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Missão: Formar Empreendedores Autoria: Luiz Carlos

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Missão: Formar Empreendedores Autoria: Luiz Carlos Jacob Perera, Vânia Maria Jorge Nassif, Alexandre Cabral Monte Negro, Laércio Bento, Higor Sandro Pramio, Leandro Ono Resumo: Este artigo discute, a partir das habilidades ou capacitações dos empreendedores, a formação profissional na universidade, em outras palavras, busca identificar se as Instituições de Ensino Superior (IES), em particular as Faculdades de Administração, têm cumprido a missão de formar empreendedores, no sentido lato da palavra. A pesquisa de natureza exploratória foi desenvolvida a partir de uma das principais IES do Brasil, responsável, anualmente, pela formação de cerca de quinhentos profissionais da área de administração e comércio exterior na cidade de São Paulo. Foram entrevistados noventa e cinco (95) exalunos e oitenta e seis (86) chefes diretos dos entrevistados. O grupo dos chefes diretos serviu como controle da avaliação dos ex-alunos, dando maior credibilidade à informação básica da pesquisa. Para análise dos dados, foram utilizadas técnicas de análise estatística descritiva e análise multivariada - correlação e análise fatorial. Os principais resultados revelaram que (1) a avaliação dos atributos dos ex-alunos e chefes imediatos não evidenciou diferenças significativas; (2) a instituição de ensino tem alcançado seus objetivos de formar gestores com espírito empreendedor; (3) os atributos dos ex-alunos empresários são diferenciados; (4) indicou estruturas de análise que podem aprimorar a qualidade do ensino. 1. INTRODUÇÃO Da sociedade, historicamente, surgem clamores de transformação. O ensino, considerado como elemento técnico-profissional na formação do cidadão não pode ser dissociado das grandes questões sociais. Fujita (2003), em revista técnica de ensino, comenta as colocações de especialistas e consultores que tratam da lacuna existente entre a sala de aula e o mercado de trabalho. Aborda ainda, considerando lamentável, o fato de as Instituições de Ensino Superior (IES), não fazerem um acompanhamento sistemático do desempenho dos profissionais graduados frente os desafios impostos pela sociedade, onde desempenharão as atividades para as quais foram supostamente preparados. Emergem questões do tipo: Qual a influência que o “novo” cidadão provoca na sociedade para a qual ele foi preparado? Ele passou a ser um agente transformador, ou não? Quadro 1. Perfil do Administrador QUE ADMINISTRADOR QUEREMOS FORMAR ? “Um gestor de negócios empreendedor” Entende-se por esta definição que o foco do profissional é em negócio e não em empresa envolvendo a burocracia organizacional. Por negócio deve ser entendido todo produto ou serviço entregue a um cliente, externo ou interno que implique em resultado eficaz (satisfação, fidelização, etc...). O gestor de um negócio é um profissional que pode estar em qualquer posição na organização, independentemente de ser uma área fim ou de apoio. Assim, tanto são gestores de negócio o dono de uma empresa, um diretor superintendente, quanto um gerente de RH ou supervisor de produção. ................ Fonte: Instituição de Ensino Superior, 2004 1 A Instituição de Ensino Superior (IES), em seu site na Internet, assume de forma clara – como os tempos modernos exigem – o perfil do profissional que pretende formar, vide Quadro 1. Maia (2003), descreve o dilema de Jasmim, uma jovem cheia de motivação e dúvidas, ao fazer escolhas para realizar seus projetos de vida. A importância do diploma e a qualidade do curso escolhido, no sucesso de seu futuro profissional, são claras. Também fica clara a falta de autoconfiança e adequada orientação de Jasmim, para definir seu rumo em termos profissionais, através da melhor escolha entre as opções de cursos universitários. Nicolini (2003), descreve o drama das dificuldades de interação entre a academia, a pesquisa e a realidade empresarial. O problema persiste há décadas. Não é exclusividade brasileira, onde o aluno, via de regra, posiciona-se como um receptáculo pronto para ser preenchido. E, assim, como um produto do meio, adapta-se a ele, ao invés de transformar-se. Diante dessas colocações, procurá-se através desta pesquisa ajudar a compreensão de problema tão complexo. Inicialmente, buscá-se entender os propósitos da formação profissional da faculdade, identificando o que seria o problema de pesquisa: Estaria a IES atingindo seu objetivo de formar Um gestor de negócios empreendedor? Entende-se que, ao mostrar se e como a IES está atingindo seus objetivos, de formação profissional, o pesquisador estará contribuindo significativamente para a decisão de jovens que, como Jasmim, pretendem escolher uma carreira e uma instituição de ensino. Também, estará contribuindo para mostrar à direção da instituição como os profissionais recentemente formados estão posicionados no mercado como empreendedores; quais os aspectos mais relevantes de sua formação e como estão sendo avaliados. No mínimo, questões instigantes. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Aspectos Econômicos Ligados ao Empreendedorismo Este artigo entende empreendedorismo como o principal gerador da atividade econômica de um país. Discute empreendedorismo a partir da visão carismática de Schumpeter no início do século vinte, quando a humanidade desenvolvia aceleradamente a saga industrial, passando por intensas mudanças do artesanato produtivo para a industrialização capitalista. Empreendedorismo é um conceito que está ligado a empreendedor, empresa, empresário, no sentido de criação e desenvolvimento de negócios, sejam eles novos ou revigorados, no sentido de adquirirem um novo ímpeto de crescimento, qualitativo ou quantitativo, significativamente acima de seu crescimento vegetativo. O crescimento agregado dos negócios reverte-se no crescimento da economia de um país, daí a relevância de serem entendidos, com maior profundidade, alguns fundamentos econômicos de crescimento. Schumpeter (1997), em sua Teoria do Desenvolvimento Econômico, considera que o desenvolvimento ocorre de duas formas distintas: mudanças nos fatores de capital e trabalho, decorrentes do crescimento vegetativo contínuo, impulsionadas pelos fatores externos de acomodação ao mundo à sua volta, o que chamou de fluxo circular ou análise estática, e; mudanças que ocorrem internamente por sua própria iniciativa e de forma descontínua, alcançando uma nova posição de equilíbrio, o que chamou de revolucionária ou dinâmica. Nas palavras de Schumpeter: É uma mudança espontânea e descontínua nos canais do fluxo, perturbação do equilíbrio que altera e desloca para sempre o estado de equilíbrio previamente existente. Ainda segundo Schumpeter (1997), é o produtor que inicia a mudança econômica, e os consumidores são ensinados a querer coisas novas ou diferentes. A sua distinção entre crescimento estático e dinâmico acaba se fundamentando no conceito de destruição criadora, ou seja a substituição de produtos e serviços existentes por novos hábitos de consumir. Schumpeter, reconhecidamente, um cientista e pesquisador avançado para seu tempo foi um dos primeiros a centralizar o papel do empreendedor, destacando ainda a importância da liderança, do risco, do crédito e da estratégia ajustada à visão empresarial, como propulsores do desenvolvimento econômico em qualquer instância. Schumpeter (1997), ao definir empresário e empreendedor o fez numa conceituação moderna e atual distinguindo os empresários, homens de negócio, dos executivos de empresas e dos controladores (maioria 2 das ações). Conceituando a todos como empreendedores desde que se voltassem para a realização de novas combinações, caracterizando-os como inovadores. Deve-se considerar que as idéias de Schumpeter constantes em suas obras remetem aos anos de 1907 a 1909 (formulação), 1911 (publicação) e 1926 (revisão). Schumpeter enfatiza que alguém só é um empresário quando efetivamente levar a cabo novas combinações, e perde esse caráter assim que tiver montado o seu negócio, quando dirigi-lo, como outras pessoas dirigem seus negócios. Assim, é raro alguém permanecer muito tempo como empresário, como é raro um homem de negócios nunca passar pela experiência de ser empresário em algum momento. Schumpeter destaca ainda o papel da estratégia: “A realização de novas combinações não pode ser mais uma vocação do que a tomada e a execução de decisões estratégicas, embora seja essa função e não o seu trabalho de rotina, o que caracteriza o líder milita” (grifo nosso). Quadro 2. De Schumpeter a Michael Porter – Uma visão estratégica. Desenvolvimento em Função de Novas Combinações ou “Estratégias” de Schumpeter Forças Competitivas Que Moldam a Estratégia, segundo Porter. Introdução de novos bens / serviços – com o qual os consumidores não estejam familiarizados ou com uma nova qualidade. Ameaça de Novos Entrantes – novos entrantes trazem novas capacidades, diferenciação de produto, escala, etc. Introdução de novos métodos de produção – que ainda não tenham sido testados pela experiência no setor (não necessariamente uma nova descoberta), ou uma nova forma de comercializar uma mercadoria. Ameaça de Produtos /Serviços Substitutos – quanto mais atrativo for o trade-off preço/desempenho oferecido pelo produto substituto, mais afetará o potencial de lucros do setor. O Setor Competindo por Uma Posição Entre os Concorrentes Existentes – o equilíbrio de mercado é constantemente ameaçado. Fornecedores e Compradores Poderosos – dominam o setor para o qual fornecem, daí a necessidade de alternativas. Condições de Mudança – decisões estratégicas envolvendo um grande segmento exercem um grande impacto nas condições determinantes Abertura de novos mercados – no qual ainda não tenha penetrado, quer tenha existido antes, ou não. Conquista de novas fontes de matérias-primas – independentemente de já existir ou ser criada. Estabelecimento de novas organizações, como a criação de posição de monopólio, ou a fragmentação de uma posição monopolística. Fonte: Os autores, a partir dos textos de Schumpeter, 1998 e Porter, 1998. Michael Porter, de Harvard, guru da estratégia moderna, deve ter reconhecido no texto uma identidade de princípios. Se for comparado desenvolvimento, no sentido Schumpeteriano de novas combinações (estratégias), com os princípios da formulação estratégica, na visão de Porter, teremos uma linha de contato bastante estreita, como pode ser acompanhado no Quadro 2. 2.2. Características do Empreendedor Drucker (2002) discute a o pensamento econômico a respeito dos empreendedores, afirma que todo o economista sabe que o empreendedor é importante e provoca impacto. Entretanto, para os economistas, empreender é um evento meta-econômico; algo que influencia profundamente e molda a economia, sem fazer parte dela. Economistas, em outras palavras, não têm como explicar porque o espírito empreendedor emerge, como aconteceu no final do século XIX, e parece estar emergindo hoje, e nem porque ele se limita a um determinado país, ou a uma cultura. Realmente, os eventos que explicam porque o empreendimento se torna eficaz, provavelmente, não são, em si, eventos econômicos. As causas, possivelmente, estariam nas mudanças em valores, percepções, atitudes, talvez mudanças demográficas, em instituições (tais como a criação de bancos empreendedores na Alemanha e nos Estados Unidos, por volta de 1870) e talvez em mudanças na educação. 3 Drucker (2002), afirma: “Alguma coisa, com toda certeza aconteceu aos jovens americanos, e, para um número razoavelmente grande deles, às suas atitudes, aos seus valores e às suas ambições nos últimos vinte a vinte e cinco anos... Como explicar, por exemplo, que, de um momento para outro, surja tanta gente disposta a trabalhar como doida por longos anos e a enfrentar sérios riscos, em vez de ter a segurança das grandes organizações. Onde estão os hedonistas, os que buscam status, os eu também, os conformistas?” Mais adiante, Drucker ensina que o veículo dessa profunda mudança em atitudes, valores e acima de tudo, em comportamento é uma tecnologia. Ela se chama Administração. Suas amplas e novas aplicações provocaram o aparecimento da economia empreendedora nos Estados Unidos. Os autores identificados como pioneiros no campo – Cantillon (1755) e Say (1803; 1815; 1816; 1839) não estavam interessados somente em economia, mas também em empresas, criação de novos empreendimentos, desenvolvimento e gerenciamento de negócios. Cantillon e Say consideravam os empreendedores como pessoas que corriam riscos, basicamente porque investiam seu próprio dinheiro. Schumpeter (1954) admitia que a parte mais importante de seu trabalho era transmitir aos anglo-saxões o universo dos empreendedores como descrito por Say. Como Say foi o primeiro a lançar os alicerces desse campo de estudo, pode-se considerá-lo o pai do empreendedorismo. Entretanto, foi Schumpeter (1928) quem realmente lançou o campo do empreendedorismo, associando-o claramente à inovação: A essência do empreendedorismo está na percepção e no aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios (...) sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos naturais, em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações (FILION, 1999). Em Birley e Muzyka (2001), encontra-se uma descrição cuidadosa do que consideram características comuns a todos os empreendedores: orientados para realizações, gostam de assumir a responsabilidade por suas decisões e não gostam de trabalho repetitivo e rotineiro; são criativos, possuem altos níveis de energia, altos graus de perseverança e imaginação, aliados a disposição para correr riscos moderados e calculados. Complementam as características dos empreendedores, acrescentando: entusiasmo contagiante, senso de propósito e determinação que podem se traduzir em capacidade de sedução, habilidade política ou carisma. Os empreendedores sabem como liderar uma organização e dar-lhe impulso, freqüentemente começam com uma idéia muito simples e mal definida que conseguem transformar em algo concreto. Finalizam, afirmando que os empreendedores são a força motriz da economia de qualquer país. Eles representam a riqueza de uma nação e seu potencial para gerar empregos (BIRLEY e MUZYKA, 2001). Inovação Liderança Criatividade Independência Energia Tenacidade Originalidade Riscos moderados Quadro 3. Características dos Empreendedores. Otimismo Tolerância à ambigüidade e à incerteza Orientação para resultados Iniciativa Flexibilidade Capacidade de aprendizagem Necessidade de realização Sensibilidade a outros Autoconsciência Agressividade Autoconfiança Tendência a confiar nas pessoas Envolvimento a longo prazo Dinheiro como medida de desempenho Habilidade para conduzir situações Habilidade na utilização de recursos Fonte: Hornaday et al, apud, Trevisan, 2000 4 Dornelas (2001), alinha um grande número de características dos empreendedores de sucesso, entre elas destacam-se: são visionários, no sentido de terem habilidade para planejar o futuro e implementar seus sonhos; sabem tomar decisões; fazem a diferença, no sentido de transformar o que é possível em realidade; são independentes, no sentido de construírem seu próprio destino; são bem relacionados, constroem um networking funcional mantendo contatos proveitosos junto a fornecedores, clientes, entidades de classe e congêneres; possuem e desenvolvem conhecimento necessário a implementação do negócio; sabem agregar valor para si e para a sociedade. 2.3. A Quem Compete o Papel de Formar Empreendedores Pesquisas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, SEBRAE (2001) – um serviço social autônomo administrado, predominantemente, pela iniciativa privada – indicam que 70% da população brasileira gostariam de montar seu próprio negócio. A mesma fonte, baseada em uma amostra de 1.750 empresas paulistas, constituídas a partir da segunda metade dos anos noventa, evidencia que em 2000, 71% dessas empresas havia encerrado suas atividades – antes mesmo de completarem cinco anos de vida. As principais causas apontadas foram: tempo e qualidade do planejamento feito antes da abertura da empresa, dedicação à empresa no primeiro ano e gestão do negócio. Demonstrando a falta de preparo dos pretensos empresários. Maranhão (2002), presidente da ANACEU – Associação Nacional dos Centros Universitários, afirma que seria ingenuidade acreditar que apenas com uma pedagogia empreendedora, teríamos uma geração de empresários de sucesso, já que a sobrevivência de um negócio depende também de fatores externos que não podemos prever ou controlar, assim como de medidas do governo para desburocratizar e facilitar a vida dos pequenos empreendedores – facilitando o crédito e reduzindo os impostos, por exemplo. Opina ainda, que ações na direção de uma pedagogia empreendedora teriam o mérito de, além de preparálo adequadamente para o desempenho profissional, fortalecer a confiança do indivíduo, favorecendo o seu desenvolvimento pleno e, em conseqüência, o do país. Ferreira e Mattos (2003), em recente trabalho, discutem: Podem os cursos de graduação em administração ser celeiro de novas empresas e empreendedores? O que eles fazem ou até impedem que se faça nesse sentido? As principais conclusões indicam que as práticas didático-pedagógicas que têm o caráter de simulação do empreendimento tendem a ser as que mais incentivam o empreendedorismo. Podem ser citadas: desenvolvimento de um produto, desenvolvimento de uma empresa (os mais relevantes), disciplina sobre empreendedorismo e elaboração de um plano de negócio. Como práticas que não estimulam ou mesmo inibem a postura empreendedora, podem ser citadas: adoção de livro texto e exigência de ficha leitura / resumo sobre conteúdo da aula. A importância do conhecimento, como ferramenta capaz de organizar a interação entre os recursos disponíveis e as decisões decorrentes de pressões globais é destacada pela maioria dos autores modernos. Trevisan (2000), analisa a importância do conhecimento, lembrando que nesta fase de desenvolvimento acelerado, o conhecimento não se esgota e é preciso reciclá-lo ao longo da vida. O mundo mudou, o aprendizado não é mais estanque, datado, é contínuo porque as técnicas, os métodos e os processos alteram-se sistematicamente. Esta realidade passa a fazer parte da vida. Por isso as escolas estão mudando”. 2.4. A Formação dos Alunos à Luz das Diretrizes Curriculares e do Perfil Traçado e Desejado pela IES Pesquisada. Durante a Conferência Mundial da UNESCO (1998), o então Primeiro Ministro da França Lionel Jospin fez a seguinte declaração: A universidade, uma vez que ela se transformou numa torre de marfim, falhou em sua missão. Esta lição não deve ser esquecida. 5 A liberdade acadêmica e a autonomia das instituições são inseparáveis de sua responsabilidade diante da sociedade. Esta posição foi um marco para que as instituições repensassem seu papel e as condições que estavam oferecendo no processo de formação de seus alunos. Dois anos antes deste evento, o Brasil regulamentava a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional incumbindo as instituições de reverem a sua estrutura pedagógica, a definição do perfil profissiográfico, as competências e as habilidades a serem desenvolvidas, os campos de conhecimentos, duração dos cursos, estágio supervisionado, o reconhecimento de habilidades e competências extracurriculares, a organização curricular, práticas e projeto pedagógico e da interface do curso com a pós-graduação. Além disso, a Conferência da UNESCO chamava atenção para uma posição estratégica da Instituição de Educação Superior tendo em vista a sua importância numa sociedade contemporânea em constante transformação. Ela propõe novos desafios voltados para a pertinência (variedade de serviços à sociedade) a qualidade (conceito multidimensional, pois contém as três funções clássicas: docência, pesquisa e extensão) e internacionalização (parceria com outras entidades educacionais). Em face dos múltiplos desafios, a educação de maneira geral, e a praticada nas instituições de ensino superior, surge como um trunfo indispensável à humanidade na construção dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social. Foi neste contexto que houve a necessidade de renovar o quadro de dirigentes para modernizar o projeto de formação de alunos nesta área do conhecimento. Surge assim a proposta de traçar o perfil do aluno a que se pretendia formar, alinhando as estratégias e ações para viabilizar uma formação compatível com aquela exigida pelos órgãos oficiais e pelo mercado de trabalho exigente. Entrevistado o diretor da Faculdade (2004) ele afirma que foi preciso fazer uma revisão geral nos cursos a começar pela grade curricular, planos de ensino, aprofundando até o quadro de docentes que estavam atuando no curso. A biblioteca foi outro foco de mudança e a instalação da cultura da pesquisa, tendo sido desenvolvido uma política de trabalho de conclusão de curso que agregasse valor à formação do aluno e impulso de pesquisa aos professores. Algumas atividades proporcionadas ao corpo docente, como por exemplo, seminários de metodologia e de didática do ensino superior, contribuíram para a melhoria dos procedimentos metodológicos em sala de aula, criando assim, ambiente de desenvolvimento de atividades de pesquisa e atividades que estimularam os alunos em alguns princípios do empreendedorismo. As atividades implantadas extra-sala – palestras e visitas a empresas, entre outras, contribuíram com a instalação da iniciação científica e desenvolvimento de uma central de casos de empresas. Destaque especial à Empresa Junior como um espaço efetivo de desenvolvimento das características empreendedoras. Para o Chefe do Departamento de Administração, também entrevistado (2004) a formação do aluno para desenvolver as características de empreendedor deve ser direcionada para contextos em que propicie o olhar para as oportunidades e aprender a buscar meios para transformá-las em resultados. Estas transformações provocaram um repensar na própria formação do Administrador. O processo prossegue em desenvolvimento contínuo, com ampla participação e discussão do corpo docente e discente sempre em busca de iniciativas voltadas para o seu aperfeiçoamento. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA: OBJETIVOS, VARIÁVEIS, AMOSTRA E TRATAMENTO DE DADOS Para responder ao problema de pesquisa formulado, definiu-se como objetivo principal verificar se a IES está formando Gestores de negócios empreendedores. Como gestor de negócios podemos interpretar o indivíduo que faz a gestão de uma atividade lucrativa ou não, 6 tendo autoridade para tomar decisões e assumindo a responsabilidade pelos possíveis resultados decorrentes de sua decisão. Um gestor de negócios empreendedor alia à atividade sua capacidade empreendedora, ou seja, a busca de oportunidades e a agregação de valor ao negócio (BIRLEY e MUZYKA, 2001). A hipótese formulada a partir do problema de pesquisa, pode ser descrita: HA = A IES está formando Gestores de Negócio Empreendedores A partir desta hipótese, foram definidos como objetivos específicos: (1) Identificar os principais atributos (variáveis) que estariam ligados à definição do conceito de gestor empreendedor; (2) Verificar a coerência dessas variáveis com os conceitos emitidos pela instituição de ensino em análise; (3) Verificar o grau de aderência dessas variáveis aos profissionais formados recentemente pela IES – tanto na avaliação dos profissionais (ex-alunos), quanto na avaliação das empresas, através do grupo de controle – chefes diretos dos entrevistados; (4) Explicar o comportamento das variáveis através de fatores ajustados à realidade educacional; (5) Sugerir possíveis estruturas de análise que possam aprimorar a qualidade do ensino refinando a formação dos profissionais. A pesquisa foi de natureza exploratória, uma vez que foi adotada uma IES para discutir-se um problema que interessa à toda coletividade. O horizonte da amostra restringiuse a um período de oito semestres ou quatro anos (de 1999 a 2002), considerando que os Planos de Ensino atualizam-se com freqüência e a expansão do período poderia misturar diferentes programas e mesmo incluir complementações de ensino dentro ou fora da área acadêmica, fugindo dos propósitos da pesquisa. Devido às restrições impostas, as inferências devem ser ressalvadas como adequadas para a população em análise. No entanto, considerando que as IES de São Paulo e mesmo de outras capitais seguem padrões semelhantes, os resultados encontrados podem ser expandidos, com os devidos cuidados em sua interpretação. • Identificação das variáveis As variáveis foram definidas com base em uma matriz de conteúdo, formatada a partir da análise dos autores citados no item 2.2. Características do Empreendedor e das características explícitas consideradas relevantes pela IES. Basicamente, foi desenvolvido o seguinte raciocínio de análise: se a IES destaca os atributos necessários para a formação do empreendedor, estes atributos devem estar contemplados em seus planos de ensino e logicamente estarão incorporados na formação do profissional. Logo importa verificar como estes atributos são avaliados e reconhecidos pelos profissionais formados e pelas empresas onde atuam. A matriz de conteúdo colocou em destaque oito variáveis descritas a seguir: 1) Aceitar Riscos (RISCOAC)– significando que o empreendedor aceita correr riscos (reconhecer a possibilidade de ocorrer prejuízo) para obter melhores resultados. 2) Determinado (DETERMINADO) – o indivíduo que, sem medir esforços empenha a energia necessária para atingir seus objetivos, não se deixando abater pelas dificuldades e procurando superar todos os desafios. 3) Liderança (LIDERANÇA) – ou líder, alguém que sabe formar e conduzir equipes, uma pessoa cujas ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e comportamento de 7 outras. 4) Identificar Oportunidades (OPORTUNIDADE) – considerado como o fato de estar sempre atento à geração de valor para a empresa, seja criando novos negócios, seja pela redução de custos. 5) Criatividade (CRIATIVIDADE) – o fato de estar sempre aberto a novas experiências, ser altamente adaptável, saber conceituar e usar a imaginação para resolver problemas, traduzindo idéias em soluções práticas. 6) Conhecimento (CONHECIMENTO)– dominar a sua área de atuação, através do desenvolvimento teórico e prático constante (reciclagem, atualização, etc.), que o habilite a fazer uso das ferramentas adequadas nas diversas situações e cenários, atingindo com eficácia seus objetivos. 7) Visão – (VISÃO) basear-se em realidades presentes, conseguir imaginar cenários e traçar planos e estratégias para o seu futuro, ou de sua organização. Poder anteceder fatos com o objetivo de inovar ou recriar produtos, soluções e serviços. 8) Tomada de Decisão (TOMADOR DEC.) – a capacidade e habilidade em definir a melhor escolha e agir no momento necessário, tendo segurança em suas iniciativas, • Da população e amostra A população alvo da pesquisa foi composta por ex-alunos dos cursos de Administração e de Comércio Exterior da IES – relação fornecida pelo Centro de Processamento de Dados. O número de formandos no período foi de cerca de 1500 profissionais, dos quais foi extraída uma amostra estratificada e probabilística (dentro de cada extrato), foram sorteados 95 exalunos. Da amostra de ex-alunos, 86 trabalhavam em diversas instituições (PROFIS), tendo uma chefia imediata (CHEFEDI), a qual também foi entrevistada – servindo como grupo de controle; 8 possuíam negócio próprio (EMPRES) e um estava desempregado (DESEMP). O tamanho da amostra, n = 86, é suficiente para gerar resultados com 95% de confiança e 0,2 de erro – o que satisfaz plenamente os objetivos da pesquisa. A Tabela 1. mostra a composição e percentuais da amostra. Tabela 1. Amostra da Pesquisa ESTRATO PROFIS EMPRES DESEMP IES-SUBTOT CHEFEDI IDENTIFICAÇÃO Profissional formados pela IES Empresários formados pelo IES Desempregado formado pelo IES SUBTOTAL IES Chefe Direto Prof. formado pela IES TOTAL DA AMOSTRA No. PERC. 86 8 1 95 86 47,5% 4,4% 0,6% 52,5% 47,5% 181 100,0% • Do Questionário O questionário foi do tipo compacto composto por oito questões relacionadas às oito variáveis focadas na identificação dos atributos de gestores empreendedores. A escala utilizada foi do tipo Likert, com definição conceitual do atributo e escala de cinco pontos, do tipo Discordo Totalmente – Concordo Plenamente, com o ponto intermediário significando indiferença. As quatro primeiras questões tiveram sua escala invertida para evitar vieses de medição. A escolha do entrevistado (valor da escala) significa identificar no profissional, com maior ou menor intensidade, o atributo empreendedor. Pereira (2001) afirma que o sucesso da escala intervalar de Likert deve residir no fato de que ela tem a sensibilidade de recuperar conceitos aristotélicos da manifestação de qualidade: reconhece a oposição entre contrários, reconhece gradiente e reconhece situação intermediária. Além disso, ela tem uma relação 8 adequada entre a precisão e a acerácia da mensuração. Os questionários foram respondidos através de entrevista face a face, o que, no entendimento de Schober e Conrad (2002), melhora a acurácia das respostas provendo substantiva clarificação através de ajuda solicitada ou não. A extensão geográfica foi restrita à região da Grande São Paulo. O período de realização da pesquisa estendeu-se de julho a outubro de 2003. • Tratamento e Análise dos dados Os dados primários foram transpostos a partir de uma planilha desenvolvida no Microsoft® Excel 2002 e analisados com o auxílio do Social Package for Social Science, SPSS for Windows, versão 11.0 de setembro de 2001. As análises feitas são descritas a seguir, com destaque para a análise fatorial. Inicialmente, foram calculadas médias, desvios padrão e coeficientes de correlação de todas as variáveis. Os resultados, distribuídos por estratos são apresentados na Tabela 2. Na análise das médias, interessa ao pesquisador a acurácia da medida. Na falta de um gold standard foi adotado um grupo de controle: os chefes diretos dos ex-alunos, que será utilizado para com firmar as medições do grupo de análise. O Grupo de controle emparelhado, segundo Cozby (2003) deve ter a garantia de equivalência em alguma característica – no caso, a subordinação hierárquica direta. O grupo de controle objetiva detectar possíveis vieses de medição quando os valores mostram-se discrepantes – garantindo assim maior confiabilidade ao processo de amostragem. Tabela 2. Média, Desvio Padrão e Coeficientes de Variação dos Atributos 86 3,74 1,01 0,27 Número Casos: Média: Desvio Padrão: Coeficiente Variação: 8 4,50 0,53 0,12 CRIATIVO ID.OPORT. LIDER. TOM.DEC. Número Casos: Média: Desvio Padrão: Coeficiente Variação: EXECUTIVO FORMADO PELA IES 86 86 86 86 4,23 3,92 3,87 3,65 0,89 0,93 0,89 1,12 0,21 0,24 0,23 0,31 CHEFE DIRETO DO EXECUTIVO FORMADO PELA IES 86 86 86 86 4,20 3,98 3,76 3,71 0,94 0,97 0,94 1,14 0,22 0,24 0,25 0,31 EMPRESÁRIO FORMADO PELA IES 8 8 8 8 4,63 4,63 4,38 4,00 0,52 0,74 0,52 0,93 0,11 0,16 0,12 0,23 VISÃO 86 3,76 0,95 0,25 CONHEC. Número Casos: Média: Desvio Padrão: Coeficiente Variação: DETERMIN. VARIÁVEIS/ ESTRATOS RISCOAC (Considerados por Estratos) 86 3,81 1,06 0,28 86 3,67 0,88 0,24 86 3,99 0,98 0,25 86 4,03 0,94 0,23 86 3,83 0,80 0,21 86 3,99 1,00 0,25 8 3,88 0,99 0,26 8 4,38 0,74 0,17 8 4,75 0,46 0,10 Observação: deixa de constar como estrato o único caso de ex-aluno desempregado por não servir como como base de análise estatística - consta como referência da pesquisa Quando comparada, a avaliação dos ex-alunos e chefes diretos revela pequenas diferenças nas variáveis conhecimento e visão, indicando que os ex-alunos podem ter subestimado suas qualificações, o que pode ser justificável numa avaliação rigorosa; já na variável identificar oportunidades os ex-alunos, na visão de seus chefes diretos, superestimaram suas qualificações o que pode ser explicado pela consideração de uma maior experiência na avaliação de situações peculiares à empresa. As demais variáveis foram avaliadas, praticamente, com os mesmos valores. De uma forma geral, pode-se dizer que as medidas apresentam acurácia quando comparadas ao grupo de controle. A precisão das medidas pode ser verificada pela sua variabilidade, no caso optamos 9 por uma medida relativa, o coeficiente de variação (desvio padrão/média). O coeficiente de variação pode ser avaliado pelo grupo de controle, o que mostra a sua acurácia. No entanto a variável criatidade é a que revela o coeficiente de variação mais elevado nos dois estratos. Isto pode revelar que esta variável, por ser um conceito mais abstrato e subjetivo, foi a que teve maiores problemas de ser contextualizada – apesar da descrição conceitual. No entanto, deve ser ressalvado que os coeficientes de variação revelados em ambos os estratos têm média de 0,25, o que é aceito com uma variação pouco significativa em análises de ciências sociais, o que revela a precisão da medida. O estrato dos ex-alunos que se tornaram empresários merece um destaque especial, pois os valores das médias mostraram-se muito superiores ao do estrato dos profissionais – que estão empregados e têm chefe direto. Isto nos levou a fazer um teste de diferença de médias: H0 : Empresários - Profissionais = 0 O resultado mostrou que H0 foi rejeitada ao nível de significância de 1% para as variáveis, aceitar riscos, liderança, visão e tomada de decisão, e ao nível de significância de 95% para identificar oportunidades. O resultado parece evidenciar que os fatores que levam um empreendedor a abrir a sua própria empresa estão menos ligados à determinação, criatividade e conhecimento e mais à ousadia: o empresário tem visão, está disposto a correr riscos em busca de oportunidades, possui liderança e sabe tomar decisões 5 Escala de Likert 4 3 2 Profis. Empres. . EC .D TO M V IS Ã O T. RI A TI V O C O N H EC . C .O PO R LI D ER . ID R IS C O A C D ET ER M IN . 1 Figura 1. Avaliação Ex-Alunos Formados IES A Figura 1. coloca em destaque esta realidade, mostrando que os ex-alunos que se tornaram empresários diferenciam-se, superando os outros ex-alunos em quase todos os atributos, menos em conhecimento. Esta situação apenas confirma o conceito de empreendedorismo voltado para a criação de empresas, sobejamente mencionado na literatura como em Dornelas, 2001, cuja discussão está além do escopo do presente trabalho. Na seqüência, foi aplicado o teste Alpha de Cronbach que é um teste de confiança que permite estudar a propriedade de medida e a adequação das questões que fizeram parte do questionário. O coeficiente verificado foi r = 0,66. Com base nesta estatística, pode-se afirmar que o conjunto de questões é consistente com o objetivo da pesquisa, ou seja, mede os atributos de empreendedor dos respondentes. Considerando o número de atributos e a variabilidade destes, ao longo dos semestres 10 analisados, foram feitos dois testes de consistência. O teste qui quadrado e o de análise de variância (ANOVA), para verificar a igualdade de médias de cada variável (aceita risco, liderança, etc.) entre as avaliações feitas pelos ex-alunos (auto avaliação) e a avaliação feita pelos chefes diretos – o grupo de controle. O teste qui quadrado compara as médias observadas com a média esperada, enquanto o da ANOVA (análise de variância) é um teste de variância que compara os resíduos entre e inter grupos. Em ambos os casos, a igualdade de médias foi confirmada com 99% de nível de confiança. Tabela 3. Teste de Diferença de Médias - Bi-Caudal VARIÁVEIS RISCOAC DETERMINADO LIDERANÇA OPORTUNIDADE CRIATIVO CONHECIMENTO VISÃO TOMADOR DEC. Profis. (86) 3,69 4,20 3,84 3,84 3,60 3,81 3,60 3,92 MÉDIA Ex-Aluno (95) 3,76 4,23 3,92 3,87 3,65 3,81 3,67 3,99 ChefeDir 3,74 4,20 3,98 3,76 3,71 4,03 3,83 3,99 Profis. (86) 95% (1,96) -0,39 0,00 -0,97 0,58 -0,61 -1,44 -1,74 -0,46 Ex-Aluno (95) 99% (2,576) 0,09 0,25 -0,43 0,86 -0,34 -1,50 -1,21 0,01 Foi feito ainda um teste de diferença de médias. A Tabela 3. mostra as médias das variáveis para o período total de análise, considerando os ex-alunos formados pela IES que possuem chefe direto (Profis), e o grupo total de análise (Ex-Aluno), incluindo um desempregado e oito empresários; mostra ainda a média do grupo de controle, constituído pelos chefes diretos dos ex-alunos (ChefeDir). Aplicado o teste “t” de diferença de médias (Profissional e Ex-Aluno x Chefe Direto) verifica-se que as hipóteses nulas de igualdade de média não são rejeitadas ao nível de significância 5%, nem ao nível de 1% - o que implica reconhecer que os valores expressos pelo grupo de controle validam os do grupo de análise. • Análise Fatorial O ensino no Brasil é regulamentado a partir da Lei nº 9.394, Lei de Diretrizes e Bases, de 20 de dezembro de 1996, e do Plano Nacional de Educação, sancionado em 9 de janeiro de 2001. Ao governo entre outras cabe a tarefa de avaliar as condições do ensino superior. As Avaliações das Condições de Ensino e Institucional são realizadas no próprio local de funcionamento do estabelecimento educacional. A primeira é centrada na qualidade do curso e a outra focaliza a instituição de forma geral. Elas levam em conta três dimensões: organização didático-pedagógica ou institucional, corpo docente e instalações físicas. (INEP, 2004). Do tripé que sustenta o ensino público e privado, nos interessa discutir a dimensão básica didático-pedagógica, que norteia o fornecimento do ensino, enquanto prestação de serviço. Discutidas as variáveis, ou atributos que contemplam a formação do administrador, resta um aspecto maior, que é como qualificar essa informação. Para que serve uma pesquisa, senão para aperfeiçoar o sistema social. Ao serem analisados os atributos individualmente pode-se concluir sobre vários aspectos importantes ex-ante, o que foi feito e quais suas conseqüências. Mais importante, o ex-post, o que pode ser feito para aprimorarmos o sistema? Considerando o processo didático pedagógico cuja orientação é competência legal da IES, percebe-se a sua fundamental importância no processo. Variáveis são o objeto de análise, mas entender e aperfeiçoar processo é o que importa. Objetivando interpretar o significado das variáveis, a pesquisa foi aprofundada no sentido de, através da condensação dessas variáveis, criarmos fatores que dessem um melhor sentido interpretativo, objetivando o aperfeiçoamento do processo didático-pedagógico. A técnica 11 utilizada foi análise fatorial, na qual se busca a redução de dimensionalidades, ou seja após ter observado o objeto em toda a sua complexidade por meio de diferentes medidas, interessa ao pesquisador ter medidas mais gerais que permitam uma conclusão para seu estudo (PEREIRA, 2001). Os principais resultados são expostos a seguir. 1,00 ** 0,43 ** 0,45 1,00 ** 0,46 TOM.DEC. 1,00 0,17 ** 0,38 * 0,229 VISÃO CONHEC. 1,00 0,19 * 0,26 ** 0,31 0,08 CRIATIVO RISCO ACEITA 1,00 ** DETERMINADO 0,35 1,00 ** LIDERANÇA 0,08 0,27 1,00 * * * OPORTUNIDADE 0,23 0,21 0,24 ** CRIATIVO 0,08 0,02 0,41 CONHECIMENTO 0,02 -0,01 0,01 * VISÃO 0,03 -0,05 0,23 TOMADOR DEC. 0,12 0,20 0,19 ** Correlação significante ao nível de 99% * Correlação significante ao nível de 95% OPORT. LIDER. DETERM. ATRIBUTOS RISCOAC Tabela 4. Correlações Entre os Atributos de Empreendedor 1,00 Inicialmente foi calculada a matriz de correlações, fundamento de todo instrumento de análise multivariada. Os principais resultados encontram-se na Tabela 4., a seguir. Percebe-se que as relações mais significativas (aos níveis de 95 e 99%) ocorrem: (1) entre Visão e outras cinco variáveis sendo quatro com 99% de significância (Tomador de Decisão, Conhecimento, Criativo e Oportunidade) e uma com 95% de significância (Liderança); (2) Liderança com duas variáveis significativas ao nível de 99% (Criativo e Determinado) e duas com 95% (Oportunidade e Visão), e; (3) Determinado com duas variáveis ao nível de 99% (Risco e Liderança) e uma com 95% (Oportunidade). A existência de uma teia de correlações, permite antecipar não só a possibilidade de ajuste adequado para a Fatorial, como a possível composição dos fatores. O teste Alpha de Cronbach com o valor de 0,6656 – um modelo de consistência interna, baseado na correlação inter-variáveis – indica um bom ajuste das variáveis ao objetivo da pesquisa, isto é, as questões formuladas centram-se no problema de pesquisa. O teste KMO, Kaiser-Meyer-Olkin e Bartlett’s com o valor de 0,677, também é um teste baseado nas correlações. Quanto mais próximo de 1.0, maior a probabilidade de relações significantes entre as variáveis. O valor encontrado corresponde a um intervalo de confiança de 99,5%. Um nível de significância maior do que 10% (confiança inferior a 90%) indicaria que os dados não se adéquam ao procedimento de análise fatorial). O conjunto de indicadores revela que o processo de análise fatorial é indicado e terá um resultado adequado quanto à seleção dos fatores. A Tabela 5 apresenta os eigenvalues que correspondem aos fatores e são a medida de quanto da variância total das medidas realizadas pode ser explicada pelo fator, ou seja, o eigenvalue avalia a contribuição do fator ao modelo construído pela análise fatorial. Um valor pequeno sugere pequena contribuição do fator na explicação das variações das variáveis originais (PEREIRA, 2001). Os eigenvalues relacionam-se aos fatores e indicam o percentual da variância total que é explicada por cada fator. Por exemplo, o primeiro fator corresponde a 30,9 % da variância do conjunto de variáveis. Os três fatores, em conjunto, respondem por 63,2% da variância. 12 Tabela 5 : Extração dos Componentes Principais Fatores 1 2 3 4 5 6 7 8 Eigenvalue Acumulado Variância Acumulada 2,4708 2,4708 30,8851 30,8851 1,4645 3,9354 18,3068 49,1919 1,1186 5,0540 13,9827 63,1746 0,8894 5,9434 11,1179 74,2925 0,7222 6,6656 9,0279 83,3204 0,5156 7,1812 6,4446 89,7650 0,4514 7,6326 5,6422 95,4072 0,3674 8,0000 4,5928 100,0000 Extraction Method: Principal Component Analysis. O procedimento seguinte está em estabelecer o número de fatores que serão extraídos do modelo. Este procedimento depende de algum critério do pesquisador, levando em consideração subjacente a explicação de um e percentual significativo da variância. Os critérios adotam uma stopping rule, que tanto pode considerar um referencial teórico (indicação a priori do número de fatores) quanto aos aspectos práticos como a regra de Kaiser (1960) que extrai os fatores de acordo com o eigenvalue de no mínimo igual a um – equivalente à variância de uma única variável padronizada. Cattel (1966) propôs um procedimento gráfico baseado no mesmo princípio, conhecido como scree test. Usando tal procedimento e considerando o referencial teórico optamos por extrair três fatores. Outro aspecto relevante a considerar na análise é a forma de extração dos fatores, inicialmente os fatores foram extraídos pelo processo dos componentes principais (PCA Principal Component Analysis). Em muitos casos o PCA não permite uma boa interpretação dos componentes do fator. O procedimento normal nesses casos é fazer uma rotação arbitrária dos eixos para simplificar a tarefa de interpretação. Nesta pesquisa o procedimento de rotação adotado foi o método Varimax com a normalização de Kaiser. Uma tentativa de extrair um quarto fator mostrou que daria destaque apenas à variável oportunidade, não acrescentando informação relevante à análise. Para facilitar a análise dos fatores, convém explicar o significado das cargas ou loadings. Por exemplo, o loading da primeira variável do primeiro fator significa que conhecimento correlaciona-se com r = 0,85 com os demais escores deste fator. Logo, percebe-se que as variáveis - conhecimento, visão e tomador de decisão são os drivers deste fator. Considerando os aspectos teóricos envolvendo este conjunto de variáveis podemos denominar este fator de Visão Estratégica, considerando que estratégia implica em definir (tomar decisões) a melhor utilização de recursos internos para interagir com o meio externo (exige conhecimento), na busca de um posicionamento futuro da empresa (visão). Obedecendo ao mesmo critério, o fator número dois pode ser denominado Fator Inovação (no sentido Schumpeteriano), implica em ser inovador (criativo) e possuir liderança para conduzir o processo. O terceiro fator identificado como Eficiência Administrativa, considera que o empreendedor aceita riscos, buscando agregar valor (oportunidade) e empenha-se com vigor (determinado) nesta consecução. A Tabela 6. mostra a Matriz de Componentes Principais e a Matriz com Rotação, separando os fatores como estratos. A variável oportunidade poderia ter sido considerada como um quarto fator com uma carga significante e uma variância explicada de 11%. No entanto, optamos por considerá-la como relevante para a composição do terceiro fator, uma vez que sua carga ( r = 0,41) é relevante considerando o tamanho da amostra com noventa e cinco observações. 13 Tabela 6 - Fatores Carga x Análise dos Fatores FATOR EXPLICADO --------------VARIÁVEIS VISÃO ESTRATÉGICA Conhecimento Visão Tomador Decisão FATOR INOVAÇÃO Liderança Criativo EFICIÊNCIA ADM. Determinado Aceita Risco Oportunidade Eigenvalue : Eigenvalue Acumulado : Variância Explicada : Variância Acumulada : Matriz Componentes Princiapais (sem rotação) Fator 1 Fator 2 Fator 3 Comunalidades Matriz com Rotação (Varimax Normalizada) Fator 1 Fator 2 Fator 3 0,5854 0,7331 0,6672 -0,4412 -0,3908 -0,2028 0,4265 -0,0185 0,3082 0,6024 0,6809 0,7388 0,8454 0,7330 0,7318 -0,0678 0,3829 0,1075 0,0007 -0,0811 0,1848 0,5337 0,6014 0,3213 -0,0647 -0,5923 -0,5570 0,3646 0,6762 -0,0307 0,2323 0,8289 0,7862 0,2254 -0,0642 0,3164 0,3030 0,5542 4,2943 4,2943 0,3088 0,3088 0,7277 0,6200 0,2336 0,8031 5,0975 0,1831 0,4919 0,2264 0,3552 0,0543 0,2028 5,3003 0,1398 0,6317 0,7193 0,6905 0,5813 -0,0391 0,0627 0,3136 2,8490 2,8490 0,2432 0,2432 0,1001 -0,0263 0,3074 2,4189 5,2680 0,1966 0,4398 0,8181 0,7732 0,4145 2,2714 7,5394 0,1918 0,6316 Extraction Method: Principal Component Analysis. Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization. Analisando as informações constantes da Tabela 6, verifica-se que as comunalidades permanecem constantes quando da rotação dos eixos – as correlações entre as variáveis não foram alteradas -, no entanto a carga das variáveis redistribuiu-se de forma diferente nos eixos ou fatores. A matriz com rotação coloca em evidencia as variáveis que influenciam (têm mais peso) em cada fator. Isto facilita a análise como fica evidenciado no destaque em negrito. Com relação à variância, percebe-se que se distribui de maneira mais uniforme na matriz com rotação, no entanto, os fatores rotados continuam explicando a mesma parcela da variância total, cerca de 63%. Conclusão Esta pesquisa discutiu a intensidade do espírito empreendedor em função de um conjunto de variáveis descritas na literatura acadêmica. Os testes realizados consideraram o conjunto de variáveis e amostragem realizados como consistentes, acurados e precisos. Em conseqüência, os atributos de empreendedor ficaram identificados, atingindo o Objetivo 1; o perfil profissiográfico da IES mostrou-se coerente com o conjunto de variáveis levantados pela matriz de conteúdo, atingindo o Objetivo 2, e; foi verificado o grau de aderência das variáveis analisadas ao conjunto de ex-alunos, fato confirmado pelo grupo de controle – chefes diretos, atingindo o objetivo 3 da pesquisa. A análise fatorial colocou em destaque os vetores, que podem orientar o conjunto de métodos e disciplinas: Fator 1, Visão Estratégica (Conhecimento, Visão e Tomador de Decisão) – cujo desenvolvimento pode ser representado por um conjunto de disciplinas voltada para o Planejamento Estratégico como instrumento do Tomador de Decisões, considerando a Visão empresarial; Fator 2, Inovação (Liderança e Criativo) – cujo desenvolvimento pode ser orientado por um conjunto de disciplinas, tecnologias e métodos que estimulem a inovação e dêem liberdade criativa c mo o desenvolvimento de novos produtos e a criação de empresas (FERREIRA E MATTOS, 2003); finalmente, o Fator 3, Eficiência Administrativa (aceita riscos, oportunidade e determinado) que indica a necessidade de um conjunto de disciplinas técnicas voltadas para a avaliação de ativos / passivos (asset liability management), análise de risco e com uma dose adequada de aplicação. Relevante destacar que esta é apenas uma pequena digressão sobre o aspecto mais relevante levantado nesta pesquisa. Desta forma atingimos os objetivos 4 e 5 da pesquisa. 14 Finalmente, com relação à hipótese de pesquisa pode-se afirmar que a IES está formando Gestores de Negócio Empreendedores, esta afirmação está validada por uma média de 71,5%, com uma margem de erro de 5% e um intervalo de confiança de 95%. Esta afirmação fundamentá-se na normalização da escala de Likert e tamanho da amostra. A discussão teórica deixa clara a mudança no ensino, um novo nível de exigência em termos de conteúdo e a relevância de uma pedagogia empreendedora. A partir dessa fundamentação, pode-se pensar não em ensinar o aluno a ser empreendedor, mas em desenvolver condições de ensino que propiciem o desenvolvimento de um espírito empreendedor. Surpreende, no entanto, a falta de orientação de um pedagogo na organização da grade curricular das Instituições de Ensino Superior e no papel que o professor deve desempenhar na sala de aula. Vale lembrar que a escola moderna presta serviço para uma clientela bem informada e deve estar voltada para um conteúdo denso e didática dinâmica conduzida por professores ágeis no domínio da parafernália eletrônica. Papel fundamental na formação do aluno é desempenhado pela interação com o conhecimento, através da iniciação científica e participação continuada em órgãos institucionais, onde pode iniciar o exercício da cidadania. Capítulo a parte é desempenhado pelo suporte das bibliotecas, com lançamentos continuados de obras de diversas origens, atendendo conteúdos variados e autores sendo descobertos diariamente. Alie-se a isto uma ampla disponibilidade de bases de dados criativas e dinâmicas, disponibilizando conteúdo global e teremos uma idéia do domínio dinâmico da educação moderna. O desafio é integrar. A missão das escolas: formar empreendedores para o século XXI. Referências Bibliográficas BATEMAN, Thomas S e ANELL, Scott A. Administração: construindo vantagem competitiva, São Paulo: Atlas, 1998 BIRLEY, Sue e MUZYKA, Daniel F. Dominando os Desafios do Empreendedor. São Paulo: Makron Books, 2001 CATTEL, R. The Meaning and strategic use of factor Analysis, 1966 In Grimm, Laurence G. E Yarnold, Paul R. Reading and Understanding Multivariate Statistics. Washington: Library of Congress, 2000.Delors, Jacques et al. Educação - Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, 1997. www.revistaeducacao.com.br/premio/bibliografia - Consulta em 26 de abril de 2004 DORNELAS, José C.A. Empreendedorismo - transformando idéias em negócio. Rio de Janeiro: Campus, 2001 DRUCKER, Peter. Inovação e Espírito Empreendedor. 6ª. Reimpr., São Paulo: Thomson Pioneira, 2002 FERREIRA, Paulo G. G. e MATTOS, Pedro, L.C.L. 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