas da Serra da Ibiapaba. Porém, os promotores turísticos regionais ainda relutam em não enxergar esta realidade, ao contrário da Igreja Católica que bem visualiza este cenário. Mesmo por isso, numa atitude ousada, está nos planos da Igreja local, nomeadamente se tratando da Diocese de Tianguá, fazer deste Santuário um grande complexo de acolhimento religioso com destaque em nível de Nordeste brasileiro, como ressaltou o responsável eclesial que entrevistamos. Conforme discutido, é inegável o poder de atração que exerce a figura mitológica de Maria. Multidões se deslocam na busca de recolhimento e auxilio para lugares que fazem referência a este símbolo sagrado. O culto mariano, por sua vez, paradoxalmente, faz-se tradicional e pós-moderno. Os santuários marianos, em geral, forjam fluxos de interação inter-regional, vivenciando nos dias de hoje uma espécie de “boom” em seus movimentos de peregrinação. Tudo isso faz com que não duvidemos do crescimento que o Santuário de Fátima da Serra Grande almeja, respondendo a um processo que é de nível internacional, a começar pela instância primária do Santuário de Fátima de Portugal, só restando a nós esperar pelo futuro para percebermos os resultados de tamanha expectativa. Não poderíamos assegurar que hoje o Santuário de Fátima da Serra Grande já desenvolve um trabalho de recepção para turistas religiosos. Se ocorrer casos assim, este movimento acontece de maneira muito pontual. Pouco se visualiza a presença destes turistas na paisagem estudada. Confirmamos, sim, um Santuário ainda assentado num pilar de freqüência regional (em termos de Ibiapaba). Afora isso, os piauienses representam uma presença forte no Santuário, geralmente quando estão de passagem para visitar o Santuário de São Francisco das Chagas de Canindé. A parada ocorre para a realização de preces junto à mãe de Deus. Talvez fique mais adequado dizer que o excursionismo religioso acontece com maior precisão neste Santuário do que o Turismo Religioso propriamente dito.
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Por outro lado, podemos afirmar que o Santuário de Fátima da Serra Grande já é reconhecidamente um equipamento de forte apelo turístico, com demarcadas perspectivas para o futuro, como nos aparece nas representações imaginárias inquiridas. Por estes termos, esclarecemos que o “espaço do futuro” ao qual nos referimos só é possível de ser alcançado pela imaginação criativa do homem religioso, quando o mesmo realiza as suas reflexões tendo por base o “espaço concreto” de hoje – que no caso é o do Santuário. Muitos dos agentes que indagamos fizeram comparação deste Santuário com outras realidades religioso-geográficas de seus conhecimentos, acreditando piamente na possibilidade de um crescimento atrativo semelhante. Só este apontamento já nos deixa margens para falarmos numa suposta resignificação religiosa do Turismo regional. Instala-se junto com o Santuário um novo imaginário regional. A composição atrativa muda de molde com o acréscimo de mais um ponto significativo. O Santuário, desta maneira, é mais um agregado(r) aos fluxos turísticos da Região. Pois, como bem aponta Santos (2006, p. 639), “certo é que os santuários e os edifícios e lugares religiosos, em geral, contêm em si elementos de atratividade turística que não podem relegar-se para segundo plano, no contexto dos recursos turísticos, podendo falar-se, com propriedade, em recursos turísticos religiosos”. Em todo o caso, caberia uma indagação frente a este novo quadro: Como gerir o planejamento do Turismo regional tendo em vista a presença do Santuário? Eis um desafio para a cadeia produtiva do Turismo regional. Sem perder suas características religiosas, afinal de contas é este poder que transmite a mensagem de atração, o Santuário pode ser absorvido para um momento de repensar o Turismo na Região da Ibiapaba, no sentido de atenuar as dificuldades e harmonizar os interesses. Compreendemos que, num jogo cíclico, tanto o Santuário pode contribuir para desenvolver o Turismo na Ibiapaba, como os demais pontos turísticos da Ibiapaba podem contribuir para uma maior atração do Santuário. Sob este prisma, o Santuário poderá logo mais ser inserido nos roteiros turísticos da Serra da Ibiapaba, contribuindo para a circulação dos visitantes. Com isso, a Igreja deve se fazer presente também nos fóruns e reuniões que discutem políticas de promoção ao Turismo regional. A partir das próprias análises cometidas neste estudo, incorremos pelo risco de afirmar que daqui algum tempo a presença da imagem deste Santuário em cartazes e vídeos que divulgarão a Região da Ibiapaba de forma turística
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pode acontecer, como se dá em outras regiões e cidades que possuem em seus territórios equipamentos religiosos semelhantes. Demonstrando um poder de fascínio surpreendente dado seu tempo de existência, a administração deste Santuário sabe que precisa manter um magnetismo que venha a reafirmá-lo continuamente como um geossímbolo cosmogônico, centro real e potencial de atração. Para isso, a sua mensagem religiosa não pode cessar de ser transmitida. O simbolismo peculiar deste Santuário precisa fazer frente a outras realidades geográficas, sugerindo outras escalas de reconhecimento, aumentando assim o seu poder de atração e difusão. Para este efeito, algumas iniciativas devem ser tomadas no sentido de dotar o Santuário de uma infra-estrutura adequada para realmente funcionar como um grande Centro de acolhimento. Dentro destes termos, a cidade de São Benedito, mais do que qualquer outra cidade da Região, precisa “acordar” para a realidade que é o Santuário. O poder público municipal não pode mais ignorar a grandiosidade desta obra, devendo estudar como esta pode reverter ganhos de ordem econômica, como já aconteceu nas cidades de Canindé e mais ainda em Juazeiro do Norte. Nem no reconhecimento que realiza dos seus principais pontos turísticos, como está posto no seu site oficial, o poder público faz menção ao Santuário, denotando a capacidade da Igreja de acelerar e efetivar alguns projetos sem depender de outros órgãos. Na cidade de São Benedito, um dos principais problemas reside no ordenamento do trânsito, com o uso inadequado de materiais de segurança, vias de curto alargamento e o centro que se encontra quase sempre congestionado. À medida que o Santuário ascenda em suas pretensões, a cidade deverá sentir necessidade de uma requalificação urbana para bem suportar as demandas territoriais criadas. Contudo, acreditamos que deva haver um esforço mútuo da Prefeitura, de órgãos eclesiais e turísticos da Região, da iniciativa privada, em parceria com o Governo do Estado para a promoção de um destino religioso-turístico de reconhecimento ainda maior. Das reflexões que fazemos, dentre outras, vemos que, baseado na imponência deste Santuário, aliado ao seu grau de sofisticação, a promoção do Turismo Religioso, antes não cogitada na Região, pode configurar-se como mais uma modalidade turística possível nesta Serra. Nesta perspectiva, não se pode pensar o Turismo Religioso em separado de outras modalidades turísticas. A contento das investigações empíricas e teóricas que desenvolvemos, podemos dizer com propriedade que, como aconteceu em
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outros espaços que tiveram seus horizontes e meios atrativos acrescidos, a dinamização turística da Região da Ibiapaba tende a não ser mais a mesma. Na tentativa de assentarmos algo de conclusivo neste trabalho, destacamos que: A realidade religiosa e turística do Santuário de Fátima da Serra Grande ocorre temporal e espacialmente na medida em que se lança apostando em dias promissores. O próprio Santuário, através de seus administradores, em conjunto com as imaginações de seus freqüentadores, pretende se constituir como um grande marco na forma de um Centro de Devoção Mariana com destaque no Estado do Ceará e no Nordeste brasileiro, abrindo as suas portas, desde o início, para interessados visitantes, denotando um itinerário geográfico-religioso de primeira linha. Apesar de termos selecionado uma pequena representação de inquiridos e com todas as dificuldades encontradas para a plena apreensão da realidade estudada – talvez uma das principais resida no fato de não termos conseguido escutar com sucesso promotores turísticos da Região, o que não foi por falta de tentativa, mas pela não compreensão destes em aceitar com tranqüilidade o Santuário enquanto recurso também turístico – acreditamos que desenvolvemos um estudo empírico, e, diga-se de passagem, primário diante da história geográfica do Santuário analisado, com comprovado compromisso teórico, comungando com o pensamento de Zeny Rosendahl (2008), quando esta autora aposta fundamentalmente nos estudos de caso para o crescimento da Geografia da Religião no Brasil. Deste modo, por este estudo, conseguimos fazer com que a Geografia continue se desenvolvendo no tocante às pesquisas que levam a cabo temários religiosos. Portanto, diante da ainda reduzida bibliografia que discute a Religião e o Turismo de forma geográfica, principalmente relacionando-os, consideramos que este trabalho, se bem explorado, pode ensejar e contribuir para estudos futuros do próprio Santuário de Fátima da Serra Grande, bem como para investigações de outras realidades geográficas afins. No caso deste Santuário, indicamos como possibilidades para futuros trabalhos a verificação dos resultados que o Santuário hoje projeta para os dias vindouros e os desdobramentos da especulação imobiliária que começa a se desenhar no seu entorno. Esperamos também que esta obra possa ser proveitosa às decisões eclesiais e turísticas da Região da Ibiapaba, proporcionando ao conhecimento científico uma utilização social viável.
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Apêndices
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Apêndice 1
Roteiro de entrevista com representante eclesial responsável pelo Santuário
Projeto: A Resignificação Religiosa do Turismo Regional: Um Estudo Geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande.
1. Sendo uma obra diocesana, como foi “idealizada” a construção do Santuário de Fátima da Serra Grande? 2. A Diocese consultou algum outro órgão para pensar na instalação deste Santuário? 3. Desde o início a idéia era fixar o Santuário na cidade de São Benedito? 4. Por que a figura de Fátima foi à escolhida como a santidade de representação do Santuário? A população foi escutada? Cogitou-se o nome de São Benedito? 5. O Senhor acha que este Santuário já nasce como uma obra grande? Como o Senhor percebe a sacralidade da mesma? 6. Como o Senhor percebe o Santuário de Fátima da Serra Grande no cenário estadual? Como a Arquidiocese de Fortaleza compreende esta obra? 7. Tendo em vista a grandiosidade deste Santuário, como você avalia a infra-estrutura da cidade de São Benedito? 8. O Senhor acha que o Santuário pode contribuir para o desenvolvimento local e regional da cidade de São Benedito e da Ibiapaba? 9. Como funciona hoje o trabalho de divulgação do Santuário? 10. O Senhor vê o Santuário de Fátima da Serra Grande como mais um “atrativo” da Serra da Ibiapaba? Por quê? Se sim, de forma isolada ou interligada? 11. O Senhor consegue perceber relação entre Religião e Turismo? Acha que o Santuário de Fátima da Serra Grande pode crescer neste sentido? 12. Na sua concepção, as festas de Maria (de maio e outubro) deste Santuário podem fazer parte do calendário religioso do Estado? 13. As festas e eventos religiosos na Ibiapaba, em seu entendimento, modificam e fortalecem a identidade religiosa e a mentalidade das pessoas? De que forma? 14. O Senhor acha que esta nova significação religiosa pode contribuir para o melhoramento do Turismo na Região? 15. Quais ações estão sendo pensadas visando o futuro do Santuário?
Mestrando-pesquisador: José Arilson Xavier de Souza Orientador: Prof. Christian Dennys Monteiro de Oliveira
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Apêndice 2 Questionário de Opinião do visitante do Santuário
Projeto: A Resignificação Religiosa do Turismo Regional: Um Estudo Geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande.
Evento: __________________________________________________________ ___/___/2008
Dia:
Perfil do Entrevistado – nº. __________ 1. Sexo: ( 2. Idade: (
) Masculino ) 18 a 33 (
3. Estado Civil: (
(
) Feminino
) 34 a 49 (
) solteiro (
) 50 a 65 (
) casado (
) acima de 65
) viúvo (
) desquitado (
) outro: ________
4. Bairro/ distrito:________________ Cidade: ____________ Estado: _________________ 5. Ocupação: _______________________________________________________________ 6. Escolaridade: ( (
) sem grau de ensino ( ) ler e escreve ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo
7. É a primeira vez que visita a cidade?
(
) sim
(
) não
8. Qual o principal motivo de sua viagem à cidade de São Benedito? ( ) religião ( ) descanso /lazer ( ) negócio/compras ( ) aspectos naturais/culturais ( ) outros:________________________________________________________________ 9. Veio em companhia de: (
) grupo (
) família (
) outros: ___________ (
10. Qual a forma de hospedagem utilizada na cidade? ( ) hotel/pousada ( ) pensão ( ) casa própria/alugada ( ( ) outros: ___________________ ( ) Não estou hospedado
) sozinho
) casa de conhecidos
11. Qual foi o meio de transporte utilizado para chegar à cidade? ( ) automóvel próprio ( ) ônibus de linha ( ) ônibus de excursão ( ) topik/vã ( ) pau de arara/caminhão ( ) outros: ________________________________________ 12. Qual será, em média, seu tempo de permanência na cidade? Dias________ (especifique) 13. Com relação à infra-estrutura da cidade de São Benedito, avalie os seguintes itens de acordo com as especificações: (1) péssimo (2) regular (3) bom (4) excelente (5) não sabe ( ) comércio ( ) trânsito ( ) segurança ( ) restaurantes e similares ( ) limpeza pública ( ) entretenimento/lazer ( ) conservação do patrimônio cultural ( ) informações e sinalização turística ( ) conservação do patrimônio natural ( ) opções e serviços de hospedagem 14. Que outros eventos seriam de seu interesse na cidade: ( ) religioso ( ) artístico ( ) esportivo ( ) festivais ( ) comercial ( ) científico especifique: ________________________________________________________________ ( ) nenhum 15. O que mais lhe chamou atenção na cidade? ___________________________________ 16. Qual sua identificação religiosa?
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 159 _________________________________________________________________________________ ( ) católico praticante ( ) católico não praticante ( ) devoto de N.Sra. de Fátima ( outra devoção: ____________________________ ( ) não católico ___________________________ ( ) sem religião
)
17. Conheceu o Santuário de Fátima da Serra Grande por meio de: ( ) televisão ( ) jornal ( ) folder ( ) internet ( ) parentes e amigos ( ) outros: ________________________________________________________________ 18. Em sua opinião esse santuário é sagrado? (
) não (
) sim, por: __________________
19. Esse santuário representa para você um lugar de: ( ) oração/penitência ( ) descanso/lazer ( ) recomposição psicológica ( ) festa ( ) atrativo turístico ( ) possibilidades comerciais ( ) estou por curiosidade ( ) outros: ________________________________________________________________ 20. Já visitou ou visita outro Santuário? ( ) não ( ) sim _________________________________________________ (especifique) 21. Você percebe esse santuário como pertencente a: ( ) São Benedito ( ) Ibiapaba 22. De que forma ele contribui então com o desenvolvimento de/da: São Benedito: ______________________________________________________________ Ibiapaba: __________________________________________________________________ 23. Quais desses atrativos turísticos da Região da Ibiapaba você conhece: ( ) o Parque Nacional de Ubajara ( ) as belezas naturais de Tianguá ( ) o patrimônio histórico cultural de Viçosa ( ) A Bica do Ipu ( ) outros: ___________________________ 24. Intenção de regresso a este Santuário: ( ) nunca ( ) algumas vezes ( ) freqüentemente 25. Com relação à Cidade, a Região e/ou ao Santuário - sugestões e/ou observações: __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________
Mestrando-pesquisador: José Arilson Xavier de Souza Orientador: Prof. Christian Dennys Monteiro de Oliveira
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 160 _________________________________________________________________________________
Apêndice 3 Questionário de Opinião do morador da cidade de São Benedito
Projeto: A Resignificação Religiosa do Turismo Regional: Um Estudo Geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande.
Evento: __________________________________________________
Dia: ___/10/2008
Perfil do Inquirido – 1. Sexo: (
) Masculino
2. Idade: (
) 18 a 34 (
3. Estado Civil: (
(
) Feminino
) 35 a 49 (
) solteiro (
) 50 a 65 (
) casado (
) acima de 65
) viúvo (
) desquitado
4. Ocupação: _______________________________________________________________ 5. Escolaridade: ( ) sem grau de ensino ( ) ler e escreve ( ) 1° grau incompleto ( ) 1° grau completo ( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo ( ) superior incompleto ( ) superior completo 6. O que você acha da infra-estrutura da cidade de São Benedito, avalie os seguintes itens de acordo com as especificações: Em Avaliação Comércio Alimentação Sinalização Limpeza Transporte Saúde Segurança Escolas Acesso à mídia
péssimo
Regular
bom
excelente
Ñ sabe
7. O que mais lhe chama atenção em São Benedito? ________________________________ 8. Em sua opinião, quais os pontos da cidade podem ser considerados turísticos: __________________________________ __________________________________ __________________________________ 9. Qual sua identificação religiosa? (
) católico (
) devoto de N. S. de Fátima (
) outra devoção: _____________________
(
) não católico ___________________________
(
) sem religião
10. Como você tomou conhecimento da construção do Santuário de Fátima da Serra Grande: __________________________________________________________________________
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 161 _________________________________________________________________________________
11. Em sua opinião esse santuário é sagrado? (
) não (
) sim,
razão: _________________________________________ 12. Esse santuário representa para você um lugar de: ( (
) oração/penitência ( ) atrativo turístico (
) descanso/lazer ( ) recomposição psicológica ( ) festa ) possibilidades comerciais ( ) estou por curiosidade
(
) outros: ________________________________________________________________
13. Já visitou ou visita outro Santuário? (
) não (
) sim _________________________________________________ (especifique)
14. Você percebe esse santuário como pertencente a: (
) São Benedito (
) Ibiapaba (
) Ceará/Brasil (
) Apenas à Igreja
15. De que forma ele pode contribuir então com o desenvolvimento de/da: São Benedito: ______________________________________________________________ Ibiapaba: __________________________________________________________________ 16. Quais desses atrativos turísticos da Região da Ibiapaba você conhece: ( ) o Parque Nacional de Ubajara ( ) as belezas naturais de Tianguá ( ) o patrimônio histórico cultural de Viçosa ( ) A Bica do Ipu ( ) outros: ___________________________
17. Com relação à Cidade, a Região e/ou ao Santuário - sugestões e/ou observações: __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________
Mestrando-pesquisador: José Arilson Xavier de Souza Orientador: Prof. Christian Dennys Monteiro de Oliveira
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 162 _________________________________________________________________________________
Apêndice 4 Questionário de opinião dos alunos da Região da Ibiapaba
Projeto: A Resignificação Religiosa do Turismo Regional: Um Estudo Geográfico-cultural do Santuário de Fátima da Serra Grande.
Escola: ______________________________ Cidade: _____________ Data: ___/___/2008
1. Você já discutiu sobre Religião na escola? ( ) Sim ( ) Não Em qual disciplina e/ou atividade:_______________________________________________ 2. Você já discutiu sobre Turismo na escola? ( ) Sim ( ) Não Em qual disciplina e/ou atividade:_______________________________________________ 3. Nas aulas de Geografia você já discutiu sobre Religião? ( ) Sim ( ) Não De que maneira:____________________________________________________________ 4. Nas aulas de Geografia você já discutiu sobre Turismo? ( ) Sim ( ) Não De que maneira:____________________________________________________________ 5. Acha importante o estudo da Religião nas aulas de Geografia? ( ) Sim ( ) Não Por quê?___________________________________________________________________ 6. Acha importante o estudo do Turismo nas aulas de Geografia? ( ) Sim ( ) Não Por quê?___________________________________________________________________ 7. Cite temas ou aspectos religiosos e/ou turísticos que podem ser trabalhados nas aulas de Geografia. °__________________________________ °___________________________________ °__________________________________
°___________________________________
8. Quais desses atrativos da Região da Ibiapaba você conhece: ( ) Parque Nacional de Ubajara ( ) Belezas naturais de Tianguá ( ) Patrimônio histórico cultural de Viçosa ( ) Bica do Ipu ( ) Outro: ___________________________________ 9. O que mais lhe chama atenção na Ibiapaba?____________________________________ 10. Qual sua identificação religiosa? (
) Católico (
) Não católico
11. Você conhece o Santuário de Fátima da Serra Grande? ( 12. Em sua opinião esse santuário é sagrado? (
) Não (
) Sim (
) Não
) Sim, por: __________________
13. Já visitou ou visita outro Santuário? ( ) Não ( ) Sim _________________________________________________ (especifique) 14. Você percebe esse santuário como pertencente a: (
) São Benedito (
) Ibiapaba
15. De que forma ele (o Santuário) contribui então com o desenvolvimento de/da: São Benedito: ______________________________________________________________ Ibiapaba: __________________________________________________________________
Mestrando-pesquisador: José Arilson Xavier de Souza Orientador: Prof. Christian Dennys Monteiro de Oliveira
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 163 _________________________________________________________________________________
Anexos
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 164 _________________________________________________________________________________
Anexo 1
Decreto de lei canônica da criação do Santuário de Fátima da Serra Grande
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 165 _________________________________________________________________________________
Anexo 2 Música em referência ao Santuário de Fátima da Serra Grande
Virgem da Serra Grande (Judite Irineu) Na Serra Grande da Ibiapaba No Ceará A Virgem de Fátima, vem nos abençoar Vem nos abençoar, vem nos abençoar (Refrão) Santíssima Virgem, que nos montes de Fátima Revela a três pastorinhos as graças contidas no santo rosário (Refrão) Virgem de Fátima agora no Ceará Vem nos convidar a contemplar os mistérios da redenção (Refrão).
A Resignificação Religiosa do Turismo Regional... / José Arilson Xavier de Souza 166 _________________________________________________________________________________
APOIO:
UFC Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior
Laboratório de Estudos Geoeducacionais