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Ir Para O Site - Roteiro Brasília

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exposição com mais de 300 obras reconta a história da capital desde 1751 Ano XIV • nº 238 Abril de 2015 R$ 5,90 www.brb.com.br BRB Telebanco 61 3322 1515 SAC BRB 0800 648 6161 Ouvidoria 0800 642 1105 SAC/Ouvidoria PcD 0800 648 6162 Com traços ousados, autênticos e criativos, ela inspira quem a vê em um único olhar. Sabe ser monumental sem perder sua leveza. Simples, porém complexa. Essa é a nossa cidade. Todos os dias no CRU você pode conhecer a gastronomia criativa do chef Lui Veronese e aproveitar dos deliciosos menus. PASSEIO PASSEIO Criativo Completo 4 etapas 6 etapas 79,00 129,00 empoucaspalavras Mario Fontenelle Foi ou não foi uma sacada de mestre pedir ao presidente Juscelino Kubitschek que erguesse sua cartola como quem estivesse se despedindo da cidade que construiu, bem no dia de sua inauguração? O gesto, prontamente executado por JK, rendeu ao jovem fotógrafo Gervásio Baptista uma das fotos históricas que o agora veterano de 90 anos acumula em seu portfólio, construído ao longo de sete décadas. Pois não só Gervásio, como também Vladimir Carvalho e Nicolas Behr foram as figuras carimbadas de nossa cidade que escolhemos para homenagear neste 55º aniversário de Brasília. Apesar de não terem nascido aqui, os três figuram entre os melhores cronistas da cidade que escolheram para morar e amar, cada um com sua ferramenta de trabalho: a fotografia, o cinema e a poesia (leia a partir de página18). Na sequência, o leitor encontrará informações sobre a exposição Brasília 55 anos – da utopia à capital, que já passou por seis países, foi vista por mais de 250 mil pessoas e estará na Galeria Athos Bulcão entre 24 de abril e 31 de maio. Com um acervo de mais de 300 itens, entre maquetes, livros, obras de arte e projetos arquitetônicos, a exposição faz uma retrospectiva da saga da construção de Brasília, desde o longínquo 1.751, quando o Marquês de Pombal cogitou mudar a capital para o centro do país, até os dias de hoje (página 26). Recomendamos uma visita a outra exposição, Memórias femininas da construção de Brasília, que conta a história de 50 mulheres que chegaram por aqui entre 1956 e 1960 e relataram suas experiências à brasiliense Tânia Fontenele. Móveis de casas, escritórios e hospitais, utensílios domésticos, livros e revistas ambientam o espectador nessa volta ao túnel do tempo, até 30 de maio no Salão Negro do Congresso Nacional (página 28). Na programação de aniversário da cidade está também a peça Os fantasmas, com texto do dramaturgo paulista Otávio Martins escrito especialmente para Murilo Grossi, o ator brasiliense que alçou voo para palcos além-Brasília, mas nunca deixou de morar aqui. Com direção de outro brasiliense de coração, Hugo Rodas, a peça, que estreia nacionalmente no CCBB de Brasília, dia 17 de maio, faz uma homenagem ao ofício do ator a partir da reflexão sobre o que é realidade e o que é representação da realidade no palco (página 34). 18 brasília55 Exposição na Galeria Athos Bulcão reconta a história da criação de Brasília desde o Marquês de Pombal, em 1751. 7 10 12 13 14 15 29 30 34 águanaboca picadinho garfadas&goles pão&vinho doisespressoseaconta dia&noite galeriadearte graves&agudos queespetáculo Boa leitura e até maio. Maria Teresa Fernandes Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda. | Endereço SHIN QI 14 – Conjunto 2 – Casa 7 – Lago Norte – Brasília-DF – CEP 71.530-020 Endereço eletrônico [email protected] | Tel: 3203.3025 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Editora Maria Teresa Fernandes Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Capa André Sartorelli | Colaboradores Adriana Nasser, Alessandra Braz, Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Ana Vilela, Beth Almeida, Cláudio Ferreira, Eduardo Oliveira, Elaina Daher, Heitor Menezes, Júlia Viegas, Luana Brasil, Lúcia Leão, Luís Turiba, Luiz Recena, Mariza de Macedo-Soares, Melissa Luz, Pedro Brandt, Sérgio Moriconi, Silvestre Gorgulho, Súsan Faria, Vicente Sá, Vilany Kehrle | Fotografia Eduardo Oliveira, Fabrízio Morelo, Gadelha Neto, Marx Farias, Sérgio Amaral, Zé Nobre | Para anunciar 9988.5360 Impressão Editora Gráfica Ipiranga | Tiragem: 20.000 exemplares. 5 www.roteirobrasilia.com.br facebook.com/roteirobrasilia @roteirobrasilia águanaboca Renasce uma cantina Com novo nome, mas o mesmo chef, a Fortunello substitui a Sanfelice na 206 Sul Por Maria Teresa Fernandes N ada mais natural que o jovem chef venezuelano Miguel Ojeda, que trabalhou na Sanfelice desde o começo, recebesse das mãos de Míriam Carvalho o bastão da cantina italiana, rebatizada agora de Fortunello. Mas a mudança de mãos só foi possível com a entrada de duas novas sócias do chef: a jornalista Márcia Barbosa e a técnica em informática Luciene Kaipper. 6 Picanha in salso di pesto: receita ítalo-brasileira Com o brilho nos olhos de quem tem talento e crê no novo projeto, Miguel diz que vai continuar trabalhando com as massas artesanais Sanfelice, produzidas na loja de Míriam Carvalho, na Asa Norte, e manterá também o bufê de frios e antepastos que caiu no gosto dos brasilienses. E quais serão as novidades? – perguntam os clientes a Miguel. “Criei, para a Fortunello, um cardápio amplo e variado, que inclui filé, ave, pescado e frutos do mar”, explica. Para abrir o apetite, ele recomenda as bruschettas em três sabores: de tomates e manjericão (R$ 17, porção com duas, e R$ 28, com quatro), de presunto de Parma e mussarela de búfala ( R$ 28 e R$ 38) e de linguiça calabresa defumada com queijo gratinado (R$ 23 e R$ 35). A polenta, presença constante nas típicas casas italianas, ganhou versão nova e mais saudável. De acordo com a sócia Luciene Kaipper, a única parte da casa que decidiram reformar foi a cozinha. A reforma incluiu a compra de um forno combinado que concretizou um sonho do chef Miguel: eliminar as frituras de sua cozinha. O teste crucial para a com- pra do equipamento foi, justamente, a polenta assada no forno combinado, que é só borrifada com um pouco de azeite, para obter brilho, mas sai sequinha e crocante (R$ 14 a porção com sete). Entre os pratos principais, continuam reinando o polpetone (almôndega de 350g recheada com mussarela, gratinada com molho de tomate e mussarela e servida com risoto parmegiano, a R$ 57) e o tagliatelle ao sugo com almôndegas (R$ 52 a porção de 100g e R$ 82 a de 200g). Eles se somam às novas criações do chef venezuelano, como o nhoque à carbonara (R$ 37 a porção individual) e o fettuccine com camarões (R$ 75, individual, ou R$ 133, a porção dupla). Para os amantes da carne, o chef indica os tradicionais saltimboca alla romana (filé mignon recheado com presunto cru, parmesão e sálvia, grelhado e flambado no vinho branco) e filetto alla parmegiana (250g de filé empanado, gratinado com molho de tomate e mussarela, acompanhado de risoto piamontese), ambos por R$ 62. A novidade do menu, nesse quesito, é a picanha in salsa di pesto, uma bela mistura das culinárias brasi- Nhoque à carbonara: uma das novas criações do chef leira e italiana (300g de bife de tira de picanha ao molho pesto com batatas perfumadas e cebolas, a R$ 80). As sobremesas típicas da Sanfelice também permanecem na Fortunello: o tradicional tiramisú (R$ 25), a panna cotta, o semifredo mousse e o canolli recheado com maçã e canela (os três últimos por R$ 22). Todas elas são de autoria da chef pâtissier Patrícia Kaipper, filha de Luciene, que assume a parte de confeitaria da casa. Os pratos, em sua maioria, continuam tendo versões individual e dupla, para atender a todas as necessidades das famílias que frequentam as típicas cantinas italianas. Tanti auguri, Fortunello! Talharim com cogumelos Vida que segue “O 206 Sul – Bloco A (3297.3232). Domingo, das 12 às 18h; 2ª feira, das 12 às 16h; 3ª a sábado, das 12 às 16h e das 19 às 24h. Fotos: Divulgação Bruschetta de presunto de Parma e mussarela de búfala que já era C’est si Bon ficou ainda melhor”. A brincadeira do músico e cliente assíduo Túlio Borges, que mora nas proximidades da 408 Sul, é um forte indício do que esperar do C’est la Vie, novo empreendimento de Ricardo e Rodrigo Quintiliano, inaugurado em fevereiro no mesmo local onde eles tinham, em sociedade com o irmão e tio Sérgio Quintiliano, a creperia C’est si Bon. A partir do conceito “é a vida”, pai e filho repensaram o local em termos de espaço, filosofia de atendimento e serviços. O mote é que, além da experiência gastronômica, o público relaxe e aproveite cada momento de prazer proporcionado pelo agradável ambiente, que incentiva a convivência e a interação entre familiares e amigos. “A ideia é agregar cultura e qualidade de vida à gastronomia e trazer para o bistrô shows, rodas de conversa, palestras, mostras de filmes e exposições”, revela Rodrigo Quintiliano. O C’est la Vie é, antes de mais nada, um empreendimento familiar, resultado de 20 anos de experiência da família Quintiliano no ramo gastronômico (Sérgio segue tocando o C’est si Bon da Asa Norte e Madalena as duas unidades do Crêpe au Chocolat). Mas pretende surpreender o público com um cardápio va- C’est la Vie – Bistrô & Creperia 408 Sul – Bloco A (3244.6353). De domingo a 5ª feira, das 11h30 às 24h; 6ª e sábado, das 11h30 à 1h. Fotos: Raquel Pellicano Fortunello Ristorante Semifredo mousse com ganache de chocolates riado, que vai além de crepes que se tornaram uma tradição da família. Entre as novidades, um risoto preparado com mescla de rapadura, queijo coalho e ervilhas frescas, acompanhado de peito de frango gratinado ao molho de sementes de abóbora (R$ 30,80). Há também pratos com carne vermelha, massas e peixes (preços entre R$ 29 e R$ 39). Para o futuro, os proprietários prometem serviços especiais, como piqueniques na área verde, um bicicletário para incentivar o uso de meios alternativos de transporte e uma pequena horta com a participação da clientela. São propostas inovadoras que vale a pena conhecer e que caminham no rumo das novas tendências. Por Vicente Sá Galette Ratatouille 7 águanaboca Jabá no feijão com abacaxi, do Restaurante Nordestino Joelho de porco com geleia de abacaxi picante, do Bar do Amigão Porpetas do Silveira, do Armazém Silveira Fotos: Divulgaação Codorna com limão, do Bar da Codorna Divertida competição Por Beth Almeida Q 8 uinze anos depois de sua criação, em 2000, o concurso Comida di Buteco chega a Brasília envolvendo 20 bares tidos como “espontâneos” pelos organizadores. O evento surgiu na capital mineira e, após uma ampliação paulatina, hoje está presente em 20 cidades, com a participação de 500 estabelecimentos. Em Brasília, os participantes do concurso não estão restritos ao Plano Piloto, localizando-se também em Taguatinga, Águas Claras, Guará, Núcleo Bandeirante e Gama. Até o dia 3 de maio, os brasilienses poderão conhecer os petiscos criados pelas casas locais e atribuir notas aos concorrentes, avaliando não só o que comeram, mas também a temperatura da bebida (algo importante quando o assunto é boteco), o atendimento e a higiene do local. O público será responsável por metade da pontuação de cada bar, cabendo a um júri escolhido pelos organizadores o restante da avaliação. Como em todas as cidades participantes, os botequeiros locais foram desafiados a criar tira-gostos que contenham alguma fruta entre seus ingredientes. A maioria optou pelo uso das cítricas, especialmente em molhos, mas outros foram além e oferecem combinações como a Porpeta do Silveira, recheada com banana frita, do Armazém do Silveira, ou o Jabá no feijão com abacaxi, do Restaurante Nordestino, do Núcleo Bandeirante. Os organizadores da competição classificam como espontâneos os bares em que o proprietário está à frente do negócio (leia-se, diariamente atrás do balcão) e que, por isso, têm a cara do dono, que na maioria as vezes conta com a família para ajudar na lida. Os bares escolhidos também não podem fazer parte de redes ou serem franquias de marcas. O nome do dono estar na placa e o garçom conhecer os frequentadores pelos nomes também ajudam na seleção da casa. Seguindo esses critérios, os organizadores verificaram in loco as indicações vindas do site do concurso, de redes sociais, de matérias publicadas pela imprensa e também de pesquisa realizada pela equipe. Entre os escolhidos para esta primeira edição, velhos conhecidos dos brasilienses, como o Amigão, o Bar dos Cunhados e o Bar da Codorna. A lista completa dos participantes, com os petiscos do certame, estão disponíveis no site www.comidadibuteco.com.br. E para facilitar a vida dos botequeiros, o Comida di Buteco ainda fechou parceria com o aplicativo 99 Táxi, para oferecer 10% de desconto nas corridas de ida e volta durante todo o período do concurso. Se alguém ainda precisava de uma desculpa, taí. Comida di Buteco Até 3/5 em 20 botecos do Distrito Federal. Informações: www.comidadibuteco.com.br. Moderno sem perder a tradição Por Luiz Recena U Medalhão ao molho madeira com bacon, acompanhado de risoto de alho-poró e parmesão Fotos: Gustavo Gracindo ma asa tem as mesmas coisas que a outra. E sul e norte, cada uma, tem suas coisas diferentes. No fim, como em uma canção cubana, tudo “es lo mismo, pero no es igual”. Parecido e diferente, dialética sem síntese. Vai demorar para Brasília se criar por inteiro, se é que vai ocorrer um dia. Enquanto isso, um PF, um prato feito, faz a diferença. Um menu gourmet ou light também. E se tudo for saboroso e rápido, mas sem correria, ainda melhor, mesmo com outras opções em variados pontos do plano piloto. Jorjão era Asa Norte. Jorjão era Asa Sul. Hoje é uma estrela no firmamento celeste. Denise, Maria Paula, Lucas, Leonardo e Mauro são estrelas na terra, com uma tradição a manter. É o que estão fazendo no almoço do Armazém do Ferreira, da 202 Norte. Eis a novidade e a diferença. De terça a quinta, menu do dia, cardápio especial. Na sexta e no sábado, a tradicional e famosa feijoada encerra a escalação da semana. No menu do dia, são duas opções de salada e três de prato principal (R$ 34,90). No menu de todo dia, o PF é autoexplicável: “Como em todo bom boteco, não podíamos deixar de ter um delicioso PF em nosso cardápio. Escolha o grelhado de sua preferência”, diz a apresentação. Se boteco é um templo, tradição deve ser sagrada. No primeiro caso, nossas evidências apontaram para uma salada Waldorf, com maçã, passas, aipo e nozes sobre mix de folhas, seguida de contrafilé ao molho malbec, batatas assadas com sal grosso e alecrim e arroz primavera. Madame pediu nhoque. Com molho ao sugo, alho, manjericão e queijo parmesão. Simples assim, com cara e gosto de chamar atenção. No segundo grupo, cinco PFs. Variados, bovino, suíno (linguiça e bistequinha), frango e peixe, com acompanhamentos (R$ 29,90). Há opções de sobremesas. A cada 15 dias, novas sugestões no cardápio. Setor Comercial, Setor Hospitalar, Setor de Autarquias, Setor Bancário, Se- PF de contra-filé acompanhado de arroz, batatas fritas, farofa da casa e potinho de feijão tor de setores e pessoas. Tudo Sul. Asa completa, comerciais com restaurantes cerrando fileiras como um exército desfilando nas ruas, soldados ombro a ombro, cotovelo a cotovelo, comida quilo a quilo, bufês e balanças tudo-incluso-peso-preço se esparramando e apertando raras ilhas de comer à moda antiga. Ela, a moda antiga, perdeu. A Asa Norte começa a ser completada, com tudo o que tem direito. Mas pode errar menos. Já tem prédios inteligentes para sediar autarquias não tanto... Os bancos são novos e os juros, velhos e exorbitantes. O comércio de alimentação acompanha e oferece novas, interessantes propostas. O desafio: modernizar sem perder muito tempo jamais. Tradição com novidade e tempo certo para o consumo. Em 40 minutos, se quiser, você pode comer, pagar e ir embora. Se quiser passar mais tempo, a decisão é sua. Afinal, a tradição do boteco está mantida. O almoço é a boa novidade. Armazém do Ferreira 202 Norte – Bloco A (3327.0167) De 2ª a 5ª feira, das 12 às 15 e das 17h até o último cliente; 6ª e sábado, das 12h até o último cliente. 9 Brasil Sabor Bloco C, tel. 3349.0567) buscou inspiração para o novo prato de seu cardápio: esse carré de cordeiro com risoto de pêra (R$ 79,90), típico da culinária do Vêneto. A proprietária, Fernanda Bigonha, promete para os próximos meses outras receitas ítalo-nordestinas. Pizza Ravena? Felipe Menezes Uma centena de bares e restaurantes brasilienses já confirmaram sua participação no 10º Festival Brasil Sabor, de 14 a 31 de maio. “Há dez anos invadindo as ruas e celebrando o Brasil” foi o tema escolhido para esta edição do festival, que é promovido anualmente pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Os menus, compostos de prato principal mais entrada ou sobremesa, vão custar R$ 29, R$ 39 ou R$ 49. No país inteiro serão aproximadamente 700 participantes de 65 cidades. Em Brasília, as receitas deverão valorizar ingredientes típicos do Cerrado, no intuito de estimular pequenos produtores locais. “A ideia é promover a gastronomia local e socializar o acesso a toda a comunidade, com atividades de lazer e entretenimento”, explica Rodrigo Freire, presidente da AbraselDF. Simultaneamente será realizada, no amplo espaço da Torre de TV, a Feira Gastronômica Brasil Sabor, na qual produtos típicos do Cerrado serão vendidos diretamente pelos produtores. Massa integral Quem também aderiu de vez à alimentação saudável foi a Fratello Uno (103 Sul, Bloco A, tel. 3321.3213, e 109 Norte, Bloco D, tel. 3447.3360), cujos clientes podem optar agora pelas pizzas de massa integral, bem sequinhas e crocantes. O chef Dudu Camargo garante que recheios mais leves, doces ou salgados, combinam muito bem com esse tipo de massa, feita com farinha integral italiana: “Os ingredientes frescos, como manjericão e alcachofra, têm um sabor bem mais acentuado com a massa integral. Engana-se quem acha que, por ser mais natural, a pizza perde o sabor. Ao contrário, os recheios podem ser bem degustados e pode-se sentir o sabor de cada item que compõe a pizza”. Uma das estrelas do cardápio é a pizza Da Flor (foto), que leva pomodori pelati, coração e fundo de alcachofra refogada com ervas frescas, alho e vinho branco, queijo ementhal e lascas de presunto de Parma (R$ 43,90 a individual, R$ 50,90 a média e R$ 57,90 a grande). Divulgação Felipe Menezes picadinho Very happy hour O belo pôr do sol é de graça. Como se não bastasse, o Café Antiquário, do Pontão do Lago Sul (tel. 3248.7755), resolveu tornar ainda mais atrativa sua happy hour, baixando os preços de bebidas e tira-gostos. Agora, a tapioquinha gratinada com grana padano custa R$ 14,90; os pastéis de carne ou queijo minas, dez unidades por R$ 19,90; o pastel de camarão, dez unidades por R$ 24,90; o balde com cinco cervejas Heineken, R$ 25; as caipiroska com Smirnoff de limão ou abacaxi, R$ 9,90; de morango, kiwi, lichia e lima da pérsia, R$ 12,90. Nordestino italiano O baião-de-dois, o escondidinho, o vatapá e tantos outros pratos típicos do nordeste brasileiro figuram, com certeza, entre as preferências nacionais. Mas foi no nordeste da Itália que o Bazzo Ristorante (413 Norte, Isso mesmo. A famosa dieta do Dr. Máximo Ravena acaba de ser adotada por uma das mais tradicionais pizzarias da cidade, a Santa Pizza (207 Sul, Bloco B, tel. 3244.1415). “Criamos um cardápio com ingredientes de baixo índice glicêmico, parte de uma dieta hipocalórica. Nele, todas as pizzas são produzidas com farinha de chia”, explica a proprietária, Fernanda Neiva. Os adeptos da dieta podem pedir pizzas individuais, entradas e sobremesas. Entre as individuais estão a vegetariana, com abobrinha, berinjela, tomate e basílico (R$ 27,80), a de tomate seco e rúcula (R$ 30,20), a de alcachofra com alichi e basílico (R$ 35,70) e a de berinjela assada na brasa, com tomate picado e orégano fresco (R$ 29,20). Para a entrada, as opções são os caldos de berinjela e pupunha na lenha (ambos por R$ 8,60) e para a sobremesa frutas (R$ 5,40) e pizza de banana (R$ 12). Menu de R$ 55 Empata com a idade Brasília o preço do menu especial servido este mês, em homenagem ao aniversário da cidade, pelo BSB Grill (304 Divulgação Muita gente que viaja de carro de Brasília para São Paulo faz questão de uma parada estratégica em Ribeirão Preto, por um único motivo: tomar um chope gelado no Pinguim. Pois não há mais necessidade: desde o dia 20 de março, temos uma filial da famosa choperia no Espaço Gourmet do ParkShopping, ocupando os 400 m² onde funcionou, até o ano passado, o Antiquarius Grill. O chope Antárctica, encontrado em raríssimos bares do país, é servido na tulipa (R$ 7,20) ou na caneca (R$ 7,70), em suas inúmeras versões – claro, escuro e misturas dos dois. Para acompanhar o chope, sanduíches, pizzas, grelhados e tábuas de frios. Fundada em 1936, a Pinguim passa a contar agora com cinco unidades – além dessa, três em Ribeirão Preto e uma em Belo Horizonte. 10 Divulgação Pinguim Norte, Bloco B, tel. 3326.0976, e 413 Sul, Bloco D, tel. 3326.0976). De entrada, salada Juliana (alface americana, cenoura ralada, palmito picado, tomate, cebola, queijo parmesão e molho à base de maionese e mostarda). Em seguida, esse suculento T-Bone de 500 gramas acompanhado de arroz com brócolis, batata frita e farofa de ovos. Boa Lembrança Felipe Menezes Davi Fernandes de Freitas Thomas Em mais uma jornada gastronômica memorável, na noite de 24 de março, três restaurantes brasilienses, mais o Montserrat, de Pirenópolis, apresentaram à imprensa especializada sua versão 2015 do Prato da Boa Lembrança. Dom Francisco (402 Sul, Bloco B, tel. 3224.1634): Bacalhau no Cartoccio – lombo de bacalhau envolto em papel manteiga, acompanhado de brócolis e batatas (R$ 135). Oliver (Clube de Golfe, SCES, tel. 3323.5961): Carré Machu Picchu – corte francês de cordeiro ao molho de alecrim, servido com risoto de quinoa, milho e batata doce, ingredientes típicos da gastronomia peruana (R$ 96). Villa Tevere, o anfitrião da noite (115 Sul, Bloco A, tel. 3345.5513): Filleto del Capo – filé mignon com crosta cremosa de gorgonzola e azeite trufado, acompanhado de gnocchi com cappuccino de cogumelos selvagens e gruyère (R$ 93,50). Montserrat (Rua Ramalhuda, 11, Pirenópolis, tel. 9240.0935): Bacalhau ao Pil Pil com três pestos – tradicional receita do pescado, servida com uma emulsão de azeite banhado com o molho italiano (preço não definido) Ainda vai lançar seu prato deste ano o Kojima (406 Sul, Bloco C, tel. 3443.0118). Recheios especiais Divulgação Rede especializada em rolinhos primavera, a SpringNow (105 Sul, Bloco C, tel. 3242.4068) ainda não completou um ano em Brasília mas fez questão de entrar no clima de aniversário. Como? Convidando cinco chefs brasilienses para criar novos recheios de rolinhos que retratassem a diversidade gastronômica da capital – Lídia Nasser, do Empório Árabe, David Lechtig, do El Paso Cocina Mexicana, Alexandre Albanese, do Nossa Cozinha Bistrô, Renata Carvalho, do Loca Como Tu Madre e Ancho Bistrô de Fogo, e Mara Alcamim, do Universal Diner, todos reunidos na foto abaixo. Alguns dos novos recheios levam ingredientes típicos do cerrado, como a castanha de baru e a cagaita. Os cinco rolinhos comemorativos custarão R$ 7,90 a unidade. Felipe Menezes Só para elas Além de curtir o clima praiano, bem descontraído, e a bela vista da cidade, as frequentadoras do Liv Lounge (SHTN, Trecho 2, Condomínio Life Resort, tel. 3526.9921) têm um motivo a mais para relaxar na happy hour de terça a sexta-feira: dose dupla de espumantes e drinks, entre eles o Mojito Royal (R$ 22), o Cosmopolitan Diego Koppe Criatividade Atendem pelos nomes de “passeio criativo” e “passeio completo” os dois novos menus criados pelo chef Lui Veronese, do restaurante Cru (Clube de Golfe, tel. 3323.5961), em que faz uma releitura da cozinha peruana-japonesa. O primeiro, mais leve, é servido em quatro etapas: ostras, carpaccio, tartar e ceviches e tiraditos. Custa R$ 79. O segundo tem duas etapas a mais: pratos quentes (entre eles o Blac Cod, peixe da alta gastronomia vindo das águas profundas do Alasca, servido com bolo desidratado de shoyu, e o sashimi quente de Wagyu da foto abaixo) e sobremesas (carpaccio de abacaxi infusionado com crumble e creme de limão, caviar de morangos, flores de lichia com calda de rosas, gelatina de hibisco, creme de chantilly e sorbet de limão). Esse custa R$ 129. Tem almoço no Babel Raphael Vieira Rener Oliveira Champanhe (R$ 24) e as caipifrutas de morango, uva, kiwi e abacaxi, com cachaça (R$ 16), vodka nacional (R$ 18), vodka importada (R$ 22) ou saquê (R$ 18). Bacalhau cozido no sous-vide com molho de pesto acompanhado de legumes no vapor (R$ 42,90), cubos de filé acebolado servidos com arroz branco, feijão e farofa (R$ 38,90) e frango cozido a baixa temperatura com ervas e legumes na manteiga (R$ 32,90) são alguns dos pratos do menu executivo do Babel (215 Sul, Bloco A, tel. 3345.6043), que desde 23 de março funciona também no almoço. 11 GARFADAS & GOLES Luiz Recena [email protected] Tristes memórias de gostos bons - Agnus Dei qui tolli pecata mundi! (Cordeiro de Deus que tirai os pecados do mundo!) - Ora pro nobis! (Orai – e rogai – por nós!) A ladainha seguia sempre puxada pelo padre. A nós, sacristão, coroinhas, beatas e fiéis de todos os calibres, cabia responder no maior capricho possível, afinal, se o latim perdera a importância nos países que cultivavam as flores do Lácio, pelo menos ainda reinava absoluto na liturgia católica. O santo João 23 não revolucionara os currais dos seus rebanhos. O Concílio Vaticano Segundo e a missa nos idiomas de cada país só viriam depois. Os Kiries e Kristies ainda eram absolutos “ad altare Dei”. E nos altares de Deus, diga-se a bem da verdade, já não se sacrificavam cordeirinhos. Isso cabia a nós, pecadores, agora recém-redimidos de nossas falhas pela ressurreição do Cristo. O domingo era nosso e os cordeiros também. O melhor era o “mamão”, mais novinho, ainda cheirando a filhote, a leite. Tenro, se desmanchando na boca e provocando inevitável comparação religiosa: uma “hóstia”. As beatas se persignavam. E pediam mais uma costelinha... Das sacristias às cozinhas As missas pascais corriam soltas na igrejinha perto da ponte sobre o Rio Uruguai. Não menos frenético era o ritmo nas cozinhas das casas do final da Rua Duque de Caxias. A “baixada” era famosa, cantada pelos seus sabores, elogiada pela qualidade de sua gente e às vezes temida pelo, digamos, carinhoso linguajar com que seus moradores brindavam os que provocavam ou ofendiam os nativos. “Do peito pra baixo é canela”, ensinava um veterano zagueiro da rua. O parâmetro servia para tudo. Pascoalinas e doces A torta pascoalina, campeã absoluta: massa folhada fina, com recheio básico de arroz, acelga e ovo cozido, com permissão para algumas variações como miolos bovinos e outras iguarias transportadas de antigos fins de tempos europeus para novos fins de tempos e de mundos, em outras bandas de rios e mares oceanos. Permissão para doces? Concedida com louvor! O açúcar ainda não era o vilão e as galinhas eram estranhos seres que viviam por perto, comiam bem e botavam ovos. Algumas tinham até nomes e provocavam rios de lágrimas quando descobertas nas panelas, viradas em comida. As vacas davam leite gordo e tudo isso dava bolo, torta, ambrosia, pastéis, doce de leite. E ainda falta a lista do que se podia comprar, dependendo das oscilações da moeda. Peso versus cruzeiro, êta parada dura! Só a batatada (marrom glacê), a compota de pêssego e os alfajores eram obrigatórios. Ufa! Memória alongada de pura saudade. Até o berro aproveitado Azáfama gastronômica dominada pelas carnes, ovinas de preferência. Espaço também havia para os grandes peixes de rio (surubim, dourado, traíra, piava, patí etc) e o clássico bacalhau carregado de tradições e receitas lusitanas. Massas para agradar italianos que atravessaram o Rio da Prata para enfrentar e acalmar nostalgias amorosas e/ou revolucionárias na solidão pampeana. Mas quem mandava era o cordeiro: carne para comer, sangue para guisar, ossos para as tropinhas de brincadeira, pelegos para o frio. E até o berro, ou balido, diziam, era guardado em vidros que seriam abertos nas noites frias para assustar e acalmar a gurizada “maleva”. Então é isso Não dá mais para tudo, mas o cordeiro foi homenageado. Aleluia! Cada páscoa é saudade mais velha, detalhe de sabor esquecido, trago amargo e vigiado. Gostos ficam na memória e não se repetem. Só doem. Ajuda a passar o tempo, essa ampulheta virada que lembra nomes de fantasmas, sopra as brasas das sombras do passado. E reaviva o gosto doce de pratos e beijos imaginários. Massagem fisioterápica e linfática, tratamento complementar de celulite e obesidade. Técnica japonesa. 12 Mariinha, profissional com mais de 40 anos de experiência. 910 Sul, Mix Park Sul, Bloco I sala 18. Tel.: 3242.8084 PÃO & VINHO ALEXANDRE FRANCO [email protected] Cores e aromas da Provence Mais uma vez “em campo”, diretamente do coração da Provence, volto ao leitor para lhe trazer um pouco do que por aqui vi e provei. A região, para quem não conhece, é linda, no sudeste da França, incorporando uma área que se inicia ao sul do Rhône, próximo a Avignon, onde me encontro hospedado, e a famosa Chateauneuf-du-Pape, logo aqui ao lado, até áreas fronteiriças com a Itália, onde a Riviera francesa e a italiana se abraçam. Optei por ficar baseado em Avignon por ser uma cidade turística, cujo centro se encontra entre muros medievais que abrigam o palácio dos papas que cá reinaram quando do cisma do Papado no Século XIV, e principalmente por estar muito próxima ao que considero a principal atração vínica da região: o berço dos famosos e deliciosos vinhos de Chateauneuf-du-Pape. Aliás, em minha opinião, a Provence, além da beleza natural, nos traz de imperdível suas ervas e temperos, incluindo fantásticas misturas de “flor-de-sal” (na bagagem já levo uma trufada que é simplesmente sensacional), seus muitos e deliciosos aromas, principalmente os das lindas plantações de lavanda e dois tipos de vinhos: os rosés, em minha opinião indiscutivelmente os melhores do mundo, e especificamente os tintos de Chateauneuf. De pronto, logo no primeiro dia, visitamos o litoral. Na verdade, uma das maiores e, segundo sua fama, a mais violenta cidade da França, Marselha. A cidade é grande para os padrões europeus, mistura o antigo com o moderno, mas sua vista para o mar, especialmente na entrada do seu Vieux Port, dominado por fortalezas em ambos os lados e um incontável número de veleiros atracados em suas docas, é deslumbrante. Suas margens são cobertas por restaurantes pitorescos, num dos quais pudemos nos sentar ao sol e saborear uma Boulabaisse Royal que fiz acompanhar por um dos grandes rosés da região, o Miraval, um Côtes de Provence de estirpe e, diria até, holywoodiano já que se trata de propriedade de Angelina Jolie e Brad Pitt em uma parceria vínica com os principais produtores destas bandas, a família Perrin. De cor rósea linda, aromas a rosas e morangos, boca muito fresca, de boa acidez e leveza típica, vai com os frutos-do-mar como poucas outras opções seriam capazes. O meu, da safra de 2014, estava excelente. Mas falemos um pouco do que mais interessa, antes que este espaço acabe: Chateauneuf-du-Pape. Uma área de pouco mais de 3 mil hectares, às margens do grande Rio Rhône, já na sua parte sul, que produz mais vinho do que em toda a região setentrional do Rhône junta. Terroir onde se permite a utilização e o corte de 13 diferentes castas, das quais sobressaem a Grenache, a Mourvedre e a Syrah. São mais de três centenas de produtores nessa “Apelação”, que, além de ser a única da França capaz de se contrapor as onipotentes Bordeaux e Borgonha em importância, fama e qualidade, é também a que deu origem, no início do século passado, ao sistema de “Apelação Controlada” responsável pelo grande avanço da qualidade do vinho francês nos últimos 100 anos. Foram muitos os vinhos que pude degustar, de forma que, obrigado a uma escolha, elegi para aqui comentar dois deles que, em minha opinião, são os melhores de todos: o Château de Beaucastel e o Vieux Telegraphe. O Beaucastel 2009 inclui todas as 13 variedades de uvas permitidas, mas com predominância absoluta da Grenache, da Mourvedre e da Syrah. De vermelho rubi brilhante, embora ainda muito jovem, já demonstra se tratar de um legítimo Beaucastel, com aromas complexos e elegantes que trazem frutas negras, trufas, especiarias e um toque de chocolate. Na boca é sensual, leve, mas marcante, saboroso e muito gastronômico. Sem dúvida, um dos grandes. O Vieux Telegraphe, também 2009, talvez o mais emblemático dos vinhos dessa “Apelação”, recebeu 92 pontos de Parker e 96 da Wine Spectator. Embora ainda muito jovem, já se mostra um grande vinho, com cor rubi intensa e reflexos púrpuras, com notas adoráveis de figos, além de ameixas e alcaçuz. Na boca é mais que tudo doce, de bom corpo e final longo. Excelente. 13 DOIS ESPRESSOS E A CONTA cláudio ferreira [email protected] No escuro, não! Míopes frequentadores de bares e restaurantes: uni-vos! Está cada vez mais difícil ler cardápios por causa das novidades na iluminação dos ambientes. As inovações, estou convicto, melhoram o visual dos estabelecimentos, combinam com móveis e utensílios, mas prejudicam cada vez mais quem tem dificuldade de enxergar. Com o envelhecimento da população – resultado da melhoria de alguns quesitos que se traduzem em qualidade de vida – esse contingente está aumentando. Odeio essa tal de luz indireta. É chique? É. Mas não ilumina nada. E as lâmpadas que ficam no teto dos locais com pé direito mais alto? Não ajudam muito. E as velas que substituem lâmpadas na iluminação de alguns restaurantes? Não clareiam. Em nome de um ambiente cool, romântico, aconchegante, muitas vezes os estabelecimentos puxam pela nossa visão. Tanto que já há estabelecimentos fornecendo lanterninhas para quem precisa ler o cardápio nos locais mais escuros. Quem tem celulares mais poderosos também se dá bem, pois com a lanterna é possível ver até a marca do prato. Mas quando se une letras pequenas e pouca luz, aí escolher o que comer vira uma verdadeira aventura. Quando o ambiente é muito escuro, até comer fica difícil. Não é estranho receber um prato e não conseguir enxergar direito os ingredientes? Pode ser até excitante para alguns, mas eu, particularmente, gosto de ver o que estou comendo. Se é verdade que a gente também come com os olhos, então alguns bares e restaurantes estão me tirando um pouco desse prazer. A iluminação, é verdade, está inserida no contexto da ambientação do estabelecimento. E, nesse quesito, tenho 14 mais uma observação: o espaço entre as mesas está diminuindo cada vez mais. Em muitos locais, perdemos totalmente a privacidade. Uma espreguiçada mais exagerada e – pumba! – podemos acertar o vizinho de mesa. Como não nos espreguiçamos a toda hora, não é um problema tão grave. Pior é ficar ouvindo a conversa do vizinho de mesa. E nesta era de superexposição, as pessoas não se furtam a falar, em bares e restaurantes, de suas intimidades, com detalhes sórdidos; as fofocas vêm sempre com os “nomes dos bois” e as conversas no celular geralmente extrapolam os decibéis do bom senso. Os mesmos decibéis que muitas crianças insistem também em extrapolar, bem na mesa ao lado, continuamente, durante toda a refeição, e às vezes, infelizmente, contando com o apoio de toda a família. Um espaço regulamentar entre as mesas seria altamente recomendável. Sei que espaço é uma palavra difícil em Brasília, porque as entrequadras são planejadas, as lojas são pequenas e mesmo quem utiliza a área pública para colocar mesas não tem muitas opções. Mas não é melhor, às vezes, ter menos mesas e deixar clientes e garçons mais confortáveis? Sim, porque às vezes os garçons têm que ser faquires para saracotear na brecha entre as mesas, munidos de bandejas cheias e concentração. Para os clientes, ir ao banheiro pode representar esforço hercúleo. Deixo claro que respeito o trabalho de arquitetos em adequar móveis e objetos a espaços determinados; mas, além da parte estética, é importante pegar emprestada uma palavra da Informática: usabilidade. O melhor ambiente, assim, é aquele que a gente usa melhor. Dafne Capella dia&noite terceiraguerra Dois soldados inimigos se encontram no front, mas não podem se atacar porque estão sem munição. Uma voz no autofalante monitora os dois diuturnamente para que não se tornem amigos durante essa trégua que acontece numa hipotética Terceira Guerra Mundial. É assim a peça O campo de batalha, segundo texto do baiano Aldri Anunciação, que estreou como autor em Namíbia, não! obtendo o Prêmio Braskem (2011) e o Prêmio Jabuti de Literatura (2013). A peça, em cartaz no CCBB até 17 de maio, marca o encontro de três baianos: Aldri, o diretor Márcio Meirelles e Lázaro Ramos, na codireção. De acordo com o dramaturgo, a peça “é uma brincadeira, uma crítica, uma proposta para a gente se aproximar cada vez mais dos nossos inimigos institucionalizados para entender se realmente são inimigos ou se isso vem de uma manipulação”. Aldri também atua no espetáculo, dividindo o palco com o carioca Rodrigo dos Santos, com intervenções gravadas da atriz Fernanda Torres, a voz da guerra. A peça já esteve em cartaz em São Paulo e seguirá depois para os CCBBs do Rio e de Belo Horizonte. De quarta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Informações: 3108.7600. foradonormal Telemarketing, avião e tecnologia em banheiros. Qualquer tema, por mais prosaico que seja, vira humor no stand-up de Fábio Porchat, que estará em Brasília para apresentação única no dia 30 de abril, às 20 horas, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ele se divide entre TV, teatro, cinema e internet e, nesse espetáculo, faz um solo de stand-up com observações bem humoradas sobre situações do nosso dia a dia. Claro que sempre com um olhar crítico do humorista. Ingressos entre R$ 40 e R$ 100. Divulgação direitodematar Dez pessoas se reúnem para um jantar. A décima primeira pode ser Hitchcock. Elas estão no Teatro Goldoni (EQS 208/209) e o anfitrião é Alexandre Ribondi, diretor de Um jantar com Hitchcock, peça baseada num filme que foi baseado numa peça e que, por sua vez, foi baseada na vida real. Em cartaz até 26 de abril, é inspirada na história verídica de dois jovens norte-americanos da alta classe média que, em 1920, decidiram cometer o crime perfeito. Escolheram uma pessoa ao acaso e a mataram. Esse assassinato foi contado na peça Rope, de Patrick Hamilton e, em 1948, Alfred Hitchcock fez o filme Festim diabólico, que se tornou um ícone do suspense no cinema. Em 2009, Alexandre Ribondi juntou o fato real com a peça e o filme e criou a versão agora em cartaz. Nela, dois jovens universitários matam um amigo por considerarem que, como pessoas superiores, têm o direito de matar um inferior sem serem punidos pela lei. A intenção de Ribondi é discutir o cenário frequente de assassinatos de pessoas humildes que ficam sem punição: “Matar uma pessoa de classe social inferior não é grave?”, pergunta. Dez atores em cena tocam nessa ferida ao contar a história tensa, ágil e dinâmica. Sextas e sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 40 e R$ 20. pacientedeFreud Diego Bressani Divulgação Está de volta ao palco o espetáculo Camélia, uma montagem do texto Camélia – o que há de mais gracioso, de Ronaldo Ventura, vencedor da sexta edição do projeto Seleção Brasil em Cena, do CCBB. Conta a história de uma mulher que fugiu do nazismo, correu o mundo e amou intensamente. Amor que a fez entrar para a história sob o pseudônimo de Sidonie Csillag, a primeira paciente homossexual de Freud. Seu caso foi decisivo para constatar que homossexualidade é uma condição humana e não uma doença. O fascínio da história de Sidonie não se restringe à relação com Freud, mas ao fato de a mulher ter vivido 100 anos e ter buscado o amor até o fim de seus dias. Com direção de Luana Proença, a peça tem no elenco Cíntia Portella, Luana Proença, Marcelo Nenevê, Rodolfo Godoi, Suelem Araújo, Tainá Palitot e Tati Ramos. Dias 17, 18 e 19, no Teatro Garagem (913 Sul), às 20h, com ingressos a R$ 40 e R$ 20. Dias 24, 25 e 26, no Teatro Paulo Autran (Taguatinga), com ingressos a R$10 e R$ 5. 15 Divulgação dia&noite pretagil A cantora foi convidada para inaugurar o Chá da Alice, uma festa badalada do Rio de Janeiro que chega a Brasília no dia 25 de abril. A partir das 22h30 do sábado, Preta Gil, seus músicos e bailarinos estarão no palco do Net Live Brasília (SHTN, Trecho 2) devidamente ambientado com o tema da festa: Alice no país das maravilhas, o clássico de Lewis Carrol. Assim como no Rio, o público de Brasília será recebido pelos personagens Rainha de Copas, Coelho, Gato Risonho, Chapeleiro Maluco e Alice. O ator Pedro Nercessian também virá animar a festa, que terá pista principal com música brasileira e pop e uma segunda pista de house, sob o comando de Pablo Almeida e Thiago Araujo, DJs residentes do Chá no Rio, além de Ricardo Lucas e dos DJs Mutti e Dani Santos. Ingressos entre R$ 20 e R$ 90, à venda no Brasília Shopping. 16 A montagem foi feita especialmente para marcar os 55 anos de Brasília. De 20 a 23 de abril, às 19h, estará em cartaz na Sala Plínio Marcos, da Funarte, Assim são tod@s, uma ópera do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756/1791) adaptada para os dias atuais e com personagens da cidade. Dois grupos de cantores e atores brasilienses se revezam nas apresentações, entre eles Janette Dornellas, diretora geral do espetáculo, Maria Schramm, Hugo Lemos, Jean Nardoto, Hermógenes Correia e Renata Dourado. Inspirada na ópera Cosìfantutte, tem como personagem principal seu Afonso, um homossexual de meia idade dono de um café que tem como público pessoas de todas as tribos e gerações. Entre elas estão as irmãs Flor de Liz, patricinha e concurseira profissional, e Isabela, que vive na academia e é ligada a cuidados estéticos de maneira excêntrica. Elas namoram dois rapazes bem diferentes, que acabam se tornado amigos: Guilherme, um típico cowboy de Goiânia, e Fernando, um autêntico adorador do mundo eletrônico e de tecnologia. Com a ajuda de sua funcionária Cristina, uma estudante da UnB que curte rock, Seu Afonso arma um grande plano e faz de tudo para provar a teoria de que ninguém é fiel. A ópera pop terá entrada franca no dia da estreia e custará R$ 10 a meia-entrada nos dias seguintes. Classificação indicativa: 12 anos. Divulgação óperapop Sua vida e carreira já foram contadas em cinema. Agora, um musical homenageia o compositor e cantor Gonzaguinha (1945/1991). Depois de temporadas em Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e São Luís, o espetáculo O eterno aprendiz chega à cidade para duas apresentações, dias 25 e 26 de abril, no Teatro Unip (913 Sul). No palco, o ator Rogério Silvestre encarna o artista, interpretando um texto poético que passeia por momentos marcantes da vida do cantor, como os embates com a ditadura militar e a relação conflituosa com o pai, o rei do Baião, Gonzagão. Intercalada à dramaturgia, são interpretadas 16 canções de Gonzaguinha, entre elas Explode coração, Recado, Começaria tudo outra vez e Moleque. Nos vocais se revezam Bruna Moraes e Paulo Francisco (Tutuca), que carrega sua filiação musical não apenas no timbre semelhante ao do homenageado, mas também pelo fato de seu pai, o guitarrista Fredera, e tio, o pianista Wagner Tiso, terem acompanhado Gonzaguinha nos palcos. Participam ainda os instrumentistas Rafael Toledo, Omar Fontes, Peter Mesquita, Alcione Ziolkowski e Buga. Sábado e domingo, às 21h, com ingressos a R$ 100 e R$ 50, à venda nas lojas Cia. Toy e Belini Pães e Gastronomia (113 Sul). maisfelizdavida Esse é o nome do segundo disco da Banda Mais Bonita da Cidade, que volta a Brasília para se apresentar no Clube Previ (712/912 Sul), dia 24 de abril. Nascida da vontade de reinterpretar as canções que amava, a banda viu sua carreira tomar proporções inesperadas em 2011, após publicar na internet seu vídeo Oração, um dos mais vistos em todo o mundo, e gravou seu primeiro disco pelo sistema de crowdfunding, ou seja, financiamento coletivo.Em 2015, lançou seu primeiro DVD (gravado de forma totalmente independente) e está percorrendo sete países em mais de 200 shows. A abertura será com Tiago Rocha e Banda, a partir das 20h. Ingressos a R$ 60 e R$ 30, à venda na secretaria do clube (3878.7100) e em loja.com (307 Sul). Informações: 9550.2192. Divulgação Divulgação eternoaprendiz Alice Sittig arteterapia Das 15 mil crianças do campo de concentração de Theresienstadt, apenas 93 conseguiram se salvar. Eram os terríveis tempos da ocupação nazista na antiga Checoslováquia e as sobreviventes, de 12 a 14 anos, moravam juntas no mesmo quarto, o 28. Apesar da situação miserável, as meninas puderam ter contato com professores, compositores e artistas também prisioneiros do campo e judeus que tentavam minimizar o sofrimento com atividades que as ajudariam a acreditar que aquela difícil situação seria transitória. Nesse grupo de adultos determinado a proteger as crianças estava a artista plástica Friedl Dicker Brandeis que, deportada para Theresienstadt em 1942, levou poucos pertences pessoais e muitos materiais artísticos nas suas duas malas. Friedl percebeu que a arte poderia ser uma importante ferramenta terapêutica para ajudar as crianças a superar as adversidades e a lidarem com os terríveis sentimentos de perda, medo e incerteza. Ela contava histórias e pedia que as crianças fizessem ilustrações. Como o objetivo era estimular a esperança naquele lugar, as narrativas eram sobre assuntos diversos e serviam como distração para tirá-las um pouco daquela triste realidade, tanto que as imagens não remetem em nada ao terror que elas vivenciavam. Alguns desses desenhos estão na mostra As meninas do quarto 28, em cartaz até dia 26 no Museu da República. Esta lá, também, réplica do quarto onde as meninas viveram e conviveram com o onipresente medo da morte. De terça-feira a domingo, das 9 às 18h30, entrada franca. Divulgação olhararquitetônico Os trabalhos dos fotógrafos Marcio Vianna (foto), Joanes Rocha, Lilian Neves, Ilda Kenia, J BrandHaus, Martin Garcia, Melissa Dória, Priscilla Maciel, Sergio Riguetti, Lilian Simões, Ricardo Lucas e Paulo Mateusz estão na mostra Memórias – um olhar arquitetônico de patrimônios mundiais, até 29 de abril no Espaço Cultural STJ. A mostra contém fotografias do grupo formado por professores e alunos de um curso de Arquitetura e Urbanismo, a partir de suas viagens pelo Brasil e pelo mundo. Com curadoria do fotógrafo e arquiteto Márcio Vianna, a mostra é dividida em duas seções, que apresentam as fotografias selecionadas desse fotógrafo e de seus colegas e uma série de “cartemas”, criados por Márcio a partir das mesmas fotografias. Cartemas são criações artísticas produzidas a partir de um módulo fotográfico que se repete de forma criativa, plasticamente rica e por vezes inusitada. De segunda a sexta-feira, das 9 às 19h, com entrada franca. Informações: 3319.8594. filmelivre ¡bailame! Divulgação Cerca de 55 mil pessoas já assistiram a mais de três mil filmes nacionais, entre curtas, médias e longas-metragens, nas 13 edições anteriores da Mostra do Filme Livre. Está no ar, até dia 27, a 14ª edição do festival que começou no Rio e depois segue para São Paulo e Belo Horizonte com produções de todos os gêneros e uma característica: fugir do lugar comum narrativo, estético e em seus modelos de produção. Entre os destaques estão Batguano, a ser exibido dia 24 (sexta), às 20h, que conta a história de Batman e Robin, um casal gay em futuro apocalíptico; e Araca, curta que passa dia 27, às 18h30, sobre a sambista Aracy de Almeida, jurada implacável dos programas de auditório. No cinema do CCBB, com programação a ser conferida em http://mostradofilmelivre. com/15/agenda.php. Entrada franca, com senhas distribuídas na bilheteria uma hora antes do início de cada sessão. André Gonzales, vocalista da Banda Móveis Coloniais de Acaju, é também, a partir de agora, o maestro da Sr. Gonzales Serenata Orquestra. Constante frequentador dos espaços dançantes da cidade, o músico pilota um projeto musical que vai fazer todas as gerações participarem de um baile à moda antiga. O primeiro ¡Bailame! será dia 26 de abril, às 16h, no Clube Previ (712/912 Sul) de abril. O local foi escolhido por abrigar uma das serestas mais antigas do Brasil, que acontece todas as sextas-feiras, há quarenta anos. Na balada dançante, o quarteto chefiado por Sr. Gonzales impõe apenas uma condição: bailar a dois valsa, bolero, salsa, soltinho, samba de gafieira, forró e baião. Esdras Nogueira (sax, flauta e maracas), Fernando Jatobá (guitarra, baixo e bongo) e Dr. Dreher (teclados, vibrafone e sintetizadores) são os integrantes do novo grupo. Os DJs Pezão (Criolina) e Dr. Dreher ficarão por conta do som no intervalo do show. Desde clássicos da Era do Rádio até releituras de canções inusitadas serão o pano de fundo de uma festa onde netos e avós, pais e filhos poderão viver o passado no momento presente. Ingressos antecipados a R$ 30 e R$ 40 na hora do baile. Para maiores de 60 anos, R$ 50 o par de ingressos antecipados e R$ 70 na hora. À venda no Pinella (408 Norte), Bendito Suco (413 Norte), Loca Como Tu Madre (306 Sul) e na secretaria do clube. Informações : 8329.5596. 17 brasília55 Sérgio Amaral Três histórias de 18 amor correspondido A cada ano, quando chega o mês de abril, somos desafiados a produzir uma edição que de alguma forma homenageie a cidade por mais um aniversário. Este ano, resolvemos fazer diferente: nossa homenagem vai para três personagens que, cada qual a seu modo, testemunharam e documentaram boa parte dos 55 anos da capital do país. Um é o fotógrafo Gervásio Baptista, que rodou o mundo, cobriu guerras e registrou com sua Rolleiflex os principais acontecimentos políticos do Brasil nos últimos 70 anos, começando pela era Vargas, passando pela inauguração de Brasília, a agonia de Tancredo Neves e as três décadas da jovem democracia brasileira. Aos 90 anos, mantém-se ativo e fiel à cidade que o adotou. O segundo é o mais brasiliense de todos os paraibanos, nosso cineasta soberano Vladimir Carvalho, reconhecido nacionalmente como um dos mais importantes documentaristas brasileiros e igualmente apaixonado por Brasília, cuja realidade retratou em vários de seus filmes. Mais do que justa, portanto, a homenagem que vai receber, a partir do dia 29, do Centro Cultural Banco do Brasil, com a realização da mostra Vladimir Carvalho Doc 8.0, uma retrospectiva de sua vasta filmografia. Completando o trio, o poeta Nicolas Behr, nascido em Cuiabá, em 1958, e “naturalizado” brasiliense em 1974. É improvável que alguém tenha versejado tanto sobre Brasília quanto Nicolas, desde o lançamento, em 1977, de seu primeiro livro, Iogurte com farinha, cujas 8.000 mil cópias impressas em mimeógrafo foram vendidas, por ele próprio, de bar em bar. 19 brasília55 O primeiro Sérgio Amaral fotógrafo 20 Por Vicente Sá E ncontro o fotógrafo Gervásio Baptista num dos corredores da Empresa Brasil de Comunicação, a EBC, onde trabalha. Ele caminha tranquilo, cumprimentando uns e outros. A fala é mansa e nem parece sentir o peso dos mais de 70 anos de fotojornalismo – e 90 de idade. Os olhos tranquilos desse homem que já deu três voltas ao mundo trabalhando, fotografou todos os presidentes da República desde Getúlio Vargas, cobriu desde guerras a concursos de Miss Universo e Copas do Mundo, ainda detém aquele brilho curioso e criativo que, como ele conta, já trazia aos nove anos, quando começou a apreender o ofício no laboratório fotográfico de um amigo de seu pai. No chão atrás de Gervásio, a sombra que o acompanha agora é a desse menino franzino que caminha pelas ruas quentes de Salvador nos anos 30 – e me leva com ela. Conheço casas, ruas e alguns homens e mulheres que vão se tornar heróis dos livros de Jorge Amado. Sigo guiado pela voz que agora lembra seu primeiro jornal. A sombra então me leva a uma redação pequena e antiga onde um adolescente retorna de sua primeira matéria externa com a câmera na mão e um meio sorriso nos lábios. “Eu fui fotógrafo a minha vida toda, foi minha única profissão e também tudo que eu quis. Tive minhas dificuldades, problemas, mas dentro do que eu gostava de fazer. Então, valeu”, afirma, como se falasse sozinho. Estamos ainda andando pelo corredor a caminho da sala onde faremos a entrevista e as fotos. Mas de novo meu olhar cai sobre sua sombra, e já não estamos mais na EBC. A sombra, agora de um homem de trinta e poucos anos, está descendo do avião no ermo que será Brasília, e comenta com o presidente Juscelino Kubitschek: “O senhor tem certeza que vai construir uma cidade no meio deste mato, presidente? E Juscelino responde, rindo: “É claro, Gervásio, já estou até vendo as ruas, as casas, as pessoas andando...” A partir da certeza do presidente JK, Gervásio começou a desconfiar de sua desconfiança. “Hoje eu sei que ele estava certo. A empreitada foi muito difícil e eu vi acontecer. A epopeia de Brasília foi uma coisa que encantou o mundo”, lembra. Quando da inauguração, pela intimidade que já tinha com o presidente Juscelino, pediu que ele erguesse a cartola como quem estivesse se despedindo e entregando a cidade ao povo. Juscelino a ergueu e Gervásio clicou. Depois, pediu que o presidente abaixasse o braço e colocasse a cartola na cabeça. O presidente estranhou e Gervásio explicou, sorrindo: “É para que não me copiem a foto. Esta vai ficar para a história.” E ficou. Hoje é uma das imagens mais expressivas da inauguração de Brasília. Depois vieram outros presidentes, muitas viagens, o golpe militar, a guerra do Vietnã, que ele também viu de perto... mas antes do fim da ditadura, Gervásio deixaria o Rio de Janeiro e viria morar em Brasília. Eleito presidente, Tancredo Neves o convidaria para fotógrafo oficial, mas a doença atingiria o mineiro antes de ele tomar posse. Um dia, junto com dezenas de jornalistas, aguardava embaixo do hospital onde Tancredo estava internado quando um policial lhe fez sinal e ele, discretamente, foi ao seu encontro, driblando os outros fotógrafos. O agente lhe disse que o presidente havia pedido que ele subisse para fazer uma foto. Subiu imediatamente e, no quarto, quando um médico quis participar da foto e colocar a mão nas costas de Tancredo, ele estrilou: “Não faça isso, doutor, vão pensar que o presidente está mal e o senhor é que o está segurando”. Tancredo agradeceu a preocupação e lhe garantiu uma escolta até o prédio de um ministério, onde ele pôde revelar a foto e mandar para os jornais e revistas. Um pouco antes de chegarmos à sala da entrevista, ele me conta outras histórias e a sua sombra me leva pela mão até a redação da revista Manchete, onde trabalhou até o seu fechamento, e depois para Cuba, onde ele pede remédio ao guerrilheiro Che Guevara. ”Afinal, tu não és médico?”- brinca. E Guevara, meio a contragosto, lhe recomenda uma dose de rum. Chegamos à sala onde deveria acontecer a entrevista e Sérgio Amaral, o fotógrafo que nos aguardava, mostra a Gervásio uma Rolleiflex. ”O que você faz com minha namorada nas mãos? Com ela dei três voltas ao mundo”, brinca, ao ver a máquina, sua companheira de tantos anos. Depois, ainda se dirigindo a Amaral, avisa: “Vamos logo fazer essa foto que eu estou em horário de trabalho”. Enquanto me afasto, parece-me ouvi-lo dizer: “Após os passeios que minha sombra deu com esse moço, acho que ele não vai mais precisar de entrevista nenhuma”. Fico de longe observando esse homem, que tanto fotografou, deixando-se fotografar, e penso que, se ele tivesse vivido toda sua vida na Bahia, fatalmente teria se tornando um personagem dos livros de Jorge Amado. Mas, como era seu destino, saiu para se tornar um personagem importante da história de Brasília e do fotojornalismo do Brasil. Acima, as famosas fotos dos presidente JK, na inauguração de Brasília, e Tancredo Neves, no Hospital de Base. Abaixo, o jovem Gervásio Baptista faz pose para as lentes de um colega, num campo de batalha do Vietnã. 21 Sérgio Amaral brasília55 O cineasta soberano Por Sérgio Moriconi C 22 onsensualmente considerado um dos grandes documentaristas brasileiros de sempre, Vladimir Carvalho é também um dos responsáveis pela construção das estruturas e mecanismos de produção que têm transformado a capital federal num respeitável centro de produção cinematográfica. Primeiro presidente da Associação Brasileira de Documentaristas – Seção DF, desde 1978 lutou pela conquista de equipamentos e pela implantação do Polo de Cinema Grande Otelo, finalmente concretizada em 1993. Mas sua atuação política em nada prejudicou a construção de uma obra em que o Nordeste e o Centro-Oeste são revelados em todas as suas belezas e contradições. Muito justa, portanto, a homenagem que receberá do Centro Cultural Banco do Brasil com a mostra Vladimir Doc 8.0. De 29 de abril a 11 de maio serão exibidos no cinema do CCBB 16 curtas e nove longas-metragens do cineasta, assim como uma exposição de cartazes (alguns criados por ele próprio, como o de O país de São Saruê, um dos seus grandes clássicos) e um debate que reunirá o crítico Rodrigo Fonseca, curador da mostra, o professor e escritor João Luiz Vieira e o homenageado. O catálogo preparado para o evento conta com textos inéditos de personalidades como Ignácio de Loyola Brandão, Ana Maria Miranda, Cacá Diegues, Geneton Moraes Neto, Carlos Alberto Mattos, Jean-Claude Bernardet, Alberto R. Cavalcanti, Severino Francisco, Walter Carvalho, André Luiz Oliveira, José Nêumanne Pinto, Bráulio Tavares, Iberê Carvalho, Maria do Rosário Caetano e ainda um poema original do cineasta Sylvio Back. Como cortesia especial, será oferecido aos espectadores um objeto de arte composto de caixa com reproduções de cartazes dos filmes de Vladimir Carvalho em pequeno formato. Nada mais justo para selar a cumplicidade entre o realizador e os moradores da cidade que adotou para viver desde 1970, quando se engajou como professor na Universidade de Brasília. Há exatos dez anos foi apresentada, também no CCBB, a mostra Vladimir 70, levando pela primeira vez aos públicos de Brasília e do Rio de Janeiro uma retrospectiva integral da obra de Vladimir Carvalho. Passada uma década, ele tem na bagagem mais dois longas concluídos (O engenho de Zé Lins e Rock Brasília – era de ouro) e outro em fase final de montagem, sobre o pintor modernista pernambucano Cícero Dias. As duas obras já concluídas – e a perspectiva de uma terceira para breve – poderiam ser- Sérgio Amaral Vladimir em sua casa, na Avenida W3 Sul, limpando o mosaico criado pelo artista plástico e amigo Gougon ma” onde, muitas vezes, se dissolve a separação entre documentário e ficção (através de encenações e os mais variados recursos dramatúrgicos), formando o que chama de “uma crosta de significações para além do real”. No livro de Mattos fica muito claro que o realizador tem total controle e consciência de sua arte e do que cada um dos seus filmes expressa objetivamente e, também, subjetivamente. Outro aspecto importante, poucas vezes mencionado, é que os filmes de Vladimir são, em muitas medidas, fabulações autobiográficas. Temáticas e personagens estão, de uma forma ou de outra, ligados à vivência do cineasta no Nordeste e em Brasília (além de regiões próximas à capital), e dão a natureza betuminosa do cinema de Vladimir Carvalho. Duas geografias que se imiscuem de forma surpreendente em A pedra da riqueza. Esse filme, a propósi- Divulgação Walter Carvalho vir de justificativa para esta oportunidade de se discutir, mais uma vez, e sob nova perspectiva, o legado do autor de Conterrâneos velhos de guerra para o cinema brasileiro, assim como para a tradição documental do país. No entanto, a intenção de Vladimir Doc 8.0 é proporcionar uma (re)visão da totalidade dos filmes de Vladimir a partir de uma ótica distinta e nova. Quando vistos em conjunto e em diferentes contextos e circunstâncias históricas, os filmes de Vladimir se mostram polissêmicos, misteriosamente ambíguos em relação às virtuais aparências do real. Não são observações e conclusões insensatas. No livro Pedras na lua e pelejas no planalto, escrito pelo crítico Carlos Alberto Mattos para a coleção Aplauso, Vladimir considera que seus filmes “se intercomunicam como filmes-satélites uns dos outros, constituindo um microssiste- to, faz quase que uma representação simbólica do percurso de Vladimir, com suas idas e vindas do Nordeste para a capital e seu entorno – e vice-versa. No filme, somos levados até uma rústica área do Nordeste por meio de um funcionário da Universidade de Brasília que, ao ver um copião do cineasta numa moviola do Departamento de Comunicação, reconhece o garimpo de xelita onde ele e o irmão haviam trabalhado. Uma fusão nos transporta da tela da moviola para o garimpo. A fotografia imprecisa e precária de um lote vencido de negativo em preto e branco dá um aspecto fantasmagórico aos trabalhadores da pedra de xelita, de onde, aliás, é retirado o tungstênio utilizado na indústria do aço e nas naves espaciais. A despeito do mencionado conteúdo político, social e filosófico objetivamente reivindicado pelas obras de Vladimir, e igualmente assimilados por quem as vê, o cineasta considera as imagens nelas contidas como signos. Dessa forma, os filmes como um todo se abrem a múltiplas possibilidades. Teotônio Vilela, José Américo, José Lins do Rêgo, candangos, o sertão seco, quilombo, xelitas, bolandeiras, o sertão molhado, a capital, todo o conjunto de personagens e paisagens do cinema de Vladimir pode ser entrevisto de maneira inabitual e enviesada. Frequentemente, no cinema documentário, a alma dos indivíduos ganha uma segunda vida, dissolvida e fundida na alma do realizador. Ambos se tornam transfigurados, fazendo com que o realizador também se projete de alguma maneira nos personagens. No caso de Vladimir, a “fabulação autobiográfica” (referida acima) contribui decisivamente para que ele próprio e sua obra possam, do mesmo modo, estar sempre em expansão e ressignificação. 23 Com Manuel Clemente no set de filmagem de O país de São Saruê Trinta anos depois de dirigir Barra 68, repetindo com amigos uma das principais cenas do filme Sérgio Amaral brasília55 O poeta mais Por Lúcia Leão N 24 um fim de tarde nublado, o Eixão é a mais completa tradução do retrato-falado que dele faz o poeta. “O ponto mais tenso e mais denso da cidade. É a sua espinha dorsal e a sua principal artéria. É osso e veia. Toda a tensão de Brasília passa por aqui!”. Entre admiração e respeito, o comentário denuncia mais que tudo o temor que Nicolas Behr ainda alimenta pela via. O mesmo que o inspirou a canonizar, há quase 40 anos, uma “Nossa Senhora do Cerrado”, entidade invocada até hoje pelos “pedestres que atravessam o Eixão, às seis horas da tarde”. Os versos, musicados por Nonato Veras e cantados desde a década de 1980 pelo grupo Liga Tripa, caíram na boca do povo e até hoje empolgam de vovôs a netinhos, que somam vozes no coro do refrão: “Nonô, Nonô”, a namorada que merecia a arriscada travessia e inspirava a prece do poeta: “Fazei com que eu chegue/são e salvo/na casa da Noélia”. Pouco antes, mais precisamente em 1979, Nicolas Behr lançava seu primeiro livro, o Iogurte com farinha – com a incrível tiragem de oito mil exemplares mimeografados e vendidos de mão em mão – e apresentava a cidade, que seria para sempre o tema central dos seus poemas, assim: blocos, eixos,  quadras senhores, esta cidade é uma aula de geometria Em 2014, quanto publicou A seus pilotis, o livro mais recente, a cidade do poeta já estava assim: não tente gostar de Brasília tão rápido blocos de verdade sobrevoam superquadras imaginárias superquadras à procura De uma cidade O que aconteceu nessas quatro décadas? “Brasília se metropolizou, o que era inevitável, inexorável. É uma metrópole cheia de conflitos. O que é bom para a poesia. O conflito é provocador. Mas fica uma certa nostalgia, um distanciamento. A cidade que nos pertencia, com a qual tínhamos uma profunda intimidade, já não existe mais”. Intimidade tanta que permitia aos artistas desafiar o trânsito, tomar as ruas como palco e fazer da grande maquete de concreto cenário. “Hoje, é impensável carregar uma prancha pelo Eixão” – constata, lembrando das tomadas de ce- Arquivo pessoal brasiliense na para um filme super-oito que protagonizou no início da década de 1980. Visceralmente ligado a Brasília, cidade que o recebeu aos 15 anos e se tornou matéria-prima de praticamente toda a sua produção poética, o “marginal” das décadas finais do Século XX, que andava pelos bares e portas de teatros vendendo seus livrinhos mimeografados, caminha pelo XXI como respeitável empresário e poeta reconhecido, objeto de estudos literários e teses acadêmicas em várias universidades do país. Evoluiu e amadureceu, como Brasília. “Aquela cidade pequena, de no máximo 600 mil habitantes, pensada por Lúcio Costa, ficou nas pranchetas. Brasília virou um importante polo de desenvolvimento, as cidades-satélites se verticalizaram, os candangos criaram raízes e povoaram os espaços que eram reservados só para servidores públicos. Para o bem e para o mal, a maquete ganhou vida”, disserta o poeta, que já tinha dito num poema: anunciaram a utopia mas foi brasília que apareceu ou brasília é o fracasso mais bem planejado de todos os tempos Para o mal, sair da maquete significou se expôr às mazelas que afligem quaisquer metrópoles: os congestionamentos, a violência, a precariedade de serviços públicos, a “aglomerada solidão” de que falou Tom Zé sobre São Paulo: a única coisa que tenho a lhe oferecer é solidão com vista pro eixão Para o bem, libertou a cidade pulsante e multifacetada, que vai lentamente afirmando sua identidade e desassociando-se das crises políticas e das torrentes de lama que enfeiam a monumental Esplanada. “Sou de Brasília, mas juro que sou inocente”, Nick estampou em camisetas. E fez uma controversa declaração de amor: amo Brasília e seus engarrafamentos suas passagens subterrâneas entre as nuvens amo Brasília e seu modelo de convivência (nós aqui, vocês lá) amo Brasília e seus políticos e sua burocracia amo brasília e sua comédia de erros amor incondicional é inconstitucional? 25 brasília55 Marcel-Gautherot Desde 1751 Por Pedro Brandt B Rui Faquini 26 rasília é fruto da visão e do trabalho de muitas pessoas, fundadores e pioneiros que encararam o desafio de construir a cidade. A exposição Brasília 55 anos – Da utopia à capital conta um pouco desse sonho. De 24 de abril a 31 de maio, a Galeria Athos Bulcão abrigará um acervo com mais de 300 itens. Entre eles estão maquetes (inclusive uma maquete atualizada do Plano Piloto), livros, projetos arquitetônicos, desenhos de Lúcio Costa, cartas trocadas entre os arquitetos Oscar Niemeyer e Le Corbusier, objetos históricos e obras de arte. Participam ainda fotografias tiradas por Peter Scheier, Jesco von Puttkamer, Marcel Gautherot, Mário Fontenelle, João Facó, Fábio Colombini e Rui Faquini. O resultado é uma retrospectiva com riqueza de detalhes que parte de 1751, quando o Marquês de Pombal cogitou a mudança da capital para o centro do país, Mario Fontenelle Exposição com mais de 300 itens reconta a criação de Brasília até chegar aos dias de hoje. As peças vieram do Arquivo Público do Distrito Federal, do Instituto Moreira Salles, da Casa Lúcio Costa, da Fundação Athos Bulcão, da Fundação Oscar Niemeyer, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás e do Museu de Astronomia e Ciência Afins (Mast) do Rio de Janeiro, além de coleções particulares do Brasil e do exterior. A curadora Danielle Athayde ainda garimpou objetos e publicações relacionadas a Brasília nos diversos países por onde a exposição passou. Os artistas Alex Flemming e Naura Timm criaram obras exclusivas para o projeto. Brasília 55 anos – Da utopia à capital é a continuação de uma exposição organizada por Danielle Athayde para o cinquentenário da cidade e que, desde 2010, passou por Lisboa, Buenos Aires, Santiago, Nova Déli, Paris e Berlim e foi vista por mais de 250 mil pessoas. Em cada cidade, a exposição ganha mais itens e em Brasília será apresentado o acervo mais completo da trajetória do projeto. Entrevista: Danielle Athayde Nesses cinco anos, a exposição visitou vários países. Como a capital brasileira é encarada pelos estrangeiros? Divulgação Como surgiu o interesse de estudar Brasília? Em 2008, fui fazer um mestrado de gestão cultural, patrimônio, turismo e natureza em Madri, mas desde 2004 já tinha a produtora Artetude Cultural em Brasília, com o objetivo de realizar projetos que pudessem apresentar o Brasil e a nossa cultura no exterior. A ideia da exposição surgiu no momento em que precisei pensar no meu projeto final para o mestrado. Achava que seria muito interessante falar sobre os 50 anos da capital do Brasil para o mundo, daí o projeto se tornou realidade e as coisas foram acontecendo. Quais os seus elogios e quais as suas críticas ao conceito de Brasília? Eu amo Brasília, adoro viver aqui e deEstivemos em oito países de diferentes culturas durante os quatro anos em que a mostra esteve itinerando. Na Índia, fizemos um programa educativo para crianças das escolas locais, foi incrível ver o interesse delas pela cidade, algumas até perguntavam se era mesmo verdade que Brasília existia. Em Paris, tivemos a presença em massa de estudantes de desenho e arquitetos que ficavam horas na sala de exposição (no caso, o Partido Comunista Francês, primeira obra internacional de Oscar Niemeyer) desenhando os projetos dos monumentos. Já em Berlim, as pessoas tinham mais interesse pela Brasília política. Lembro-me de que naquele momento estavam ocorrendo diversas manifestações no Brasil e as pessoas queriam saber por quê. Os comentários do público eram diversos, desde que a cidade era magnifica até gente que falou que depois de visitar a exposição viria a Brasília de qualquer jeito. João Facó fendo o conceito de criação e a total preservação da cidade. O que me incomoda muito é ver o que está ocorrendo com nosso patrimônio cultural da humanidade, ver fechados o Teatro Nacional, o MAB, o espaço cultural da 508 Sul, a Biblioteca Demonstrativa, o Centro de Dança e a Torre de TV Digital. Tive, inclusive, dificuldade para buscar um espaço para realizar esta mostra. A sorte é que a Galeria Athos Bulcão foi revitalizada no final do ano passado e agora a mostra vai poder acontecer lá. É um espaço incrível. Brasília 55 anos - Da utopia à capital De 24/4 a 31/5, das 8h às 20h, diariamente, na Galeria Athos Bulcão (anexo do Teatro Nacional, térreo, via N2). Entrada franca. Arquivo pessoal A construção em quadrinhos Nas minhas garimpagens por revistas em quadrinhos antigas, sempre busco títulos inusitados, especialmente de quadrinhos brasileiros, uma produção um tanto esquecida e ainda pouco mapeada. Qual não foi minha surpresa quando me deparei com uma HQ de janeiro de 1959 sobre a criação de Brasília! Escrita por Nair da Rocha Miranda e ilustrada por Ramón Llampayas, Brasília, coração do Brasil é extremamente bem pesquisada e ambientada, passando pelo descobrimento do Brasil, período colonial e república até chegar à década de 1950 – sempre com a participação das principais figuras políticas de capa época. Tudo para ensinar ao leitor (geralmente, meninos e meninas em idade escolar) o contexto da criação da nova capital. Também estão lá mapas, desenhos dos monumentos de Brasília e das superquadras. Uma curiosidade: JK e Niemeyer, entre outras autoridades, conferiram (e aprovaram) o material antes da publicação. A revista saiu pela editora Ebal, na coleção Epopeia, especializada em história do Brasil em quadrinhos. 27 brasília55 Bravas pioneiras Por Mariza de Macedo-Soares Fotos: Divulgação T ânia Fontenele Mourão é brasiliense, filha de pioneiros, economista, professora e consultora da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), escritora e, por causa da paixão escancarada que sente por cinema, cineasta autodidata. Tanto na escrita quanto na sétima arte, volta seu olhar ao universo feminino e à atuação discretamente importante das mulheres em eventos cujos cenários e resultados fazem crer terem sido fruto apenas de trabalho masculino. Ela evidencia a preocupação de fazer conhecer o trabalho das mulheres nos livros Mulheres no topo da carreira – flexibilidade e persistência e Trabalho de mulher: mitos, ritos e transformações, nos documentários A corrida das 5.300 mulheres e Poeira e batom no Planalto Central, que virou livro, ganhou um adendo no título (50 mulheres na construção de Brasília), um acréscimo de texto e de ilustrações e deu origem à mostra Memórias femininas da construção de Brasília, em cartaz até 30 de maio no Salão Negro do Congresso Nacional. Nessa exposição, depois de extensa e minuciosa pesquisa na biblioteca da 308 Sul, em instituições e acervos públicos do DF, Tânia apresenta ao público, por meio de fotos, 50 mulheres que aportaram na capital da República entre 1956 e 1960. Entrevistadas, ao contar suas experiências delinearam, sob a ótica feminina, um perfil da cidade então em construção. Faz parte também de Memórias femininas um pequeno cinema que exibe o documentário Poeira e batom, com depoimentos das pioneiras fotografadas e um espaço cenográfico com peças originais da década de 60 – mobiliários de casas, escritórios e hospitais, utilidades e utensílios domésticos, roupas de batismo, vestidos de festa, de baile, calças de brim coringa (a precursora da five pockets), maiôs, sapatos, bolsas, chapéus, vidros de perfume, garrafas de bebidas, carteiras de colégios, livros, revistas e outras publicações. É importante exposição – rende homenagem a essas mulheres que, a seu modo, “colocaram de verdade a mão na massa” na construção de Brasília. Também conta uma história da cidade que muitos não conheciam. Memórias femininas da construção de Brasília 28 Até 30/5, de 2ª a domingo, das 9h às 17h30, no Salão Negro do Congresso Nacional. Entrada franca. galeriadearte Picasso em Fotos: Divulgação ótima companhia Mulher sentada apoiada sobre os cotovelos (óleo sobre tela, 1939) Por Alessandra Braz “E i, Zé! Isso parece de graça!”, comentou o homem ao ver a fila na entrada do prédio que abriga o Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo. Com cerca de 40 pessoas e espera de 30 minutos para a entrada, a fila em questão era para conferir a exposição Picasso e a modernidade espanhola, uma parceria do CCBB com o Museu Reina Sofía, de Madri, que fica em cartaz até 8 de junho e depois segue para o Rio de Janeiro. A exposição mostra novos caminhos quando, ao invés de usar os “ismos” para contar um pouco da arte moderna espanhola, escolhe, na verdade, a influência dos artistas ali presentes. Pois, além de Picasso, é possível ver obras de Miró, Dalí, Julio González e Juan Gris, entre outros. “Muitos artistas não entraram numa classificação, como cubismo ou surrealismo, e por isso nós não os estudamos, mas não quer dizer que são menos importantes”, afirma o vice-presidente e curador do Reina Sofía, João Fernandes. Picasso sempre prestou atenção em artistas contemporâneos e também buscou Cabeça de cavalo (óleo sobre tela, esboço para Guernica, 1937) influência na história, como em Mulher nua com a perna dobrada, inspirada em Obra-prima ignorada, de Balzac. “Picasso sempre foi muito generoso com artistas novos. Sempre que eles o procuravam para mostrar sua arte ou pedir um conselho, Picasso os deixava livres. Não queria influenciá-los de forma direta”, conta o curador da exposição, Eugenio Carmona. Uma das obras-primas de Picasso foi Guernica (1937). Ao artista foi encomendado um painel para o pavilhão espanhol da Exposição Internacional de Paris. Picasso não havia tido nenhuma inspiração até o ataque à vila de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola (19361939), e pintou o quadro. Numa tradução cubista do terror que os moradores da vila viveram, a exposição traz todos os estudos que o artista fez até chegar à conclusão da obra. Lá estão obras que serviram de esboço para Guernica, como Cabeça de cavalo, Cavalo e touro, Mãe com o filho morto e diversas versões de Cabeça que chora, todas datadas de 1937. Há também uma reprodução de Guernica de forma interativa. Com um lanterna é possível explorá-la e descobrir onde cada um dos esboços se insere. O painel original, de 3,49 metros de altura por 7,76 metros de comprimento, está em exposição hoje no Reina Sofía e de lá não pode mais sair. Sua morada anterior foi o Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York, onde permaneceu, a pedido do próprio Picasso, até que a Espanha voltasse a ser um país democrático. Para vê-la ao vivo, agora, só indo a Madri. “Picasso gostava muito das mulheres”, afirma Carmona. E para elas há também um generoso espaço na exposição. O artista espanhol foi tão apaixonado pelas mulheres que, mesmo casado, teve inúmeras amantes, como a modelo Marie-Thérèse e a fotógrafa Dora Maar, que serviram de inspiração para o quadro Mulher sentada apoiada sobre os cotovelos, de 1939. A figura feminina está presente em muitos de seus quadros, e as mulheres com quem conviveu foram a inspiração para vários deles. Picasso e a modernidade espanhola Até 8/6 no CCBB de São Paulo (Rua Álvares Penteado, 112, Centro), com entrada franca. Classificação etária: livre. 29 graves&agudos Cintia Pimentel São tantas emoções... Por Júlia Viegas P 30 remiado, com excelentes críticas e público cativo. Esses são alguns dos atributos do espetáculo As canções que você dançou pra mim, que finalmente chega a Brasília depois de encantar meio mundo por aí. O trabalho da companhia carioca Focus estreou em 2011 e, desde então, foi escolhido o melhor do ano por jornais como O Globo e Folha de S. Paulo. Agora, faz no Teatro da Caixa Cultural curtíssima temporada, de 1º a 3 de maio. Para quem não está familiarizado com o universo da dança contemporânea, As canções que você dançou pra mim leva para o palco, embalando o movimento de quatro casais de bailarinos, um pot- pourri de 72 canções que se tornaram clássicos da música popular brasileira na interpretação de Roberto Carlos. E a reverência ao Rei não para por aí: todos os figurinos foram confeccionados em tecidos com variações da cor azul e são inspirados em modelos das décadas de 1960 a 1980, com toques contemporâneos. Difícil não assistir ao espetáculo mexendo o corpo, cantando junto, afinal, músicas como Por isso eu corro demais, Eu de darei o céu, Detalhes, Outra vez, Olha, Proposta e Desabafo fazem parte do imaginário romântico de todo brasileiro. Quem nunca se pegou cantarolando uma delas? Com um detalhe precioso: as músicas, que percorrem a carreira do Rei Roberto, são apresentadas em suas versões originais. Na encenação, os movimentos vão ilustrando ou propondo novas leituras às letras das canções. Nada é muito literal. O coreógrafo e diretor da companhia, Alex Neoral, quis contar, com muita liberdade e humor, uma estória de amor em que uma música vai puxando outra, uma situação vai provocando outra e, ao final, o mosaico poético está completo. “Aproveitei as intenções para dar fisicalidade ao movimento e para buscar uma atitude teatral”, destaca ele.  Algumas passagens são antológicas, como o duo do beijo, no qual um casal de bailarinos faz intensa coreografia sem descolar os lábios um do outro, e o duo final, em que os bailarinos se movimentam sob o som da belíssima Detalhes. Mas não tem como não se empolgar com as cenas de conjunto, em que os dançari- nos juntos se deslocam de maneira tão certeira. O grupo está afiadíssimo: As canções que você dançou pra mim está prestes a completar 200 apresentações, no Brasil e no exterior. No palco, além do próprio Alex Neoral, estão Carol Pires, Clarice Silva, Cosme Gregory, Felipe Padilha, Gabriela Leite, Marcio Jahú e Monica Burity. A Focus Cia. de Dança está chegando aos 15 anos agora em 2015 e é hoje um dos grupos mais atuantes de dança no Rio de Janeiro – além dessa, já tem no repertório 12 peças coreográficas. Em Brasília, além das apresentações, o grupo vai ministrar uma oficina de dança contemporânea gratuita. Mas com um detalhe: é preciso ser bailarino profissional para participar. A oficina acontece durante a tarde do sábado, 2 de maio, as vagas são limitadas e as inscrições podem ser feitas até 27 de abril, com envio do currículo para o e-mail [email protected]. As canções que você dançou pra mim 1 e 2/5, às 20h, e 3/5, às 19h, no Teatro da Caixa Cultural. Ingressos: R$ 20 R$ 10 (vendas antecipadas na bilheteria do teatro a partir de 25/4). Classificação indicativa: 12 anos. Mais informações: 3206.9448. Só 50% original P rimeiro, um peraí: ma che cazzo, colocaram o Kiss pra tocar do lado de fora do Mané Garrincha? Hã? Kiss, não a boate, mas a lendária banda norteamericana, ícone dos anos 1970, cujos integrantes usam fantasias, saltos plataforma, maquiagem e mandam um senhor rock pesado, vai estar entre nós, pela primeira vez, na sexta-feira, 24 de abril, isso mesmo, no estacionamento do Estádio Nacional Mané Garrincha, o Colosso do Eixo Monumental. Sem mais delongas, o lance é dentro do estádio. Foi assim com Beyoncé, Aerosmith, Paul McCartney (até hoje, quem passa tarde da noite pelas cercanias ouve ecos distantes da galera gritando: “Pow... Pow... Pow”). Do lado de fora, é meio 171, mas tudo é possível. Abstraindo o vacilo dos organizadores, esta é oportunidade rara de testemunhar pessoalmente o estado das coisas que se passam com a banda, cujo primeiro disco, Kiss, foi lançado em 1974. A turnê que os traz a Brasília, aliás, é comemorativa dos 40 anos de atividade, muito embora saibamos que o Kiss praticamente começou em 1968, quando do primeiro encontro de seus membros, em Nova York. Originais continuam só o figuraça baixista Gene Simmons, a língua mais indecente do rock, e o guitarra Paul Stanley, ao que parece o timoneiro que sempre evitou o afundamento do Titanic em que se transformou o Kiss. Completam o circo o baterista Eric Singer e o guitarrista Tommy Thayer. Membros originais, o guitarrista Ace Frehley e o batera Peter Criss não estão nessa por causa de problemas. Problemas que, aliás, ficaram evidentes quando da entronização da banda no Rock and Roll Hall of Fame, no ano passado. Na dita cerimônia, transmitida pela tevê, Frehley e Criss, que não estão mais no grupo há 15 anos, subiram ao palco com Gene e Paul, ao invés dos atuais Singer e Thayer. Trêmulos e confusos, Ace e Peter mostraram porque, pelo menos agora, não têm condições de pegar a estrada. Aí é que vem o lance do Kiss. Sabemos que o grupo original voltou triunfalmente à ativa em 1996 (depois de 15 anos) e na segunda metade da década de 1990 deitou e rolou em turnês mundo afora. O excelente disco Psycho circus (1998) provou que o Kiss ainda tinha muita lenha pra queimar. Lá por 2001, Peter já tinha saído de novo e Ace, novamente, não estava mais interessado na fabulosa e traiçoeira vida mundana do rock’n’roll. Eis que alguém teve a ideia de chamar de volta o baterista Eric Singer e efetivar o guitarrista Tommy Thayer, pois o show precisava continuar. Ao invés de criar novos personagens para os dois, Singer assumiu a persona de Peter Criss, The Catman (o homem gato), enquanto Thayer assumiu a de Ace Frehley, Space Ace (o astronauta). Só para lembrar, Gene Simmons é The Demon (o diabo) e Paul Stanley The Starchild (o menino das estrelas). Uns bradaram contra a pilantragem (algo como entrar um novo membro nos Beatles e resolverem chamá-lo de George ou John, por exemplo), enquanto outros acharam bom ver o Kiss arrebentando novamente. Pode crer que vai rolar um best of da melhor qualidade: Rock and roll all nite, Detroit rock city, Shout it out loud, Beth, Christine sixteen, Strutter, Love gun, Deuce, as farofas I love it loud e Lick it up e a terrível I was made for loving you. Quem for atrás de diversão, claro, vai se dar bem. Os brasilienses Raimundos (que precisam voltar a ser uma grande banda) e a glam metal californiana Steel Panther, parente distante da Massacration, fazem a abertura da pândega. Como diz o linguarudo Gene Simmons: “Salvem os seus traseiros!”. Kiss – 40th Anniversary World Tour 24/4, às 20h, no estacionamento do Mané Garrincha. Ingressos (meia, 1° lote): pista, R$ 160; pista premium, R$ 260; camarote, R$ 350 (em www.diversaobrasil.com.br e na Central de Ingressos do Brasília Shopping). Classificação: 16 anos. Mais informações: www.visionproducoes.com. Divulgação Por Heitor Menezes 31 graves&agudos Diversão à beira do lago Divulgação MUV Festival ocupa a orla do Paranoá com música, moda e gastronomia Por Pedro Brandt N 32 os últimos anos, Brasília tem recebido uma série de eventos ao ar livre, perto da natureza, valorizando a cultura local e ocupando espaços novos ou pouco utilizados. O resultado dessas iniciativas é uma nova – e positiva – sintonia entre o brasiliense e a cidade. O MUV Festival, que será realizado em 18 de abril (sábado), na Orla do Lago, segue nessa vibe. O evento começa ao meio-dia, chega até a madrugada e tem na programação atrações de Brasília, São Paulo e Lisboa. A estrutura montada no local abrigará uma praça de alimentação com a presença de foodtrucks e espaço para expositores de moda. A discotecagem será comandada por nomes fortes da balada candanga: DJs do Coletivo Índios, Chicco Aquino (Makossa), Hugo Drop (Drop it like it’s hot), Bill e Spot (Moranga), com sets ecléticos passando por rock, música eletrônica e black music. O VJ Arthur Pessoa será o responsável pelas projeções. Duas bandas brasilienses serão escolhidas por votação online para participar do MUV Festival – as vencedoras serão anunciadas quatro dias antes do evento. Também da cidade, os grupos O Bando e Scalene vão se apresentar antes dos head-liners, o rapper paulistano Projota e o trio lisboeta Banda do Mar. O repertório d’O Bando vai de pop rock, reggae e música regional. Com influências de pós-hardcore e metal – e um apelo radiofônico que tem proporcionado uma carreira em ascensão –, o quarteto Scalene participou recentemente dos festivais Lollapalooza (SP) e South by Southwest (EUA). Com o disco Foco, força e fé, lançado em novembro passado pela gravadora Universal Music, Projota vem conseguindo projeção nacional com um hip hop de potencial pop. “Curto Charlie Sheen, mas prefiro Sean Penn/ Renato Russo e Elis também/ Cresci entre Sabotage e Kurt Cobain”, canta o rapper na faixa-título do álbum. Integrada pelo carioca Marcelo Camelo, a paulistana Mallu Magalhães e o baterista português Fred Ferreira, a Banda do Mar surgiu na capital portuguesa no ano passado. É a atração mais aguardada do MUV Festival, não apenas pela notoriedade do casal brasileiro que forma o núcleo do trio (que ao vivo vira quinteto), mas pelo fato de a Banda do Mar ser um projeto com data para encerrar suas atividades. Depois de Brasília, a banda faz mais alguns shows no Brasil e encerra sua turnê em julho, com shows em Portugal. Lançado em agosto de 2014, o álbum Banda do Mar é uma deliciosa gema pop, um disco solar, de amor e alegrias. Até quando fala de saudade a banda parece longe da melancolia que marca as trajetórias de Camelo (tanto em carreira solo quanto no Los Hermanos) e Mallu. À beira do Paranoá, o clima será de diversão e comunhão, mas também de despedida. MUV Festival 18/4, a partir do meio-dia, na Orla do Lago (SCEN, ao lado do Lake Side). Ingressos (1º lote): R$ 50 (meia-entrada para doadores de livros, agasalhos ou alimentos não-perecíveis). Pontos de vendas: MUV Shoes (Conjunto Nacional), Mormaii (Conjunto Nacional, Pontão e Brasília Shopping) e Endossa (306 Sul) ou em www.muvfestival.com.br. Classificação indicativa: 18 anos. Carimbó chamegado Dona Onete desfila no Teatro da Caixa seu repertório de música afro-caribenha Naiana Gaby Por Heitor Menezes Q ue coisas incríveis tem o Pará. O Estado, sentinela do norte, como diz a letra de seu hino, tem a culinária mais rock’n’roll do Brasil. Do tucupi ao tacacá, do pirarucu ao açaí, tudo é um regalo para os sentidos. A capital, Belém, foi fundada em 1616 pelos portugueses. Dá pra imaginar que um lugar assim, repleto de calor equatorial, carapanãs, índios, caboclos e europeus, tem história e cultura centenárias? Cabanagem? Aquilo sim foi revolta popular. No campo da música, o que nos interessa, mais ou menos recentemente a guitarrada, o tecnobrega e Gaby Amarantos levaram a dita música paraense para alémfronteiras. Reconhecimento tardio, coisas de um país gigante pela própria natureza, mas que no fundo, no fundo, o Brasil não conhece o Brasil... Pois bem, coloque na sua agenda: nos dias 25 e 26 de abril, sábado e domingo, tem Dona Onete, ao vivo, no Teatro da Caixa. É mais uma oportunidade de conferir o som da rainha do carimbó chamegado e aprender um pouco mais sobre como nossa música deve muito aos ritmos afro-caribenhos. Ionete da Silveira Gama, Dona Onete, nascida em 1938 em Cachoeira do Arari (Ilha de Marajó), já esteve aqui em outras oportunidades. Na primeira, em 2010, ela brilhou junto ao Coletivo Rádio Cipó e outros artistas paraenses, no show itinerante Terruá Pará. Esse brilho continua. Em julho, ela será uma das atrações do Womad Festival (criado por Peter Gabriel), em Londres. Seu disco Feitiço caboclo, de 2012, é um belo cartão de visitas. Sua audição, uma aula de etnografia, delícia para a mente e para o corpo. Já ouviu falar em jamburana? O licor de jambu, aquela incrível erva que dá uma tremedeira, essencial no pato-no-tucupi, fundamental no tacacá, é o tema de um dos grandes sucessos de Dona Onete, no qual ela tenta descrever os efeitos sedativos e afrodisíacos da bebida e o que ela provoca no juízo de homens e mulheres (“O tremor do jambu é gostoso demais”). De etnografia (e geografia), basta ouvir Balanço crioulo, no qual Dona Onete entrega de onde vem seu som. Pegue o mapa do norte, a confluência Pará, Amapá, Guiana Francesa, Suriname. É dali que saem os nomes citados na letra: Kourou, Caiena, Sinnamary, Samaracá. Por alí entraram os ritmos crioulos, o som de Trinidade e Tobago, Granada, Barbados, Dominica, enfim, um Brasil que, inicialmente graças aos índios, aprendeu a dia- logar musicalmente com o calypso e a soca. Belém, o grande portal dessa mistura. E se esses são ritmos que mexem com as cadeiras e com o que restou do juízo, deixem-se levar pelo Feitiço caboclo, onde novamente Dona Onete fala de outra maluquice só encontrada naquelas terras: o chá do tamaquaré (supostamente à venda na feira do Ver-O-Peso, em Belém): “Se ele te bate, não manda prender ele / Dá tamaquaré pra ele / Se ela te chifra, não bate nela / Dá tamaquaré pra ela”. Muito exótico, amigo? Comece pela jamburana e não perca a aula da Dona Onete. Dona Onete – Boleros e Bangüês 25/4, às 20h, e 26/4, às 19h, no Teatro da Caixal. Ingresso (meia): R$ 10. 33 Divulgação queespetáculo Um ato de coragem Por Júlia Viegas A 34 pesar de muito jovem, Brasília já tem seus ídolos. Dentre os atores, seguramente Murilo Grossi é um deles. O ator – que costuma emprestar o talento para o cinema e a televisão com bastante frequência – nunca quis deixar sua cidade do coração. E tem se dividido entre Brasília e Rio de Janeiro ou São Paulo. Pois Murilo decidiu estrear na capital brasileira sua mais nova incursão no teatro – o espetáculo Os fantasmas, escrito especialmente para ele pelo dramaturgo paulista (e também ator) Otávio Martins. A peça fica em cartaz até 17 de maio no Teatro II do CCBB, como parte da programação festiva concebida pelo centro cultural em homenagem aos 55 anos de Brasília. Para encenar Os fantasmas, Murilo Grossi está com uma equipe de luxo. Para começar, a direção é de Hugo Rodas, mestre de várias gerações de atores da cidade, também responsável pela cenografia, figurinos e trilha sonora (interpretada ao vivo pelos atores). Ao lado de Murilo, no palco, estão a atriz Adriana Lodi e o ator William Ferreira, companheiros de longa data. No design de luz, a assinatura de um papa no assunto, Dalton Camargos. Não tem como dar errado! Os fantasmas brinca com a noção da representação teatral e faz uma homenagem ao ofício do ator. O texto propõe reflexões sobre o que é a realidade e o que é a representação da realidade. Na encenação, Hugo Rodas foi além e criou uma analogia entre o final de uma relação amorosa, o final da vida e o final de um espetáculo, encontrando o que há de efêmero em cada um deles. Com muito humor e críticas ácidas à realidade de um encontro afetivo, a montagem realiza o que Otávio Martins chama de “antimetalinguagem”. Em outras palavras, vai além do teatro falando sobre si mesmo para chegar ao paradoxo que é atuar no mundo contemporâneo. A montagem reexamina a existência de um casal. Em cena, eles rememoram encontros e desencontros, repassam sentimentos, revivem situações, algumas absurdas, outras bastante conhecidas de qualquer casal – nem sempre o que se diz é o que se deseja escutar. Mas a encenação também quer celebrar a escolha da arte do ator de teatro. Falar de quem opta pelo encontro único e efêmero da representação diária, que não se repete nunca, que é como a chama de uma vela e que só acontece no encontro entre o ator e o público. Escolher essa carreira num mundo globalizado, cada vez mais virtual, não deixa de ser um ato de coragem. Os fantasmas Até 17/5 noTeatro II do CCBB. De 5ª a sábado, às 19h30; domingos, às 18h30. Ingressos: R$10e R$ 5. Classificação indicativa: 16 anos. 1234voce.com.br Ninguém imagina do que é capaz. A não ser VOCÊ. Já enfrentou seus maiores medos? Superou um grande desafio? Esteja frente a frente com um desconhecido que enfrenta seus próprios limites para alcançar o sucesso na vida pessoal e profissional. Alguém muito mais forte e poderoso do que imagina: VOCÊ! TREINAMENTO VOCÊ Tenha coragem de enfrentar este desafio. Ligue e Faça sua inscrição! (61) 3042-1234 / 9642-9419 | [email protected] 35 LF/ Mercado Há dez anos invadindo as ruas e celebrando o Brasil De 14 a 31 de maio, em diversos restaurantes de Brasília APROVEITE TAMBÉM: Feira gastronômica Brasil Sabor, na Torre de TV dias 30 e 31 de maio Em 2015 a gastronomia brasileira celebra a décima edição do maior festival gastronômico do planeta. Acesse o site, conheça os restaurantes participantes em Brasília e venha saborear as delícias preparadas especialmente para você. Realização: Patrocínio Nacional: R E S T A U R A N T E BAR STAURANTE RESTAURANTE GOURMET REST AURA