Preview only show first 10 pages with watermark. For full document please download

O Justo Viverá Pela Fé. - Convenção Batista Carioca

   EMBED

  • Rating

  • Date

    July 2018
  • Size

    464.6KB
  • Views

    4,879
  • Categories


Share

Transcript

O justo viverá pela fé. 498 anos de Reforma Protestante. Por Carlos Eduardo Lobato de Andrade, Estudante de História na UFRRJ, Diretor Executivo da UMMBC e sempre Embaixador do Rei. RESUMO Este artigo tem como objetivo evidenciar de uma forma bem clara e direta, porém superficial, os principais aspectos da Reforma Protestante e da origem dos Batistas. Manifestando não somente os aspectos religiosos e teológicos, mas econômicos e sociais que contribuíram para a Reforma Protestante. Palavras-chave: Reforma Protestante, 31 de Outubro, Os Batistas. INTRODUÇÃO Protestantes, evangélicos. Para qualquer grupo religioso oriundo da Reforma é delicado abordar tal tema sem deixar de lado seu romantismo. É complicado asfixiar essa pluralidade de sentimentos herdados por este processo que teve em seu auge o dia 31 de outubro de 1517, onde o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546) fixou suas 95 teses contra a venda de indulgências da então divina Igreja Católica. Fundação Biblioteca Nacional Matinho Lutero nasceu na Alemanha. Aos 22 anos ingressou no Convento de Erfurt. Após sete anos tornou-se doutor em Teologia em Wittenberg, onde passou a lecionar. Esse aprofundamento teológico lhe permitiu uma nova interpretação do conceito da Divindade e da Criatura, pautada em sua doutrina da Teologia da Cruz. Em uma Europa escravizada pelos dogmas católicos, Lutero reflete sobre um pequeno trecho na Epístola aos Romanos, onde o apóstolo Paulo afirma: “O justo viverá pela fé”. A partir de tal reflexão, Lutero elabora o seu conceito de justiça passiva. Esse impulso rumo a esta nova doutrina é chamado de “experiência da torre”. Segundo a teologia do monge agostiniano, as ações humanas em nada tinham valor diante de Deus, pois o homem não pode mudar sua natureza pecaminosa. Sendo assim, só há um modo do homem ser justificado: pela fé. Então, neste caso, a justificação do homem só poderá ocorrer através da iniciativa divina, quando Cristo toma para si o fardo dos pecados que antes pertenciam aos homens. Por mais que qualquer homem fosse pecador, através da fé, Cristo o justificava. Como este dom era totalmente gratuito, houve a recusa da noção de “obras meritórias” na qual o papado havia desenvolvido sua autoridade (inclusive pela teoria das indulgências). A Reforma Protestante gera então uma religiosidade mais ativa, visto que, após as traduções da bíblia e a definição do “sacerdócio universal - onde cada um é pastor de si mesmo”, o homem não necessita mais de uma intermediação, sendo agora ligado diretamente à divindade. OUTRAS VISÕES I) Explicação Marxista O Marxismo, como em suma, tenta explicar a Reforma através do caráter econômico. Para Karl Marx, as religiões surgem da economia, cada qual em seu período temporal e espacial. Seguindo este pensamento, a Reforma então era filha da nova forma de economia que surgiu no século XVI e rapidamente se estendeu pelo mundo: a economia capitalista. Sobre tal tema Engels escreveu: “Mesmo nas supostas guerras de religião do século XVI, tratava-se antes de tudo de muitos positivos interesses materiais de classes e essas guerras foram lutas de classe exatamente como as colisões internas mais tarde produzidas na Inglaterra e na França. Que essas lutas de classes hajam possuído marcas religiosas de reconhecimento, que interesses, necessidades e reivindicações de cada uma das classes tenham se dissimulado sob uma capa religiosa, isso em nada altera os fatos e facilmente se explica pelas condições da época 1”. (ENGELS, Fr. 1850) O historiador italiano Coor. Barbagallo, dentro do mesmo espirito, afirma: “Considera-se geralmente a Reforma como um processo de conversão religiosa de uma parte da Europa... Eu não consegui compreender como pode se pensar que multidões de pessoas, num ou noutro pais, foram capazes de se interessar pelas subtilezas teológicas de um Lutero, de um Ziwinglio, de um Melanchton ou de um Ecolampado, que mal são entendidos pelos profissionais da teologia... Considerei portanto a Reforma, não como um fenômeno substancialmente teológico, mas como expressão, aspecto, disfarce religioso da crise que cada pais da Europa atravessa na segunda metade do século XVI, e como sintoma do mal estar universal2”. (BARBAGALLO, Coor. 1936) Para Barbagallo, a reforma representava o progresso econômico e social. E, do outro lado, a “Contra-Reforma” não era um trabalho de reconquista católica da sociedade, como pareceu para alguns líderes eclesiásticos italianos. Era o esforço pela restauração da antiga ordem, agora em perigo, tentando se reestabelecer por meio da Igreja, dos governos e por alguns grupos sociais. 1 DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1989, p. 251. 2 Idem p. 252. A atenção dos historiados marxistas especializados no século XVI se voltaram para o jovem camponês e agitador político Thomas Muntzer, líder da revolta dos camponeses em 1525. O então “revolucionário plebeu” morreu aos 40 anos e usava a Bíblia e escritos milenaristas da Idade Média para incitar os camponeses à luta. “Ele rejeitava a Bíblia, escreve Engels, como revelação tanto exclusiva quanto infalível. Para ele, a verdadeira, a viva revelação, era a Razão... Por essa fé, por essa Razão tornada atuante, o homem se diviniza e se santifica... Do mesmo modo que não existe céu no além, não existe nem inferno nem condenação... Cristo foi um homem como nós... Essas teorias eram pregadas por Muntzer, a maior parte das vezes disfarçadas sob as mesmas formulas cristãs sob quais a filosofia moderna teve por algum tempo que disfarçar. Mas... vê-se que ele levava a máscara bíblica muito menos a sério que muitos discípulos de Hegel nos tempos modernos3.” (ENGELS. Fr.1850) Grande parte dos historiadores marxistas abordam a oposição entre “a Reforma dos príncipes” e “a Reforma dos trabalhadores”. E de ambas surge a “primeira revolução social” da Europa. II) Estudos Econômicos Henrique Hauser debate e discorda da maioria dos historiadores franceses em seu tempo. Para Hause, na França, a Reforma tinha conquistado em primeiro plano a camada mais carente da sociedade, os camponeses, e também trabalhadores como os artesões. “A Reforma do século XVI teve o duplo caráter de uma revolução social e de uma revolução religiosa. Não é somente contra a corrupção do dogma e os abusos do Clero, é também contra a miséria e a iniquidade que sublevam as classes populares. O que elas vão procurar na Bíblia não é apenas a doutrina da salvação pela graça, é a prova da igualdade original de todos os homens4”. (HAUSER, Henrique) Hauser identificava na Reforma uma agitação na qual os fatores econômicos, sociais e religiosos estão unidos. Ele não pretende explicar somente a adesão dos pobres ao Protestantismo, mas também a escolha dos príncipes, que decidem romper com o Clero. “(Os príncipes) cujos domínios estão crivados de senhorios eclesiásticos, terras de imunidade, não têm mais o que secularizar essas terras para fazê-las cair sob as garras de seu fisco. Lutero teve, portanto, desde o primeiro dia, por aliados, seus príncipes e principelhos, ávidos de acrescentar seu domínio e suas rendas5”. (HAUSER, Henrique) 3 Idem p. 253. Idem p. 255. 5 Idem p. 255. 4 Com segurança, Hauser afirmou: “A Reforma é antes de mais um fenômeno religioso, um drama da consciência europeia6”. III) Crítica à Explicação Marxista Para Karl Marx, “o mundo religioso é apenas o reflexo do mundo real” e o “Protestantismo foi essencialmente uma religião burguesa”7. Com o mesmo pensamento, Engels avaliou a Reforma como resultado da decomposição do sistema feudal. Sendo assim, Lutero (a Reforma) surgiram juntamente com o capitalismo. Engels coloca em evidência dois tipos de Capitalismo: um comercial e outro industrial. Sendo que o primeiro surge na Itália, antes do século XVI. Portanto, para alguns historiados, houve a revolução religiosa e não uma revolução econômica. As lentas modificações estruturais – materiais da sociedade - dificilmente foram causadas pela religiosidade. Além da Itália não aderir ao Protestantismo, Leão X, filho de um banqueiro, excomungou Lutero. Para os críticos do marxismo – e segundo as teorias marxistas, a Reforma deveria ter início na Itália e ali triunfado até atingir grande parte da Europa. Ocorrera o contrário, ou seja, a Reforma teve origem em países economicamente atrasados, como a Alemanha e a Suíça. Para Delumeau, a explicação marxista peca por anacronismo, levando realidades e conflitos do século XIX, para o século XVI. Além disso, Delumeau não concorda que a Reforma Protestante ocasionou o surgimento de uma religião burguesa, pelo contrário, a Reforma culminou em uma liberdade espiritual entre burgueses e proletariados. IV) Abusos Disciplinares Lutero, em viagem a Roma, ficou indignado com o enorme número de abusos causados pelo Clero, “escravizando” seus fiéis às suas heresias. Denominou então Roma como a “falsa cidade santa”. O escândalo das indulgências fez com que Lutero se revoltasse contra o papado, intitulando o mesmo de Anticristo. E fortaleceu o argumento moral para uma reforma religiosa, que há algum tempo já era cogitada por parte (mínima) do clero. Desta forma, a revolta moral de Lutero transformou-se em uma revolta teológica, que ocasionou a Reforma Protestante. 6 7 Idem p. 256. Idem p. 256. OS BATISTAS Discorrer sobre o surgimento dos batistas não é simples, pois não há um consenso geral sobre tal origem. Temos diferentes perspectivas, porém as mesmas são alimentadas por diferentes instituições. Sendo assim, temos de partir para os fatos históricos, a fim de salientar qual dessas perspectivas se insere à nossa origem e história. Existem pelo menos três perspectivas sobre a origem dos batistas. São elas: I) Sucessionismo Batista “Os protestantes mais notáveis desde o 1° século até Luthero: S. H. Ford, em sua obra “A origem dos Baptistas” (edição Philadelphia, tradução de Zacharias C. Taylor, pag. 51), faz ver que no século 10°, já existem baptistas – protestantes que no século 20°, se encontram espalhados por todo mundo”8. Então o “Sucessionismo Batista” determina que os primeiros Batistas surgiram / herdaram – o ministério de João Batista. Para esta perspectiva, a denominação batista moderna chegou até nós por meio dos Paulicianos, Albigenses, Waldenses, Montanistas, dentre outros. Sendo assim, esses grupos sustentaram as crenças batistas até a modernidade. II) Os Anabatistas “Em lição publicada na sobre <> o Pr. José dos Reis Pereira diz o seguinte na <> < de Lutero derivou o luteranismo; de Zuínglio o zuinglianismo, mas tarde absorvido pelo calvinismo, originado de Calvino. A partir desses três movimentos apareceu um outro, os chamados anabatistas, ou catabatistas ou simplesmente batistas>>.9” Segundo esta perspectiva, os Batistas tiveram sua origem nos grupos Anabatistas. Tal linha afirma que alguns membros que deixaram a fé católica não se identificaram com os reformadores tradicionais e formaram um grupo que buscava uma reforma “radical”. Consequentemente, os Anabatistas dão origem aos Batistas, ainda no século XVI. 8 Os protestantes mais notáveis desde o 1° século até Luthero. O Jornal Baptista. Rio de Janeiro, Ed.25, p. 2-3, 10 out, 1903. 9 FREITAS, Ernani de Souza. Os Batistas e a Reforma. O Jornal Batista. Rio de Janeiro, Ed.43, p. 1, 24 out, 1957. III) Movimentos separatistas ingleses (Igreja Anglicana) “Com o nome de Batista existimos desde 1612, quando Thomas Helwys de volta da Holanda, onde se refugiara da perseguição do Rei James I da Inglaterra, organizou com os que voltaram com ele, uma igreja em Spitalfields arredores de Londres.10” Esta é a principal perspectiva, pois é mais aceita pela historiografia e pelo seus próprios membros. Segundo esta linha, os Batistas tiveram sua origem nos Movimentos Puritanos Separatistas na Inglaterra (séc. XVII). John Smith (1570-1612) foi ordenado ministro da Igreja da Inglaterra em 1594. Após o período de três anos, Smith começa a pregar fortemente contra a Igreja Anglicana. Então Smith migra para Holanda, junto a Thomas Helwys (1550-1616) e outros simpatizantes desta onda separatistas, buscando liberdade de culto. E em 1612 voltam para Inglaterra e ali estabelecem a primeira Igreja Batista em solo Inglês. CONCLUSÃO Concluímos que os protestantes são aqueles que, junto a Lutero e outros, lutarem pela Reforma da Igreja, ainda século XVI. Alguns então organizados até hoje como os próprios Luteranos. A partir da Reforma Protestante surgem diversos grupos e se multiplicam ao decorrer do tempo. Podemos observar o caso dos Batistas, que surgiram a partir dos Anglicanos. Sendo assim, classifico tais denominações que surgiram após a Reforma Protestante como “filhas da reforma”, pois nasceram logo após tal fato e por grupos que ali estiveram, propagando os ideais reformistas por toda Europa e mais tarde por todo o ocidente. No Brasil, os protestantes foram classificados pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação, da seguinte forma: 10 A nossa história no Brasil e no Mundo. Convenção Batista Brasileira. 2015. Disponível em: < http://batistas.com >Acesso em: 31 de outubro de 2015. “Protestantismo de imigração: Igreja Anglicana, Igreja Luterana e Reformados. Protestantismo de Missão: batistas, congregacionais, episcopais, metodistas e presbiterianos. 11” Destes “protestantes” surgem no Brasil os grupos pentecostais, classificados como: “Pentecostais: Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, Igreja de Deus e Igreja Pentecostal. Pentecostais Autônomos: Casa da Benção, Deus é amor, Evangelho Quadrangular, Maranata, Nova Vida, O Brasil para Cristo, Universal do Reino de Deus, entre outros. Carismáticos: Batista da Renovação, Cristã presbiteriana e Metodistas Wesleyanos. 12” E ainda há um terceiro grupo, os: “Pseudo-Protestantes: Adventistas, Mórmons e Testemunhas de Jeová.13” Atualmente alguns indivíduos se manifestam em prol de uma “nova Reforma”, pois alguns resquícios do medievo e da modernidade voltaram à tona em nossos dias. Podemos observar verdadeiros casos de “obras meritórias” e “indulgências” em pleno século XXI. Mas, para combater tamanha ignorância, não precisamos formular uma “nova Reforma” e sim retornar aos ensinamentos originais da Reforma Protestante, que, apesar de quase meio século, ainda são atuais em nossa sociedade. A Reforma continua. REFERÊNCIAS 11 SILVA, Elizete da. Cidadãos de outra pátria: Anglicanos e Batistas na Bahia. 1998. 427 f. Tese (Doutorado) – Departamento de História FFLCH-USP, São Paulo 1998. p. 8 12 13 Ibidem Ibidem Os protestantes mais notáveis desde o 1° século até Luthero. O Jornal Baptista. Rio de Janeiro, Ed.25, p. 2-3, 10 out, 1903. FREITAS, Ernani de Souza. Os Batistas e a Reforma. O Jornal Batista. Rio de Janeiro, Ed.43, p. 1, 24 out, 1957. FREITAS, Ernani de Souza. Os Batistas e a Reforma. O Jornal Batista. Rio de Janeiro, Ed.44, p. 1, 31 out, 1957. SILVA, Roberto do Amaral. Reforma de Martinho Lutero. O Jornal Batista. Rio de Janeiro, Ed.43, p. 8, 28 out, 2007. FILHO. CARLOS R. C. 458 anos de Reforma Protestante. Ultimato. 2015. Disponível em: < http://www.ultimato.com.br/conteudo/498-anos-de-reformaprotestante > Acesso em: 31 de outubro de 2015. A nossa história no Brasil e no Mundo. Convenção Batista Brasileira. 2015. Disponível em: < http://batistas.com >Acesso em: 31 de outubro de 2015. DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1989, p. 251-271. TREVOR-ROPER, Hugh. A Crise do Século XVII: Religião, a Reforma e Mudança Social. Rio de Janeiro: Topbooks, 2007, p. 23-84. MAFRA, Clara. Os Evangélicos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 12-49. PATUZZI, Silvia. Sem intermediários. Revista de História da biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 8, n° 87, p. 20-21, Dezembro. 2002. SILVA, Elizete da. Cidadãos de outra pátria: Anglicanos e Batistas na Bahia. 1998. 427 f. Tese (Doutorado) – Departamento de História FFLCH-USP, São Paulo 1998. TRABUCO, Zózimo A. T. À direita de Deus, à esquerda do povo: Protestantismos, esquerdas e minorias em tempos de ditadura e democracia (1974-1994). 2015. 400 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pósgraduação em História Social PPGHIS – UFRJ, Rio de Janeiro, 2015.