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Ciência, ética, E O Uso De Animais Em Laboratório

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    July 2018
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CIÊNCIA, ÉTICA E O USO DE ANIMAIS EM LABORATÓRIO1 DR. MICHAEL W. FOX Tradução: Tatiana Almeida de Andrade2 Aproximadamente 25 a 35 milhões de animais são usados nos Estados Unidos, a cada ano, para pesquisa, teste e propósitos de ensino. A maioria destes são roedores, que estão excluídos de qualquer proteção sob o Decreto Federal "Animal Welfare Act" (Bem Estar dos Animais).Outros animais,como coelhos,gatos,cachorros e macacos,recebem pouca proteção deste decreto, porque o Departamento de Agricultura dos E.U.A faz um trabalho totalmente inadequado de inspeção das instituições de pesquisa com animais e um trabalho ainda pior de fazer valer a lei quando transgressões são achadas. Eu falo com experiência pessoal. As condições aprovadas, sob quais cada laboratório de animais é mantido, são geralmente deploráveis. Jaulas são pequenas. Grandes macacos são mantidos sozinhos, por anos, em jaulas de 0,70 por 1 metro. Privados da interação social e de qualquer coisa para manusear, eles desenvolvem comportamento "neurótico" anormal, como movimentos estereotipados, auto-mutilação, masturbação repetitiva, medo ou raiva intensa, enquanto outros comem ou bebem excessivamente. Humanos, 1 Caítulo 3 Science, Ethics, and the Use of Laboratory Animals, do livro de Maichael Fox. Inhumane Society: The American Way of Exploiting Animals. New York: St. Martin’ s Press.1990, ps. 58-73.. 2 Acadêmica da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. claro, não agiriam diferente sob as mesmas condições. Cães e gatos são mantidos em semelhantes condições de privação, sem exercícios e raro contato humano, ainda que muitos tenham sido animais de estimação que chegaram aos laboratórios através de negociantes e abrigos de animal locais. Tais condições extremas afetam o comportamento e a fisiologia animais, consequentemente fazendo as pesquisas, sobres eles, tornarem-se de validade questionável. (exceção para outros animais sob condições similares). Na verdade, os parâmetros atuais para cuidados com animais de laboratórios são inadequados por dois motivos principais, quando considerados sob a nova luz da medicina holística, que considera a totalidade da interconectividade corpo-mente-ambiente. Em termos de bem-estar animal, esses parâmetros dão uma parca consideração ao social e emocional dos animais e suas necessidades ambientais; eles não são científicos e então contrariam o progresso da medicina porque resultados defeituosos são obtidos sempre que a integridade corpo-mente-ambiente é quebrada. Pesquisadores têm mostrado que segregação (quando um animal é isolado numa jaula de laboratório) introduz uma variedade de variáveis experimentais, que não estavam no projeto inicial do experimento. Logo as conclusões da pesquisa são no mínimo duvidosas e provavelmente de pouca relevância em relação às condições da vida real que realmente provocam saúde e doença. A falta de reconhecimento das conexões holísticas, que conjuntamente determinam saúde e de quais quaisquer significantes parâmetros de normalidade devem ser derivados, reflete a estreiteza e insalubridade científica na forma de pensar da medicina contemporânea, na qual a resultante terapêutica, embora rentável, muito frequentemente causa dez novos problemas em decorrência da solução de um primeiro. Os cientistas interpretam mecanicamente comportamentos animais de seres enjaulados, chamando-os de "adaptativos". Eles ignoram que estes comportamentos são indicadores de ambientes biologicamente inapropriados. Além de pôr em dúvida a validade de suas pesquisas, suas habilidades empáticas, parte vital do diagnóstico e cura, deve ser questionada. Os pesquisadores ignoram o sofrimento psicológico animal e a sua importância. Talvez a empatia não seja mais claramente entendida ou experienciada (como agora é moda interpretar a empatia como um tipo reacionário de antropomorfismo sentimental), e porque a atual visão médica mundial estabelecida exclui os componentes mentais e ambientais do bem-estar. Focando exclusivamente no físico, a medicina atual considera animais de laboratório (e de fazenda) em boa situação desde que eles não mostrem nenhuma considerável anormalidade física ou patologias orgânicas de acordo com os padrões de cuidado atuais.Recentes avanços na medicina holística ou ambiental, revelam a falácia desta visão. Enquanto os avanços podem não resultar em nenhuma redução imediata de animais usados nas pesquisas de biomedicina, eles mostram que o custobenefício do uso de animais para encontrar curas para doenças humanas é imprudente, e que muitas doenças são melhor prevenidas ao se adotar a agricultura orgânica, dietas e estilo de vida mais cuidadosos e a limpeza de um ambiente tóxico. Não pode existir bem-estar físico, tanto para o homem quanto para o animal, sem bem-estar mental e um ambiente saudável, que também satisfaça necessidades comportamentais e sociais. Para os animais de laboratório, assim como os de fazenda fabris, estas necessidades não são atendidas, resultando em stress, angústia e crescente susceptibilidade a doenças. A Organização Mundial da Saúde definiu como saudável como "um estado de bem-estar físico, mental e social, e não somente a não existência de doença." Esse mesmo critério precisa ser reconhecido na criação de animais de laboratório. No máximo, são atendidas as básicas necessidades físicas animais. Suas condições mentais e bem-estar social são geralmente ignorados; ar puro, uma jaula, comida, água, e inexistência de doenças são as escassas, mecanicistas e não-científicas "necessidades" atualmente reconhecidas para animais de laboratório e de fazenda. Testes de "segurança" Animais de laboratório estão sendo cada vez mais usados para testar o potencial carcinogênico, teratogênico, e outros patológicos, de substâncias químicas. Testes como o teste de "segurança" para drogas, cosméticos e outros produtos para o consumo, estão tão ligados à política, interesses de corporações, e regulamentos burocráticos custosos e ineficientes, que substâncias químicas conhecidas por causar câncer, defeitos de nascimento, e outras doenças, continuam a ser fabricadas, largamente usadas e introduzidas em nossos próprios corpos. Algumas que foram banidas nos Estados Unidos são vendidas em larga escala para países em desenvolvimento. E testes de "segurança" feitos com o uso de animais continua. No processo, o fato científico básico da sinergia química é ignorado (sinergia significa "ação combinada"). Neste contexto, a combinação de duas ou mais substâncias químicas, mesmo que em níveis "seguros", pode ter um efeito aditivo, aumentando sua prejudiciabilidade para nosso corpo." É impossível para em torno de 40 a 60 mil substâncias químicas, atualmente em uso, serem testadas em combinação, com o intuito de obter níveis de segurança confiáveis. Teste de segurança animal são pouco mais que uma campanha de relações pública para dissipar a preocupação pública e, no máximo, dão uma falsa sensação de segurança. Claramente animais de laboratório estão desnecessariamente sendo explorados nesse campo de pesquisa. Eles sofrem puramente por razões de lucro. A importância de "modelos" animais. É irônico que os critérios para definir saúde humana sejam quase tão limitados quantos os usados para definir saúde e bem-estar de animais de laboratórios. Consequentemente, a qualidade da pesquisa de biomedicina, a prática da medicina e a qualidade dos serviços médicos oferecidos ao público são seriamente deficientes em muitos pontos. Serviços de trabalho sociais e psiquiátricos têm baixa cotação com companhias de seguro médico. A indústria biomédica tem vendido rentavelmente para a sociedade remédios custosos e iatrogênicos e procedimentos de diagnóstico (que somente os mais ricos e segurados podem pagar) que identificam os sintomas, mas não as causas. Essas causas são principalmente mentais, sociais e ambientais (especialmente dietas impróprias e adulteradas). "Modelos" animais simulando doenças humanas in vivo são normalmente feitas no vazio, isolados em um ambiente estéril e empobrecido. Os animais são totalmente isolados dessas variáveis sociais e ambientais, que fazem parte da maioria das síndromes de doença, e são estressados emocionalmente como conseqüência do isolamento social e a ruptura ambiental. Uma pequena caixa de metal em um quarto escuro, com ar condicionado é dificilmente um ambiente biologicamente apropriado para um macaco que está sendo usado como modelo humano para malária. Modelos animais são principalmente utilizados para achar "curas" com remédios e vacinas e para estudar o desenvolvimento de doenças dentro do corpo. Os resultados anteriores favorecem os produtores e aliviaram algumas enfermidades humanas; mas sem medidas de saúde preventiva, especialmente ar puro, água, comida e uma dieta adequada, enfermidades e sofrimento continuarão e novas doenças vão surgir. O estudo de doenças em animais isolados resulta em ver somente parte do retrato da doença; Conhecimento das influências sociais e ambientais está em falta. Logo, modelos animais são de serventia limitada. Alguns modelos animais geralmente, e cruelmente, imitam enfermidades emocionais humanas, como isolação social prolongada, privação maternal, depressão, medo severo e ansiedade crônica. Algumas técnicas usadas (e desenvolvidas) em animais são, de acordo com a Anistia Internacional, também usadas em prisioneiros militares e dissidentes políticos. Psicólogos realizam alguns dos mais desumanos estudos com animais. Eles se recusam a admitir que se seus estudos são relevantes para enfermidades emocionais e aflições humanas, então é provável que os animais que eles usam sejam sujeitados a grande sofrimento emocional. Mesmo com uma melhor legislação e um a coação de leis para proteger o bem-estar de animais de laboratório, e estudos de pesquisa melhor desenhados que são mais pertinentes com a melhora da saúde humana, a pergunta continua: Que pesquisa com animais é válida e que estudos, que têm vínculos com sofrimento animal, são justificados? Na análise final, eu acredito que nenhum. Existem muito poucos, se existem, restrições sobre o que um pesquisador pode fazer com os animais. Enquanto existe um atento conselho de inspeção para toda pesquisa de fundo federal, uma prioridade maior é dada, especialmente a um cientista estabelecido, para "conhecimento científico", sobre a preocupação com bem-estar animal. Métodos alternativos de teste, como microorganismos e cultura de tecidos, recebem pouca atenção. E então nós encontramos psicólogos e estudantes, sem treinamento formal em cirurgia veterinária e cuidado pósoperatório, fazendo cirurgias cerebrais em gatos e macacos; cães e ratos recebendo, repetida e ostensivamente, choques para achar respostas que ajudem a curar depressão em humanos.; radiação, testes de armas e estudos de queimaduras em porcos, cachorros e macacos - testes militares considerados vitais para a segurança nacional; testes de segurança de novos xampus, cosméticos e outros produtos de consumo supérfluos, botando várias concentrações de substâncias de teste dentro dos olhos de coelhos, provocando dor intensa e até cegueira. Mesmo quando alguns testes do governo em animais demonstram que uma substância química provoca câncer, danos genéticos ou defeitos de nascimento, eles são frequentemente contestados pelos produtores da substância química em questão. Testes feitos em seus próprios laboratórios normalmente têm resultados diferentes, mais de acordo com os interesses da empresa. E mais, testes em animais são feitos antes do julgamento final. Milhares de substâncias químicas que estão no mercado ainda não foram testadas pelo Instituto Nacional de Câncer e outras agências. Outras conhecidas por ser danosas à saúde humana e animal, são usadas amplamente, principalmente na agricultura e nas indústrias químicas, na confecção de tintas, solventes e outros materiais perigosos. E mais, testes em animais são feitos com substâncias conhecidas por causar mal à saúde humana, como álcool, tabaco e narcóticos. Enquanto alguns testes de segurança e pesquisa biomédica, básica e aplicada, em animais podem ser justificadas por necessidade completa, "necessidade" precisa ser definida. Este é um argumento usado para testes e pesquisas, em animais, frívolos. Justificando o uso animal em pesquisas Os cientistas usam um argumento muito forte para justificar e defender o uso animal em suas pesquisas. Ele é que o desejo de adquirir conhecimento conhecimento pelo bem do conhecimento - é um valor cultural. Se argumenta que todo conhecimento de uso potencial para a humanidade e a sua busca não devia ser questionada nem obstruída: Tal obstruções seriam contra o maior interesse da sociedade e uma violação à liberdade científica. Esta atitude levou todo conhecimento de benefício potencial á humanidade ser posto acima de qualquer preocupação humana quanto ao sofrimento de animais de laboratório. Significa que, não importa quanto sofrimento animal está envolvido, ele é justificado desde que exista benefício à sociedade. Todo o conhecimento não é de valor igual, e não é científico fazer tal generalização. Somente certos conhecimentos essenciais, antes que informação trivial, deveriam ser buscados com o custo de sofrimento animal. Talvez cientistas procurem justificar e defender a busca do conhecimento (liberdade científica), antes do valor de tal conhecimento, porque tal busca pode levar a conhecimentos que beneficiem a sociedade. E como também podem não beneficiar. Muitas pesquisas são repetitivas e improdutivas. Nenhum projeto de pesquisa pode garantir que dará resultados úteis. Porque a liberdade científica e a promessa de possíveis benefícios à humanidade são tão rigorosamente defendidas, os meios por onde tal conhecimento é obtido devem ser questionados. Se existem alternativas para não causar sofrimento animal, adotar tais alternativas é um imperativo moral e uma responsabilidade dos cientistas. Se alternativas, como cultura de tecidos, estão disponíveis, então os possíveis benefícios à humanidade devem ser postos na balança juntamente com os custos psicológicos e físicos causados aos animais. Humanos podem e sofrem bem mais que animais de certos modos. como vícios de drogas, violência (notadamente estupro e assassinato), depressão e esquizofrenia. Logo alguns argumentam que animais devem ser usados em pesquisas, porque eles sofrem menos que os humanos. mas isto precisa ser provado. E então eu argumento que as seguintes considerações éticas sejam levadas em conta: se a dor e o sofrimento causados a um animal forem maior que a quantidade que um ser humano sentiria sob as mesmas condições experimentais, então tal experimento deveria ser proibido. No entanto, se não podemos assegurar quanto o animal está sofrendo, então não deveríamos fazer a experiência. E cientificamente, se nós não sabemos estes fatos básicos, então o valor e a relevância do trabalho, visando aliviar o sofrimento e a dor em humanos, é muito provavelmente inválido cientificamente e de pouca relevância clínica. As variáveis da dor, sofrimento, medo, e privação devem ser controladas, sua intensidade e efeito nos animais devem ser sabidas, caso contrário, a validade científica e a relevância clínica de dados derivados de experimentos com animais serão mínimas. A censura pública de cientistas, que acreditam que qualquer pesquisa é justificável quando a dor e o sofrimento que o animal suporta são grandemente superadas pelo resultante alívio de dor humana, crescerá até que eles aceitem suas responsabilidades para com os animais. Os pesquisadores F.L.Marcuse e J.J.Pear argumentam que o propósito principal e a justificação de experimentos com animais é que o conhecimento obtido pode ser de benefício à sobrevivência. Quanto esta crença deriva da ansiedade inconsciente e da insegurança, as quais nenhuma pesquisa com animais vai ajudar, merece uma consideração. Estes cientistas perguntam:, "O bem-estar dos humanos deve ser posto acima do dos animais?" A própria questão é baseada na assunção que o bemestar dos humanos e dos animais são mutuamente exclusivos e que os dois são, de algum modo, separados. É este tipo de pensamento "especissista" que esconde muito sofrimento humano como também exploração e sofrimento animal desnecessários. Em uma perspectiva mais empática e ecológica, ao invés de antropocêntrica, o bem dos humanos e o bem de outros animais são mutuamente inclusivos, ao invés de exclusivos. Um exame cuidadoso das atitudes por trás das justificativas de uso de animais, que podem sentir, "para o benefício da humanidade" pode prover bem mais benefícios que quaisquer derivados de tantos experimentos com animais. Avanços científicos e tecnológicos atuais são concebidos como as chaves de nossa sobrevivência e prosperidade. Porém o proferimento baconiano (do filósofo inglês Francis Bacon, há mais ou menos 400 anos atrás) que diz que conhecimento (especialmente a ciência) é poder (sobre a natureza) levou a um estágio de ansiedade crescente e a uma maior necessidade de controlar não só simplesmente a natureza, mas a própria humanidade. Abraham Maslow, no Psicologia da Ciência, defende que a ciência " pode ser uma filosofia segura, um sistema de segurança, um modo complicado de evitar a ansiedade e problemas perturbadores. Em uma instância extrema, ela pode ser um jeito de evitar o viver, um tipo de enclasulamento próprio." É considerada heresia questionar os valores e percepções da política científica, não porque a validade de seus dados é inquestionável, mas sim por causa da amplamente difundida crença que a ciência pode resolver todos os nossos problemas. Este questionamento, rotulado como "anti-ciência e anti-progresso", expõe a ansiedade do nosso tempo. A dor desta ansiedade pode ser parcialmente curada com fé, não em Deus, mas no poder do conhecimento instrumental, derivado da ciência, e a tecnologia aplicada. Ironicamente, enquanto muitos cientistas, das áreas de biomédica e de agronegócio, acreditam na teoria da evolução, eles rotulam como antropomórficas as preocupações com o sofrimento e o bem-estar animal. Ainda de acordo com a teoria revolucionária, provavelmente existe uma continuidade evolucionária da experiência mental. Muitos destes cientistas são neocartesianos e fundamentalistas disfarçados com roupas darwinianas, que acreditam na teoria evolucionária somente da boca para fora. Se este não fosse o caso, eu acredito que haveria menor indiferença e aceitação enganosa do sofrimento, físico e emocional, e a privação dos animais no mundo moderno. Portanto os cientistas condenam o sofrimento desnecessário dos animais baseados em que ele é "moralmente errado" (porque é um sinal de mau caráter) somente quando não há uma justificativa de utilidade preponderante. Este é um argumento fraco. Um argumento mais forte, o qual eles não podem aceitar, é que por causa da nossa similaridade emocional e psicológica com as outras espécies, os humanos não deviam tratar os outros animais de maneiras que não tratariam seus semelhantes humanos. Nós não deveríamos causar dor e aflição emocional, a não ser que seja vital para o próprio bem-estar deles ou para nossa sobrevivência. Limites éticos precisam ser desenhados, porque eticamente, os fins nem sempre justificam os meios. A diferença entre um cientista e um não-cientista, que causem sofrimento a um animal, é a diferença entre um julgamento social de sofrimento necessário (permitido dentro da lei) e crueldade animal (punível segundo a lei). Esta diferença é de uma utilidade: a de benefício á sociedade e não da moral ou da ética. E é o público que dá ao cientista tal liberdade (e responsabilidade) tanto quanto a maioria do financiamento de pesquisas com animais. Mas nem todos benefícios para a sociedade são iguais- alguns são realmente triviais, nem valem a pena em alguns casos. Deste modo, todos os cientistas que usam animais em suas pesquisas não podem fazer iguais exigências de liberdade científica sem primeiro estarem completamente responsáveis em termo de propósito e do valor, potencial e real do sacrifício ou sofrimento animal, para sociedade. Uma revisão, feita pelos próprios cientistas, dos propósitos das pesquisas é altamente questionável, assim como tal grupo não representa necessariamente valores sociais prevalecentes. Por exemplo, o Código de Princípios da Associação Americana de Psicologia (1971) diz que “Os procedimentos de pesquisa que sujeitam os animais serão conduzidos somente quando tal sofrimento for requerido, e for justificado pelos objetivos da pesquisa.” Isto soa tão limpo e simples, porém em uma segunda leitura percebe-se que é um credo de total utilidade e racionalismo instrumental. Os animais podem ser, simplesmente, meios para qualquer fim que a imaginação humana escolher para justificar. Baseado em tal credo, qualquer revisão feita pelos próprios cientistas seria altamente questionável. Marcuse e Pear dizem que os cientistas deveriam questionar a humanidade dos seus próprios, e dos outros, procedimentos com a mesma intensidade com que eles questionam a saúde científica destes procedimentos. Mas quem vai encorajá-los a agir assim, e também a estar mais aberto ao público em geral e aos militantes do bem-estar animal? Marcuse e Pear acreditam que “a cultura como um todo“ tem esta responsabilidade. Certamente os grupos científicos profissionais se mostram incapazes desta tarefa. Este atual estado das coisas continuará até que os grupos científicos permitam que “a cultura como um todo” discuta e resolva questões éticas envolvendo pesquisa com animais. As portas ficaram fechadas muito tempo por tais organizações como a Sociedade Nacional para Pesquisa Médica. E manter estas portas fechadas é estar em desacordo com o tempo. Agora é a hora para o diálogo. De outro modo a comunidade biomédica e de pesquisa como um todo poderá sofrer as conseqüências de uma crescente desilusão pública com a ciência e a medicina. Muitos anunciaram o Animal Welfare Act estado unidense de 1996 como um grande passo na direção correta para assegurar o bem-estar dos animais de laboratório. De fato, em contraste com outras formas institucionalizadas de exploração animal, os animais de laboratório têm, sem dúvida, a melhor proteção. Mas no máximo, esta proteção é mínima, e a maioria dos animais usados – roedores - estão excluídos deste ato e portanto não têm nenhuma proteção. Por causa de financiamento insuficiente, o ato é inadequadamente executado. Muitas emendas, há muito tempo necessárias, deveriam ser implementadas ao ato, tal como provisão de exercícios para cães enjaulados; melhores moradias para os primatas; melhor cuidado pós-operatórios e uso de analgésicos; criara limites para evitar sofrimento animal desnecessário ou injustificado (especialmente em estudos de psicologia) e repetições desnecessárias. A questão da responsabilidade científica ainda tem que ser respondida. Muitos pesquisadores asseguram falsamente ao público que o ato é adequado. Os próprios pesquisadores estão protegidos pelo consenso profissional que tende a aceitar incondicionalmente a exploração animal se o pesquisador é qualificado (tem um M.D ou um P.H.D), bem conhecido e respeitado. Existe uma necessidade urgente da proliferação dos testes com animais de laboratório e trabalhos de pesquisa. A preocupação com os animais mantidos em pequenas jaulas e com o sofrimento físico e psicológico, que geralmente resulta de experimentos com procedimentos invasivos, seria mitigada primeiramente por uma drástica redução do número de animais usados. Uma redução significativa poderia ser conseguida se as seguintes recomendações feitas pelo comitê Carpenter, que eu chamo de Bill of Rights for Animal Experimentation, forem adotadas: i) Uma busca mais intensa para achar alternativas ao uso de animais em pesquisas. ii) Um pensamento mais cuidadoso sobre os experimentos antes de envolver o uso de animais, incluindo uma consideração se o objetivo do experimento tem possibilidade de ser encontrado com os métodos usados. iii) Antes de embarcar em um projeto vinculado ao uso de animais, um pesquisador devia se certificar que nenhuma técnica alternativa (ex. cultura de células) servirá para chegar ao objetivo de sua pesquisa. iv) Os que estão engajados em experimentos com animais devem se perguntar, considerando a justificação ética de um projeto dado, se a sua realização tem uma significação suficiente para justificar tanta inflição de dor e estresse que possa estar envolvida no experimento. v) Onde o uso de animais, depois destas precauções terem sido tomadas, for visto como necessário, uma atenção cuidadosa deve ser usada para decidir o número de animais necessários. Algumas espécies podem ser mais apropriadas que outras em uma dada instância, seja porque uma maior aproximação com o homem é uma consideração primordial, ou por causa de uma especificidade de resposta conhecida em uma espécie ou grupo particular.Neste estágio considerações econômicas não deveriam ser prioridade e espécies cientificamente apropriadas deveriam ser escolhidas; o uso de espécies raras deveria ser evitado.No planejamento de quantas pesquisas deveriam ser feitas, deve se tomar um cuidado de limitar as séries a um mínimo compatível com resultados válidos estatisticamente. vi) Os animais em estabelecimentos de pesquisa devem estar sob permanente cuidado de um cirurgião veterinário e particularmente aqueles que sofreram cirurgia devem receber cuidado e supervisão constante. vii) Deveria haver a interrupção dos experimentos com objetivos triviais, ex. para bens de luxo tais como mercadoria de adorno (já existem suficiente artigos disponíveis para satisfazer qualquer necessidade atual). Os experimentos projetados para provar o óbvio deveriam ser interrompidos. Também deveria acontecer a interrupção da pesquisa com animais de produtos como o tabaco, que o homem continua usando mesmo sabendo do mal que ele provoca. Como William Penn disse, “Um fim bom não pode santificar meios maus, nem nós podemos fazer o mal para obter o bem ... vejamos então o que o amor fará.” Vários pesquisadores estão agora obtendo novos resultados na área da resistência das doenças. Seus achados, sumarizados pelo escritor científico Jean L. Marx, levam à conclusão que as penetrantes ligações anatômicas e bioquímicas entre os sistemas imunológico e nervoso ajudam a explicar porque o humor (temperamento e estresse emocional) influencia a susceptibilidade a doenças. Isto é mais que mera especulação e ratifica a importância do papel da psicoterapia e das ”terapias da mente,” tal como meditação e relaxamento, na medicina preventiva. O fato que respostas imunológicas podem ser alteradas até pelo aprendizado (condicionamento clássico) mostra novas perspectivas que a medicina tradicional (alopática) tem há muito tempo ignorado. O fato que o estado mental de uma pessoa claramente influencia o sistema imunológico e a resistência a doenças garante a necessidade de uma revisão sobre o nosso entendimento e tratamento de doenças. Nós também precisamos dar uma boa olhada no uso continuado de animais em pesquisas biomédicas. Eu acredito que a ênfase exagerada de animais como objeto de pesquisa retardou o progresso médico em muitas áreas onde animais de laboratório ou não podem ser usados (como na meditação) ou são de uso limitado (como na psicologia clínica como modelos). Resumindo, quanto mais responsabilidade nós assumimos por nossa própria saúde e pela saúde do nosso ambiente, uma menor vivisecção pode ser justificada. Eu questionaria os experimentos psicológicos e todos os outros feitos em animais que não os beneficiam intencionalmente. Se a intenção inicial da pesquisa for beneficiá-los, então nós podemos aprender muito para nos beneficiar, já que nossos sistemas corporais são muito similares. Mas se a intenção inicial da vivisecção animal é achar algo que beneficie os humanos e os benefícios para os animais são pura coincidência, então isto certamente não é eticamente aceitável; nem deveria ser cientificamente. Se a intenção for ter animais que sejam modelos de humanos doentes ou machucados, então nós deveríamos aprender daqueles que já estão doentes ou machucados. Induzir uma doença, artificialmente injetando um vírus (para obter avanços em um tratamento médico) ou machucar, quebrando uma perna (sob anestesia) para fazer inovações cirúrgicas não.é saudável cientificamente porque os modelos são muito simplistas e não são relevantes às condições da vida real de infecção e trauma em humanos e animais. E é certamente errado usar animais que são só aproximadamente modelos humanos, porque as extrapolações podem ser muito especulativas. Este é o caso, por exemplo, de usar dados de porcos queimados e escaldados na situação de humanos vítimas de queimaduras. Nossa pele e nosso modo de lidar com a dor e o sofrimento são muito diferentes. Eu tenho dificuldade em aceitar a propagação de animais com enfermidades genéticas e de desenvolvimento que nem chegam perto de modelar enfermidades genéticas e de desenvolvimento humanas. Tais animais têm geralmente uma alta procriação consangüínea. Mas os humanos geralmente não. Deste modo a etiologia desses problemas pode ser muito diferente. Os fatores ambientais provavelmente têm uma influência muito maior nos humanos, que, vivendo mais que gatos, cachorros e camundongos, são mais suscetíveis a sucumbir aos efeitos dos teratogênios e mutagênios ambientais (tal como substâncias químicas e radiação) que danificam o plasma do embrião ou a integridade genética do esperma e dos óvulos. Tal dano poderia causar enfermidades germ-line-invaded (ou seja, hereditárias) e de desenvolvimento em humanos comparáveis às enfermidades análogas em cães, gatos e camundongos únicos. Os pesquisadores afirmam que com base em suas pesquisas com gatos e cães de raça pura, eles podem aconselhar os donos como eliminar o problema nos seus programas de criação e portanto como melhorar a criação. Porém, não criar animais de raça pura com peculiaridades exageradas em primeiro lugar seria uma melhor solução (ver capítulo 12). Os pesquisadores também afirmam que eles podem, estudando essas doenças genéticas em parceiros animais (e os propagando em colônias criatórias de pesquisa), criar alguns tratamentos medicinais - até mesmo engenharia genética corretiva (que já está sendo usada em pacientes humanos) para ajudar os animais. Ainda existe a irônica possibilidade que a engenharia genética corretiva será usada em humanos ao invés de se eliminar aqueles fatores ambientais que são responsáveis, ou suspeitos, de causar danos ao esperma, óvulos e embriões em desenvolvimento em primeiro lugar. E famílias sofrerão com o fardo e o estigma de doenças genéticas. A indústria médica continuará a lucrar, mas não prevenir, em cima desses problemas, que estão aumentando dramaticamente na população humana (não da procriação consangüínea selecionada mas de outro fatores) e em cães e gatos de raça pura (de procriação consangüínea selecionada) enquanto a indústria em popularidade. Logo é difícil justificar a pesquisa e os gastos no estudo da hereditariedade, diagnóstico, e tratamento de doenças genéticas em animais provenientes de procriação consangüínea, porque as pessoas não são provenientes de procriação consangüínea a causa de seus problemas de doenças genéticas é fundamentalmente diferente. Certamente parece maravilhoso que uma enfermidade genética em uma criança possa ser corrigida graças á pesquisa extensiva em animais “modelos” genéticos. E alguns afirmam que isto é progresso – nosso jeito de se adaptar a um ambiente cada vez mais insalubre. Mas não é progresso quando nós causamos o sofrimento e procuramos meios de aliviá-lo ao invés de preveni-lo, limpando o ambiente para que menos crianças nasçam com danos genéticos enfermidades de desenvolvimento no metabolismo, imunidade e até função mental. Esta não é uma tarefa impossível. E o governo deveria reconhecê-la como a principal tarefa das autoridades médicas estabelecidas da pesquisa biomédica. Infelizmente, assim como muitas pesquisas de agricultura, a pesquisa biomédica mira o benefício da indústria, desenvolvendo serviços e “curas” comerciáveis, ao invés de visar o benefício da sociedade, desenvolvendo preventivos não orientados para o comércio, que estejam alinhados com tecnologias industriais e práticas de agricultura apropriadas e saudáveis. Isto é porque a maioria das pesquisas é financiada pela indústria e suportada ideologicamente por aqueles a quem falta visão ou consciência, ou quem está ávido por aclamação e lucro. Enquanto existem muitas áreas de exploração e sofrimento de animais de laboratório que deveriam ser proibidas, tais como testes de armas militares e estudos de queimaduras extensas, desde quando o consenso público aceitar o uso de animais para propósitos biomédicos essenciais, nós devemos aos animais, em nome da compaixão e da boa ciência, a garantia que eles serão tratados humanamente (analgésicos e tranqüilizantes sendo usados quando necessário) e mantidos em condições que lhes garantam acima de tudo seu bemestar físico e psicológico. Nem todos concordariam com Rudolph Bahro, filósofo líder do Movimento Verde Alemão, que afirma, “Nós não entendemos suficientemente o assunto [do terracídio – a destruição e a poluição do meio-ambiente/ecossistema planetário] se nós lidamos com os problemas com experimentos de animais primeiramente em termos de simpatia e respeito pela vida, mesmo que estes sentimentos apontem na direção correta. Nós nos prejudicaremos não só moralmente e espiritualmente, mas também fisicamente, se nós maltratamos os reinos animal e vegetal somente porque tememos as doenças e somos ávidos pela vida.” E, eu acrescentaria, que nós também nos prejudicamos quando não conseguimos ver a conexão entre as doenças humanas e o nosso mau trato com o meio-ambiente e com tudo que nele habita. Mas como Albert Schweitzer disse, “Sem um respeito por todo tipo de vida, nós nunca teremos uma paz mundial.” Nem teremos uma saúde mundial. Eu acredito que seja eticamente questionável e frequentemente uma ciência ruim rotineira e intencionalmente provocar doenças em animais em nome da pesquisa biomédica e do progresso. É ciência ruim porque modelos animais, artificialmente criados, de doenças humanas são geralmente inadequados e não fornecem uma figura completa , já que a maioria das doenças tem múltiplos fatores e causas. E é medicina ruim quando o foco inicial é o tratamento e não a prevenção: o primeiro medicamento é a prevenção. O sacrifício de animais em nome da ciência e do bem maior não pode continuar incontestado. Os animais de companhia sofrem de muitos problemas de saúde, tais como câncer, artrite, doenças auto-imunes e imuno supressas, e também distúrbios emocionais. Da informação acima poderíamos aprender a diagnosticar e tratar tais doenças nos animais e as análogas nos seres humanos. Isto iria criar um vínculo de cooperação muito maior entre as escolas veterinárias e médicas e os institutos de pesquisa.