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Platão
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lguém disse que toda a filosofia - ocidental nada mais é do que um colossal comentário à obra de Platão. De fato, este ateniense é o único .ilósofo que jamais deixou de ser estudado e pesquisado nos últimos dois milênios e, por isso, pode ser considerado como um pensador de perene atualidade. De origem aristocrática, Platão vangloriava-se dos antepassados ilustres e considerava a política como decorrência natural da prática da filosofia, na medida em que acreditava que o poder devia ser entregue aos mais sábios. Essas ambições não fizeram dele um político apesar de algumas tentativas nesse sentido -, mas estimularam-no a criar uma nova instituição social, a escola filosófica, que, sob a orientação de um mestre, tinha como objetivo formar a fu tura classe diri- Platão (lvltlSeuLOLlvre, Pmis). Replica de Llmoriginal gente de Atenas. À direção dessa es- do século IV a. C. cola, chamada Academia - que inicialmente não passava de um simples ginásio próximo aos jardins de Academus +, o filósofo dedicou toda a sua vida, excetuando o tempo gasto em uma série de mal-sucedidas viagens a Siracusa, buscando a anuência do tirano Dionísio para fundar, na Sicília, um Estado modelo, uma Cidade governada por um rei-filósofo. Dois fatos marcaram a vida de Platão, inteiramente consagrada ao estudo e à pesquisa: o encontro com Sócrates, quando tinha aproximadamente 20 anos; e, nove anos mais tarde, o dramático processo que resultaria na condenação à morte do mestre. Sócrates foi tema dos melhores escritos de Platão e protagonista dos seus 36 diálogos. Os diálogos de Pia tão são convencionalmente divididos em nove terralogías: 1) Eutifron, Apologia c/e Socraies, Criion, Féc/on; 2) CrátUo, Teeteto, Sofista, Poiitico; 3) Pannênic/es, Filebo, Banquete, Fedm; 4) AIcebiades I e li, Hiparco, Amantes; 5) Teages, Cármides, Laques, Lisis; 6) Elltidemo, Protágoras, Górgias, Ménon; 7) Hipias menor, Hipias maio,', lon, Iv{enéxeno; 8) Clitófon, Repüblica, Timal, Cntias; 9) lV[inos, Leis, Epinômide, Epístolas.
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PLAT ÃO
Atenas, 428-347 a.C
ANTOLOGIA
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Como buscar o que se ignora
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o PROBLEMA Socrates ensinava que sábio é resolver o problema da origem das idéias, o filosoaquele que sabe que não sabe. Mas..então, corno é _ fo recorre doutrina da reminiscência, segundo a possível o conhecimento? Se as idéias não nascem qual conhecer é, para a alma, lembrar o que já sadas experiências sensíveis, de onde se originam? bia antes de encarnar em um corpo. E a tese central A TESE Seguindo o caminho aberto por Parrnênído Platonísmo, sustentada por uma série de dcutrides (ver item l3). Platão exclui a hipótese de que as nas colaterais, como a crença órfico-pitagórica da idéias derivam dos sentidos: elas são pura vi-são in- " . mecempsícose ou transmígracão das almas. O tretelectual, uma representação na tela da mente. Para cho abaixo foi extraído do diálogo Méllon. à
o problema: como é possível conhecer aquilo que se ignora?
o wrENON Mas de que modo buscarás, Sócrates, aquilo que absolu-
tamente ignoras? E das coisas que ignoras, da qual farás objeto de inve.stigação?E se por acaso a encontrares, como saberás que é exatamente a que buscavas, se não a conhecias? SÓCRATES Compreendo o que queres dizer, Ménon! Vê que belo argumento erístico estás a propor! O argumento segundo o qual ao homem não é dado buscar o que sabe nem o que não sabe: o que sabe porque, conhecendo-o, não necessita busca-lo: o que não sabe porque tampouco sabe o que está buscando. MÉNON E não.te parece, Sócrates, que este seja um raciocínio bem conduzido? SÓ,CRATES A mim não parece! MENON Di.z-me por quê!
Sócrates define o problema "erístico", ou seja, puramente retórica e capcioso.
SÓCRATES Certamente! Porque tenho ouvido de homens e mulheres muito doutrinados em coisas divinas ... MÉNON O que dizem? SÓCRA TES Coisas verdadeiras. a meu ver, e belas. MÉNON Quais? E quem são eles?
Sócrates refere-se às doutnnas dos órticos.
SÓCRA TES Sacerdotes e sacerdotisas, que se preocupam em explicar o objeto do seu próprio ministério. E a mesma coisa dizem também Píndaro e muitos outros poetas, os poetas divinos. E dizem (mas vê se a ti parece que falam a verdade) que a alma humana é imortal, e que ora ela tem a sua conclusão (a que se chama morrer), ora renasce, porém jamais é desrruída: eis porque, dizem, é preciso viver do modo mais santo possível...
05 Órficos sustentavam a imortaíidade da alma e a metempsicose - ou seja, a passagem de uma alma para um novo corpo.
Assim, para a alma imortal e muitas vezes renascida, qlle já viu todas as coisas deste mundo e do Hades, nada existe que não tenha aprendido. Não há, portanto, por que se surpreender se pode fazer aflorar na mente o que já conhecia antes 50bre a virtude e todo o resto. Por outro lado, sendo a natureza toda congenere e tendo a alma tudo aprendido, nada impede que a alma, recordando (aquilo a que os homens chamam de aprendizagem) uma única coisa, encontre também todas as outras, desde que seja corajosa e incansável na investigação. Sim, procurar e aprender são, no seu conjunto, reminiscências.
Para a alma imortal, que Ia completou inúmeras veZES o ciclo da Vida, conhecer Significa recordar.
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o paradoxo
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do conhecimento é, portanto, (eso/vive/.
Assim, não devemos confiar no raciocínio erístico: ele nos tomaria preguiçosos e soa agradável somente aos ouvidos das pessoas sem vigor; o nosso raciocínio, ao contrário, toma todos operosos e dedicados à pesquisa. Convencido de que é o verdadeiro, desejo procurar contigo o que é a virtude.
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Anamnese,
A Academia platônica, segundo uma história em quadrinhos contempordnea.
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o PROBLEMA o que toma possível o conhecimento? Como conseguimos empregar os conceitos gerais, ou seja, classificar os objetos segundo a classe a que pertencem? A TESE O processo que leva à formação dos conceitos não nasce da experiência: de fato, não formamos a idéia de cavalo observando muitos cavalos.
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em grego, significa recordação, reminiscência. O termo indica a teoria de origem mítico-filosófica com que Platão tenta explicar o problema do conceito e do coohecrnento em geral. A alma (a mente humana) não adquire conhedrnentos a partir do exterior, mas recorda, no seu interior, aquilo que outrora adquiriu e depois esqueceu. Retomando a teoria de Pitágoras da metempsicose, Platão adia que as almas transmigram de um corpo para o outro, mas antes de ocupar um novo corpo têm a possibilidade de contemplar as idéias, o modelo perfeito das coisas. Este conhedmento, perdido no esforço do nascimento, é posteriormente despertado pela observação das coisas. Em outros termos: a percepção do mundo extemo não fomece nenhum conhedrnento, somente um estímulo à recordação: O conhecrrento dá-se por meio de uma visão intelectual, quando conseguimos reconhecer na complexidade do mundo real as formas essenciais é prototípicas, ou seja, as idéias,
A prova é que nada na natureza pode dar origem à idéia abstrata de semelhança, se bem que obviamente existem coisas que julgamos semelhantes. Piarão resolve o dilema propondo uma teoria do lnatísmo: a alma conhece as coisas recuperando a lembrança adormecida daquilo que viu no mundo extra terreno antes de reencamar. Em termos mo-
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PLATÃO
demos, eliminando o componente rrntíco-relígtosc do pensamento platônico, pode-se dizer que o pensamento se estrutura a partir de esquemas conceí-
tuais inatos, potenciais quando do nascimento e desenvolvidos depois por meio da aprendizagem sensorial. O trecho abaixo foi extraído de Fedo1l.
SI SÓCRATES Então tens dúvidas em aceitar que o que chamamos aprendizado seja reminiscência? SiMIAS Não é verdade que eu tenha propriamente dúvidas; sinto somente necessidade de experimentar eu mesmo o que estarnos discutindo, ou seja, recordar-me ... Agora, de bom grado ouviria como poderias demonstra-lo. SÓCRATES Eis como: certamente concordamos que para recordar alguma coisa é preciso tê-Ia conhecido anteriormente. SIMIAS Sim.
SÓCRATES Concordamos também que se um conhecimento nos chega desse modo é reminiscência 7 E qual é esse modo? Se alguém vê, escuta ou percebe alguma coisa por meio de qualquer sensação, acontece que, além de tomar conhecimento dessa coisa, vem a sua mente uma outra (da qual o conhecimento não é o mesmo). Pois bem: não empregaríamos o termo no seu significado correto ao dizer, a respeito dessa outra coisa que lhe veio à mente, que esse alguém se re-
Todo conhecimento é uma recordação: esta é a tese a ser demonstrada.
o mecanismo aS5ociativo entre as idéias baseia-52 na recordação.
cordou? SÍMIAS
Como
assim?
SÓCRATES Por exemplo: admites que a noção de homem é diferente da noção de lira 7 SÍMIAS Sem dúvida. SÓCR.A..TES Pois bem: sabes que os enamorados, se vêem uma lira, um manto ou outro objeto qualquer de uso habitual do amado, no momento em que reconhecem a lira revêem na mente a figura do amado, a quem ela pertence? Isso é reminiscência.
Por exemplo, a recordação de um homem refere-se aos seus objetos pessoais.
Ora, esses exemplos não mostram que a reminiscência se dá de duas maneiras, pela via da semelhança ou pela via da dessemelhança? Sim. Mas quando alguém se recorda de alguma coisa pela via da semelhança não lhe acontece também pensar que o que despertou sua lembrança é ou não é, quanto à semelhança, de alguma forma a parte faltante etn relação àquela que despertou a lembrança 7 SÍMIAS Necessariamente.
A associação mental ds-se por semelhança ou diferença.
SÓCRATES Vê se não é assim. Existe algo que afirmamos ser igual, não é verdade? E não quero dizer entre madeira e madeira, pedra e pedra ou outras coisas semelhantes; mas sim de uma coisa que está lá, é diferente de todas as outras, mas é igual em si. Deste igual em si, podemos afirmar que é alguma coisa ou não é nada? SÍMIAS Sim, com certeza. SÓCRATES E conhecemos também o que ela é em si mesma} SÍMIAS Sem dúvida.
Cada comparação pressupõe a existência de um critério de semelhança .
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ANTOLOGLA
ILUSTRADA
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PLATÃO A idéia de semelhança precede qualquer juizo comparativo.
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SÓCRATES E de onde obtivemos esse conhecimento? Não o obtivemos daqueles iguais de que falávamos agora, ou seja, das madeiras ou pedras ou outros objetos quaisquer, vendo que são iguais? Não fornos induzidos por esses iguais a pensar aquele corno igual, e que, no entanto, é diferente deles? Ou não te parece diferente? Consideres também esse aspecto. Pedras iguais e madeiras iguais, ainda que sejam as mesmas, não podem parecer, às vezes. iguais para um, e para outro não? SÍMIAS Seguramente.
A contradição lógica entre semelhança e diversidade não tem origem na experiencia.
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SÓCRATES Diz-me então: o igual em si pode eventualmente parecer desigual, ou seja, uma igualdade que se apresenta c,?mo desigualdade? SIMIAS E impossível, Sõcrates. SÓCRATES De fato, esses iguais e o igual em si não são a mesma coisa. SÍMIAS Não são, com certeza, Sócrates. SÓCRA TES E no entanto não é verdade que foi exatamente a partir dessas coisas iguais, mesmo se diferentes do igual em si, que pudestes chegar ao conhecimento desse último? SÍMIAS É verdade. SÓCRATES Corno sendo uma coisa semelhante ou dessernelhante daquelas, não é? SÍMIAS Precisamente.
Osjuizos comparaó'vos If7lplicam o confronto com um protótipo ideal.
SÓCRATES Porque isso não faz diferença. Basta que tu, tendo visto urna coisa, consigas, a partir daí, pensar em urna outra, semelhante ou dessernelhante: foi nesse ponto do processo que se produziu em ti uma reminiscência. SÍMIAS Certamente. SÓCRATES Diz-me agora, acontece conosco algo semelhante em relação àqueles iguais que observamos nas madeiras e nos outros objetos iguais de que falávamos há pouco? Eles nos parecem tão iguais como exatamente é o igual em si ou faltalhes algo para ser tal e qual o igualou não lhes falta nada? SÍMIAS Faltam-lhes muitas coisas.
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Reconhecer, identificar uma coisa pelo que ela é Implica um juizo de semelhança com um modelo.
A idéia de igualdade também não pode ser deduzida da simples confrontação de duas coisas iguaiS.
SÓCRATES [... ] Alguém, tendo visto uma coisa, é levado a pensar: "Esta coisa que agora vejo tende a ser como uma outra, exatamente como um daqueles seres que existem por si mesmos, e todavia não consegue se conformar àquela por algumas imperfeições, não sendo portanto igual àquela, e sim inferior". Pois bem: concordamos que quem pensa assim deve ter formado antes, de alguma maneira, uma idéia daquele ser ao qual a coisa vista se parece, mas que, em comparação, se revela defeituosa? SÍMIAS Necessariamente. SÓCRA TES E então, dize-me: aconteceu ou não também conosco algo semelhante em relação aos iguais e ao igual em si? SÍMIAS Com certeza. SÓCRATES Portanto, necessariamente, devemos ter forma-
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do antes uma idéia do igual; ou seja, antes daquele momento em que, vendo pela primeira vez os iguais, pudemos pensar . '.' . que todos eles aspiram a ser corno o igual, mas continuam in-:... ! ( ;:... :.,"J r \ feriores a ele. :.;: rPf;Pj':::/'p:f)~~~; SiMIAS É exatamente isso. SÓCRA TES E logo estamos de acordo também quanto a esse outro ponto: nada mais pudemos formar a partir desse pensamento nem é possível que se forme, a não ser que vejamos ou toquemos ou tenhamos qualquer outra sensação; porque ~ \' ~1\0 todas para mim valem agora o mesmo. , SÍMIAS Valem o mesmo em relação aquilo que agora quere- /' mos demonstrar. ". SÓCRATES Mas, naturalmente, exatamente a partir dessas . sensações deve-se formar em nós a idéia de que todos os iguais percebidos por essas sensações aspiram a ser aquilo que o igual é em si e ao qual todavia permanecem inferiores. Como Rosto de Placclo. seria possível dizer de outra forma? SÍMIAS Assim mesmo. I
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SÓCRATES E, portanto, antes que começássemos a ver e a ouvir - enfim, a usar os nossos sentidos -, era preciso que já estivéssemos de posse do conhecimento do igual em si, do que ele é, para que pudéssemos compará-Ia aos iguais resultantes de sensações; e pensar que todos estes anseiam ser como ele, quando no entanto permanecem inferiores ...
A idéia de igualdade precede todo juizo de igualdade.
Portanto, se é verdade que adquirimos esse conhecimento antes de nascer e o carregamos conosco ao nascer, isso quer dizer que antes de nascer e logo depois de nascidos já conhecíamos não somente o igual - o maior e o menor - mas também todas as outras idéias: porque não é sobre o igual que esramos agora raciocinando, mas também sobre o belo em si e o bom em si, e sobre o justo e sobre o santo, em suma, como eu dizia, sobre tudo aquilo em que, em nosso discursar, seja perguntando, seja respondendo, colocamos esse selo, que é o "em si". Disso resulta necessariamente que devemos ter tido conhecimento de todas essas idéias antes de nascer . SÍMIAS Correto.
As idéias de semelhança, diferença, igualdade (e todas as outras idéias) precedem, portanto, a experiência ou seja, são inatas.
SÓCRATES E resulta também (exceto se, uma vez de posse desses conhecimentos, não os encontremos depois, em nosso sucessivo renascer, na condição de tê-Ias esquecido) que nesse nosso perene renascer nunca deixamos de saber e conservamos esse saber por toda a vida. Porque o saber é isso: adquirido um conhecimento, conservá-Ia, e não esquecê-Ia. Não é isso, Símias, que chamamos esquecimento, a perda de conhecimento? SíMIAS É exatamente isso.
A alma imortal conhece todas as idéias.
SÓCRATES Mas se, ao contrário, adquiridos esses conhecimentos antes de nascer, nós os perdemos nascendo e, depois, valendo-nos dos sentidos relativos a certos objetos, vamos recuperando de cada um deles aqueles conhecimentos
A alma, entretanto, esqueceu temporariamente as idéias, devido ao acontecimento dramatico do nascimento em um corpo.
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que tínhamos anteriormente, então isso que nós chamamos aprender não seria recuperar conhecimentos que já nos pertenceram? E se empregarmos para isso o termo recordar-se, n~o o empregaremos no seu correto significado? . SIMIAS Certamente. A percepção das coisas sensíveis,portanto, nada mais é do que um esdmulo à reevocação das idéias inatas.
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SÓCRA TES De fato, já se demonstrou ser possível que alguém, experimentando uma sensação em relação a alguma coisa ao vê-Ia, ouvi-Ia ou percebê-Ia de alguma forma, consiga lembrar-se de uma outra coisa da qual se esquecera, e que se avizinha à outra por semelhança ou também por dessemelhança. De modo que, como eu dizia, das duas uma: ou todos nós já nascemos conhecendo essas idéias e conservamos esse conhecimento por toda a vida ou então aqueles que nós dizemos que aprendem apenas recordam, e essa aprendizagem é exatamente reminiscência.
A Academia platônica em uma ilustração do século XIX.
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destino do filósofo
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o mito da caverna
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o PROBLEMA o que é filosofia? Qual é a tarefa do filósofo? A TESE O trecho abaixo, com o qual tem início o livro VI! da RepLiblica, é um dos mais famosos da história da filosofia. A figura do filósofo e as suas tarefas são delineadas por meio de metáforas. A caverna escura é o nosso mundo; os escravos acorrentados são os homens; as correntes são as paixões e a ignorância; as imagens ao fundo da caverna são as percepções sensoriais; a libertação do escravo é a ação liberatória da filosofia; a aventuA caverna representa o nosso mundo, no qual reina a opinião; as correnres represenram a ignorância e as paixões.
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ra do escravo fora da caverna e a experiência filosófica; o mundo fora da caverna corresponde ao mundo das idéias, o único, verdadeiramente; o Sol que ilumina o mundo verdadeiro é a idéia do Bem, que conduz ao conhecimento; o regresso do escravo é o dever do filósofo de envolver a sociedade na experiência da verdade; a incapacidade do escravo em readaptar-se à vida na caverna é a inadequação social dos filósofos;o escárnio do escravo é o destino reservado ao escravo; a morte final do escravo-filósofo é a morte de Socrates.
SÓCRATES Compara a nossa natureza, no que diz respeito à educação e a sua falta, a uma ima~em como esta. No interior de uma morada subterrânea em rorma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, tão ampla que se estende por todo o comprimento da caverna, imagina ver alguns homens que ali estão desde criança, acorrentados pelas pernas e pescoço, de modo a ficarem imóveis e poder olhar somente à sua frente, incapazes, devido ás correntes, de volver a cabeça.
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Às suas costas, brilha, alta e longínqua, a luz de um fogo, e, correndo entre o fogo e os prisioneiros, há um caminho ascendente. Ao longo deste caminho imagina que se construiu um pequeno muro, como os taparnentos que os rítereiros erguem à sua frente e sobre os quais exibem os bonecos. GLA.UCO Estou vendo. . ...."
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A luz representa a verdade: o muro, a separação entre a verdadeira e a falsa realidade.
SÓCRA.TES Imagina ver, ao longo desse muro, homens portando todo tipo de objetos que ultrapassam a sua margell1, como estátuas e outras fígcrasdepedra e de madeira, de diversas feituras; e, como é natural, dentre esses homens, alguns falam e outros se calam. GLAUCO Estranha imagem essa tua, e estranhos prisioneiros.
As estatuas: as coisas do mundo sensivel.
SÓCRA TES Parecem-se conosco. Crês que tais pessoas possam ver, antes de si mesmas e dos companheiros, algo mais do que as sombras projetadas pelo fogo contra a parede da caverna que está à sua frente? GLAUCO E como poderiam, se são forçadas a manter imóvel a cabeça por toda a sua vida? SÓCRATES Com os objetos carregados não se passa o mesmo? GU\.UCO Certamente.
Os prisioneiros vêem somente as sombras das estátuas...
SÓCRA TES i':-se· ..rquelesprtsíonetrospudessem conversar entre si, não crês que diriam serem reais as suas visões? GLAUCO Obrigatoriamente. SÓCRATES E se na prisão a parede em frente também produzisse um eco? Sempre que um dos carregadores fizesse ouvir a sua voz, crês que julgariam que fosse outra senão a voz da sombra que passava? GLAUCO Não, por Zeus. SÓCRATES Para essas pessoas, enfim, a verdade não é mais do que a sombra de objetos artificiais. GLA.UCO Forçosamente.
. que confundem com a realidade.
SÓCRATES Examina agora como poderiam livrar-se dos grilhões e curar-se da inconsciência. Admite que acontecesse com eles um caso como este: que um deles fosse libertado, repentinamente obrigado a levantar-se, a virar a cabeça, a andar e a erguer o seu olhar para a luz; e que, ao fazer isso, sentisse dor e o deslumbramento o tornasse incapaz de distinguir os objetos dos quais antes ele via as sombras.
O verdadeiro caminho do conhecimento começa com a libertação dos grilhões da ignorância.
O que crês que ele responderia, se lhe disséssemos que antes ele via vacuidades desprovidas de sentido, mas que agora, estando mais próximo daquilo que é e com os olhos voltados para os objetos reais, pode ver melhor? E se. mostrando-lhe cada um dos objetos que passam, lhe perguntássemos, obrigando-o a responder o que são] Não crês que ficaria em dúvida e que julgaria mais verdadeiras as coisas que via antes do que as que lhe são mostradas agora] GL'\UCO Certamente.
Não mais enganado pela percepção sensível (as sombras). o filósofo enxerga a realidade.
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PLATÃO A verdade é ofuscante; a sua descoberta pode confundir temporariamente.
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SÓCRATE5 Finalmente, acho eu, poderia observar e contemplar o Sol como verdadeiramente é, não as suas imagens nas águas ou sobre outra superfície, mas o Sol em si, no lugar que lhe é próprio. GLAUCO Sim. Falando do Sol, seria possível concluir ser ele quem produz as estações e os anos, quem governa todas as coisas do mundo visível e, de algum modo, é a origem de tudo o que ele e os seus companheiros veriam.
o sábio tem o dever de comunicar suas descobertas a toda a sociedade.
Ao sábio, revela-se dificil comunicar-se com quem não sabe nada e pensa saber tudo.
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SÓCRATES Precisaria acostumar-se a isso, creio eu, se quisesse ver o mundo superior. Primeiro observaria as sombras e depois as imagens dos seres humanos e dos outros objetos refletidas na água, e por fim os próprios objetos; a partir daí, então, voltando o olhar para a luz das estrelas e da Lua, poderia contemplar mais facilmente durante noite os corpos celestes e o próprio céu do que o Sol e a luz do Sol durante o dia. GLAUCO É claro.
o resultado final da dscese cognitiva é a contemplação do Bem em sim mesmo (o Sol).
Quem possui o verdadeiro saber termina marginalizado no mundo da ignorância.
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SÓCRA.TES E se o obrigássemos a olhar a própria luz, não lhe doeriam os olhos e não procuraria fugir em direção aos objetos cuja visão pode sustentar? E não os julgaria efetivamente mais claros do que aqueles que lhe foram mostrados? GLAUCO É assim. 5ÓCRATES E se, depois, o arrastássemos dali à força, obrigando-o a subir o caminho rude e íngreme, e não o soltássemos ames de arrastá-Ia até a luz do Sol, não sofreria e não se agastaria por ser assim constrangido? E chegando à luz, por estarem seus olhos ofuscados, não poderia ver nenhuma das coisas que agora são ditas verdadeiras. GLAUCO Não poderia, de fato, não repentinamente.
A posse da verdade produz um rápido acréscimo do saber, uma ascensão ci verdade.
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SÓCRATES E ao lembrar-se da primeira morada e do saber que lá possuía, dos companheiros de prisão, não achas que se sentiria feliz com a mudança e sentiria pena deles? GLAUCO Certamente. 5ÓCRATE5 Quanto às honras e aos elogios que talvez trocassem entre si, e às recompensas reservadas àqueles que, com maior perspicácia, observavam os objetos que desfilavam e melhor se lembravam quais passavam antes, quais vinham depois e quais seguiam ao mesmo tempo - adivinhando, portanto, qual seria o próximo -, julgas que ele invejaria os prisioneiros e cobiçaria as honras e o poder que recebiam? Ou ele estaria na condição descrita por Homero e preferiria "servir a alguém como camponês, por salário, um homem sem riqueza", e padecer tudo, a ter aquelas opiniões e viver daquele modo? GLAUCO Eu também penso assim: aceitaria sofrer tudo antes de viver daquele modo. SÓCRl-l.TES Reflete agora sobre outro ponto. Se o nosso homem descesse de novo e voltasse a ocupar o mesmo assento, não teria os olhos cobertos de trevas, vindas de onde havia Sol?
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GLAUCO Sim, certamente. SÓCRA TE5 E se tivesse novamente que discernir aquelas sombras e competir com aqueles que permaneceram prisioneiros, antes que sua vista ofuscada voltasse ao normal? E se esse período de readaptação fosse longo? Não seria ele, então, objeto de riso? E não se diria que ele regressa da sua subida com os olhos arruinados e que assim não vale a pena tentar subir? E se alguém tentasse soltar aqueles prisioneiros e levá-Ias pa-ra dma,não o matariam, tlItvez:, se pudessem agarrá-Io e rnatã-Io? GLAUCO Certamente.
o filósofo não se sente à vontade no mundo das sombras (a vida cotidiana) e é muitas vezes desajeitado.
SÓCRATE5 Toda essa imagem, meu caro Glauco, deve ser aplicada ao que dissemos antes: devemos comparar o mundo conhecível à visão possível na prisão, e a luz do fogo que está lá dentro à luz do Sol. Se por acaso considerares que a ascensão e a contemplação do mundo superior equivalem à elevação da alma ao mundo íntelígtvel, não chegarás a uma conclusão muito diferente da minha, já que desejas conhecer a minha opinião.
o ponto fundamental consiste em abandonar o mund6 sensivel (a caverna) pelo mundo inteligivel.
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deus sabe se ela é verdadeira. Eis o meu parecer: no mundo conhecivek-a idéia -dc -Bem;difíctl de enxergar-éo limite' extremo do Bem; e, uma vez avistada, a razão nos leva a considerá-Ia a origem de tudo o que é reto e bom; no mundo visível, ela produz a luz e o soberano da luz. No inteligível. ela mesma confere, como soberana, verdade e inteligência. E quem quiser se comportar com sabedoria, em particular e em público, precisa vê-Ia . GLAUCO Tanto quanto possível, eu também estou de acordo. SÓCRATE5 Concorda comigo também sobre esse outro ponto e não te surpreendas que aquele que se elevou a tal altura não queira se ocupar dos assuntos humanos, mas que a sua alma seja continuamente estimulada a viver na altura. É natural que seja assim, se também para isso vale a imagem anterior. GLAUCO É natural. SÓCRATE5 E acreditas que podemos nos surpreender se alguém, passando ..das vísões.dívínas às coisas humanas, fizer um péssimo papel e parecer totalmente ridículo, por ter a vista ainda ofuscada? E se, antes mesmo de se acostumar novamente com as trevas circundantes, for obrigado a discutir nos tribunais, ou em outro lugar qualquer, sobre as sombras da justiça ou sobre as imagens que dão origem a essas sombras, e a lutar contra a interpretação dada a esses problemas por quem nunca viu a justiça em si? GLAUCO De fato, não nos pode surpreender. SÓCRA TE5 Mas uma pessoa sensata se lembraria de que os olhos estão sujeitos a dois tipos de perturbações, por dois motivos diferentes: passar da luz às trevas e passar das trevas à luz.
Uma vez de posse da verdade, filósafo~lJoderá regressar ao mundo sensível, enxergando a verdadeira realidade.
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o filósofo deve fugir à tentação de se apartar do mundo.
Apesar da dificuldade em viver no mundo, o filósofo possui a força interior da verdade.
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ANTOLOGIA ILUSTRADA DE FlLOSOf[A
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PLATÃO E se pensasse que o mesmo vale para a alma, quando visse uma alma perturbada e incapaz de ver qualquer coisa não começaria a rir como uma tola, mas procuraria saber se, vindo de uma vida mais luminosa, ela estaria cega por estar desacostumada; ou se, passando da ignorância para uma situação mais luminosa, ela estaria ofuscada por muita luz. E assim diria uma, feliz com a sua condição e com a vida que leva, tendo pena da outra. E, se quisesse rir, o seu riso seria menos ridículo do que aquele que agrediria a alma que vem do alto, da luz. GLAUCO O que dizes é correto.
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Os antigos viam no Eras (a tradução grega de amor) uma força natural e primordial, relacionada não somente à atração sexual, mas também à amizade e à política. Com efeito, Erótico é propriamente tudo aquilo que une, que harmoniza os contrastes sem negá-Ias, que consegue manter juntas coisas diversas entre si.
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ao conhecimento o PROBLEMA Sob que condição é possível alcançar a verdade? Qual e:o valor da dimensão corporal do homem? Em que relação devem ser pensados espírito e corpo) A TESE Se na Idade Media Piatão foi interpretado no sentido religioso e visto até mesmo como um precursor do Cristianismo, isso se deve a textos como o que está abaixo, que emana uma espírituaiiÉ o vínculo com o corpo que impede o espírito de conquistar a 'Ierdade.
Instintos, emoções e doenças constituem obstáculos à racionalidade.
Agressividade sOCIale guerra são conseqüências das paixões..
dade ascética. O corpo, e tudo o que ele significa (percepção, paixão. instinto, emoção), deve ser anulado para que a razão seja exercitada. Tudo aquilo que não é pura espiritualidade racional pode ser descrito em termos de patologia da alma. Importantes para a história da filosofiaocidental, essas teses rompem os limites da tradição platônica (O trecho abaixo foi extraído de Fédon.)
Parece existir um atalho que nos leva, por meio do raciocínio, a esta consideração: enquanto tivermos corpo e nossa alma estiver unida a esse elemento maléfico, jamais alcançaremos completamente aquilo que ardentemente desejamos, ou seja, a verdade.