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Tratamento da infecção por pseudomonas sp
O AÇÚCAR REFINADO NO TRATAMENTO DA INFECÇÃO POR PSEUDOMONAS SP EM ÚLCERA POR PRESSÃO WHITE SUGAR IN TREATMENT OF INFECTION BY PSEUDOMONAS SP IN PRESSURE ULCERS EL AZÚCAR REFINADO EN EL TRATAMIENTO DE LA INFECCIÓN POR PSEUDOMONAS SP EN ÚLCERA POR PRESIÓN Nilton AlvesI Naira Figueiredo DeanaII
RESUMO: As úlceras por pressão, em estágios mais avançados, podem apresentar infecção, retardando a cicatrização e podendo ser letal. Entre os agentes infecciosos estão as pseudomonas, que são patógenos oportunistas e ubíquos. Objetivou-se verificar a eficácia do uso de açúcar refinado no tratamento de infecção por Pseudomonas sp em úlcera por pressão. Foi realizado um estudo de caso com paciente do sexo feminino, 79 anos, em internação domiciliar, na cidade de São Paulo, em 2006, com úlcera por pressão contaminada por Pseudomonas saprophaga/saprófitas (sp). A lesão era lavada com soro fisiológico 0,9% e depois coberta com uma camada de açúcar refinado, até não se visualizar mais o leito da mesma. Em seguida, era ocluída com gaze estéril e micropore. A troca do curativo era realizada de 6 em 6 horas. O exame de cultura da lesão, após 72 horas de tratamento, mostrou ausência do microorganismo, o que se conclui que o tratamento foi eficaz. Palavras-Chave: Úlcera por pressão; pseudomonas; carboidrato; açúcar refinado. ABSTRACT ABSTRACT:: Pressure ulcers are lesions located in regions where the skin suffers prolonged pressure. At more advanced stages, they can present infections that not only delay cicatrisation but can be fatal. Among the infectious agents are the Pseudomonas, which are ubiquitous opportunistic pathogens. In 2006 a case study was conducted of a 79 year old female patient under home care to determine the effectiveness of using refined sugar to treat Pseudomonas saprophaga (sp) infection of pressure ulcer. The lesion was washed with 0.9% sterile saline solution and then covered with a layer of white sugar until the wound bed was not longer visible and then dressed with sterile gauze and micropore tape. The dressing was changed every 6 hours. Culture from the wound examined after 72 hours of treatment was free of Pseudomonas sp., warranting the conclusion that the treatment was effective. Keywords: Pressure ulcer; pseudomonas; carbohydrate; white sugar. RESUMEN: Las úlceras por presión, en fases más avanzadas, pueden presentar infección, lo que retarda la cicatrización, pudiendo ser letal. Entre los agentes infecciosos están las pseudomonas, que son patógenos oportunistas y ubicuos. Se objetivó verificar la eficacia del uso de azúcar refinado en el tratamiento de infección por Pseudomonas sp en úlcera por presión. Fue cumplido un estudio de caso con paciente del sexo femenino, 79 años, en internación domiciliaria, en la ciudad São Paulo-SP-Brasil, en 2006, con úlcera por presión contaminada por Pseudomonas saprophaga (sp). La lesión era bañada con suero fisiológico 0,9% y después cubierta con una camada de azúcar refinado, hasta no ser más visto su lecho; en seguida, ella era cerrada con gasa estéril y micropore. El cambio del curativo era hecho de 6 en 6 horas. El examen del cultivo de la lesión, después de 72 horas, reveló ausencia del microorganismo, concluyéndose que el tratamiento fue eficaz. Palabras Clave: Úlcera por presión; pseudomonas; carbohidrato; azúcar refinado.
INTRODUÇÃO
As úlceras por pressão são lesões cutâneas decor-
rentes de uma insuficiência do fluxo sanguíneo e da irritação da pele localizada sobre uma proeminência óssea, nas regiões onde a pele sofre pressão durante um período prolongado. A causa direta da úlcera por pressão é a compressão da área corporal sobre a superfície do colchão,
cadeira ou aparelho gessado reduzindo o fluxo sanguíneo, provocando trombose capilar e prejudicando a nutrição da região sob pressão1,2. Vários fatores estão relacionados com a instalação da lesão cutânea, dos quais se destacam: pressão, forças de deslizamento, mobilidade física prejudicada, desnutrição, fricção e o contato com urina e fe-
Cirurgião-Dentista. Formado pela Universidade de São Paulo. Mestre em Anatomia Humana pela Universidade Federal de São Paulo. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Pós-Doutor pela Universidade de SãoPaulo-SP. Professor Assistente Doutor do Departamento de Morfologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, Brasil. E-mail:
[email protected]. II Fisioterapeuta. Formada pela Universidade de Santo Amaro, São Paulo, Brasil. E-mail:
[email protected]. I
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zes2-6. Entre as regiões mais afetadas por esse tipo de lesão destacam-se as regiões sacral, trocantérica, isquiática, os calcanhares e cotovelos7. Além do comprometimento tecidual, as úlceras por pressão podem ocasionar inúmeras complicações, e com isto agravam o estado clínico dos pacientes8. Em estágios mais avançados elas podem apresentar infecção que, além de retardar a cicatrização, podem ser letais9,10. A morbidade aumenta diante do risco de infecção das lesões sendo de grande importância o conhecimento microbiológico das escaras11. Entre os agentes infecciosos estão as Pseudomonas, que são patógenos oportunistas e ubícuos, inclusive constantes em infecções hospitalares. Apesar do desenvolvimento notável da antibioticoterapia no tratamento dessas infecções elas continuam sendo motivo de preocupação, principalmente em pacientes com idade avançada, desnutridos e com defesas orgânicas alteradas. Sabe-se que desde a Antiguidade já existia uma preocupação com o tratamento de feridas infectadas, conforme relatado no papiro de Smith. Os cirurgiões egípcios aplicavam açúcar em feridas, desde 1700 a.C., através de combinações de mel e unguento aplicados diariamente na lesão com ataduras de pano fino. O mel continua sendo usado no tratamento de feridas infectadas nos países em desenvolvimento. Outras substâncias que contêm açúcar, como o melaço e xaropes, têm sido usadas desde tempos remotos por outros povos, como índios do Peru, Chile e Colômbia, com grande sucesso12-14. Alguns autores consideram o resultado da utilização terapêutica do açúcar em feridas infectadas de pacientes imunologicamente deprimidos bastante satisfatório15. O objetivo deste trabalho foi verificar a eficácia do uso do açúcar refinado no tratamento da infecção por Pseudomonas sp em úlcera por pressão.
Alves N, Deana NF
FIGURA 1: Úlcera por pressão na região sacral.
A lesão era lavada com soro fisiológico 0,9% e depois coberta com uma camada de açúcar refinado, até não se visualizar mais seu leito, conforme a Figura 2. Em seguida, era ocluída com gaze estéril e micropore. A troca do curativo era realizada de 6 em 6 horas. Durante todo o tratamento a paciente foi mantida em decúbito lateral (direito e esquerdo), alternando a cada duas horas.
METODOLOGIA
Utilizou-se neste estudo de caso açúcar refinado para o tratamento de infecção por Pseudomonas sp em úlcera por pressão, em função de suas propriedades antissépticas, antibacterianas, bacteriostáticas, antiinflamatórias e cicatrizantes. Trata-se de um paciente do sexo feminino, 79 anos, com magreza grau II, em internação domiciliar (Home Care), no ano de 2006, na cidade de São Paulo – SP, portadora do Mal de Alzheimer, que desenvolveu úlcera por pressão, na região sacral, com aproximadamente 5cm de diâmetro. Ver Figura 1. Realizou-se a cultura da secreção onde foi constatada a presença de Pseudomonas sp.
FIGURA 2: Úlcera por pressão coberta por açúcar refinado até a não visualização de seu leito.
A frequência das trocas do curativo e do açúcar visava manter a osmolaridade elevada na superfície da lesão, o que é fundamental para que ocorram seus efeitos terapêuticos. O tratamento foi mantido, conforme descrição anterior, pelo período de três dias. No terceiro dia foi realizado novo exame de cultura da lesão. Foram realizados, ainda, exames periódicos de controle a cada mês até obter-se a completa cicatrização da lesão.
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RESULTADOS
Analisando os resultados, pudemos constatar a eficácia do tratamento proposto. Decorridas 24 horas de tratamento, observamos uma diminuição acentuada do exsudato, e ficou evidente também que o odor fétido presente no início já havia desaparecido. O exame de cultura da lesão foi realizado após 3 dias de tratamento, em que foi constatado ausência de Pseudomonas sp. Os exames periódicos de controle mensal, até obter-se a completa cicatrização da lesão, não revelaram a presença de Pseudomonas sp.
DISCUSSÃO
Quando as medidas preventivas são insuficientes para impedir o desenvolvimento da úlcera por pressão, o tratamento deve ser implementado8. Uma das formas de tratamento das úlceras por pressão é a realização de curativos, sendo inúmeras as opções disponíveis. Para escolher a melhor forma de tratamento, além de valorizar o perfil pessoal e clínico do paciente, é importante analisar a fase de evolução, a localização, o aspecto do leito da ferida e da pele adjacente, dor e ainda o tamanho da ferida16-28. Além disso, deve-se levar em conta os recursos financeiros do paciente e da unidade de saúde, a necessidade de continuidade da utilização do curativo, inclusive com visitas domiciliares, e a avaliação dos custos e benefícios17. Além da grande variedade disponível no mercado de curativos industrializados, existe a opção da utilização do açúcar refinado. Considerando-se que o uso do açúcar refinado no tratamento de úlcera por pressão é de fácil execução em ambiente domiciliar e tendo em vista sua eficácia, inocuidade, baixo custo e, ainda, o tempo de tratamento que demanda, parece que ele supera os agentes tópicos no tratamento de feridas infectadas por Pseudomonas sp. Conforme a literatura, o processo de cicatrização é acelerado através do tratamento local com açúcar15,18-22. Há aqueles que observam, inclusive, que o resultado do tratamento de feridas infectadas em paciente imunologicamente deprimido, utilizando o açúcar, é satisfatório15. Num estudo recente realizado na Nova Zelândia, os pesquisadores utilizaram mel em feridas a fim de acelerar o processo cicatricial. Eles relataram que o mel diminui o tempo de cicatrização em algumas feridas agudas, como as queimaduras, mas não obtiveram resultados significativos na utilização do mel em úlceras por pressão23. Vale registrar que as úlceras em estágios avançados invariavelmente são colonizadas por bactérias, e na maior parte dos casos, uma limpeza adequada e p.196 •
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um desbridamento vão evitar que a colonização bacteriana chegue até uma infecção clínica. Certos autores reforçam que a maioria das feridas cirúrgicas são colonizadas, porém, relativamente poucas supuram24. A sobrevivência e a multiplicação bacteriana na ferida dependem do quantitativo inicial dos microorganismos invasores e da eficácia dos mecanismos anti-infecciosos locais e sistêmicos do paciente. Não se pode, no entanto, deixar de salientar que as alterações fisiológicas do envelhecimento, principalmente no sistema imunológico, e o retardamento no processo de cicatrização tecidual aumentam o risco de infecção4. A contaminação microbiana de escaras é de suma importância já que a mesma, além de complicar o processo de cicatrização, pode levar à bacteremia causando a morte em pacientes debilitados25. É também comum a presença de osteomielite26. Outros autores14 encontraram flora bacteriana mista em incisões cirúrgicas e obtiveram rapidamente bons resultados tratando esses locais com açúcar. Esses resultados obtidos com o uso do açúcar no tratamento de feridas e úlcera por pressão se devem a seu efeito osmótico na membrana e parede celular bacteriana. Para certos autores27, todos os organismos vivos requerem água para crescer. O açúcar granulado altera a disponibilidade da água na úlcera em níveis suficientes para evitar o crescimento de microorganismos. Forrest13 discorda dessa justificativa, afirmando que a ação do açúcar não está bem estabelecida. Apesar de concordar que o açúcar usado como tratamento tópico da úlcera é disponível, não tóxico e barato, ele não admite que se trate de um agente antimicrobiano universal.
CONCLUSÃO Neste trabalho, foi analisado o caso de uma cliente idosa, em internação domiciliar, que apresentava úlcera por pressão, na região sacral, cujo tratamento tópico com açúcar refinado obteve êxito. Foi possível a eliminação de Pseudomonas sp em três dias, o que leva à conclusão de que o tratamento foi eficaz.
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