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Pacientes Submetidos à Hemodiálise: Caracterização

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1 PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE: CARACTERIZAÇÃO DAS SÍNDROMES DOLOROSAS PATIENTS GONE UNDER THE HEMODIALYSIS: CHARACTERIZATION OF PAIN SYNDROMES Amanda Almeida Marcelle N. Eloy Macedo RESUMO Portadores de doença renal crônica sentem dor considerável, oriunda de condições patológicas, lesões, intervenções terapêuticas, como a hemodiálise (HD), e múltiplos procedimentos diagnósticos invasivos. A avaliação da experiência dolorosa é fundamental para se compreender a origem e a magnitude da dor, para a implementação de medidas analgésicas e verificação da eficácia das terapias instituídas. Os métodos para a avaliação da dor são, basicamente, inferenciais e estão baseados no autorelato (PIMENTA; 1999). O objetivo deste estudo é caracterizar as síndromes dolorosas em clientes submetidos à hemodiálise, analisando quais acometem aos pacientes durante as sessões, relacionando sua ocorrência quanto a idade e ao gênero dos pacientes, através da classificação desta de acordo com a Escala Visual Analógica de dor, o diagrama corporal e o Questionário de Dor de McGill, versão brasileira. Foram entrevistados 87 pacientes com questionário padronizado. Os dados foram tabulados no Excel 2007, e analisados através de tabelas e gráficos. A maior incidência de dor encontrou-se na faixa etária acima de 41 anos. Dos entrevistados, 49% referiram dor intensa. 81,69% referiram cefaléia, 80,28% câimbra em membros inferiores e 42,25% lombalgia. Através do McGill, 71,83% relataram o descritor “cansativa”, do grupo afetivomotivacional, que se sobrepôs aos outros. É possível concluir que portadores de IRC em regime de HD apresentam um alto grau de impacto da dor em suas vidas. 2 PALAVRAS-CHAVE: Insuficiência renal crônica, hemodiálise, caracterização da dor. ABSTRACT Patients who suffer from chronic renal failure (CDF) feel intense pain came from diseases, lesions, therapeutic intervention, as hemodialysis (HD), and other invasive diagnosis procedures. The assessment of painful experience it’s fundamental to understand the origin and the magnitude of the pain, to the implementation of analgesic measures and to the verification of the costeffectiveness of the applied therapies. The methods for the pain assessment are, basically, inferential and based on self-report (PIMENTA, 1999). The aims of this study is to qualify, classify and measure pain syndromes that are originated from hemodialysis, by checking which ones take the patients during the sessions, correlating its occurrence by age and gender, through Visual Analogic Scale of pain, body diagram, and Brazilian version of the McGill Pain Questionnaire. 87 patients were interviewed with standardized questionnaire. Data were tabulated in Excel 2007, analyzed through tables and graphs. The highest incidence of pain was found in patients over the age of 41. 49% of the interviewed people reported severe pain. 81,69% reported headache, 80,28% reported cramps in their legs and 42,25% of them reported back pain. Through McGill, 71,83%, people reported the descriptor as "tiring", of the affective-motivational group, which overlapped the others. It was concluded that patients with CRF under HD have a high degree of pain’s impact in their lives. KEYWORDS: Chronic renal failure, hemodialysis, assessment pain. 3 INTRODUÇÃO A Doença Renal Crônica (DRC) tem se apresentado com elevada morbidade e mortalidade (SESSO e GORDAN; 2007). Conforme a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o censo de 2009 aponta um número equivalente a 77.589 pacientes em tratamento dialítico (SBN; 2009). A DRC consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins (glomerular, tubular e endócrina). Em sua fase mais avançada (chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica - IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade do meio interno do paciente (JUNIOR; 2004). Este mesmo autor afirma, ainda, que dados da literatura indicam que portadores de hipertensão arterial, de diabetes mellitus, ou história familiar para doença renal crônica têm maior probabilidade de desenvolverem esta lesão. Esta condição traz consigo uma série de questões que marcam a vida do indivíduo, a partir do diagnóstico, sendo comuns as manifestações psíquicas acarretando alterações na interação social e desequilíbrios psicológicos, não somente do paciente como também da família que o acompanha. A doença renal e as complicações decorrentes do tratamento afetam as habilidades funcionais do paciente, limitando suas atividades diárias, sendo que, freqüentemente, as alterações não são captadas nas avaliações clínicas e biológicas convencionais (BITTENCOURT; 2003). O Comitê de Taxonomia da Associação Internacional para Estudos da Dor (International Association for Study of Pain - IASP) define dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável, que é associada ou descrita em termos de lesões teciduais. Os pacientes criticamente enfermos, como é o caso do portador de doença renal crônica, sentem dor considerável, oriunda de condições patológicas, lesões, intervenções terapêuticas, como a hemodiálise (HD), e múltiplos procedimentos diagnósticos invasivos. A experiência de dor é composta por medo, ansiedade e barreiras de comunicação. Porém, o controle da dor tem pouca prioridade quando justaposto à instabilidade respiratória e hemodinâmica. A presença de dor agrava 4 significativamente o estado deste paciente e contribui para o desencadeamento de outros problemas, tais como confusão, ventilação inadequada, imobilidade, privação do sono, depressão e imunossupressão (KEEN; SWEARINGEN; 2007). O manejo da dor deve ser considerado uma prioridade no cuidado ao paciente. Algumas formas pelas quais é possível torná-lo mais visível e prioritário são: disponibilizar métodos de avaliação da dor; determinar a dor como quinto sinal vital para valorizar a sua importância e incorporar a avaliação da dor aos formulários de registro. A avaliação contínua e a documentação aumentam a consciência e a eficácia da intervenção contra a dor (KEEN; SWEARINGEN; 2007). A dor incapacita e angustia mais pessoas que qualquer doença isolada. Como é o profissional enfermeiro que passa mais tempo com o paciente com dor que os outros profissionais da saúde, eles precisam compreender a fisiopatologia da dor, as conseqüências fisiológicas e psicológicas da dor aguda e crônica, e principalmente os métodos usados para tratar a dor. Desta maneira, os enfermeiros devem ter o conhecimento e as competências para avaliar a dor, implementar as estratégias de alivio desta e avaliar a eficácia das estratégias a despeito do ambiente (SMELTZER; BARE; 2006). A avaliação da experiência dolorosa é fundamental para se compreender a origem e a magnitude da dor, para a implementação de medidas analgésicas e verificação da eficácia das terapias instituídas. Os métodos para a avaliação da dor são, basicamente, inferenciais e estão baseados no auto-relato (PIMENTA; 1999). A mesma autora enfatiza que para a avaliação da dor devem ser colhidos dados sobre a instalação e duração da condição álgica, a localização, periodicidade e duração dos episódios dolorosos, padrão evolutivo, fatores agravantes ou atenuantes. Compreende, ainda, a avaliação dos fatores que concorrem para sua manifestação, como o estado emocional do doente, aspectos do histórico familiar relacionados à expressão e manejo da dor e das atitudes, crenças e valores do doente e à família diante do quadro álgico. Este trabalho tem como objetivo caracterizar as síndromes dolorosas em clientes submetidos à hemodiálise, em uma instituição particular da cidade de Aracaju/SE, analisando quais acometem aos pacientes durante as sessões de HD, relacionando-as sobre sua ocorrência quanto à idade e ao gênero dos pacientes, através da classificação desta de acordo com a Escala Visual Analógica de dor 5 (EVA), o diagrama corporal de dor e o Questionário de Dor de McGill, versão brasileira (Br-MPQ). Acredita-se que este estudo é de bastante relevância para os que portam a Insuficiência Renal Crônica, os quais se utilizam da hemodiálise como forma de tratamento e que, como consequência, possuem síndromes dolorosas como efeitos colaterais, pois poderá servir como base para nortear as equipes de saúde na busca de medidas para minimizar a dor gerada pelo tratamento e, além disso, servir como fonte para novas pesquisas na área. METODOLOGIA A Clínica utilizada como local de estudo presta atendimento a 439 pacientes atualmente, sendo que destes, 310 utilizam-se da hemodiálise (HD) como forma de tratamento para a Insuficiência Renal Crônica (IRC). Foram considerados como critérios de inclusão todos os pacientes que apresentaram síndromes dolorosas durante as sessões de hemodiálise e que possuíssem 3 meses ou mais de tratamento dialítico, sendo todos maiores de 18 anos. Como critérios de exclusão foram considerados o fato de o paciente estar internado no momento da pesquisa ou não concordar com a mesma. Os pacientes que se enquadraram nos critérios acima descritos foram entrevistados individualmente pelos próprios pesquisadores durante as sessões de HD. O questionário incluía, em sua primeira parte, perguntas abertas e de múltipla escolha sobre os dados pessoais (idade, gênero, estado civil, estado empregatício, escolaridade, naturalidade, etnia, hábitos de vida, anamnese, histórico e tempo de tratamento), e, na segunda parte, os aspectos e a caracterização da dor (região afetada e intensidade), além da incorporação do questionário de dor McGill adaptado para a língua portuguesa. No item relativo à descrição da dor optou-se pelo citado questionário (Br – McGill) por ser considerado o melhor e o mais utilizado 6 instrumento para obter informações quantitativas e qualitativas a partir de descrições verbais. Este questionário é composto por 78 descritores, divididos em 20 subgrupos originados de 4 grupos. O grupo sensorial-discriminativo (sub-grupo 1 a 10), o grupo afetivo-motivacional (sub-grupo 11 a 15), o grupo cognitivo-avaliativo (sub-grupo 16) e o grupo miscelânea (sub-grupos 17 a 20). Caso julgasse que nenhuma palavra se adequasse à sua dor, o paciente também foi orientado a dizer “nenhuma” (orientações próprias do questionário). Dessa forma, durante a entrevista foi explicado ao paciente que algumas palavras seriam lidas, e ele deveria dizer qual palavra melhor descrevia a sua dor, caso estivesse sentindo-a naquele momento ou até mesmo num passado próximo, e deveria escolher apenas uma ou nenhuma palavra de cada grupo (LEITE; GOMES; 2006). Quando o paciente não se queixava de dor, a entrevista era encerrada após a coleta dos dados pessoais do paciente. Na análise dos dados foi utilizado o Microsoft Office Excel 2007, e os resultados foram organizados em tabelas e gráficos, expressos em forma de frequência e percentual simples, e realizada análise descritiva dos dados com base nos objetivos propostos no estudo. A pesquisa foi aprovada e autorizada pela clínica de hemodiálise em questão e foi obtido o consentimento prévio dos pacientes envolvidos na pesquisa (com assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido), respeitando os aspectos éticos e legais da Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, que define as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Por ser uma experiência subjetiva, a dor não pode ser objetivamente determinada por instrumentos físicos que usualmente mensuram o peso corporal, a temperatura, a altura, a pressão arterial e o pulso. Em outras palavras, não existe 7 um instrumento padrão que permita a um observador externo mensurar objetivamente esta experiência interna, complexa e pessoal (SOUSA; HORTENSE; 2004). No entanto, nas últimas décadas houve avanços referentes à elaboração de instrumentos, os quais facilitam a comunicação entre os pacientes e os profissionais da área, possibilitando conhecer tanto a incidência, a duração e a intensidade da dor sentida, quanto o alívio obtido mediante aplicação de diferentes técnicas analgésicas (PEREIRA; SOUSA; 1998). Dentre os quais se podem citar: a Escala Visual Analógica de dor (EVA), Diagrama Corporal de dor e o Questionário de dor de McGill, versão brasileira (Br-MPQ), utilizados nesta pesquisa. Para ROLLMAN (1992) apud SOUSA; HORTENSE (2004) uma medida eficaz da dor possibilita examinar a natureza, as origens e os correlatos clínicos desta, em função das características emocionais, motivacionais, cognitivas e de personalidade do cliente. GRACELY (1977); STEVENS (1998) apud SOUSA; HORTENSE (2004) lembram que, algumas vezes, apenas as medidas grosseiras, tais como dor presente ou ausente, são necessárias para as intervenções clínicas, mas para entendermos completamente o fenômeno e avaliar a eficácia destas intervenções, necessitamos de medidas mais sofisticadas, tanto na intensidade quanto das respostas afetivas associadas à dor. Ao longo de quatro semanas foram entrevistados, de forma aleatória, um total de 87 pacientes, todos portadores de IRC sob o tratamento de HD, maiores de idade, independente de gênero ou etnia. Esta entrevista ocorreu sempre durante a sessão. Além destes, foram abordados outros cinco, que se recusaram a responder o questionário. Dos que concordaram, 16 referiram não sentir qualquer dor antes, durante ou após a HD, sendo que 87,5% (14) eram do sexo masculino. Aqueles que referiram a presença de síndromes dolorosas e tinham mais de 3 meses de tratamento formaram uma amostra composta, em sua maioria por mulheres (37), 52,11%, e 47,89% de homens (34). Segundo BERKLEY (1997), as mulheres não apenas reclamam mais de dor durante suas vidas, como também sofrem de episódios com freqüência e duração maiores e em mais áreas do corpo do que os homens. Novos estudos têm mostrado que as mulheres experimentam um número de episódios de dor muito maior do que os homens. Os motivos que causariam as discrepâncias entre os sexos em relação 8 à dor são desconhecidos. Enquanto alguns sugerem explicações concentradas em mecanismos biológicos, como diferenças genéticas e hormonais, parece importante levar em consideração também os fatores sociais e psicológicos. Um exemplo estaria nas diferentes estratégias para lidar com dores. Enquanto as mulheres tendem a focar os aspectos emocionais, os homens se concentram nas sensações físicas. Além disso, por elas concentrarem nos aspectos emocionais da dor – que são negativos –, o quadro se torna ainda mais grave A partir desta amostra, percebeu-se que o grupo etário que mais referiu dor é composto por pacientes com mais de 41 anos de idade, chegando a quase 69% da amostra (49), assim como é demonstrado na figura 1, abaixo. A média de idade destes pacientes configurou-se em 46 anos. 40,00% 33,80% 35,00% 35,21% 30,00% 25,00% 18,30% 20,00% 15,00% 9,85% 10,00% 5,00% 2,81% 0,00% < 20 20 a 30 31 a 40 41 a 50 > 50 com dor Figura 1: Frequência de dor com a faixa etária. GUIMARÃES, 1999, relata que a idade do paciente também tem sido utilizada na classificação didática para estudo da dor. A questão básica que norteia esse critério pergunta se as pessoas percebem a dor da mesma forma nos diferentes grupos etários. Como a experiência da dor é única e de caráter estritamente subjetivo, as medidas são sempre indiretas e dependem da validade e fidedignidade do instrumento utilizado para essa avaliação. Os instrumentos até agora disponíveis, por sua vez, requerem algum tipo de comunicação verbal para colher informações sobre a experiência da pessoa em sofrimento. 9 Esta mesma autora diz, ainda, que a dor no paciente com uma idade mais avançada vem acompanhada de peculiaridades, como o efeito cumulativo da progressão de doenças crônica dolorosas anteriormente experimentadas e o aumento na incidência de condições associadas à dor. Além disso, é comum a ocorrência de múltiplas complicações médicas e mais efeitos colaterais de diferentes tratamentos durante o decorrer da vida. Todas essas variáveis são passíveis de alterar a percepção da dor. A intensidade é, sem dúvida, o aspecto mais saliente da dor. Foram desenvolvidos diversos instrumentos confiáveis e com boa correlação entre si (PIMENTA; 1999). Neste estudo foi utilizada a EVA, que, para SOUSA; HORTENSE (2004), devido à facilidade do seu uso, tem alcançado uma grande popularidade clínica e há constantes evidências na literatura de que suportam a fidedignidade e a validade psicométrica, contrapondo-se à Escala Numérica. Portanto, ao caracterizar a dor destes pacientes quanto a intensidade, observou-se que, dos 71 entrevistados com dor, 35 relataram possuir dor intensa/insuportável (49%), 31 dor moderada (44%) e somente cinco relataram dor leve (7%) (figura 2). Intensidade de dor - EVA dor leve (0 a 2) 7% dor intensa (8 a 10) 49% dor moderada (3 a 7) 44% Figura 2: Frequência da intensidade da dor segundo a EVA. Quanto ao tipo/localização da dor, através do Diagrama Corporal em conjunto com roteiro de entrevista, observou-se que 58 pacientes (81,69%) relataram sentir cefaléia durante ou após o término da sessão, concomitante ou não a outros tipos de 10 dor (Tabela 1). Dado este, que consolida BANA (1972) apud ANTONIAZZI (2002), quando afirma que cerca de 70% dos pacientes em regime dialítico queixam-se de cefaléia. THOMÉ et al (1999) traz que este é um sintoma muito comum durante a hemodiálise com múltiplas causas, desde hipovolemia, ansiedade, abstinência à cafeína, até crise hipertensiva, sangramentos intracerebrais e síndrome do desequilíbrio – causada por uma demora na transferência de uréia do cérebro para o sangue, causando gradiente de concentração e levando a edema cerebral. Ocorre em pacientes muito urêmicos na fase inicial do tratamento –. Usualmente, requer apenas tratamento sintomático. Tabela 1: indicativa dos tipos e locais de dor referidos pelos pacientes entrevistados. Tipos e locais de Dor Quantidade % Cefaléia 58 81,69% Cãimbra (MMII) 57 80,28% Lombalgia 30 42,25% Punção da fístula 20 28,16% Cãimbra (abdominal) 13 18,30% Cólica (abdominal) 9 12,67% Renal (flancos) 5 7,04% Cervicalgia 4 5,63% Cãimbra (MMSS) 4 5,63% Torácica 2 2,81% Articular 2 2,81% Referiram sentir câimbra em membros inferiores (MMII), 57 entrevistados (80,28%). Estas, segundo THOMÉ et al (1999), acontecem quando há perda rápida, intensa ou hiposmolar de líquidos (hiponatremia, hipopotassemia). Seguido a estes, 30 pacientes relataram sofrer com lombalgia (42,25%), que, como conceitua THOMÉ el al (1999), acontece devido à síndrome do desequilíbrio ou à síndrome do primeiro uso – caracterizada como uma reação a dializadores novos –, ou, ainda, em decorrência de uma má postura durante longo período no assento, fato relatado por diversos entrevistados. 11 O Questionário para dor de McGill (MPQ), de autoria de MELZACK e TORGERSON, em 1975, é um instrumento usado por pesquisadores e clínicos em vários centros, e foi adaptado para a língua portuguesa por TEIXEIRA; PIMENTA (1996). O MPQ compreende 78 palavras (descritores), algumas usadas em grupos que descrevem os componentes sensorial (sub-grupos de 1 a 10), afetivo (11 a 15) e avaliativo (sub-grupo 16) da dor, além do grupo miscelânea (17 a 20). Cada subgrupo é composto por 2 a 6 descritores qualitativamente similares, mas com nuances que os tornam diferentes em termos de magnitude. Discriminar estes componentes é importante para elucidação diagnóstica, pois dores com etiologia semelhante costumam ser relatadas de modo semelhante. Por exemplo, dores neuropáticas frequentemente são descritas como em choque, queimação e formigamento (PIMENTA, 1999). Devido ao alto grau de concordância sobre as relações de intensidade, entre os diferentes descritores de dor, para clientes oriundos de diferentes contextos culturais, sócio-econômicos e culturais, este questionário tem sido frequentemente empregado como um instrumento experimental para a análise dos efeitos de vários procedimentos ou técnicas de manipulação ou alívio da dor. Esta generalidade de aplicação tem sido tomada como um critério da validade do questionário (SOUSA; HORTENSE; 2004). Em virtude do exposto optou-se pela utilização de tal instrumento, em versão brasileira (Br – McGill), para uma melhor caracterização das síndromes dolorosas dos pacientes em questão. Tabela 2: representativa de descritores mais referidos no Br – McGill, em ordem decrescente. Subgrupo 11 Descritores % Cansativa, exaustiva 71,83% 12 Enjoada, sufocante 56,33% 15 Miserável, enlouquecedora 43,66% 1 Vibração, tremor, pulsante, latejante, c/ batida, c/ 42% pancada 7 Calor, queima, fervente, em brasa 38,02% 12 13 Amedrontadora, apavorante, aterrorizante 36,61% 17 Espalha, irradia, penetra, atravessa 33,80% 2 Montada, choque, tiro 32,40% 18 Aperta, adormece, repuxa, espreme, rasga 32,39% 19 Fria, gelada, congelante 32,39% 8 Formigamento, coceira, ardor, ferroada 30,98% 3 Agulhada, perfurante, facada, punhalada, em lança 29,60% 4 Fina, cortante, estraçalha 29,60% 20 Aborrecida, dá náusea, agonizante, pavorosa, torturante 29,57% 6 Fisgada, puxão, em torção 28,16% 10 Sensível, esticada, esfolante, rachando 25,35% 16 Chata, que incomoda, desgastante, forte, insuportável 25,35% 9 Mal localizada, dolorida, machucada, doída, pesada 23,94% 14 Castigante, atormenta, cruel, maldita, mortal 23,94% 5 Beliscão, aperto, mordida, cólica, esmagamento 21,12% Os descritores mais citados (Tabela 2) pertencem ao grupo Afetivomotivacional, que, segundo PIMENTA (1999), envolvem aspectos de tensão, respostas neurovegetativas, medo e punição. A dimensão afetivo-motivacional é processada pelas estruturas da formação reticular do tronco encefálico e límbico, que sofrem influência dos sistemas nociceptivos de condução espinal lenta (PIMENTA; TEIXEIRA, 1996). Os descritores mais utilizados neste grupo foram: cansativo (71,83%); enjoada (56,33%) e enlouquecedora (43,66%), sendo estes os mais citados dentre todos os 78 do Questionário de dor de McGill. Dentro do grupo sensitivo-descriminativo, que, para PIMENTA e TEIXEIRA (1996), é influenciada, primariamente, pelos sistemas espinais de condução rápida, referindo-se às propriedades mecânicas, térmicas, de vividez e espaciais da dor, obteve-se como descritores mais prevalentes: latejante (42%), calor (38,02%) e amedrontadora (36,61%), que, segundo BERGSTROM (2002) apud TOSATO et al (2006), pode indicar dor de origem principalmente física, porém, também, apresenta influência de fatores emocionais. 13 O grupo miscelânea segundo PIMENTA; TEIXEIRA (1996) contém descritores dos três grupos, os quais não se enquadram adequadamente, sendo, em sua maioria, de caráter sensitivo. Na nossa pesquisa, obtiveram-se como palavras mais citadas: espalha (33,8%), aperta e fria, ambas com 32,39% de incidência. O que mais chamou atenção foi o fato de o descritor mais escolhido da dimensão cognitivo-avaliativa estar entre os menos citados de todo o questionário, sendo esta: “que incomoda”, atingindo 25,35%. LEITE; GOMES (2006) traz que este grupo permite, ao doente, expressar a avaliação global da experiência dolorosa. Para GUIMARÃES (1999), o estudo da dor requer um sistema consistente e didático de categorização e o uso de uma terminologia técnica que facilite a comunicação entre os pesquisadores, clínicos e pacientes. Alguns sistemas de classificação já foram desenvolvidos, cada um tomando uma característica específica da dor como critério de inclusão. CONCLUSÃO Ao final deste estudo pôde-se concluir que os pacientes submetidos à HD, em sua maioria, sentem dor (81,6%). A maior parte deste é formado por mulheres, 52,11%. A faixa etária que mais refere dor é acima de 41 anos, atingindo 69% da amostra pesquisada. Ao utilizar a Escala Visual Analógica, 49% destes pacientes referiram sentir dor intensa, mais localizada em cabeça (cefaléia, 81,69%), membros inferiores (câimbras, 80,28%) e lombalgia (42,25%). A partir do questionário de McGill, percebeu-se maior sobrecarga da dor psicológica em relação à física, no que concerne a qualificação da síndrome dolorosa verificada a partir da maior incidência, entre todas as 78 palavras, de descritor componente do grupo afetivo-motivacional (“cansativo”, 71,83%). Desta forma caracterizou-se a síndrome dolorosa deste grupo estudado. 14 Concordamos com PIMENTA; TEIXEIRA (1996) quando estes afirmam que a avaliação da dor, para fins clínicos e de pesquisa, depende da descrição verbal e da experiência pessoal, não somente da intensidade, mas, também, das qualidades da dor. Nestas condições experimentais, percebeu-se que portadores de IRC em regime de HD apresentam um alto grau de impacto da dor em suas vidas, especialmente nas atividades do trabalho e escola. Fato observado na maior incidência de descritores do grupo afetivo-motivacional, em detrimento dos outros 3 grupos, o que demonstra que a dor de caráter psicológico se sobrepõe à percepção física e intensidade desta, mesmo se tendo encontrado um percentil de quase 50% de dor intensa, segundo a EVA. CONSIDERAÇÕES FINAIS No presente estudo, observou-se que o Br-MPQ é um instrumento que apresenta boa aplicabilidade para a amostra pesquisada. No entanto, foi constatado que o nível de escolaridade influi diretamente na perfeita interpretação dos descritores, exigindo que o pesquisador esclareça os respectivos significados para que haja uma maior fidedignidade da pesquisa, o que demandou mais tempo para sua aplicação, cerca de 10 a 15 minutos. Fato que confirma a citação de PIMENTA; TEIXEIRA (1996) a respeito da difícil compreensão deste instrumento por indivíduos com baixa escolaridade, idosos ou com dificuldade de concentração. Além disto, observou-se a relação diretamente proporcional entre a intensidade/significância da dor e a facilidade de entendimento independente do tempo transcorrido desde o último episódio de dor. Compreendendo o citado, era de se esperar que este mesmo instrumento, assim como todo o roteiro de entrevista, tivesse restrições quanto a sua aplicação em portadores de deficiências diversas, tais como auditiva e mental. O que de fato 15 foi questionado ao longo da pesquisa, supondo até mesmo em utilizar estes critérios como forma de exclusão da pesquisa. No entanto, com a experiência deste estudo, percebemos que, mesmo diante de tal situação, como foi vivenciada, no momento em que se abordou uma paciente surda-muda ou um outro com dificuldade de pronunciar as palavras e de entendê-las, os recursos da paciência, do tempo, e da linguagem corporal, assim como o auxílio de pessoas próximas a estes pacientes sanou quaisquer limitações possíveis quanto a caracterização da dor destes pacientes. O que torna esta atividade necessária possível e útil em diversas situações, não negando sua dificuldade. Este estudo pretendeu, acima de qualquer outro objetivo citado acima, despertar o interesse de estudantes e profissionais da saúde a respeito da área de conhecimento da dor, servindo como base para muitos estudos que se fazem necessários, visto que o estudo da dor, agora tratada como 5º sinal vital, ainda é escasso e repleto de questionamentos, principalmente no que condiz à doença renal crônica. 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ANTONIAZZI, A. L. et al. Cefaléia Relacionada à Hemodiálise: Análise dos possíveis Fatores Desencadeantes e do Tratamento Empregado. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/anp/v60n3A/11135.pdf. Acesso em: 12 nov 2009; - BERKLEY, KJ. Sex differences in pain. Behavioral and Brain Sciences, 1997; 20:371-80. versão traduzida; - BITTENCOURT ZZLC. Qualidade de vida e representações sociais em portadores de patologias crônicas: estudo de um grupo de renais crônicos transplantados. [Tese de Doutorado]. Campinas: Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas; 2003. 156p; - GUIMARÃES, SS. Introdução ao estudo da dor. In: Dor: um estudo multidisciplinar. CARVALHO, M. M. M. J. de. São Paulo: Summus Editorial, 1999. pp.13-30; - JUNIOR, João Egidio Romão. (2004). Doença Renal Crônica: Definição, Epidemiologia e Classificação. JBN; 26 (3 - Supl 1):p1-3; - LEITE, F; GOMES, JO. Dor crônica em um ambulatório universitário de fisioterapia. Rev. Ciências Médicas, Campinas, 15(3):211-221, maio/jun.,2006; - PEREIRA, L.V.; SOUSA, F.A.E.F. Mensuração e avaliação da dor pósoperatória: uma breve revisão. Rev.latino am. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 6, n. 3, p. 77-84, julho 1998. - PIMENTA, C. A. de M. Fundamentos teóricos da dor e sua avaliação. In: Dor: um estudo multidisciplinar. CARVALHO, M. M. M. J. de. 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